Menú principal |
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98 Vol. VI, núm. 170 (9), 1 de agosto de 2004 |
NOVAS TECNOLOGIAS NOS PROCESSOS
DE TRABALHO: EFEITOS DA
REESTRUTURAÇÃO
PRODUTIVA
Vania Herédia
Departamento de Sociologia da Universidade de Caxias do Sul
Novas tecnologias nos processos de trabalho: efeitos da reestruturação produtiva (Resumo)
A introdução de novas tecnologias desencadeou uma série de efeitos sociais que afetaram os trabalhadores e sua organização. Esses efeitos, que se pode chamar de "impactos sociais", repercutiram nos processos de trabalho, na qualificação da força de trabalho, nas próprias condições de trabalho, na saúde do trabalhador e conseqüentemente nas políticas de ocupação, afetando diretamente a questão do emprego. O uso de novas tecnologias trouxe a diminuição do trabalho necessário que se traduz na economia líquida do tempo de trabalho, uma vez que, com a presença da automação microeletrônica, começou a ocorrer a diminuição dos coletivos operários e uma mudança na organização dos processos de trabalho. A análise acerca dos impactos sociais na indústria de transformação, no pólo metal-mecânico do Nordeste do Rio Grande do Sul, aponta para uma série de modificações nos processos de trabalho, decorrentes da alteração no paradigma industrial fordista nos anos noventa do século XX e reflete as mudanças organizacionais derivadas da introdução das novas tecnologias.
Palavras-chave: Novas tecnologias, processos de trabalho, occupation policies.
New tecnologies in working processes: consequences of productive restructuration (Abstract)
The introduction of new technologies has triggered out a series of social effects which affected workers and their organization. The effects named "social impacts" reflected on work processes, labor force qualification, work conditions themselves, worker health, and consequently occupation policies, thus affecting directly the job issue. The use of new technologies has caused the impairment of necessary work, which is translated into the net economy of working time, once microelectronic automation has caused collective workers to decrease, and also a change in the organization of work processes. The analysis of the social impacts in the transformation industry of the metal-mechanical hub of the Northeast of Rio Grande do Sul, Brazil, points out to a series of modifications in the work processes following from the change of the fordian industrial paradigm of the 1990s, and reflects the organizational changes derived from the introduction of new technologies.
Key-words: new technologies, work process, occupation policies
A economia internacional enfrentou, nos anos setenta do século XX, um quadro de crise estrutural que acarretou um processo de aprofundamento da globalização do capital através da integração e da internacionalização de várias etapas do processo produtivo. Essa crise trouxe consigo a imposição de um amplo processo de reestruturação do capital, a fim de instalar um novo modo de acumulação como meio de sair da crise e também de manter o equilíbrio do sistema capitalista como um todo. A reestruturação do capital em países de economias avançadas se fez com inovações técnicas, organizacionais e financeiras, permitindo que, durante a década de oitenta, essas economias enfrentassem uma expansão sustentada pela estabilidade de preços, com recuperação do aumento da produtividade e já com a presença de novas tecnologias.
Processos de trabalho no contexto da reestruturação produtiva
A introdução de novas tecnologias desencadeou uma série de efeitos sociais que afetaram os trabalhadores e sua organização. Esses efeitos repercutiram nos processos de trabalho, na qualificação da força de trabalho, nas próprias condições de trabalho, na saúde do trabalhador e conseqüentemente nas políticas de ocupação, afetando diretamente a questão do emprego. O uso de novas tecnologias trouxe em muitos países a diminuição do trabalho necessário, que se traduz na economia líquida do tempo de trabalho, uma vez que, com a presença da automação microeletrônica, começou a ocorrer uma diminuição dos coletivos operários e uma mudança na organização dos processos de trabalho.
Essa economia do tempo de trabalho levou ao chamado "desemprego tecnológico"; que é justificado por muitos autores como uma melhor otimização dos recursos humanos nos processos produtivos do capital variável. Mas será que realmente pode ser interpretado apenas pelo lado do capital como forma de mais-valia relativa?
