Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788] Nº 69 (32), 1 de agosto de 2000 |
INNOVACIÓN, DESARROLLO Y MEDIO LOCAL.
DIMENSIONES SOCIALES Y ESPACIALES DE LA INNOVACIÓN
Número extraordinario dedicado al II Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)
REDES DE INOVAÇÃO NO CONTEXTO DOS TECNÓPOLOS:
A EXPERIÊNCIA DE SÃO CARLOS, BRASIL
Rosanita Ferreira e Baptista
Superintendência de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico CADCT/ Secretaria do Planejamento Ciência e Tecnologia do estado da Bahia SEPLANTEC.
O propósito deste trabalho é analisar os arranjos denominados de tecnopolos e as suas redes de informação e cooperação, à luz de uma nova lógica global e informacional, que permeia as relações sociais e econômicas nas sociedades contemporâneas.
Investigou-se os impactos e desafios postos a tais arranjos de base
territorial e que se fundamentam nas redes locais, face ao processo de
difusão de redes eletrônicas, cada vez mais utilizadas para
troca de informações, desenvolvimento de pesquisa e disseminação
de conhecimentos. Nesse sentido, realizou-se um estudo de caso da experiência
de São Carlos e uma análise de redes a partir da investigação
de 5 empresas de base tecnológica, aí sediadas.
Palavras Chaves: tecnopolos/ redes de informação/ redes locais/ inovação/ redes eletrônicas/ paradigma das novas tecnologias de informação e comunicação.
The proposal of this work was to analyze the arrangements called technopoleand their information and co-operation nets, under the light of a new global and informational logic, that pervades the social and economical relationships in the contemporaries societies.
There was a search into which impact and challenge are placed in such territorial basis and that are based on local nets, in this new context, where the increase of electronic nets is a rule, used more and more for information interchange, research development and the knowledge dissemination. For the attainment of such goals a study was done about São Carlos experience where 5 technological companies there installed were investigated.
Key words: technopoles/ information networks/ local networks/ innovation/ on-line networks/ new paradigms/ information and communication technologies
Tecnopolo é o termo utilizado neste trabalho para designar, de modo genérico, os arranjos organizacionais de inovação, que pressupõem duas características principais: concentração espacial de instituições de ensino-pesquisa associadas a empresas de base tecnológica e a existência de parcerias entre estas instituições com outros órgãos da iniciativa pública e privada visando reunir condições favoráveis à formação de um ambiente inovador(1). Os parques científicos e tecnológicos, tecnópoles, cidades científicas, incubadoras de empresas, são exemplos de tecnopolos.
Na concepção de tais arranjos organizacionais, a concentração espacial de atores do desenvolvimento científico e tecnológico e do setor empresarial é ressaltada como um fator que favorece as interações, parcerias e redes, bem como os fluxos de idéias e informações, configurando ambientes propícios à geração de conhecimentos e de inovações tecnológicas.
Os modelos de tecnopolos, considerando os seus objetivos de promover os processos de inovação tecnológica e o dinamismo local e regional, têm sido enfatizados, principalmente nas duas últimas décadas, como possíveis alternativas a serem adotadas por atores locais e regionais para se inserirem, de forma mais estratégica, na atual economia mundial, altamente competitiva, globalizada e informacional. Ressalta-se que nesse contexto a capacidade de desenvolver novas tecnologias e conhecimentos e de elevar o conteúdo tecnológico dos produtos e serviços tem sido uma questão constantemente colocada aos diferentes países, cidades, estados e setor empresarial.
Entretanto, com a difusão de um novo paradigma fundamentado nas novas tecnologias de informação e comunicação, de base microeletrônica, e com a difusão de redes eletrônica e virtuais de informação e conhecimento, novas dimensões têm sido incorporada à discussão sobre o papel e alcance de tais arranjos espaciais técnico-produtivos.
Nesse sentido, uma questão a ser abordada refere-se ao impacto das novas tecnologias de informação e comunicação sobre o estímulo à formação de redes locais, tendo em vista a tendência atual à formação de redes eletrônicas, cada vez mais utilizadas para o desenvolvimento de pesquisas, negócios, troca de dados e informações e disseminação de conhecimentos.
