Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788] Nº 69 (59), 1 de agosto de 2000 |
INNOVACIÓN, DESARROLLO Y MEDIO LOCAL.
DIMENSIONES SOCIALES Y ESPACIALES DE LA INNOVACIÓN
Número extraordinario dedicado al II Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)
TURISMO, INOVAÇÕES E DESARTICULAÇÃO DAS ATIVIDADES TRADICIONAIS
Fernando Roque de Lima
Universidade Estadual da Bahia (UNEB-UEFS), Brasil
Doutorando em Análisis Geográfico Regional, UB.
Estuda as características sociais que realçam a identidade cultural dos lugares que compõem a Ilha de Itaparica. Busca compreender os referenciais da sociabilidade tecida no cotidiano, tendo em vista as mudanças experimentadas na redefinição sócio-econômica no uso do tempo e do espaço, propiciada pela influência do turismo e do veraneio. Destaca as transformações em curso na sociedade contemporânea, enfatizando a educação e os novos saberes propiciadores ao empreendedorismo como elemento que agrega valor à gestão dos bens sociais de interesse turístico que estimula o desenvolvimento local. Discute a oportunidade de se adotar uma nova perspectiva no encaminhamento de solução de demandas sociais que possibilita a criação de condições favoráveis à inovação, ao desenvolvimento de natureza endógena. Defende a necessidade de se adotar, nos planos de desenvolvimento local, os expedientes e recursos que levem em conta as características culturais, objetivando, com isso, a otimização de investimentos direcionados ao consumo coletivo.
Palavras-chave: Desenvolvimento local / Turismo e modernização / Inovação e gestão de bens sociais / Identidade cultural e desenvolvimento local / Educação, inovação e desenvolvimento endógeno.
Estudia las características sociales que refuerzan la identidad cultural de los lugares que componen la Isla de Itaparica. Busca comprender las referencias de la sociabilidad tramada en el cotidiano, teniendo en cuenta los cambios intentados en la redefinición socio-económica en el uso del tiempo y del espacio, propiciada por la influencia del turismo y del veraneo. Resalta las transformaciones en curso en la sociedad contemporánea, dando énfasis a la educación y los nuevos conocimientos favorables al emprendedor como elemento que agrega valor a la administración de los bienes sociales de interés turístico que estimula el desarrollo local. Discute la oportunidad de adoptar una nueva perspectiva en la dirección de solución de demandas sociales que posibilita la creación de condiciones favorables a la innovación, al desarrollo de naturaleza endógena. Defiende la necesidad de adoptar, en los planes del desarrollo local, los expedientes y recursos que tienen en cuenta las características culturales, teniendo como objetivo, con eso, la mejoria de inversiones dirigidas al consumo colectivo.
Palabras clave: Desarrollo local / Turismo y modernización / Innovación y administración de bienes sociales / Identidad cultural y desarrollo local / Educación, innovación y desarrollo endógeno.
Studies the social caracteristics that shows up the cultural identity of the places that makes part of Itaparica Island. It is ment tounderstand everyday the social references assuming the transformations that had occured in the social and economical definement of time and space, influenced by the turism and vacation. The society transformationsemphasizing the education and the new knowledge makes the turism the element that values the social benefits of turistic interests that establishes the local development. Discusses the oportunity of adopting a new perspective in finding a solution for the socialdemand which has the possibility of creating great conditions for the inovation, to the development of the endogenous nature. Defends the need of adopting resorces considering cultural caracteristics, in the local development plans, wanting with this, maximization of investments that brings general consume.
Key-words: Local development / Turism and modernization / Inovation and social benefits gestation / Cultural identity and local development / Education, inovation and endogenous development
Este texto que ora apresentamos procura realçar alguns pontos presentes na reflexão sobre as relações entre cultura, educação, turismo e as discussões acerca do conceito de desenvolvimento local. Esta discussão orienta a perspectiva que realça as características de uma sociedade onde as atividades tradicionais, como a pesca e o veraneio em pequena escala, são reordenadas em função de um processo de modernização, traduzido no turismo que reorientou a organização dos usos do tempo e do espaço, afetando especialmente as atividades tradicionais. Estes conceitos compõem a questão central subjacente no objeto de estudo que tem como base empírica a Ilha de Itaparica, localizada no Estado da Bahia- Brasil. Tal objeto de estudo tem como desenho fundamental as relações entre espaço e cultura como elementos propiciadores às circunstancias favoráveis ou inibidoras às condições de vida social e econômica traduzidas no conceito de desenvolvimento. Pela natureza e objetivos deste texto, não realizamos aqui as discussões de ordem epistemológica atinentes ao conceito de desenvolvimento. Outro traço introdutório aqui presente: Em razão de ainda estarmos iniciando nossos estudos - quanto às questões sobre inovação e empreendedorismo - há carências de remissões à realidade empírica da Ilha de Itaparica, assim como de conclusões, mesmo parciais, sobre os itens aqui elencados.