Essa justificativa é explicada através do paradigma industrial e tecnológico, no modo de acumulação flexível, adotado a partir dos anos oitenta, pelo uso da força de trabalho polivalente, ágil, multifuncional com fins de dar consistência a esse modelo que se baseia na economia de escopo, sustentada na demanda. A flexibilidade e a polivalência são elementos condicionantes desse padrão de produção, rompendo com o modelo fordista que caracterizava a força de trabalho pela sua especialidade, devido à linearidade de seu sistema. A rigidez do fordismo é substituída pela idéia de flexibilidade e pela polivalência que o trabalhador deve desempenhar no uso de suas funções. O operário que anteriormente controlava apenas uma máquina ou uma operação de uma máquina, passa a ser responsável por uma ou várias máquinas que executam diversas operações e que muitas vezes pode ser operacionalizada no próprio escritório. Esse dado reflete que a economia líquida do tempo de trabalho ocorre e que essa circunstância é um fator do desemprego tecnológico, apesar de não ser o único.
Nos países avançados, o desemprego tecnológico é minimizado por planos de desenvolvimento e reorganização social, nos quais, apesar do uso de novas tecnologias, são mantidos os níveis de emprego. Porém existe uma discussão contínua promovida pelos seus sindicatos, conforme afirma Falabella (apud NEDER,1988,p.15-16) no que diz respeito à diminuição ou ao desaparecimento de seus coletivos de trabalho, "sobre o flagelo do desemprego e a concorrência entre os jovens treinados para lidar com a nova tecnologia e os operários especializados de meia-idade"[1].
Já nos países não avançados, como o Brasil, as discussões normalmente não ocorrem e quando acontecem têm fins socialmente estabelecidos pelas classes hegemônicas, defendendo seus principais interesses políticos. Dessa maneira, precisa-se começar a discutir a possibilidade de políticas que girem em torno de medidas reivindicatórias, que permitam ao trabalhador ter conhecimento daquilo que pode ocorrer consigo, à medida que é afastado do processo de trabalho pelas causas decorrentes dessas novas exigências mercantis do modo de acumulação, de suas potencialidades frente à recolocação no mercado como meio de enfrentar o desemprego tecnológico.
Essas medidas não podem ser avaliadas, sem serem questionados os aspectos que concernem às questões econômico-estruturais, que envolvem aumento da produção e da demanda; de investimentos nas áreas produtivas, nas condições de trabalho, nos planos de ocupação, de emprego e do uso de novas tecnologias. Certamente essas discussões afetam a "ordem social", pois questionam regras, leis, padrões de consumo, de produção, novas incorporações de categorias ao mercado de trabalho, relação campo-cidade, uma nova divisão do trabalho entre grupos, uma nova estrutura da própria família, uma escola funcional, uma diferente visão de espaço e de utilização de energias naturais e respeito à natureza. Esses poderiam ser bons motivos para se discutir o futuro de uma sociedade que começa a ser ameaçada pelo uso excessivo de máquinas e que tem claros os impactos imediatos dessas políticas tecnológicas que são usadas na competição econômica, sem preparar a população para as suas conseqüências.
Na literatura disponível de sociologia do trabalho, aparece atualmente com muita freqüência a discussão de que a reestruturação produtiva acarreta desemprego tecnológico. Entretanto, não se pode esquecer que, no início da década de oitenta do século passado, houve uma forte recessão econômica no Brasil, acompanhada de desemprego, sem que tenha ocorrido uma reestruturação na produção. Vale lembrar que as políticas econômicas adotadas naquele período, para combater a inflação e enfrentar a recessão, reduziram o ritmo de crescimento da economia, trazendo consigo uma série de efeitos como baixo índice de investimentos nas atividades produtivas, uma forte sangria financeira para o pagamento dos juros da dívida externa, bem como uma deterioração de importantes setores da infra-estrutura econômica. Essas políticas foram marcadas por uma economia oligopolizada, que ensejou ao país sofrer uma forte deterioração da capacidade operativa dos empreendimentos econômicos. A diferença entre países avançados e não avançados está no fato de que enquanto os primeiros fizeram a revolução tecnológica e investiram em novos processos de produção, os segundos permaneceram naquele período defasados, com um parque industrial incapaz de acompanhar os avanços da revolução tecnológica e as exigências do comércio mundial.
Pode-se dizer que, no contexto da crise econômica, expandiu-se o desemprego tecnológico, quando o capital aproveitou-se dela para redefinir suas relações com o trabalho e impor novas formas de produção. Simultaneamente à reestruturação produtiva proposta, novos padrões de desempenho gerais na economia foram imprimidos, para salvaguardar as relações entre capital/trabalho, ferindo certamente o trabalho por relações e práticas tradicionais, precárias e intensas e fortalecendo o capital pela adequação de processos modernos, tecnologicamente viáveis, com investimentos financeiros públicos e privados, com a marca do novo modo de acumulação, ou seja, pela flexibilidade.