Para alguns autores, com as atuais possibilidades de comunicação e de informação colocadas pelas novas tecnologias, em breve tornar-se-á necessário e suficiente participar de uma rede virtual para que os efeitos de sinergia ocorram. Assim, os arranjos organizacionais de inovação poderão prescindir das interações face to face e utilizar, principalmente, os meios de comunicação eletrônica(2). Por outro lado, muitos autores rebatem tal perspectiva e argumentam que o meio local reúne variáveis sócio-culturais específicas, que potencializam a cooperação e os fluxos de informação. E, portanto, os modelos de base territorial, voltados para inovação tecnológica, não serão enfraquecidos, por mais interativas que sejam as redes eletrônicas(3).
No âmbito dessas recentes discussões se insere, portanto, a temática deste trabalho. O objetivo é analisar a dinâmica e características das redes de informação e inovação que se delineiam no contexto do tecnopolo de São Carlos, com ênfase nos seguintes aspectos: quais são os fatores locais que favorecem a formação de redes e parcerias; quais as formas e meios de circulação da informação e difusão de conhecimentos; quais os impactos das novas tecnologias sobre as práticas informacionais dos atores locais.
Para tanto, realizou-se um estudo de caso da experiência de tecnopolo de São Carlos em São Paulo, Brasil combinando-o a uma análise de redes.
Aspectos metodológicos
No estudo do tecnopolo de São Carlos, tendo em vista os objetivos e o caráter exploratório da pesquisa, optou-se por uma metodologia qualitativa, com base em estudo de caso. Nesse sentido, utilizou-se uma amostragem não- probabilística- intencional, composta por cinco empresas de base tecnológica. Na definição dessa amostra consideraram-se os seguintes aspectos: nível de interação e acordos de cooperação com as universidades, com a Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos (FPARQTEC Scar) e com outras empresas, consolidação do empreendimento e tempo de atuação no mercado. Tendo-se verificado a necessidade de um estudo preliminar para seleção dessa amostra, recorreu-se à bibliografia disponível e fizeram-se consultas às próprias Universidades e à Fundação.
Sendo os tecnopolos arranjos organizacionais que se estruturam em função das relações e interações que se estabelecem entre diversos atores (universidades, centros de pesquisa, empresas, instituições públicas e privadas, etc.), considerou-se oportuno, no estudo empírico do pólo tecnológico de São Carlos, agregar ao processo de investigação a abordagem de redes. Tanto os procedimentos de coleta como de apresentação e interpretação dos dados foram influenciados por essa perspectiva metodológica.
A abordagem de redes tem sido adotada em uma gama variada de estudos e pesquisas, em diversas áreas do conhecimento. Muitos autores como M. Callon (1992), Debresson e F. Amesse (1991) destacam as vantagens desse instrumento de análise, considerando-o mais adequado aos estudos interdisciplinares e mais maleável para dar conta da dinâmica, complexidade e mobilidade que caracterizam as relações sociais(4). Os estudos de redes orientam-se por variáveis e atributos que informam a natureza, a centralidade, a finalidade, as características, a abrangência das relações e conexões entre atores sociais.
No estudo da experiência de São Carlos, buscou-se identificar e caracterizar as redes de cooperação e informação que as empresas pesquisadas estruturam no desenvolvimento de atividades, como P&D para a resolução de problemas técnicos; formação e treinamento de recursos humanos; atividades econômicas, administrativas e financeiras; suporte jurídico; controle de qualidade de produtos e processos e parcerias com outras empresas, com clientes e fornecedores. Nesse sentido, adotou-se as seguintes variáveis para orientar a análise: a natureza das relações (se são formais ou informais, quais os laços fortes e fracos, etc.); a abrangência das redes (se são predominantemente locais, nacionais, regionais, transnacionais e o número e diversidade dos atores envolvidos); a função das redes (quais os objetivos e finalidades); os meios e formas de comunicação entre os atores (se predominam os contatos diretos, grau de utilização de meios eletrônicos).
A investigação dessas variáveis foi feita através de trabalho de campo e coleta de dados e informações in loco. Para tanto, combinaram-se as seguintes técnicas: observações sistemáticas, seleção de documentos públicos e privados (arquivos, relatórios e etc.), entrevistas semi-estruturadas e questionários.
