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Índice de Scripta Nova

Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. XVIII, núm. 469, 1 de marzo de 2014
[Nueva serie de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]

 

MULTILATINAS NA ECONOMIA GLOBAL. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA, SETORIAL E ESPACIAL

Leandro Bruno Santos
Campus de Ourinhos – Universidade Estadual Paulista (UNESP)
leandrobrunogeo@hotmail.com

Recibido: 24 de marzo de 2013. Devuelto para correcciones: 30 de septiembre de 2013. Aceptado: 3 de octubre de 2013.

Multilatinas na economia global. Caracterização histórica, setorial e espacial (Resumo)

As sucessivas crises por que tem passado a economia mundial desde os anos 1970, aliada à crise hegemônica dos Estados Unidos, criaram as condições para o reordenamento mundial e a construção de um mundo multipolar, com o crescente aumento de importância de alguns países periféricos na economia mundial, particularmente no que se refere aos fluxos de capitais. Este artigo representa um esforço de trazer à luz a análise sobre a diminuição de importância dos países desenvolvidos nos fluxos mundiais de investimentos e correspondente aumento da relevância de alguns países periféricos. O objetivo subjacente ao texto é compreender o alargamento dos circuitos espaciais de produção das empresas multinacionais latino-americanas (Multilatinas) nas distintas escalas espaciais, por meio de uma análise das dimensões temporais, setoriais e espaciais dos investimentos realizados. Os procedimentos metodológicos adotados abrangeram levantamento, seleção e leitura bibliográficos, compilação de dados em instituições internacionais (UNCTAD e CEPAL), sistematização dos dados, análise dos dados à luz das reflexões teóricas.

Palavras-chave: internacionalização do capital, fluxos de investimentos estrangeiros diretos, Multilatinas.

Multilatinas in the world economy. Historical, sectoral and space characterization (Abstract)

The successive crisis that has passed the global economy since the 1970s, combined with the hegemonic crisis of the United States, created the conditions for the global reordering and building a multipolar world, with the increasing importance of some peripheral countries into the world economy, particularly as regards to capital flows. The article intend to bring to light the analysis of the decline in developed countries significance in global flows of investment and corresponding increase in some peripheral countries importance. This article aims to understand the extension of production spatial circuits of Latin American Multinationals (Multilatinas) in different spatial scales, especially the temporal, spatial and sectoral dimensions of the productive investments made by companies. The methodological procedures include bibliographic survey, selection and reading, data compilation provided by international institutions (UNCTAD and ECLAC), data and information systematization, data analysis.

Key words: internationalization of capital, foreign direct investment flows, Multilatinas.

Multilatinas en la economía global. Caracterización histórica, sectorial y espacial (Resumen)

Las sucesivas crisis por las que ha pasado la economía mundial desde los años setenta, aunadas a las crisis de la hegemonía de los Estados Unidos, crearon las condiciones para el reordenamiento mundial y la construcción de un mundo multipolar, incluyendo el creciente aumento de la importancia de algunos países periféricos en la economía mundial, particularmente por lo que se refiere a los flujos de los capitales. Este artículo representa un esfuerzo para contribuir a dar luz a la comprensión de la disminución en la importancia de los países desarrollados dentro de los flujos mundiales de inversiones extranjeras directas, así como del correspondiente aumento de la relevancia mostrada por algunos países periféricos. Se busca entender el alargamiento de los circuitos espaciales de producción de las empresas multinacionales latinoamericanas (Multilatinas) en las varias escalas espaciales, focalizando las dimensiones temporales, sectoriales y espaciales de las inversiones realizadas por las empresas. Los procedimientos metodológicos se constituyeron en el levantamiento y lectura bibliográfica, compilación de datos de instituciones internacionales (UNCTAD y CEPAL), sistematización de los datos, análisis de los datos a la luz de las reflexiones teóricas.

Palabras clave: internacionalización del capital, flujos de inversiones extranjeras directas, Multilatinas.


Os dados secundários de algumas instituições internacionais, entre elas Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e Comissão Econômica para o Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CEPAL), têm demonstrado que há uma expansão dos Investimentos Externos Diretos (IED) realizados por empresas e grupos econômicos originados e situados em países da periferia do sistema capitalista. A taxa percentual dos países periféricos nos fluxos mundiais de IED elevou-se de 1% no começo dos anos 1970 para em torno de 32% em 2010.

Inegavelmente, o aumento dos IED de empresas periféricas tem despertado o interesse de organizações internacionais, grupos de pesquisa, revistas especializadas, meios de comunicação etc. Entretanto, os diferentes enfoques sobre o aumento dos IED periféricos têm negligenciado a dimensão histórica do fenômeno e as estratégias espaciais de acumulação. Por isso, neste texto, são destacadas as principais ondas de investimentos da periferia, os ramos internacionalizados e espaços escolhidos e as estratégias de investimentos.

O principal objetivo subjacente ao texto é compreender, historicamente, o processo de alargamento dos circuitos espaciais de produção das empresas multinacionais latino-americanas (doravante, Multilatinas) nas distintas escalas espaciais – sobretudo a regional e a mundial. Para atingir tal objetivo, lançaram-se mãos de procedimentos metodológicos como levantamento, seleção e leitura bibliográficos atinentes ao tema proposto; compilação de dados secundários disponíveis nos relatórios anuais e nos bancos de dados da UNCTAD e da CEPAL; sistematização dos dados na forma, sobretudo, de quadros e mapas; e, análise dos dados à luz do encaminhamento teórico proposto, que relaciona o avanço das Multilatinas ao acirramento da concorrência oligopólica mundial e às capacidades distintivas construídas pelas empresas.

Na sequência, abordam-se as principais teorias que tratam do processo de internacionalização de empresas e são enfocadas as perspectivas sobre as Multilatinas, o panorama histórico dos estoques (mundiais e latino-americanos) de IED entre 1980 e 2010, os padrões setoriais e espaciais dos IED latino-americanos, as estratégias corporativas e espaciais das principais Multilatinas e, ao final, são apresentadas algumas conclusões e as referências citadas ao longo deste texto.


Teorias sobre a internacionalização de empresas

Existem, atualmente, vários paradigmas (custos de transação, ciclos de vida do produto, abordagem comportamental, “perspectiva trampolim”[1], paradigma LLL[2] etc.) que tratam de explicar as estratégias corporativas das empresas multinacionais (EM). Andreff[3] afirma que, apesar da contribuição de cada uma das abordagens, nenhuma delas oferece uma resposta analítica unificada e coerente para aonde vão os IED e as atividades das EM, por que as empresas se tornam multinacionais e quais os seus impactos nas diferentes escalas geográficas.