As lacunas antes enunciadas serão preenchidas ao longo da realização de nossos estudos e pesquisas de campo que subsidiarão as análises pertinentes a serem apresentadas na conclusão do estudo atinente ao curso de doutorado em Análise Geográfica Regional da Universidade de Barcelona.
A natural polissemia do turismo, enquanto conceito utilizado pelas ciências humanas, é uma das características manifestas de sua natureza multifacetada. Esta condição suscita desafios a quem se dispuser estudá-lo em quaisquer de suas dimensões. Por ser uma atividade que, em sua configuração, apresenta uma performance que denota, em seu funcionamento, o concurso de diversos itens - o turismo contribui para a produção de múltiplos efeitos de natureza social e econômica. Estas características se constituem em elemento limitador ao exercício teórico que os especialistas têm encontrado ao pretenderem circunscrever as bases metodológicas do fenômeno turístico tendo em vista a necessidade de realização de estudos de cunho científico.
O turismo, como outras dimensões da vida social e econômica, tem sido objeto de reflexão teórica influenciada pelo modo explicativo dominante no discurso cientifico.
A produção de tal conhecimento tem como pressuposto epistemológico os referenciais instrumentalizantes da racionalidade que perpassa a tessitura sócio-econômica. Têm sido abundantes os debates sobre os modelos e paradigmas que norteiam a explicação e análise científicas. Os questionamentos têm-se direcionado à inapropriedade de métodos dos quais se exauriu sua capacidade explicativa em razão de não se observar a pertinência com as mudanças ocorridas na sociedade. Assim, o turismo em sua dimensão interdisciplinar requer - para sua plena apreensão no processo de diagnóstico, analise e teorização - posicionamento metodológico que dê conta de sua especificidade, possibilitando ampliar a profundidade analítica e compreensiva que subsidiem adequadamente as políticas e estratégias para o setor. Acrescente-se ainda que a alternativa de produção turística vem experimentando momentos de reflexão onde se questionam os efetivos resultados de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento do potencial turístico de várias regiões do mundo periférico, além de discutir a viabilidade econômica, a longo e médio prazos, de empreendimentos no setor.
O turismo, por sua vez, pode proporcionar a possibilidade de desenvolvimento sócio-econômico para diversas sub-regiões do Nordeste brasileiro. Entretanto, deve antecipar-se a possíveis efeitos predatórios de uma forma de exploração que não se atenha, unicamente, ao aspecto econômico da atividade.
A perspectiva de sustentabilidade ambiental que propicie a observância de compatibilidades sociais e ecológicas e a conjugação dos interesses empreendedores aos interesses locais, à medida que se configurem como uma nova alternativa tecnológica, serão realçadas como diferenciais competitivos, capazes de adicionar valor ao produto.
A percepção dessas diversidade e especificidade, para que as proposições de futuro não destruam as tradições e referências que, além de se traduzirem em alternativas inovadoras, se incorporadas ao processo de desenvolvimento econômico, deram e dão sentido à vida dos moradores das localidades baianas onde hajam investimentos voltados à atividade de turismo.
O desejo de sorver os encantos propiciados pela vivência à beira mar e o exercício das práticas de vilegiatura marítima são movimentos regulados pelo imaginário dominante em cada época. Assim, até meados do século XIX, a visão dominante sobre o mar era influenciada pela interpretação bíblica do oceano primordial, incompreensível, demoníaco. A partir daquela data, o europeu das classes altas passou a valorizar a emoção do banho de mar, as temporadas de veraneio; inicialmente como recurso profilático às tensões suscitadas pelo meio urbano, e, em seguida, como expediente lúdico-dionisíaco envolto, em grande medida, por uma sensibilidade narcísica. No Brasil, é possivelmente nesta época, que se inicia a difusão das práticas de vilegiatura marítima, como ora exercitamos; isto por que como se diz alhures, "Oropa, França e Bahia" possuem a mesma propensão lúdica.
A Bahia oferece suas belas praias a quem nelas queiram se banhar. Especialmente na ilha de Itaparica com seus 36,4 km de litoral onde espargem suas praias, a maioria delas localizada no município de Vera Cruz que, sozinho, possui 30.800 metros de área banhada pelo mar. A natureza foi generosa com esta ilha, já que propicia o fascínio a todos que conhecem seus encantos naturais, patrimônio histórico, artístico e cultural.
Lentamente, a ilha de Itaparica vinha atraindo, com sua vocação natural, veranistas e turistas que de alguma forma convivia em "harmonia" com os moradores locais. Uma vez que era realizado em pequena escala, o cíclico fluxo de veranistas não ensejava a predação dos recursos paisagísticos.
A ilha de Itaparica representa um amplo e variado universo de recursos ambientais e culturais digno de ser preservado e estimulado, dado sua representatividade e riqueza, como elemento que propicia o desenvolvimento local subsidiado por múltiplas referências concatenadas para a obtenção do bem comum.