O tecnopolo de São Carlos: aspectos históricos e organizacionais
Situada no centro do interior de São Paulo, estado brasileiro de maior industrialização e um dos maiores mercados da América Latina, São Carlos, cidade de médio porte com cerca de 175.000 habitantes, além de firmar-se, nas duas últimas décadas, como um tecnopolo, também é um importante pólo industrial, constituindo, junto com outras cidades, como Sorocaba e Ribeirão Preto, uma das regiões mais ricas e industrializadas do interior paulista.
A reunião de uma série de fatores-- um percurso histórico de investimentos em educação e ciências, desencadeando um processo cumulativo de formação de pesquisadores e desenvolvimento de pesquisa de alto nível, aliado a outros recursos locais, como existência de cursos profissionalizantes, de uma base industrial forte e diversificada, e da mobilização e envolvimento de algumas instituições locais -- terminou por consolidar na cidade um ambiente propício ao surgimento do tecnopolo.
O movimento de criação de empresas de base tecnológica já pode ser observado no contexto de São Carlos, a partir da década de 1960, mas intensifica-se a partir de 1980. Em 1984 foi instituída uma fundação, a Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos (FPARQTEC), com a missão de ser a gestora desse arranjo organizacional. Atualmente, São Carlos abriga 60 empresas de base tecnológica, algumas ainda em fase de incubação. Trata-se de empresas tecnologicamente intensivas, que atuam em áreas consideradas de "tecnologia de ponta", tais como microeletrônica, informática, robótica, mecânica de precisão, química fina entre outras. Grande parte dessas empresas nasceram da relação com as universidades e/ou dentro dessas instituições.
Além das empresas de base tecnológica e da Fundação PARQTEC, uma série de outros órgãos e instituições locais têm exercido importante papel na formação e desenvolvimento desse tecnopolo, dentre as quais destacam-se a USP - SCar e a UFSCa, a Prefeitura Municipal da cidade, o SEBRAE - SCar,, SENAI SCar, CIESP/FIESP, entre outras(5). As redes delineadas em tal contexto envolvem, portanto, uma grande diversidade de atores e instituições.
Caracterização das empresas pesquisadas
Antes de apresentar o estudo de redes, faz-se necessário caracterizar as empresas contempladas na pesquisa, ressaltando-se que por solicitação dos entrevistados elas não foram identificadas, sendo designadas de empresas a, b, c,d,e.
Observa-se que as empresas pesquisadas estão operando no mercado há pelo menos 14 anos, o que demonstra uma certa estabilidade destes empreendimentos, principalmente quando se considera que a taxa de mortalidade das micro e pequenas empresas é, geralmente, elevada (tabela 1). São empresas genuinamente nacionais e mais especificamente de origem local. A história do surgimento dessas empresas está associada ao próprio surgimento do tecnopolo, sendo que muitos dos entrevistados participaram efetivamente da mobilização local em favor da institucionalização do pólo, que resultou na criação da Fundação PARQTEC.
Das cinco empresas pesquisadas, a maior parte surgiu da relação direta com as universidades locais, principalmente em virtude da formação e articulação de grupos de pesquisa constituídos de alunos e/ou professores, e da identificação de "nichos" de mercado
Tabela 1 - Caracterização das Empresas
Empresas | Ano de criação | Nº de empregados | Área de atuação |
Empresa a | 1984 | 20 | cerâmica térmica |
Empresa b | 1980 | 40 | eletrônica/automotiva |
Empresa c | 1985 | 30 | eletrônica e automação industrial |
Empresa d | 1976 | 40 | mecânica e aquecimento industrial |
Empresa e | 1986 | 100 | ótica |
Fonte: pesquisa de campo.
As redes parciais de informação, cooperação e inovação
A partir das indicações dos informantes, das 5 empresas pesquisadas, sobre os atores com os quais interagem no desenvolvimento de sete atividades específicas -- P&D e resolução de problemas técnicos; formação e treinamento de recursos humanos; atividades econômicas, administrativas e financeiras; suporte jurídico; controle de qualidade de produtos e processos; parcerias com outras empresas (para compartilhamento de custos, insumos e equipamentos, troca de informações, etc.); acesso a linha de financiamentos -- foi possível representar, graficamente (figura 1), um fragmento da rede de relações e dos fluxos de informações estruturados no contexto de São Carlos.