Santos[4] analisou alguns dos arcabouços teóricos sobre a internacionalização das EM segundo suas escalas de explicação/abstração. As principais estruturas paradigmáticas ora partem das leis universais do processo, cujo pano de fundo é o sistema capitalista (nova divisão internacional do trabalho, ciclos do capital), ora das decisões de indivíduos ou grupo de indivíduos à frente das grandes empresas (paradigma eclético, abordagem comportamental). Uma terceira “escala de análise” abrange propostas de mediação (teoria da dinâmica capitalista e proposta integradora), que buscam a articulação das leis gerais do processo com as decisões individuais, e propostas de integração de modelos e teoria[5].

Embora existam diferentes perspectivas teóricas, pode-se afirmar que, atualmente, grande parte dos estudos sobre a internacionalização de empresas está polarizada em duas abordagens teóricas elaboradas para explicar a realidade de países desenvolvidos tout court. Na Suécia, no âmbito da University of Uppsala, os trabalhos estão assentados no comportamento das empresas, no papel dos empresários e nas diferenças culturais e socioeconômicas apresentadas pelas economias. Na Inglaterra, dentro da University of Reading, são produzidos trabalhos cujo enfoque é econômico e baseado nas vantagens das empresas[6].

Johanson e Vahlme[7], ao analisarem a internacionalização de empresas suecas, construíram uma interpretação teórica que leva em conta a dimensão comportamental dos empresários. Para eles, “a internacionalização da firma é um processo no qual as firmas aumentam gradualmente seu envolvimento internacional”[8]. É gradual porque os IED ocorrem em várias etapas até atingir a instalação de uma unidade produtiva. É incremental porque, à proporção que se expande gradualmente, a empresa logra adquirir conhecimentos e habilidades que permitem a entrada em outros mercados.

Os autores desenvolveram um modelo do processo de internacionalização “que focaliza no desenvolvimento da firma individual e particularmente em sua gradual aquisição, integração e uso do conhecimento sobre as operações e mercados estrangeiros e em seu comprometimento sucessivamente crescente com relação aos mercados externos”[9]. Dessa forma, a internacionalização é um processo sequencial e dependente do conhecimento adquirido com a experiência internacional.

Dunning[10] defende uma proposição inversa à abordagem comportamental ao privilegiar a dimensão econômica. Para ele, a extensão, forma e padrão da produção internacional são determinados por três conjuntos de vantagens controladas pelas empresas: 1) vantagens específicas em relação à natureza ou nacionalidade de sua propriedade (ownership specific advantage); 2) transferência das vantagens específicas de propriedade dentro da própria estrutura organizacional da firma em vez de vendê-las ou licenciá-las no mercado (internalization advantage); 3) vantagens de combinar espacialmente produtos intermediários transferíveis produzidos no país sede com, pelo menos, alguns fatores de produção imóveis ou outros produtos intermediários em qualquer outro país (location advantages)[11].

A primeira vantagem abrange a propriedade, envolvendo aspectos estruturais da propriedade dos ativos (patentes, inovações e competências) e aspectos transnacionais (vantagens na administração de ativos dispersos). A segunda vantagem, de internalização, resulta da integração das sucursais dentro da própria hierarquia da empresa. A última vantagem, de localização, diz respeito às matérias-primas, à mão-de-obra barata e qualificada, ao tamanho do mercado, aos custos de infraestrutura etc. Se a empresa possuir apenas as vantagens de propriedade e de internalização, escolherá pela exportação. Caso detenha apenas a vantagem de propriedade, optará pela licença de sua tecnologia a uma firma em outro mercado ou por uma nova forma de investimento, como assistência técnica, franchising, terceirização internacional etc. Os três tipos de vantagens sofrem influência das características dos países, dos setores de atuação e das firmas.

Quanto às Multilatinas, as diferentes abordagens articulam grau de industrialização ou de desenvolvimento com os fluxos de IED, destacam a construção de capacidades vinculadas às “condições ambientais”, a abertura econômica e os seus reflexos na maior competição, reestruturação e internacionalização, entre outras. Grande parte dos trabalhos tem como pano de fundo as contribuições da escola inglesa de economia, com a ressalva da construção de capacidades distintas das empresas latino-americanas.

Diversos trabalhos têm destacado o desenvolvimento de vantagens/capacidades distintivas das empresas, para atuar no mercado onde estão sediadas. Para Días Alejandro, era possível encontrar nas empresas latino-americanas que “se dedican a la IED horizontal, una forma de adaptación específica de tecnología extranjera [...] a una operación en escala relativamente pequeña y/o adaptación de un diseño de producto a las condiciones latinoamericanas”[12]. White, Campos e Ondarts afirmaram que os IED vinculados “con cierto tipo de genuinas ventajas tecnológicas  caracterizan a numerosos casos de expansión internacional de firmas de países en desarrollo que han alcanzado un cierto nivel de industrialización, con base en la consolidación de sectores empresariales nacionales”[13]. Para Haberer e Kohan, “consumidores demandantes mais sensíveis a preço, uma infraestrutura de distribuição desafiadora e ambientes econômicos e políticos complexos forçam as companhias a desenvolver capacidades distintas que podem lhes servir bem no exterior”[14].

Outras pesquisas destacam os gargalos estruturais das principais economias latino-americanas e seus impactos na geração de IED. Sull e Escobari afirmam que “algumas empresas da região se globalizam para administrar melhor o risco que significa fazer negócios nos turbulentos mercados da América Latina. A falta de liquidez e os altos custos de capital praticamente obrigam muitas a voltar os olhos ao exterior”[15]. Entre os obstáculos que os empresários enfrentam, destacam a alta carga tributária, a escassez e o elevado custo do capital, câmbio volátil, políticas governamentais incoerentes, taxas de juros e de inflação imprevisíveis, corrupção etc. Aqui a realização de IED não decorre de uma vantagem construída, senão da busca pela eliminação de uma desvantagem de estar situado em economias com diversos problemas estruturais.

Uma terceira perspectiva desenvolvida tem enfocado a vinculação entre abertura econômica, concorrência e internacionalização. Para Chudnovsky e Lópes, os IED latino-americanos, desde meados dos anos 1990, “não podem ser separados do processo de liberalização comercial e reestruturação das respectivas economias locais”, pois, como parte do movimento de reestruturação econômica, as empresas da América Latina concentraram seus negócios “nas atividades core nas quais tinham competências e onde podiam melhor competir com as transnacionais”[16]. Martinez, Souza e Liu advogam que “a competição estrangeira ascendente pressionou as companhias latinas locais, que historicamente serviam seus mercados domésticos, a se consolidar e se expandir em direção a outros países latino-americanos, transformando-se elas mesmas ‘em multilatinas’”[17]. Para Cuervo-Cazurra, “la aparición de las Multilatinas es una consecuencia del proceso de liberalización económica de los años ochenta y noventa” e que “la liberalización económica ha forzado a las empresas latinoamericanas a mejorar sus niveles de competitividad”[18].