Estudar as características sociais que realçam a identidade cultural de uma região é uma atividade que poderá contribuir para a compreensão de um dos itens mais significativos da sociabilidade tecida no cotidiano humano.
Neste texto observa-se a discussão e análise de situações onde a influência do turismo na redefinição sócio-econômica do espaço se fez notar enfaticamente. São discutidas as experiências vivenciadas pelos municípios que compõem a Ilha de Itaparica, localizada na região do Recôncavo, Estado da Bahia, Brasil.
O turismo, enquanto agente "modernizador", tem suscitado a reflexão de muitos especialistas. As abordagens são de variada ordem. Aqui realçamos as múltiplas determinações que propiciaram a incorporação, pelas áreas receptoras, dos elementos que mobilizam a atividade turística em sua performance de sorver os bens e produtos do local visitado, pautando-se numa lógica de uso e descarte.
A Ilha de Itaparica, em sua quase totalidade territorial, experimentou um processo de reordenamento do uso do espaço e do tempo, tendo em vista a convivência com o turismo e o veraneio em sua dimensão sazonal.
Sendo a maior das 56 ilhas que pontilham a Baía de Todos os Santos,
a ilha de Itaparica, na região metropolitana de Salvador, é
constituída por dois municípios – Itaparica e Vera Cruz –
que totalizam uma área de 246 km², sendo 211 km² referentes
ao município de Vera Cruz e os restantes 35km² concernem ao
município de Itaparica.
A Continentalização da Ilha de Itaparica
A importância da Ilha de Itaparica no âmbito metropolitano é plural e significativa; abrange a própria formação histórica de Salvador, do Recôncavo e da Bahia. É um patrimônio histórico, natural e econômico que a cada dia adquire uma expressão maior na região metropolitana de Salvador.
Na atualidade, o evento histórico que demarca dois momentos distintos na caracterização da ilha de Itaparica, e seu papel no contexto metropolitano é a implantação do sistema ferry-boat, no início dos anos 1970. Este fato alterou as relações entre a Ilha e o contexto Metropolitano, o que possibilitou romper o relativo isolamento da Ilha que, de algum modo, passou a assumir uma conotação continental, já de um lado experimentada com a ponte do funil, que a liga ao Recôncavo por rodovia, e, de outro, com os navios do sistema ferry- boat, que a integram a Salvador. Naquele momento, sua precária economia encontrava-se em decadência. Isso possibilitou a abertura de um grande espaço para o exercício da especulação do solo, devido ao aparecimento de clientela de lotes estimulada pelo sistema de transporte ligando a Ilha ao continente, quase ao mesmo tempo houve a desativação do transporte por saveiros e do porto da rampa do mercado. Em maior parte esses saveiros tornaram-se embarcações turísticas, pequenas escunas, etc. Exemplo de substituição de funções de elementos outrora pertencente a uma outra ordem econômica e cultural.
Um intenso fracionamento do solo, a implantação de grandes
empreendimentos turísticos, o aumento da rede hoteleira e de outros
equipamentos empresariais propiciaram a incorporação da Ilha
de Itaparica ao processo dinâmico da economia regional : A Continentalização
da Ilha. Com isso, houve a expulsão da população nativa
para a periferia das vilas e cidades na direção da rodovia
BA-001, que corta a Ilha longitudinalmente.
Desarticulação da atividade de pesca
A tradição pesqueira da Ilha de Itaparica remonta ao início da colonização brasileira. Durante um longo período sua economia esteve sustentada principalmente pela atividade de captura e beneficiamento de derivados da baleia.
Com o advento do ferry-boat, a pesca - base econômica de expressiva parcela da população da Ilha, sofreu um profundo impacto com a rearticulação sócio-econômica experimentada por Itaparica neste processo de continentalização, tornado-se um balneário para as populações do Recôncavo sul e da própria Salvador, além de sua dimensão internacional projetada por investimentos hoteleiros do gênero do Mediterranée.
Neste processo, a expansão urbano-turística contribuiu para a deterioração das tradicionais atividades de sobrevivência de significativo contingente de sua população, especialmente os segmentos ligados à pescaria. O "progresso", o turismo e o veraneio não se reverteram em melhores condições de vida para os nativos, senão para um pequeno grupo que se incorporou aos serviços de apoio à hotelaria.
Fonte de subsistência e de valor de troca, as atividades de pesca vêm sofrendo uma degradação nos processos de captura, afetando diretamente a vida das pessoas que dependem desta atividade econômica. Diversos elementos vêm contribuindo para esta situação.
O processo de expulsão e expropriação dos meios de produção dos pequenos pescadores tem-se desenvolvido de diversas formas, além da oriunda da especulação imobiliária. Vale a pena ressaltar , no entanto, a progressiva destruição da vida marinha pela poluição industrial e pela pesca predatória, tanto profissional como a amadora, notadamente com o uso de explosivos. Uma dessas formas indiretas advém da concorrência que sofrem dos barcos e técnicas de capturas mais modernizados tornando a produção irrisória. Acrescente-se a isso a depredação do meio ambiente provocada pela pesca de arrastão que extermina e /ou expulsa os peixes para mar afora, tornando assim impossível o acesso aos recursos ictiológicos via instrumentos rudimentares de produção - que passam a ser improdutivos.