Terceirização, precarização e flexibilidade
O uso de novas tecnologias envolve a assimilação de uma cultura empresarial onde haja a integração entre as propostas de modernização tecnológica e racionalização. Nem sempre o uso de novas tecnologias é apenas um processo técnico na medida em que pressupõe uma nova orientação no controle do capital, no processo produtivo e na qualificação da força de trabalho. Dos diversos efeitos que derivaram dessa orientação, a terceirização, a precarização e a flexibilidade aparecem com constância como características do paradigma flexível, em substituição ao taylorista-fordista.
A terceirização, segundo Faria (apud Ramalho; Martins,1994,p. 43), ocorre de duas formas no Brasil. Uma delas "objetiva alcançar tanto elementos de produtividade quanto condições novas de competitividade. É a imposição das tecnologias gerenciais de qualidade. [...] E a outra tem como finalidade reduzir custos".[2] Essas duas modalidades mostram como o Brasil resolve as exigências dos novos paradigmas industriais, adaptando às condições existentes as exigências do mercado quando relaciona competitividade e produtividade, sem esquecer a qualidade.
Em nome da racionalização produtiva e da especialização flexível, a terceirização é adotada como estratégia para gerar maior produtividade com competitividade. Com essa estratégia, são introduzidos novos métodos de organização, sem muitas vezes investimentos em tecnologia. As mudanças organizacionais acabam confundindo-se com ambientes modernos. Entretanto, essas medidas permitem às indústrias tornarem-se eficientes pela flexibilidade, e a modernização facilita a concorrência. Com esses dois aspectos, torna-se possível enfrentar a competitividade e promover produtividade pela qualidade. A flexibilização implica a redução de quadros de funcionários, diminuindo as hierarquias na administração e reduzindo também o número de trabalhadores no chão de fábrica. A agilidade na produção permite maior controle das partes e domínio do todo. Permite também uma diminuição nos custos.
A terceirização em muitas indústrias do pólo metal-mecânico da Região Nordeste do Estado do RS[3]foi testada inicialmente em setores não ligados diretamente ao setor produtivo, com a finalidade de avaliar seus efeitos e simultaneamente verificar o controle sobre esses processos. Essas indústrias começaram o processo de terceirização pelas áreas de apoio ao setor produtivo e foram ampliando os serviços que entrariam nesse processo. Limpeza, transportes, alimentação, saúde, assistência jurídica, manutenção, segurança patrimonial, assistência social foram as primeiras áreas de apoio a serem terceirizadas e, após essas primeiras experiências, áreas como a de recursos humanos, comunicação, marketing, foram agregadas às primeiras. A partir das experiências realizadas, muitas avançaram na concepção de que não necessitavam produzir todos os componentes de seu processo, pois poderiam comprá-los a um custo menos elevado, e outras acabaram sublocando a força de trabalho necessária para a atividade produtiva. Entretanto, a terceirização feita nas áreas de apoio à produção se manteve.
No discurso empresarial aparece a justificativa de por que a terceirização promoveu agilidade no processo produtivo, e essa argumentação na literatura pode ser vista como um elemento de flexibilidade. A terceirização é um processo que exige um constante re-planejamento, versatilidade e garante a competitividade que o mercado impõe.
Um dos resultados visíveis da reestruturação produtiva foi a precarização pela saída de trabalhadores do mercado formal de trabalho para os setores informais. O trabalhador, para não perder totalmente sua dignidade, acaba se transferindo para o setor informal, perdendo a possibilidade de assegurar direitos que havia conquistado ao longo de sua vida operária e, na condição de desempregado, não vê alternativas e possibilidades de continuar com o vínculo empregatício. A opção pelo mercado informal, muitas vezes na condição de estar à margem do sistema, lhe oferece parte daquilo que perdeu como marca de que esta fora do sistema. A entrada no mercado informal lhe parece provisória, mas acaba se distanciando da possibilidade de retorno ao trabalho assalariado.