Neste texto, segue-se a tese defendida por Santos[19], qual seja: a emergência das Multilatinas está relacionada, de um lado, ao acirramento da concorrência oligopólica mundial – agudizada pelas políticas de abertura - em indústrias intensivas em capital e, de outro lado, às capacidades distintivas construídas – atuação diversificada, operação em espaços desiguais, crises e estrangulamentos externos etc. - em cada um dos capitalismos latino-americanos. Essas frações de capitais, enquanto particularidade do movimento geral do capital, respondem ao acirramento da concorrência e à coação pela acumulação progressiva alargando seus contextos espaciais de acumulação, mas são as suas condutas e estratégias, baseadas em vantagens competitivas construídas em “ambientes” singulares, que lhes permitem alterar os padrões de concorrência em suas indústrias e assumir a condição de importantes players mundiais.


Fluxos mundiais de IED

Entre os anos 1980 e 1990, os países desenvolvidos ampliaram sua importância nos estoques mundiais de IED, enquanto os países periféricos (em desenvolvimento e em transição) diminuíram sua relevância (Quadro 1). Contudo, a partir dos anos 1990, houve uma inversão dos processos, porque os países periféricos passaram a apresentar um avanço percentual superior aos exibidos pelos países desenvolvidos.

 

Quadro 1.
Estoques de investimentos diretos no exterior por regiões do mundo, entre 1980 e 2010, em US$ milhões

Região*

1980

%

1990

%

2000

%

2010

%

Europa

213.566

39

886.959

42

3.759.713

47

10.023.881

49

Bélgica

6036

0

40635

1.9

179773

2.3

917222

4.5

França

24909

4.5

112441

5.4

925924

11.6

1579839

7.7

Alemanha

43126

7.9

151581

7.2

541866

6.8

1436480

7.0

Itália

7318

1.3

60184

2.9

169957

2.1

487615

2.4

Holanda

41867

7.6

105088

5.0

305461

3.8

961537

4.7

Espanha

1931

0

15651

0.7

129194

1.6

651322

3.2

Suíça

0

0

66087

3.2

232161

2.9

934126

4.6

Reino Unido

80433

14.7

229307

11

897845

11.3

1673956

8.2

Estados Unidos

215.375

39

731.762

35

2.694.014

34

4.843.325

24

Canadá

23.782

4

84.807

4

237.639

3

616.134

3

Austrália e Nova Zelândia

4.982

1

41.927

2

104.469

1

419.891

2

Japão

19.612

4

201.441

10

278.442

3

831.074

4

Israel

17

0

1.188

0

9.091

0

66.299

0

Países desenvolvidos

477.203

87

1.948.084

93

7.083.477

89

16.803.536

82

África

7.584

1

20.229

1

44.224

1

122.429

1

América Latina e Caribe***

47.518

9

57.645

3

204.515

3

732.781

4

Oriente Médio e Ásia

16.603

3

67.600

3

608.366

8

2.276.194

11

Oceania

28

0

51

0

249

0

441

0

Países em desenvolvimento

71.733

13

145.525

7

857.354

11

3.131.845

15

Sul e Leste europeu e CEI****

0

0

0

0

21.339

0

472.876

2

Países em transição

0

0

0

0

21.339

0

472.876

2

Mundo

548.936

100

2.094.169

100

7.962.170

100

20.408.256

100

* São utilizadas as terminologias da UNCTAD de países desenvolvidos, em desenvolvimento e em transição somente para fins de tabulação dos dados.
*** Aqui está incluso Bermudas, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Cayman, Panamá e Antilhas Holandesas.
**** Comunidade dos Estados Independentes

Fonte: Unctad Database.
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

 

Se, por um lado, Alemanha, Reino Unido e Holanda exibiram uma redução e posterior estabilização de sua importância nos fluxos materiais de capitais produtivos, por outro lado, dentro da própria Europa, países como Bélgica, França, Espanha e Suíça elevaram sua participação nos fluxos mundiais de IED, em função do crescimento percentual dos fluxos acima da média mundial. A Itália apresentou dados percentuais alternados, tornando difícil inferir a curva.

Cabe ressaltar também que, apesar do aumento dos investimentos produtivos no exterior, tanto os Estados Unidos quanto o Japão diminuíram sua importância relativa como principais investidores mundiais, com uma queda maior para o primeiro que sequer logrou manter os mesmos patamares percentuais dos anos 1980. A queda da importância relativa dos Estados Unidos iniciou-se nos anos 1980, enquanto a do Japão ocorreu apenas a partir dos anos 1990.

Para Harvey, “os Estados Unidos foram cúmplices do solapamento de seu domínio na manufatura ao desencadear por todo o globo os poderes das finanças”[20]. Os custos crescentes com a guerra do Vietnã e a crise fiscal interna, por conta da política de consumismo doméstico interminável, levaram ao abandono do sistema Bretton Woods - ordem econômica internacional instituída após a Segunda Guerra Mundial que permitiu a constituição de um espaço monetário mundial sob a hegemonia dos Estados Unidos[21] - e à implantação de um sistema monetário desmaterializado. Assim, ameaçados no campo da produção, os Estados Unidos reagiram afirmando sua hegemonia por meio das finanças[22].

Brenner[23] defende que o fim do sistema Bretton Woods, a contrarrevolução monetarista e os acordos de Plaza (1985 e 1995) foram o resultado da persistência da superprodução nas principais economias centrais (Estados Unidos, Alemanha e Japão). Para ele, com o desenvolvimento desigual, Alemanha e Japão atingiram um nível igual ou superior de competitividade vis-à-vis os Estados Unidos, de modo que se acirrou a concorrência, a queda da lucratividade e o aumento da capacidade excedente. As valorizações e desvalorizações das moedas (dólar, yen e marco) não foram capazes de contornar a persistência da estagnação, dada a maior entrada e menor saída das empresas e a participação ativa dos governos na luta competitiva em todo o sistema.

Arrighi[24] interpreta a “crise sinalizadora” do ciclo sistêmico de acumulação liderado pelos Estados Unidos da seguinte maneira:

A crise iminente do regime norte-americano foi assinalada entre 1968 e 1973, em três esferas distintas e estreitamente relacionadas. Militarmente, o exército norte-americano entrou em dificuldades cada vez mais sérias no Vietnã; financeiramente, o Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos verificou ser difícil e, depois, impossível preservar o modo de emitir e regular o dinheiro mundial estabelecido em Bretton Woods; e, ideologicamente, a cruzada anticomunista do governo norte-americano começou a perder legitimidade no país e no exterior.