Nem todos os pescadores - que desenvolvem o trabalho de pesca como atividade de subsistência e em reduzida escala como valor de troca - possuem instrumentos produtivos, e, mesmo aqueles que os tenham não são donos de todos os meios suficientes à realização de uma pescaria: uns possuem apenas a embarcação, outros o espinhel ou a rede. Esta situação permitiu o surgimento de uma relação de trabalho denominada parceria. Esta é uma forma de relação social de trabalho, em que o produto é distribuído pelos trabalhadores proporcionalmente à contribuição que cada um dá para a produção.
O fato de apenas alguns possuírem meios de produção
permitiu que, com o surgimento de novas necessidades provenientes da urbanização
- mercantilização, passassem a utilizar o trabalho daqueles
que só contavam com sua força de trabalho, não mais
a título de colaboração espontânea na execução
de uma tarefa, cujo produto muitas vezes era repartido de acordo com as
necessidades de cada um e não por imposição de regras
ditadas pelos proprietários de pesca, mas como fonte de acumulação.
Alguns problemas conceituais
A temática concernente às relações entre padrões de racionalidade de exploração da natureza e a ocupação do espaço pode nos oferecer a oportunidade de estudarmos um dos aspectos da organização social que suscita leituras da forma como uma sociedade concebe suas relações, tendo em vista os elementos que a estruturam e que se manifestam na configuração do ambiente físico e social.
Identificar e compreender os elementos presentes na maneira de uma sociedade estabelecer os rituais de absorção dos recursos da natureza, possibilita analisar um dos itens essenciais que compõem o ethos, a cultura dessa sociedade.
Para a expansão do turismo torna-se necessário a incorporação de novas áreas exploráveis além dos limites da metrópole; com isso a Ilha de Itaparica foi influenciada na confirmação e expansão de sua vocação como local de turismo e veraneio.
A Ilha de Itaparica é civilização desde o começo da colonização, ponto de apoio da urbanização de Salvador e do Recôncavo. Tem história e dela é testemunha. Herdeira e transmissora de um notável acervo cultural, freqüentemente subjugado pela expressão do natural, num perigoso processo de uso e descarte.
A condenação da Ilha de Itaparica em balneário de consumo de massa, pode sufocar uma civilização nativa que se expressa numa grande variedade de gestos, camuflados pela corte que se faz aos veranistas que trazem dinheiro e alternativas sazonais de trabalho.
As expressões culturais do nativos não desapareceram e nem tampouco foram anuladas pela força do efêmero, porém cíclico, veraneio.
Em Itaparica observa-se uma intensa ocupação do seu espaço, com atividades direcionadas ao lazer de massa e ao veraneio. Não obstante os atrativos naturais e culturais que a Ilha dispõe, a feição urbana e sua interface social têm demonstrado sinais de saturação e insustentabilidade no padrão de ocupação e uso do solo. Novas referências de relação do homem com a natureza e sua influência recíproca com o turismo se fazem necessárias para que o encanto e luminosidade do lugar não se esmaeçam.
Os municípios de Vera Cruz e Itaparica são constituídos por uma constelação de pequenas comunidades – lugares - específicas em seus misteres, em suas estruturas. Cada lugar tem uma feição própria, uma forma peculiar de arranjar o espaço e o tempo na vida cotidiana de sua gente que constrói as singularidades dos seus jeitos de ser.
A formação histórica, econômica e social de cada uma das localidades que compõem a Ilha de Itaparica tem significados específicos mesmo considerando a unidade política pertinente a cada um dos dois municípios e, por isso, merecem tratamento analítico especial em termos de apreensão do ethos cultural e suas respostas às soluções locais frente ao intenso turismo sazonal e veranista que afetam substancialmente a Ilha de Itaparica.
O modo de vida dos moradores está relacionado com as formas contratuais da economia de pequena escala, determinando a estratificação social e os referenciais de percepção do mundo, condicionando a forma de ser e os significados da existência.
A população que habita um território age sobre ele modificando-o e, ao mesmo tempo, sofrendo o efeito das adaptações que lhe permite viver com os recursos existentes na natureza e no meio ambiente.
Refletindo sobre as interações realizadas pelo trabalho humano na natureza, Karl Marx (Apud Gidens, 1984) afirma que a maneira pela qual os indivíduos manifestam sua vida é sua maneira de ser. Sua maneira de ser conjuga-se à sua produção, tanto àquilo que é produzido, como ao modo pelo qual produzem. O que os indivíduos são, portanto, dependem das condições naturais de sua produção.