Foram identificados 28 diferentes atores (instituições/
órgãos/ empresas) com os quais as empresas pesquisadas interagem,
cooperam e trocam informações, mais freqüentemente,
e um total de 56 vínculos. Nessa rede de relações,
identificou-se a predominância dos vínculos locais, ou seja,
dos 27 atores citados, 57,2 por ciento estão sediados em São
Carlos; 32,2 por ciento estão em São Paulo e cidades vizinhas
(Campinas e São Bernardo dos Campos); 7,4 por ciento em outros estados
e apenas 3,57 por ciento fora do Brasil(6).
A USP - São Carlos e a UFSCar foram as instituições mais citadas na pesquisa, tendo todos os entrevistados apontado pelo menos uma dessas instituições como referência na resolução de problemas técnicos e tecnológicos, na prestação de serviços, na formação de parcerias ou na busca por informações. Tal fato fica visualmente evidenciado na figura 1, uma vez que a rede se torna bem mais densa na representação dos vínculos das empresas com a USP - São Carlos e a UFSCar.
Quanto à freqüência desses contatos, os entrevistados tiveram dificuldades em estipulá-la com precisão, uma vez que predominam os meios informais de interação e que esses contatos são irregulares, podendo ser mais ou menos intensos, a depender das atividades que estejam sendo desenvolvidas na empresa -- da novidade do produto ou processo em questão ou da natureza e complexidade do problema técnico a ser solucionado, entre outros.
Com relação à formação e treinamento de recursos humanos, as empresas pesquisadas citaram uma grande variedade de instituições com as quais interagem, destacando-se o papel das escolas técnicas locais, tais como o SESI - SCar, SENAI - SCar, Escola Técnica Paulino Botelho - SCar, SENAI - São Bernardo dos Campos, além de instituições como: SEBRAE - SCar, FPARQTEC e IPT.
No concernente ao controle de qualidade dos produtos e processos, as instituições citadas como fontes de informações e serviços foram: USP - SCar, UFSCar, SENAI - SCar, IPT - SP, INMETRO - RJ.
A FPARQTEC constitui um ator estratégico nas redes de relações estruturadas no contexto do pólo tecnológico de São Carlos. As relações e vínculos com a fundação objetivam, principalmente, a promoção e divulgação do pólo tecnológico de São Carlos e, consequentemente, das empresas aí instaladas; a intermediação com instituições financeiras(7), facilitando o acesso das empresas a linhas de financiamento e à captação de recursos como bolsas RHAE Recursos Humanos em Áreas(8)
Os vínculos que estruturam as redes locais são estabelecidos, principalmente, por meio de consultas diretas e contatos interpessoais. A mobilidade dos diversos atores assegura fluxos contínuos de informação entre os meios acadêmico e empresarial, uma vez que se verifica a participação de alunos de graduação e pós-graduação em atividades nas empresas e, ainda, o acúmulo, por professores e pesquisadores, de funções executivas e de pesquisa.
A amizade, o conhecimento pessoal, o parentesco, a vizinhança, a confiança, são variáveis que influenciam significativamente o comportamento dos atores pesquisados na troca de informações e experiências, na resolução de problemas técnicos e tecnológicos e na estruturação de suas redes, tanto pessoais como profissionais.
O fato de São Carlos concentrar universidades, cursos de pós-graduação, entidades de apoio, escolas técnicas, etc., favoreceu os fluxos informais, que assumem importância estratégica para os negócios das empresas. Os vínculos formais são muito pouco representativos no conjunto de elos que configuram as redes pesquisadas e ocorrem, geralmente, quando os contatos informais evoluem para grandes projetos de desenvolvimento de produtos e processos, envolvendo um volume considerável de recursos materiais, humanos e financeiros.
Dentre os recursos disponibilizados em virtude do novo paradigma das tecnologias de informação e comunicação, a pesquisa na Internet e o correio eletrônico são os mais difundidos entre os atores pesquisados. Todas as empresas contempladas dispõem de acesso a Internet e utilizam o correio eletrônico como uma alternativa de comunicação com os demais atores com os quais se relacionam e três delas possuem home page. As que ainda não possuem tal recurso têm intenção de implantá-lo em curto prazo.