Com base num keynesianismo militar e social, os Estados Unidos criaram as condições para o boom econômico do pós-guerra, que resultou, posteriormente, no desenvolvimento desigual, no acirramento da concorrência, no excedente de produção e na queda na taxa de lucro[25]. Se até o início dos anos 1960 predominou o ciclo de expansão material (comércio e produção) da economia mundial, no final dessa década, eclodiu a crise sinalizadora do regime de acumulação norte-americano, por conta do aumento das pressões competitivas e do excesso de capitais à procura de investimentos em mercadorias, dando origem a uma fase descendente do ciclo e a uma financeirização da acumulação de capital.

A contrarrevolução monetária – ancorada nos juros altos, nos incentivos fiscais e na liberdade ao capital – adotada pelo governo Reagan abriu o caminho à financeirização, proporcionando uma reação às crises de lucratividade e de hegemonia. Arrighi entende que esse triunfo parece ser o permeio entre crises sinalizadoras e as crises terminais dos regimes de acumulação dominantes, quando destaca que “mais depressa do que em qualquer regime anterior, a belle époque do regime norte-americano, a era Reagan, veio e se foi, mais havendo aprofundado do que solucionado as contradições subjacentes à crise sinalizadora anterior”[26].

Harvey[27] afirma que, por meio do fortalecimento das regras básicas neoliberais dos mercados financeiros abertos e do acesso livre, parecia haver pouco perigo de as configurações regionais (Japão, Estados Unidos, Alemanha) recaírem na autarquia competitiva que se mostrara tão destrutiva antes da Segunda Guerra Mundial. Contudo, as tensões e contradições entre as configurações geográficas regionais não foram (e não serão) completamente solucionadas porque, por conta da própria dinâmica do capitalismo, há o desenvolvimento geográfico desigual. Este é o resultado da dinâmica de diferenciação e igualização espaciais no processo de internacionalização, pois, no movimento de expansão uniforme do capital, ocorre sincronicamente um processo de diferenciação[28].

Para Harvey, “a atividade capitalista produz o desenvolvimento geográfico desigual, mesmo na ausência de diferenciação geográfica em termos de dotação de recursos e disponibilidade”[29]. No bojo desse desenvolvimento desigual, surgiram novos espaços dinâmicos de acumulação de capital, onde os excedentes gerados têm demandado expansões geográficas de capitais particulares e, no limite, uma reorientação dos papéis dos Estados - por conta da construção e reconstrução permanente de assimetrias espaciais no sistema mundo.

No quadro 1, nota-se que os países periféricos ampliaram seus estoques de IED duas vezes entre 1980 e 1990, enquanto a média mundial de expansão foi de 3,8 vezes. Por isso, houve uma diminuição da importância do conjunto de países de 13% para 7%. Quando se analisa detalhadamente os dados, nota-se que a queda foi por conta, principalmente, do pífio crescimento dos IED realizados pela América Latina, cujas taxas de expansão foram menores que a África e a Oceania, respectivamente. Na década anterior, a América Latina (excluindo o Caribe) havia liderado os IED promovidos pela periferia capitalista, respondendo por mais de 41% dos IED periféricos, bem à frente da Ásia, com taxa próxima a 20%.

Durante os anos 1980, a crise econômica, resultante do excessivo endividamento externo e da baixa liquidez mundial, impactou sobre o crescimento econômico dos países latino-americanos e diminuiu a importância da região como principal fonte de IED dos países periféricos, conforme demonstra o quadro 1. A Ásia, por outro lado, com forte crescimento econômico, alcançou e superou a América Latina como principal fonte de investimento[30]. Quanto aos estoques de IED, a América Latina ainda manteve a liderança, por causa do acúmulo de investimentos e da importância dos anos 1970. Em termos percentuais, a região foi responsável, em média, por 58% do estoque de IED dos países periféricos e 6.8% do estoque mundial, enquanto a Ásia apresentou taxas médias de 28% e 3%, respectivamente.

A partir do quadro 1, pode-se observar, ainda, que os anos 1990 apresentaram porcentagens de crescimento dos fluxos sem precedentes históricos, com os países periféricos atingindo taxa média de 12%. Em números absolutos, foram realizados investimentos além das fronteiras da ordem de US$ 460 bilhões, ou seja, uma média de US$ 46 bilhões por ano e cerca de quase 8 vezes os valores apresentados nos anos 1980. Nos 3 primeiros anos da década, Ásia e América Latina apresentaram estoques muito próximos em valores. Desde meados de 1990, porém, passou a ocorrer um distanciamento significativo. A África apresentou um crescimento tímido e o Sul e Leste da Europa, cujos dados disponibilizados pela UNCTAD datam a partir de 1995, sequer aparece no quadro com taxa inferior a 1%.

Nos anos 2000, continuou a queda dos países desenvolvidos nos estoques mundiais de IED, principalmente a partir de 2004. Durante os anos 2003 e 2007, ocorreu uma forte recuperação dos fluxos mundiais de IED, que foram multiplicados por quase quatro vezes, dado o aumento de US$ 570,6 bilhões para US$ 2,2 trilhões. É durante este período que se pôde notar uma diminuição da importância relativa dos países desenvolvidos nos fluxos de IED e aumento dos países periféricos. De fato, embora ambos os conjuntos de economias tenham avançado, as periféricas apresentaram um incremento maior dos IED, pois se expandiram num ritmo (4,1 vezes) maior que a média mundial (2,6 vezes).

Entre 2008 e 2009, os desdobramentos da crise financeira deflagrada engendraram uma queda significativa dos IED, que retornaram ao nível do início da década, atingindo em torno de US$ 1,2 trilhão. Embora todo o conjunto de economias desenvolvidas e periféricas tenha demonstrado uma queda dos fluxos de investimentos produtivos, nas primeiras a queda foi mais acentuada. A partir de 2010, os fluxos de investimentos diretos têm demonstrado uma recuperação; porém, os países desenvolvidos têm apresentado uma redução percentual, ao passo que os países periféricos apresentam um avanço.