Dessa inter-relação contínua do homem com o meio ambiente, ao longo do tempo, resultam os costumes, os hábitos, os objetos, as artes, a tecnologia, os preconceitos e os valores materiais e espirituais que formam a cultura. Assim, a população mais o território constituem uma espécie de ecossistema cultural. Por sua vez, o resultado dessa inter-reação entre população e meio físico vem a se constituir a herança, o acervo cultural, que qualifica e distingue uma sociedade.
Esse acervo cultural deve ser transmitido pela educação ao indivíduo de maneira a permitir que esse membro da população possa integrar-se ao ecossistema cultural sem quebrar as suas relações de equilíbrio. Neste sentido, a educação, nessa concepção, é uma conseqüência, resultante e decorrente da cultura. Convêm entender que a educação não deve ser pensada como um simples transmitir de informações; a comunicação da herança, das experiências da sociedade local são ítens de extrema relevância para a preparo educacional necessários à formação do cidadão em suas múltiplas dimensões.
O conceito de cultura é, naturalmente, polissêmico. Aqui utilizamos a noção de cultura denotando a manifestação da maneira de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa. Cultura é um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam, modificam o mundo e a si mesmas. É justamente porque compartilham de parcelas importantes desse código – cultura - que um conjunto de indivíduos, com interesses e capacidades distintas, até mesmo opostas, transformam-se num grupo e podem viver juntos, sentindo-se parte de uma mesma totalidade.
Para se compreender a necessidade de refletir sobre as relações
entre turismo, desenvolvimento local, é importante que façamos
alguma incursão sobre as discussões que se estão realizando
acerca das novas configurações desenhadas na contemporaneidade,
especialmente as mudanças relacionadas ao âmbito do trabalho,
sua influencia na educação, e na constituição
das novas competências exigidas pela lógica do pós-fordismo.
Cenário das atuais transformações sócio técnicas
Na atualidade parece que há uma grande unanimidade: o mundo passa por profundas transformações. Tais mudanças denotam uma magnitude que tem estimulado muitos autores a atribuírem o estatuto de uma nova revolução industrial.
Observa-se que a geração de conhecimento e processamento de informação são elementos centrais e subsidiam a nova revolução sócio-técnica, semelhante à que constitui a revolução tecnológico-social referenciada na produção e uso de energia que propiciaram o surgimento da sociedade industrial. Os teóricos da contemporaneidade são unânimes quando analisam as implicações de variada ordem presentes neste processo.
Sabe-se que a ciência e a tecnologia foram as principais fontes de produtividade, durante a primeira metade do século XX. O conhecimento e a informação se convertem nos elementos fundamentais de geração de riqueza e de poder na sociedade, no período posterior à Segunda Guerra Mundial.
A tecnologia se traduz na ciência e nas máquinas assim como na tecnologia social e organizativa. Neste sentido, tanto a ciência como a tecnologia social, junto com conhecimentos técnico-administrativos foram consideradas as principais forças no crescimento contínuo da produtividade durante as últimas décadas.
Uma das características principais da nova sociedade é
a estreita interdependência entre as esferas social, política
e econômica. A tecnologia afeta as formas de trabalho e os tipos
de produto e serviços, introduzindo um elemento de intensificação
e incerteza, obrigando à assunção de comportamentos
flexíveis nas ações e na mentalidade.
As novas demandas econômicas e sociais
A atualidade vem criando novas demandas sociais que se manifestam nos diversos setores da sociedade. Neste sentido, a contemporaneidade tem suscitado transformações de diversa natureza, iniciadas nos anos 80, que requer a ampliação dos conhecimentos relacionados com a gestão social e econômica.
Em decorrência, fenômenos como a internacionalização do capital, a abertura dos mercados nacionais à competição mundial aliados com a aceleração dos processos de transformação tecnológica e a redução do papel econômico do Estado, alteram substancialmente o modo de administrar os negócios de natureza pública e privada.
São criadas novas exigências de competitividade e produtividade crescentes, inclusive na indústria do turismo. Acrescente-se que a perspectiva de privatização dos serviços públicos, a utilização da informação como ferramenta empresarial modificam o comportamento e a conduta do gestor, influindo nas relações de trabalho e passam a exigir novas competências gerenciais.
Em tais competências se incluem, especialmente, a capacidade e a sensibilidade atentas às sutilezas da dimensão cultural, necessárias ao desempenho satisfatório do trabalho do gestor ou articulador de ações direcionadas à implantação de plano de desenvolvimento que tem como eixo fundamental uma atividade - turismo - que, por sua natureza, é constituída por uma densa complexidade.
É certo que as características sociais e econômicas
referentes à ilha, para sua plena adequação à
uma ação direcionada à implementação
de um plano de desenvolvimento local, devem ser consideradas em sua dimensão
de singularidade. Assim, os novos conhecimentos adequáveis às
particularidades locais devem conciliar a necessidade de implementar novos
paradigmas sem, contudo, esquecer os costumes cristalizados ao longo do
tempo, sob risco de a inovação não encontrar condições
adequadas ao seu desenvolvimento.