A precarização do emprego aponta para a instabilidade das relações de trabalho e para a desvalorização da qualificação dessas relações. Com freqüência, as grandes indústrias re-contratam seus antigos funcionários para o trabalho necessário e o fazem através de contratos de trabalho temporário ou mesmo pela subcontratação de serviços. A precarização influi em quem está fora do processo e também em quem está dentro. Ela estabelece alguns parâmetros
Alguns impactos sociais das novas tecnologias: resultado de um estudo[4]
Discutindo a premissa de que a reestruturação produtiva em algumas regiões gerou supressão de postos de trabalho, e concomitantemente desemprego tecnológico, pode ser uma forma de questionar se houve a recomposição do emprego em favor de postos de trabalho de baixa qualidade, ou de forma precária.
Diante dessas possibilidades, o estudo feito aponta que 80% dos entrevistados afirmam que houve eliminação de postos de trabalho nos setores industriais, equipados com novas tecnologias, reduzindo a força de trabalho empregada. Apenas 20% dos entrevistados responderam que em suas indústrias não houve eliminação de postos de trabalho mas uma readequação de trabalhadores nos setores produtivos para se integrarem no processo, visando garantir a produtividade. A justificativa da eliminação de postos de trabalho foi de que a modernização tecnológica permitiu reorganizar o trabalho, racionalizando-o e re-adaptando-o a novas funções produtivas, com fins de manter padrões de qualidade. Ficou visível nesse estudo que a produtividade é a alavanca das decisões de novos investimentos e de seus resultados.
Esses dados apontam para o que aparece na literatura sobre o tema, principalmente pelas duas situações provocadas pela inovação, ou seja, a do desemprego e a do deslocamento dos trabalhadores e sua reabsorção no mercado de trabalho. Segundo Geller (apud,1998, p. 60 )[5], a redistribuição de trabalhadores entre setores é um fenômeno contínuo, ligado ao processo tecnológico e ao crescimento produtivo". Entretanto a relocação de trabalhadores entre setores é problemática quando a indústria não possui programas de requalificação de sua força de trabalho. Constata-se que os critérios de qualificação profissional perpassam as exigências da escolaridade formal, criando uma distância da escola com o mundo do trabalho. Habilidades como ler, escrever, calcular não bastam para qualificar um trabalhador tecnicamente. A mudança tecnológica é "um processo contínuo que conduz a novas competências e à reclassificação de postos" (p. 64). Estar atento às exigências do mercado e responder às suas demandas não é uma tarefa simples, principalmente porque as mudanças tecnológicas têm sido acompanhadas por mudanças organizacionais, decorrentes das mudanças de paradigmas.
Quanto aos principais efeitos obtidos com a introdução de novas tecnologias, o estudo indica que o aumento de produtividade (36%) é muito importante, seguido de redução do tempo de trabalho (28%); racionalização da produção (12%); qualidade do produto (12%); redução de estoque (4%); redução de custos com a força de trabalho(4%), e 4% não responderam ao questionamento. O raciocínio apresentado nesse questionamento se confirma na explicação de Mattoso (apud LEITE, 1996, p.6), quando coloca que a tecnologia "em si mesma, possibilita duas coisas: aumento de produtividade e redução do trabalho vivo envolvido na produção. Ela não traz necessariamente o desemprego"[6]. Para esse autor, se existisse uma política macroeconômica voltada ao pleno emprego, os efeitos da inovação seriam diferentes. A subordinação ao capital financeiro internacional impede o enfrentamento do fenômeno.
Os efeitos das inovações tecnológicas relacionadas às condições de trabalho, vistos pelos entrevistados são: maior proteção do trabalhador nas áreas de insalubridade, diminuição de acidentes de trabalho, menor número de trabalhadores, e a dispensa da força de trabalho. Apenas um pequeno número de entrevistados afirmou que as inovações não afetavam as condições de trabalho. Essas colocações indicam a ambigüidade dos efeitos, ou seja, de um lado o trabalhador é protegido pelas mudanças quando o ambiente de trabalho instala novas tecnologias que permitem a substituição do trabalho perigoso pelo trabalho controlado e quando essas alterações são feitas em áreas de insalubridade, diminuindo os acidentes e evitando uma série de doenças de trabalho, ocasionadas pelo tipo de trabalho. Por outro lado, a substituição do trabalho humano pelas máquinas reduz o trabalho vivo e, ao mesmo tempo, conduz ao desemprego. Quanto aos efeitos que a automação desencadeia nos setores de produção, o estudo aponta em primeiro lugar para a redução do tempo de trabalho, em segundo lugar para a reeducação profissional e em terceiro lugar para mudança substancial no fluxo de produção.