Sem dúvida, um dos aspectos mais surpreendentes é o rápido avanço do Sul e Leste da Europa desde que a UNCTAD começou a divulgar dados dessas regiões. Os estoques de investimentos do Sul e Leste da Europa foram multiplicados por mais de 20 vezes. Por trás desse crescimento estão as empresas russas de recursos naturais, principalmente de gás, petróleo e carvão, e a alta dessas commodities antes da crise financeira. Tanto a Ásia como a América Latina não apresentaram alterações substanciais, com taxas de expansão próximas e manutenção da prevalência da primeira no conjunto das economias periféricas. Não é demais lembrar que, diferentemente da América Latina, cuja atuação estatal é incipiente, tanto na Ásia quanto no Sul e Leste da Europa (entenda-se Rússia) existe uma fusão contraditória entre a política de Estado e os interesses moleculares de acumulação dos capitais particulares aí originados e situados[31].

De acordo com Sposito e Santos[32] é, pois, evidente o papel exercido por algumas empresas situadas na periferia no processo de centralização de capital nas diversas escalas espaciais, da regional à mundial. Vale ressaltar, en passant, que o movimento de centralização tem sido não somente Sul-Sul, senão também, e principalmente, no sentido Sul-Norte, na medida em que a maior parte das aquisições e fusões tem sido direcionada aos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No caso dos Estados Unidos, por exemplo, os investimentos de empresas latino-americanas saltaram da marca de US$ 8 bilhões, em 1995, para valores próximos a US$ 30 bilhões, em 2005.

As empresas oriundas dos países periféricos estão participando ativamente do movimento de centralização do capital em escala mundial, com demasiados gastos com aquisições de companhias, seja de países com o mesmo ou patamar mais baixo de desenvolvimento, seja de empresas sediadas em países desenvolvidos. As empresas de países periféricos representam, em média, algo em torno de 18% de todos os gastos com aquisições e fusões que vêm sendo realizadas em âmbito mundial. Em 2008, as empresas situadas na periferia desembolsaram em torno de US$ 120 bilhões em mais de 1.000 transações além das fronteiras[33].

As consequências imediatas desse processo de centralização do capital promovido por vários territórios estão sendo refletidas na lista das 500 maiores empresas do mundo – Global fortune 500, com mais de 95 empresas “dos países emergentes”, com exceção da Coréia do Sul (Figura 1).

 

Figura 1. Localização geográfica das 500 maiores empresas do mundo, por faturamento, entre 2005 e 2011.
Fonte: Adaptado e atualizado de Sposito e Santos (2012, p. 55).
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

 

Entre 2005 e 2011, o número de empresas estadunidenses listadas reduziu sensivelmente, de 176 para 133, como decorrência da desvalorização do dólar em relação a outras moedas, da expansão econômica significativa de algumas economias - entre elas China, Índia e Brasil – e da aquisição de empresas dos Estados Unidos por contrapartes de países periféricos, principalmente. Outro país desenvolvido a perder importância é o Japão, com redução de 81 para 68 empresas. No mesmo período, as empresas chinesas avançaram de 16 para 61, as indianas de 5 para 8, as brasileiras de 3 para 7 etc.

Pode-se afirmar que, no processo de concentração e centralização de capital em escala mundial, países desenvolvidos como Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Holanda e Alemanha, sobretudo, estão perdendo importância relativa entre os principais investidores mundiais. No bojo desse processo, não só países desenvolvidos (Bélgica, França, Espanha e Suíça), senão também países periféricos (entre os quais China, Índia, Rússia, Brasil, Chile, México etc.) têm aumentado sua importância nos fluxos mundiais de IED. Conforme afirmam Sposito e Santos[34], tem ocorrido o delineamento de um processo de centralização descentrada de capital, quer dizer, um movimento de concentração e centralização que extrapola a tríade e passa a ocorrer em e a partir de outros centros.


Contextualização histórica dos IED da América Latina

A Argentina foi um dos primeiros países da periferia capitalista a realizar investimentos no exterior, em finais do século XIX, com as companhias Alpargatas, SIAM di Tella e Bung y Born e, em menor importância, Grimoldi, Carlos Casado, Quilmes e Saint Hnos. A maior parte dos investimentos externos teve como origem o setor agroalimentar e, em menor expressão, o industrial[35].

As estratégias de integração vertical e diversificação dos negócios foram as saídas encontradas à saturação do mercado doméstico argentino[36]. Katz e Kosacoff[37] articulam a liderança nas vendas, o tamanho da firma e o grau de concentração do mercado com a realização de investimentos em outros países em cada estágio no processo de crescimento da Argentina. Logo que atingiram um controle relevante de seus respectivos mercados internos, as empresas iniciaram um processo de internacionalização tanto na produção como na comercialização em países vizinhos.

Contudo, o progressivo esgotamento do modelo agroexportador, decorrente da própria depressão econômica nos anos 1930, afetou o processo de internacionalização deste número reduzido de empresas, introduzindo uma nova dinâmica na expansão dos grupos econômicos, principalmente a autonomia das sucursais[38]. Um número considerável das filiais tornou-se maior que as próprias matrizes ou foi adquirido por outras empresas.

Quanto ao Brasil, é apenas nos anos 1930 que um dos principais conglomerados, Matarazzo, promove investimento externo – aquisição de empresa de moagem de trigo na Argentina, para garantir o abastecimento do mercado brasileiro. Não se pode falar, no entanto, de uma onda de investimentos brasileiros no exterior nas primeiras décadas do século XX. Na América Latina, a partir dos anos 1960, países como Brasil, Colômbia e Argentina, respectivamente, encabeçaram a lista dos principais investidores da região, apesar da existência de IED de outros países, entre eles Venezuela e Chile. Em finais da década de 1970, a Argentina apresentou uma involução nos investimentos externos, com números negativos.

Chudnovsky e Lópes[39] defendem a ocorrência de ondas de IED latino-americanos. Para eles, os investimentos realizados entre os anos 1960 e 1970 corresponderam à primeira onda, enquanto a segunda coincidiu com os anos 1980. Se for considerado o substantivo onda, literalmente, como grande volume, pode-se aventar que os números apresentados pela região, nos anos 1960 e 1970, correspondem tão somente a uma ondulação[40], haja vista que representaram, em média, 1.2% de todos os fluxos mundiais de IED.

Nos anos 1990, a maior representatividade dos IED latino-americanos, embora ainda em menor proporção que os asiáticos, foi considerada como uma terceira onda de investimentos de empresas “transnacionais latinas”[41]. A terceira onda de investimentos de firmas latino-americanas “não é significativa apenas em volume, mas é também diferente em sua natureza, tanto da primeira com da segunda onda de IED dos países em desenvolvimento”[42]. Com relação à terceira onda,

[...] suas características específicas surgem, de um lado, da história, da estrutura, do tamanho, do regime de política econômica e do nível de desenvolvimento distintos de cada uma das respectivas economias e, de outro lado, dos diferentes cenários regional e internacional nos quais cada uma das três ondas de IED ocorreram.[43]

Para Casanova[44], a internacionalização de empresas latino-americanas ocorreu em quatro fases. A primeira (1970-1990) foi um testemunho de tímidas tentativas de expansão dentro da própria região. A segunda deu-se nos anos 1990 e coincidiu com as políticas de abertura econômica, em que houve uma ambição de maior alcance internacional. A terceira iniciou-se em 2002, com a subida dos preços de matérias-primas. A última teve início em 2008, com a queda do Lehman Brothers, e vem sendo caracterizada pelo retorno aos mercados naturais – quer dizer, próximos geográfica e culturalmente.