Educação e as novas configurações sociais contemporâneas
As transformações em curso exigem que as organizações desenvolvam, entre outros, sensibilidade, capacidade de mudança, lucidez prospectíva, rapidez adaptativa, articulação estratégica de ações e participação ativa e permanente de seus membros.
Na atualidade, as mudanças em curso influem as relações de trabalho, na produção do conhecimento e na vida social, e, simultaneamente, ensejam novos valores, novas referências, novas dinâmicas e trazem subjacentemente a exigência de desenvolvimento de complexas competências do cidadão, tendo em vista a transitoriedade dos conhecimentos e sua relação com o trabalho.
Nesse contexto, apresenta-se aos profissionais da área de turismo exigências de construção de conhecimentos, habilidades e competências que lhes permitem uma inserção no mundo contemporâneo, como gestor de processos que envolvem a administração da atividade turística. Tal abrangência requer que se desenvolva todas as potencialidades e dimensões humanas, que reconheça a transitoriedade dos conhecimentos, que o indivíduo seja ético, crítico, autônomo, criativo, cooperativo, cidadão capaz de participar dos grupos sociais em que está inserido. Um profissional que conceba o fenômeno turístico no processo histórico, de forma ampla, diversificada, com sólida fundamentação científica, socio-cultural e que seja capaz de responder com alternativas de superação, aos desafios que a sociedade lhe coloca.
Assim, a performance do gestor, ao ser percebida pelos atores sociais,
potencialmente beneficiários de sua ação, muito contribuirá
para criar as condições que suscitem a emergência e
consolidação das condições favoráveis
à inovação e ao empreendedorismo, em suas múltiplas
objetivações. Com isso, os segmentos sociais atuantes na
Ilha de Itaparica, em sua faina cotidiana, implementariam aquelas ações
que, conjuntamente, propiciariam a consolidação de situações
sociais que denotariam a percepção de mudanças qualitativas
no entorno social que se poderia denominar desenvolvimento, na esfera
particular e social.
Gestão e empreendedorismo
Considera-se o empreendedorismo como uma habilidade que propicia a alguém implantar e constituir algo criativamente a partir de poucos recursos. É a sensibilidade individual para perceber uma oportunidade quando outros enxergam apenas dificuldades. É possuir competências para descobrir e controlar recursos aplicando-os produtivamente.
Empreendedorismo não é necessariamente uma característica de personalidade, embora seja característica idiossincrática, tanto nos indivíduos como nas instituições. O empreendedorismo é tido como um comportamento ou um processo para iniciar e desenvolver um conjunto de atividades com resultados positivos criando valor através do desenvolvimento de uma organização.
Devido às transformações estruturais antes aludidas, cresceu - para contextos sócio-econômicos semelhantes ao da Ilha de Itaparica - a importância dos pequenos empreendimentos como geradores do desenvolvimento econômico face à sua propensão para inovar, diversificar e criar novos empregos. Este fenômeno coloca, perante os agentes de desenvolvimento, entidades governamentais, universidades, o desafio de estimular o desenvolvimento de novos empreendimentos mediante a formação de uma cultura empreendedora.
Neste sentido, a educação para o empreendedorismo está se tornando um item importante na articulação interdisciplinar dos programas acadêmicos de universidades, com tendência à expansão propiciada pelo estimulo oriundo dos agentes sócio - econômicos. Um grande número de educadores reconhece que o atual sistema de ensino põe muita ênfase na aquisição de conhecimento e pouco enfoque é dado ao desenvolvimento de habilidades específicas que tenha a práxis como referência para o uso desses conhecimentos.
No plano local, regional, nacional e internacional, as demandas sociais solicitam a emergência de um profissional com conhecimentos sócio-culturais e técnico- científicos que assegurem a sensibilidade para perceber o presente e o futuro, permitindo-lhe compreender e avaliar os elementos presentes nas atividades relacionadas ao turismo em suas concatenações com a dimensão econômica, política e cultural. Para que tal performance se efetive é necessário o desenvolvimento da sensibilidade à dimensão cultural, antes aludida. Uma equipe interdisciplinar de trabalho deve criar as condições que propiciem estabelecer como relevantes as idiossincrasias locais para que as atividades turísticas possam sorver com encanto os equipamentos culturais, os recursos naturais de maneira que conciliem os interesses da população residente na Ilha de Itaparica com as motivações de empreendedores e visitantes.
Adotando-se como pressuposto a perspectiva de que o conceito de competência deve ser decomposto para que lhe seja retirado sua conotação meramente instrumental, considera-se que a competência denota uma performance constituída pelo domínio de um conjunto de saberes traduzidos em conhecimentos, práticas e atitudes que são absorvidos ao longo de um processo de continuada educação. Assim, a assunção de atitudes que denotem os saberes que propiciam a competência profissional requer o desenvolvimento, nos envolvidos com o processo educativo, de habilidades vinculadas à dimensão cognitiva e atitudinal.