Das inovações organizacionais mais freqüentes aparecem: a mudança de lay-out; a introdução de tecnologias, programas de qualidade total; a eliminação de estoques; controle de qualidade integrado ao processo; implantação inicial de células nos processos de trabalho (integração vertical) e produção estabelecida pelo mercado sob a forma de encomenda. Essas inovações, as organizacionais e tecnológicas fazem parte do paradigma flexível que, segundo Harvey (1993,p.169) "tem papel-chave na modificação da dinâmica da luta de classes, movida por ambos os lados, no domínio dos mercados de trabalho e do controle do trabalho".[7] Em decorrência das inovações organizacionais apresentam-se as seguintes mudanças: a presença de uma nova cultura empresarial voltada para a educação e o treinamento da força de trabalho, com colaboração e qualificação. A diminuição dos quadros hierárquicos é marcada pela flexibilidade profissional, multifuncionalidade e polivalência.
Para discutir o processo de terceirização foram questionados aos entrevistados os critérios utilizados para a contratação de serviços terceirizados, os principais ganhos e os motivos de terceirização na área social.
Das indústrias pesquisadas, constatou-se que a totalidade delas utiliza serviços terceirizados e que o principal critério utilizado para a contratação desses serviços é definido pelos custos dos serviços (56%), a parceria com trabalhadores da própria indústria, a fim de assegurar a filosofia de trabalho e manter uma negociação dos custos dos serviços (28%), e outros motivos (16%). Desses foram citados: necessidades externas urgentes para a satisfação dos clientes, a posse de equipamentos para satisfazer as necessidades da indústria, a especialização, a tecnologia do terceirizado e os custos adequados, compatíveis com os preços do mercado.
Quanto aos principais ganhos, as indústrias apontaram para a racionalização do processo produtivo, seguido da diminuição dos custos sociais e para o aumento da produtividade. Desses ganhos, salientaram a importância da diminuição dos gastos sociais. Chama a atenção que a qualidade do produto, enquanto ganho obtido, não aparece como destaque, o que demonstra uma certa incongruência com o discurso presente sobre a qualidade nas indústrias. Apenas 4% dos entrevistados responderam que não há ganhos com a terceirização.
Considerações finais
O processo de modernização tecnológica não ocorreu dissociado da lógica da acumulação capitalista, uma vez que a introdução das tecnologias é produzida pelo capital e não pelo trabalho. As indústrias de transformação do pólo metal-mecânico de Caxias do Sul investiram em automação microeletrônica através da instalação de equipamentos com microprocessadores, pois possuíam tanto condições técnicas como financeiras para garantir sua operacionalidade. Logo, as mudanças marcadas pelas inovações técnicas e organizacionais demonstram a penetração da automação microeletrônica nos processos de trabalho como paralelamente a implantação de novos paradigmas organizacionais.
O estudo
aponta para a eliminação de postos de trabalho nos setores
industriais equipados com novas tecnologias, reduzindo a força de
trabalho empregada. A justificativa da eliminação de
postos de trabalho foi de que a modernização tecnológica
permitiu reorganizar o trabalho, racionalizando-o e readaptando-o a novas
funções produtivas, com fins de manter padrões de
qualidade. O estudo aponta ainda que o processo de terceirização
adotado nessas indústrias foi promovido para obter racionalização
do processo produtivo, diminuir gastos sociais e aumentar a produtividade.
Constatou-se também que muitos processos de terceirização
promoveram precarização da força de trabalho.
[2] FARIA, Aparecido. Terceirização: um desafio para o movimento sindical.p.43. In: RAMALHO, José Ricardo e MARTINS, Heloisa de Souza.Terceirização-Diversidade e Negociação no Mundo do Trabalho.São Paulo: Hucitec/CEDI-NETS,1994.
© Copyright Juan Carlos Aceros Guladrón, 2004
© Copyright Scripta Nova, 2004
Ficha bibliográfica:
HERÉDIA, V. Novas tecnologias nos processos de trabalho: efeitos da reestruturação produtiva . Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2004, vol. VIII, núm. 170 (9). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-170-9.htm> [ISSN: 1138-9788]
Volver al índice de Scripta Nova número 170
Volver
al índice de Scripta Nova