Quando se analisa os dados sobre estoques de IED dos países latino-americanos, nota-se que, por conta da perda de importância da Argentina em finais dos anos 1970, o Brasil tornou-se o principal investidor da região, com mais de 80% dos estoques de IED, contra apenas 12,6% da Argentina (Quadro 2).

 

Quadro 2.
Estoques de IED dos países latino-americanos e caribenhos, entre 1980 e 2010, em US$ milhões

Países

1980

% total

1990

% total

2000

% total

2010

% total

Argentina

5970

12.6

6057

10.4

21140

10.3

29840

3.3

Brasil

38544

81.1

41044

70.6

51946

25.4

188637

21.1

Chile

63

0.1

154

0.3

11154

5.5

60146

6.7

Colômbia

136

0.3

402

0.7

2989

1.5

22829

2.6

Equador

1

0.0

18

0.0

247

0.1

324

0.0

Ilhas Cayman

72

0.2

648

1.1

20788

10.2

88656

10.0

Jamaica

005

0.0

42

0.1

709

0.3

176

0.0

México

1632

3.4

2672

4.6

8273

4.0

104301

11.7

Panamá

0

0.0

3876

6.7

10507

5.1

31559

3.6

Paraguai

142

0.3

134

0.2

214

0.1

238

0.0

Peru

3

0.0

122

0.2

505

0.2

3318

0.4

Uruguai

171

0.4

186

0.3

138

0.1

304

0.0

Venezuela

23

0.0

1221

2.1

7676

3.8

19808

2.2

Outros

756

1.6

1556

2.7

68382

33.4

343258

38.4

Total

47.518

100

58.132

100

204.668

100

893.394

100

Fonte: UNCTAD Database.
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

 

Desde os anos 1980, porém, tanto o Brasil quanto a Argentina têm apresentado uma redução de sua importância no estoque de IED da América Latina, por causa do avanço de outras economias, sobretudo Chile, México e Colômbia. Alguns autores têm aventado, a respeito da diminuição da importância do Brasil, que Chile, México e Argentina, cada um a seu modo, ao promoverem medidas pioneiras de liberalização das importações e aumento da concorrência internacional, criaram as condições para que suas empresas se reestruturassem e adquirissem experiência (know how) necessária para ingressar no cenário internacional e competir, regional e globalmente, com as multinacionais dos países desenvolvidos[45]. Sob essa perspectiva, o Brasil, cuja implementação de políticas neoliberais ocorreu apenas no começo de 1990, demonstrou a diminuição do ímpeto de suas empresas quanto à internacionalização, porque era premente promover a reestruturação interna para fazer frente à concorrência internacional.

Outras explicações importantes para a maior importância de Chile, México e Argentina e diminuição da relevância do Brasil podem ser levantadas. Primeiro, os IED brasileiros mais significativos se concentraram o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Segundo, o mercado brasileiro, por ser significativamente maior que o chileno e o colombiano, foi eleito como mais relevante pelas empresas do que o mercado internacional. Às empresas chilenas, mexicanas e colombianas a expansão constituiu-se numa estratégia de sobrevivência, por causa das possibilidades de expansão limitadas do mercado interno e da maior competição internacional.

Nos anos 2000, Brasil, México e Chile apresentaram o maior crescimento quanto aos fluxos de IED, ao passo que Argentina, principal investidora nos anos 1990, perdeu importância entre os países da região, dada a incorporação de suas multinacionais por empresas de países desenvolvidos e periféricos e a crise econômica no início deste século. Na contramão da diminuição da relevância argentina, Colômbia emergiu como um importante investidor, respondendo 38% dos fluxos da região entre 2009 e 2011[46].


Padrões setoriais e espaciais dos IED latino-americanos

Durante a primeira onda de IED periféricos, que abrange os anos 1960 e 1970, os capitais produtivos foram destinados, basicamente, a países vizinhos, cujo nível de desenvolvimento era similar ou inferior ao apresentado pelo país de origem das empresas multinacionais emergentes e o mercado consumidor bem menor que o dos países desenvolvidos. Foi o momento de estabelecimento das Multilatinas em seus “mercados naturais” - mercados “que comparten una lengua, están próximos geográficamente o tienen lazos históricos comunes”, nos quais “los ejecutivos y ciudadanos en general conocen mejor los países dentro de los mercados naturales, las necesidades y los gustos de los consumidores, el marco legal o el contexto económico”[47].

Cabe destacar, en passant, que as tecnologias eram licenciadas dos países desenvolvidos e adaptadas às condições locais, onde as economias de escala eram menores e os governos fomentavam a industrialização via Substituição de Importações (SI). A adaptação tecnológica era útil às empresas, pois elas não apenas conseguiam produzir com maior eficiência que as suas contrapartes dos países desenvolvidos (com know how baseado em enormes economias de escala), como também buscavam obter economias de escopo (uso de uma mesma plataforma tecnológica para a produção de vários produtos).

As empresas brasileiras se internacionalizaram, basicamente, em petróleo, supermercados, alimentos, engenharia civil, eletrônica, autopeças, elevadores, móveis, carrocerias de ônibus. Desnecessário dizer que as iniciativas industriais foram muito pequenas, pois a maior parte dos IED concentrou-se em finanças (bancário), em offshore (paraísos fiscais) e em petróleo. Neste momento, a Argentina logrou tornar-se, também, um investidor relevante. Várias empresas argentinas, em distintos setores, se expandiram para outros espaços e somaram quase US$ 90 milhões em IED. Os ramos internacionalizados abrangeram bebidas (vinho, suco), exploração de petróleo, produtos finais, insumos e componentes ativos (farmacêuticos), siderurgia, metalmecânica, editoração, alimentos, utensílios domésticos etc.

O Chile apresentou um movimento de multinacionalização de empresas, de curta duração e pouca significação, com algumas famílias buscando oportunidades de negócios na Argentina, principalmente. Luksic realizou IED na Argentina, Brasil e Colômbia, ao passo que Boher ingressou apenas na Argentina. Os dois grupos levaram a cabo negócios na atividade agropecuária - comércio de grãos[48]. Os IED mexicanos datam dos anos 1960 e 1970, com a entrada de algumas companhias na América Central - Guatelama e em Costa Rica[49].