Tendo em vista o propósito de propiciar as condições necessárias para o desenvolvimento da performance que denota a competência técnico-profissional e pessoal, deve-se promover o desenvolvimento de habilidades essenciais demandadas ao cidadão pela nova configuração sócio-econômica da contemporaneidade.
Neste sentido, acreditamos, a educação em seu sentido amplo deve ser referenciada em parâmetros pertinentes com o pensamento autônomo. Com isso, o homem é estimulado a abandonar a rigidez das idéias, atitudes fundamentadas no sistema de valores tradicionais, buscando respostas nos valores de uma modernidade reflexiva. Giddens (1996 ) sugere que a atualidade é caracterizada pela destradicionalização, na medida em que as tradições são constantemente colocadas em contato umas com as outras e forçadas a se declararem, propiciando a reflexividade social. Esta, por sua vez, emerge, simultaneamente, como condição e resultado de uma sociedade pós-tradicional, onde as decisões devem ser tomadas com base em uma reflexão mais ou menos contínua sobre as condições das ações de cada um.
Autonomia refere-se às múltiplas capacidades do indivíduo em se representar tanto nos espaços públicos como nos espaços privados da vida cotidiana, ao seu modo de viver e aos seus valores culturais; à luta pela sua emancipação e desalienação; à forma de ser, sentir e agir; à capacidade de potenciar atividades em diversas formas de trabalho; à solidariedade.
De acordo com Giddens (1996), na sociedade contemporânea, o diálogo
deve perpassar a política e as demais atividades do cotidiano humano,
propiciando discussões necessárias à definição
da confiança ativa, na medida em que se espera que os agentes
sociais promovam a renovação de responsabilidade pessoal
e social em relação aos outros, constituindo o exercício
da alteridade. Os conteúdos relacionados à formação
de natureza educacional e técnica devem ser pensados de modo a propiciar
a pertinente qualificação necessária ao desenvolvimento
da capacidade de gestão, participação, decisão
e inovação, tanto no processo produtivo, quanto, e
especialmente, nas relações sóciopolíticas.
Inovação e desenvolvimento endógeno
Ao conceituar a inovação, Horácio Capel (1998) sugere que esta noção é entendida "en su sentido mas amplio, como cualquier novedad que no existía antes o, de forma mas concreta, como innovación política, social, económica, científica o técnica". Inovação deve se relacionar, especialmente, à criação de novos referenciais de condução dos negócios de interesse público. Assim é que uma nova ambiência favorável ao desenvolvimento de potencialidades dos atores locais deve ser estimulada, considerando as especificidades de um espaço urbano como a Ilha de Itaparica.
Sublinhando os aspectos fundamentais propiciadores às condições de desenvolvimento local, H.Capel argumenta que "el desarrollo tiene que ver con la existencia de capacidades empresariales en las organizaciones privadas y en las instituciones públicas y con la influencia en la sociedad de fuerzas social e intelectualmente progresivas que estén interesadas en promover el cambio y la incorporación de innovaciones". Neste sentido, acreditamos que o exercício da participação efetiva de segmentos sociais com potencial e capacidade de intervir na realidade social com intuito de propiciar mudanças significativas que se traduzam em desenvolvimento do bem-estar social, é um dos elementos definidores na consecução de tal objetivo.
Reportando-se às perspectivas que orientam as políticas de desenvolvimento local e regional, Capel (Op. cit.) chama a atenção para o fato de que
Caracterizando os elementos constituintes do conceito, Barquero (Op. cit.) elenca outras dimensões da noção ora discutida:
Participação e exercício do poder na gestão da coisa pública
A participação consciente e racional, fundada na idéia de negociação livre e não de um presente paternalista, supõe condições específicas. A primeira seria a transformação da concepção de ação racional preconizada pelo taylorismo que, ao fixar um objetivo, admite que só há apenas um meio de atingi-lo. Ora, se existe apenas um bom caminho para se atingir um objetivo, uma vez este fixado, para que discutir e solicitar a opinião de outrém?
Existem três tipos de exercício do poder que mantém correspondência com três tipos de participação. Um desses tipos de poder é exercido de forma autoritária, pressupondo a imposição de quem tem o poder de algo considerado pelo impositor como sendo bom. Com uma auréola de santo se diz o que é bom, quando na verdade se está impondo o que se quis.
Outra manifestação de poder, variante do precedente, pressupõe a possibilidade de envolvimento. Procura-se envolver fazendo com que o sujeito acredite que aquilo que lhe é proposto é bom, é o melhor. Tal expediente denota o exercício do poder denominado paternalista.
Contudo, nem sempre é conveniente ser excessivamente paternalista já que há possibilidade de o conjunto de pessoas desenvolver aptidões e exigir níveis de participação mais efetivos, o que não seria admissível por quem está concedendo a oportunidade de participar. Circunstância que propicia a volta ao autoritarismo.
Admitindo a possibilidade de emergência do novo, há um terceiro tipo de exercício do poder que poderia ser denominado de solidário, pois pressupõe que o detentor dos recursos de poder ponha-se ao lado daqueles que dependem dos recursos que o detentor do poder controla. O exercício do poder solidário pressupõe uma efetiva relação de alteridade, onde nos colocamos para viabilizar a participação.