De fato, na configuração de suas redes os atores estudados recorrem a uma variada gama de recursos e fontes de informação, inclusive aos novos meios eletrônicos, entretanto os contatos face to face -- no cotidiano, no próprio ambiente de trabalho, em feiras, congressos, entre outros -- registram-se, no cômputo geral, como os mais utilizados pelas empresas pesquisadas, principalmente para informações técnicas e tecnológicas. Ressalta-se, nesse sentido a irredutibilidade dos conhecimentos tácitos, que não podem ser resgatados e codificado na sua essência, ao tempo em que são imprescindíveis aos processos de decodificação e aprendizagem(9).
Com base no estudo realizado é possível afirmar que o pólo tecnológico de São Carlos, reunindo grande número de pesquisadores, técnicos, empresários e estudantes, que interagem no cotidiano da cidade, configura-se como um ambiente favorável para as empresas de base tecnológica, facilitando a circulação de informações, o processo de aprendizagem e a geração de conhecimentos e de inovações organizacionais, técnicas e tecnológicas.
Considerações finais
Com base nas análises de experiências internacionais e do estudo de caso do tecnopolo de São Carlos foi possível extrair algumas conclusões sobre a dinâmica e características das redes estruturadas no contexto destes arranjos organizacionais. Ressalta-se que as conclusões daí inferidas devem ser relativizadas em conformidade com o escopo e abrangência da pesquisa, embora, a nosso ver, possam fornecer importantes subsídios para a compreensão do contexto mais amplo, no qual se insere a temática de investigação.
Essas redes envolvem, geralmente, um grande leque de atores e instituições, ainda que as relações mais freqüentes e estratégicas ocorram, principalmente, entre pesquisadores, estudantes, professores de centros de pesquisa e universidades; técnicos, engenheiros e empresários vinculados à empresas de base tecnológica, e, em muitos casos, agentes do governo. Os vínculos empresa - universidades - centros de pesquisa configuram-se como os mais estratégicos no contexto das redes que se formam para a disseminação de informações e conhecimentos, e para inovações tecnológicas e organizacionais.
As redes pesquisadas estruturam-se, fundamentalmente, por relações informais e interpessoais e são altamente influenciadas pelo ambiente local. Identifica-se, nesse sentido, uma série de variáveis que favorecem a cooperação e a interação entre atores do desenvolvimento científico e tecnológico e do setor empresarial, produzindo os tão desejáveis efeitos sinérgicos que fundamentam os tecnopolos. Tais variáveis referem-se à demanda e oferta de tecnologias; à presença de universidades e centros de pesquisa; à disponibilidade de recursos humanos qualificados; às relações de amizade e confiança e a uma cultura local favorável.
Um aspecto a ser destacado é que a predisposição para a cooperação e interação, no contexto de tais arranjos organizacionais, é, em grande medida, influenciada pela gênese das empresas de base tecnológica, uma vez que, em muitos casos, os vínculos e as relações que configuram as suas redes antecedem o próprio ordenamento e institucionalização do tecnopolo. Os professores, técnicos, pesquisadores, engenheiros, que criam as suas empresas a partir de pesquisas desenvolvidas em universidades e centros de P&D de outras empresas ou instituições, geralmente continuam a estabelecer relações freqüentes com antigos colegas, professores e orientadores, assegurando os fluxos de informação.
A proximidade entre atores do desenvolvimento científico e tecnológico e do setor empresarial tem favorecido os processos sinérgicos em contextos específicos, nos quais se estabelecem relações profissionais, de confiança, de amizade, graças à convivência cotidiana, às interações face to face, e aos interesses comuns. Entretanto, não se pode afirmar que a proximidade física, por si só, seja capaz de promover o processo de fertilização cruzada entre os atores locais nem a configuração de redes de cooperação e informação. Para que esses atores interajam e troquem informações é necessária a conjunção de determinados fatores culturais, sociais, econômicos e políticos.
Um importante aspecto a ser incorporado à discussão sobre
o papel da proximidade espacial no contexto dos tecnopolos, é a
dimensão tácita do conhecimento, que exerce papel fundamental
nos processos de geração de conhecimentos e inovações.