Nos anos 1980, as multinacionais latino-americanas dirigiram-se, sobretudo, ao mercado regional, onde se utilizaram dos conhecimentos adquiridos (learning by doing) no mercado interno. Apesar do avanço notável, ao final da década, muitas companhias Multilatinas - sobretudo de autopeças, aço, metal mecânica, têxtil etc. - foram absorvidas por contrapartes dos países desenvolvidos ou não conseguiram aportar novos capitais às suas unidades externas por dificuldades econômicas encontradas no mercado interno (principalmente as mexicanas e chilenas).

Os IED promovidos durante os anos 1980 foram variados, pois abrangeram diversas empresas e distintos ramos econômicos. As empresas brasileiras com experiência na exportação procuraram estabelecer subsidiárias em seus mercados externos (Labra, Nansen, Embraer, Bardella), companhias sem nenhuma experiência na exportação estabeleceram suas subsidiárias (Globo, Eluma), empresas promoveram uma integração vertical (Vale do Rio Doce, Copersucar, Cacique, Securit) com a finalidade de garantir a exportação de seus principais produtos, companhias buscaram contornar a desaceleração do mercado doméstico (setores de bens de capital e de construção civil) e, finalmente, algumas empresas seguiram as prioridades governamentais (Petrobras)[50].

Um número significativo de companhias argentinas realizou IED nos anos 1980, desde a produção de guloseimas (Arcor) até a manufatura de produtos farmacêuticos (Bagó, Sintyal e Chemotecnia). Os investimentos produtivos estiveram concentrados nos países latino-americanos, enquanto os direcionados aos países desenvolvidos assumiram a forma de escritórios de importação para comercialização de produtos exportados de suas bases domésticas.

Com um número maior de casos - mas volume de IED limitados - estão os grupos chilenos, marcados pelo ingresso de novos atores e pela continuidade de outros (Luksic e Bhoer). Se, nos anos 1970, Brasil e Colômbia faziam parte desse avanço, nos anos 1980, a Argentina tornou-se o locus de expansão em ramos como bebidas, varejo, frutas etc. Contudo, a crise econômica no início dos anos 1980, a complexa situação macroeconômica da Argentina e as dificuldades de acesso a financiamento limitaram o comprometimento de recursos e agiram negativamente[51].

No caso do México, os circuitos espaciais de produção dos grupos transcenderam a América Central, coma entrada de novos atores econômicos – Imsa (grupo Alfa), Bimbo e Cemex. Os Estados Unidos tornaram-se o locus de expansão internacional para os grupos mexicanos, que buscaram atender a demanda (principalmente de alimentos) de uma “comunidade” de hispanos e o enorme mercado para bens intermediários (cimento, aço etc.)[52].

Durante os anos 1990, houve a concentração dos IED latino-americanos em indústrias e ramos econômicos cujas tecnologias eram maduras (cimento, siderurgia, vidro, papel e celulose etc.). As principais vantagens das empresas não procederam de ativos tecnológicos, senão de capacidades organizacionais, financeiras, tecnologias de processo, produto ou comercialização. Além disso, os fluxos de IED se concentraram em ramos intensivos em recursos naturais (petróleo, silvicultura, alimentos) e serviços (energia, telecomunicações, bancos).

Parte considerável das Multilatinas com IED nos anos 1990 apresentou níveis de internacionalização limitados e médios, com poucos casos de internacionalização avançada[53]. As empresas com grau avançado de internacionalização estavam sediadas no México, mas algumas delas foram adquiridas por multinacionais dos países desenvolvidos ou se tornaram sócias menores. Por exemplo, La moderna se associou à empresa Monsanto numa rede de alianças em escala global, a Impsat vendeu parte de suas ações à British Telecom.

Apesar do carreamento de capitais produtivos a países desenvolvidos, entre eles Estados Unidos, Canadá, países europeus etc., a maior parte dos IED teve como destino a própria região. No Brasil, ocorreu o avanço de companhias argentinas e chilenas; na Argentina, de firmas brasileiras; no Peru, de companhias chilenas; e, na América Central, de empresas mexicanas. Os poucos investimentos destinados aos países desenvolvidos foram realizados por Cemex, Carso, Techint, La moderna Seminis, Sabó, Odebrecht, entre outros. A maior parte dos grupos e empresas com investimentos IED estava sob o controle familiar, sendo os argentinos sem vinculação financeira, os brasileiros e mexicanos com algumas vinculações financeiras e os chilenos marcados por forte vinculação às finanças e aos mercados de capitais internacionais - porque o país “se converteu en una suerte de ‘centro de reciclaje’ de fondos internacionales”[54].

Nos anos 2000, os fluxos de IED latino-americanos apresentaram algumas especificidades quanto ao destino e aos setores. Primeiro, os investimentos sob a forma de fusões e aquisições têm, predominantemente, sido carreados aos países desenvolvidos. Segundo, os fluxos destinados aos países periféricos estão concentrados na América Latina (Quadro 3).

 

Quadro 3.
Fusões e aquisições promovidas por Multilatinas entre 2007 e 2011, segundo o
destino e os setores econômicos, em US$ milhões

Países e setores

2007

2008

2009

2010

2011

Países desenvolvidos

32130

1998

3475

12036

9173

Estados Unidos

9873

-1872

5603

4719

5402

União Europeia

3699

1595

-1233

2905

1752

Japão

615

1513

561

125

-

Regiões periféricas

6384

586

265

3795

9486

África

-155

-

-70

-84

-5

Ásia

787

283

374

-656

180

América Latina

5752

170

116

4692

7983

Sul e Leste da Europa

-

-

-159

-156

1329

Total

38514

2584

3740

15831

18659

           

Setores

Primário

3984

1880

4689

2076

-650

Agricultura, floresta e pescado

-

1610

-

-

-

Mineração e petróleo

3984

270

4690

1981

-745

Secundário

24111

2830

859

4700

6035

Alimentos bebidas e tabaco

1654

583

3224

2285

2213

Madeira e produtos de madeira

-

-

-

69

122

Coque, produtos de petróleo e combustível nuclear

-

-

-947

-

-

Produtos químicos

759

172

63

373

-

Produtos minerais não metálicos

14437

913

-1337

990

-

Produtos de metal e metálicos

7313

740

-

-

-

Têxteis, vestuário e couro

-

-

-

-598

425

Equipamentos eletrônicos e elétricos

-

-

-

-

16

Veículos motores e equipamentos de transporte

-

-

-

150

-

Serviços

10419

-2126

-1808

9055

13274

Eletricidade e água

-

-

103

1227

-

Construção

-

-

-12

49

826

Comércio

935

134

-14

762

-

Transporte, armazenamento e comunicações

1749

1849

120

263

6123

Finanças

7674

1172

-2113

4105

-

Serviços prestados às empresas

-196

-1731

379

1070

-272

Atividades de serviços pessoal, social e comunitária

-

-

-

1220

4

Fonte: Unctad (2009, 2001 e 2012).
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