Partindo dos itens decisão, execução, resultados, observa-se que no poder autoritário há pouca participação da maioria nos resultados, pois se ela quiser muito, é reprimida. Na execução, ao contrário, há total participação de todos por ser imposta e praticamente nenhuma participação nas decisões.
Por sua vez, no sistema paternalista há um grande envolvimento na execução, pois o participante fica contente achando que realmente participa. Tal assertiva decorre do fato de se conceder uma pequena participação nas decisões que se manifesta, por exemplo, em consulta, plebiscito, sugerindo às pessoas que aquilo que estão fazendo foi decidido por elas. Assim, a participação envolvida na execução e nos resultados tem muito de negociação, ocorrendo a possibilidade de haver mais ou menos atendimento às demandas.
Contrariamente, o poder solidário muda completamente os três níveis de participação, uma vez que busca uma efetiva e real participação nas decisões que leva à participação na execução, numa perspectiva que não é mais a de fazer o que é mandado, mas de se co-responsabilizar pelo que tem de ser feito.
No autoritarismo não existe a participação. No paternalismo é tradicional, e no poder solidário muda de nome e passa a ser co-responsabilidade. Não se trata apenas de participar nos resultados ou na execução mas, antes, no processo de poder de decisão, sendo assim muito mais elevada. A própria participação nos resultados pode ser mais solidária, o que se manifestaria, por exemplo, numa situação em que o sujeito exigiria para si aquilo que é possível, desde que não seja em detrimento do outro.
Pode-se dizer que o poder autoritário e o paternalista concedem a participação, pois a prioridade está em manter o poder. Na perspectiva solidária não se concede a participação, esta é conquistada, porque se está ao lado daqueles que querem participar, tanto dos resultados como da execução e da decisão. Há, com isso, uma mudança radical na forma de ver a participação nesses processos.
O exercício do poder solidário tem, como centro de sua dinâmica, a solução dos problemas. Para tal empreendimento haveria necessidade do concurso de três condições para que um público alvo seja convocado a exercer o poder solidário, entrando nessa dinâmica.
A primeira condição é a legitimidade do poder. Se esse não for legítimo, se tiver sido imposto, sem que tenha havido uma aceitação por parte da comunidade, esta dificilmente manterá algum diálogo que propicie sua participação.
O segundo item é a legitimidade da necessidade: não adianta convocar o público alvo para participar de uma coisa que não é considerada importante, pois não despertaria seu envolvimento. Deve-se entrar numa outra dinâmica, perguntando à população onde é que se deve debruçar e concentrar os recursos, quais as prioridades eleitas. Com isso, há o pressuposto de que a definição de prioridades tem que ser feita por quem sente a necessidade.
Assim, a legitimidade da necessidade é também uma condição fundamental. A terceira condição para que a comunidade participe co-responsavelmente é que seja efetivamente necessária a participação co-responsável do público-alvo.
O problema apresenta mais uma perspectiva, que é a confiança na capacidade de o público alvo resolver os problemas. A necessidade da participação da população interessada depende da confiança que se tem na sua capacidade.
A postura técnica que analisa pessoas como se fossem peças inanimadas, analisa a realidade social como se fosse uma empresa feita de peças, como coisa, segundo uma sugestão metodológica do funcionalismo sociológico. Esta é a performance do planejador capaz de controlar todas as variáveis, e prever o futuro, de ter um conhecimento total da dinâmica da realidade, capaz de adaptar-se às coisas e ir paulatinamente tomando decisões cada vez mais acertadas naquela realidade social que se está considerando como inanimada.
Uma outra atitude é requerida ao se pretender solucionar problemas. É a postura que se coloca diante das questões como um coordenador de processo social, tentando encaminhar o conjunto de itens necessários à solução efetiva do problema. Tal expediente propicia grandes mudanças pois faz com que haja exercícios negadores da cientificidade positivista.
Tendo em vista a necessidade de viabilizar a consecução dos objetivos antes aludido, é necessário que se realize a sistematização das fases de implementação das atividades de modo que se consiga otimizar os esforços oriundos dos diversos segmentos sociais envolvidos no processo. Assim, o planejamento se faz necessário.
O planejamento constitui-se em um processo de tomada de decisões sobre a ação, constando de três tipos fundamentais de decisão:
Ao se chegar a este terceiro nível e se organizar a ação, o poder pode sair da esfera da coordenação do processo, para que se possa dar a direção àquele que é mais capaz de dirigir e que não precisa ser necessariamente alguém que esteja na condução do processo.
Se se assume o caminho do poder solidário, deve-se ter em vista
que ele exige uma dura reeducação de todos os que, de alguma
forma, controlam algum recurso de poder. É necessário que
se faça um grande esforço reeducativo que suscite mudanças
nas relações sociais e que propicie a relatividade do poder
dos técnicos.
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