Como o processo de disseminação de conhecimentos tácitos
depende dos códigos e da cultura local, bem como das interações
pessoais (face to face), as redes informais e a convivência
espaço-temporal continuam a ser destacadas como elementos essenciais
e estratégicos na dinâmica desses arranjos organizacionais.
Notas
1. Ambiente ou milieux de inovação é definido como estrutura social, institucional, econômica e territorial que cria condições para a geração contínua de sinergias, tanto para as unidades de produção, que são parte do ambiente, como para o ambiente como um todo.
2. TOSI, A.. The science park as the node of information and service networking. In: V WORLD CONFERENCE ON SCIENCE PARKS, 1996, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: AURP/IASP/ANPROTEC, 1996, p. 17 a 40.
3. EHRNBERG, E. E JACOBSSON, S.. Technological discontinuities and incumbents performance: an analytical framework". In: EDQUIST, C. Systems on innovation-technologies, institutions and organizations, 1996, pp. 318 - 341.
4. CALLON, M et al. The manegemente and evaluation of technological programs and the dynamics of techno-economic networks: the case of AFME. Research Policy, North-Holland, 1992, n.21, pp. 215-236; DEBRESSON, C, AMESSE, F. Networks of innovators: a review and introduction to the issue. Research Policy, North Holland, 1991, n.20, p. 363-379.
5. TORKOMIAN, A. L. VGestão de tecnologia na pesquisa acadêmica: o caso de São Carlos (doutorado em administração) Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, 1997.
6. Verifica-se um maior número de vínculos externos quando se analisa a relação com clientes e fornecedores.
7. Como a Fundação de Amparo a Pesquisa no Estado de São Paulo FAPESP e O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq.
8. Programa especial de bolsas do CNPq., direcionadas à profissionais qualificados que atuam em áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento sócio-econômico do país.
9. FORAY, D., Lundvall, B. The knowledge- based
economy: from the economics of knowledge to the learning economy. In: OECD.
Employment
And Growth in the Knowledge - Based Economy. 1996, pp. 11 - 32.
Bibliografia
CALLON, M. et al.. The manegement and evaluation of technological programs and the dynamics of techno-economic networks: the case of AFME. Research Policy, North-Holland, 1992, nº 21, pp. 215-236.
CASTELLS, M e HALL, P.. Technopoles of the world.. Londres: Routledge, 1994.
DEBRESSON, C. e AMESSE, F.. Networks of innovators: a review and introduction to the issue. Research Policy. North Holland, 1991, nº 20, pp. 363-379.
EHRNBERG, E. e JACOBSSON, S. Technological discontinuities and incumbents performance: an analytical framework. In: Edquist, C. Systems on innovation-technologies, institutions and organizations. 1996, pp. 318 - 341.
FORAY, D., Lundvall, B. The knowledge- based economy: from the economics of knowledge to the learning economy. In: OECD. Employment And Growth in the Knowledge - Based Economy. 1996, pp. 11 - 32.
FPARQTEC. Perfil do município de São Carlos "Capital da Tecnologia". São Carlos: Fundação Parque de Alta Tecnologia de São Carlos, 1995.
GOMES, E.J. A experiência brasileira de pólos tecnológicos: uma abordagem político institucional (mestrado em Política Científica e Tecnológica) Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, 1995.
SEBRAE. Boletim de conjuntura de São Carlos. São Carlos, 1998, nº 2, n.5. 42p.
SILVA, V. Cooperación interempresarial: desafio a las Politicas Regionales. Santiago de Chile: CEPAL,1993, 25p.
TAVARES, H. Complexos de alta tecnologia e reestruturação do espaço". In: SANTOS, M. et al. (orgs). O novo mapa do mundo: fim de século e globalização. São Paulo: HUCITEC/ANPUR, 1994, pp. 271-284.
TORKOMIAN, A. L. V. Gestão de tecnologia na pesquisa acadêmica: o caso de São Carlos ( doutorado em administração) Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, 1997.
© Copyright: Rosanita Ferreira e Baptista, 2000
© Copyright: II Coloquio Internacional de Geocrítica, 2000