 

Quanto aos setores, não há um padrão que possa ser facilmente identificado. Pode-se notar que, entre 2007 e 2008, predominou o IED no setor industrial, sobretudo produtos minerais não metálicos e produtos de metal e metálicos. Em 2009, o setor primário tornou-se prevalente. Entre 2010 e 2011, a maior parte dos IED ocorreu no setor de serviços. Contudo, a predominância dos serviços precisa ser relativizada, pois os investimentos promovidos pelas holdings – participação e/ou controle acionário – podem ser classificados como serviços financeiros, técnicos, administrativos etc. entre companhias[55].

Os investimentos novos das Multilatinas também têm uma certa importância sob a forma de serviços, mas o setor industrial (alimentos, bebidas e tabaco, produtos de plástico e borracha e produtos de metal e metálicos) possui igual relevância. Com menor expressão, porém não menos importante, tem-se o setor primário, com o predomínio da mineração e do petróleo (Quadro 4).

 

Quadro 4.
Investimentos novos das Multilatinas por regiões e países de
destino, em milhões US$, entre 2010 e 2011

Países e setores

2010

2011

Países desenvolvidos

5200

3499

União Europeia

1132

1319

Estados Unidos

566

2038

Japão

46

93

Outros países desenvolvidos

3456

49

Países periféricos

16554

17156

África

809

1774

Ásia

3870

917

América Latina

11864

14466

Sul e Leste da Europa

10

-

Total

21754

20655

Setores

Primário

7429

2300

Mineração e petróleo

7418

2300

Manufatureiro

8373

7674

Alimentos, bebidas e tabaco

2038

1197

Produtos de plástico e borracha

3050

170

Produtos de metal e metálicos

678

1769

Veículos motores e equipamentos de transporte

360

250

Serviços

5952

10681

Eletricidade, gás e água

1688

156

Transporte, armazenamento e comunicações

1424

3678

Finanças

1392

1290

Serviços prestados às empresas

410

5117

Fonte: Unctad (2012).
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

 

Diferentemente dos fluxos de capitais visando à aquisição e fusão de companhias, cujo destino predominante é os países desenvolvidos, os investimentos novos (modernização, novas unidades produtivas) são carreados, na sua maior parte (média superior a 75% entre 2010 e 2011), aos países periféricos. Porém, esses fluxos têm como destino a própria região, com os países latino-americanos recebendo, em média, 62% de todos os investimentos.

Setorialmente, é possível destacar alguma relevância dos países nos fluxos de IED. O Brasil tem uma participação importante em siderurgia, cimento, mineração e alimentos. O México apresenta uma relevância em alimentos, cimento e telecomunicações. Com uma importância crescente aparece o Chile, sobretudo no comércio varejista, papel e celulose etc. A Argentina conta, principalmente, com empresas produtoras de alimentos e produtos siderúrgicos (aço, laminados). Mas o aspecto mais fundamente é, talvez, a importância dos investimentos Sul-Sul, apesar da realização de IED no sentido Sul-Norte.

À medida que as Multilatinas avançam, há um fortalecimento da relação material Sul-Sul e uma relativização dos investimentos Norte-Sul. A proximidade geográfica, as similaridades econômicas e políticas e o Mercado Comum do Cone Sul (MERCOSUL) etc. são fatores que estimulam o investimento cruzado entre os países (Quadro 5).

 

Quadro 5.
Localização das sucursais das empresas Multilatinas por regiões

Países

Regiões

América do Norte

América Central

América do Sul

África

Oceania

Ásia

Europa

Argentina

2

2

7

0

0

1

1

Brasil

19

5

29

8

4

14

21

Chile

2

2

20

2

0

3

2

México

25

11

21

1

2

3

8

Outros

3

4

9

1

0

1

1

Fonte: Aguiar et. al. (2009).
Org: Leandro Bruno Santos (2013).

 

Para o México, com investimentos destinados principalmente aos Estados Unidos e à América Central, são relevantes a proximidade geográfica, o enorme mercado estadunidense e o aspecto étnico, já que muitos mexicanos moram nos Estados Unidos[56]. Na Europa, Ásia, América do Sul e Oceania, as Multilatinas brasileiras lideram com sucursais, enquanto na América do Norte e Central, predominam as mexicanas. As empresas chilenas têm maior presença na América do Sul, principalmente Peru e Argentina.

Atualmente, Brasil e Chile são importantes investidores na América do Sul e estão à frente dos tradicionais investidores, os países desenvolvidos. Entre os anos 2005 e 2010, o Brasil e o Chile tornaram-se, respectivamente, o terceiro e o quarto maiores investidores na Argentina, sendo superados somente pela Espanha e pelos Estados Unidos. Quanto ao Uruguai, a Argentina é a maior investidora no país, com 23.2% (US$ 2.513 milhões) de todos os fluxos de IDE entre 2001 e 2010.

No Uruguai, os frigoríficos brasileiros (Minerva, JBS, Marfrig) respondem por 36% do abate bovino, a Camil beneficia metade da safra de arroz e é uma das principais exportadoras do país, a Petrobras detém 21% do mercado de distribuição de combustível e controla a distribuição de gás. No setor bancário, o Itau já é o terceiro maior banco e o Banco do Brasil ingressou com a sua sucursal argentina Patagonia. Em seguros para automóveis, a Porto Seguro domina 20% do mercado. As empresas argentinas e chilenas, respectivamente, Pérez Companc e Arauco também possuem investimentos expressivos no país.

Apesar da precariedade dos dados e das diferentes conceituações adotadas, os dados ajudam a compreender a importância que alguns países latino-americanos têm adquirido como investidores em economias pequenas e grandes da região. A relativização das relações materiais Norte-Sul - e consequente fortalecimento Sul-Sul - é maior para países como Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Por trás desse avanço, contudo, assiste-se ao estabelecimento de novas relações de dependência e da construção de novas assimetrias espaciais.


Conclusão

Os dados sobre os fluxos mundiais de IED trazem elementos para a compreensão da emergência de novas configurações geográficas regionais cujos excedentes exercem o imperativo para expansões territoriais. No limite, aportam inclusive elementos para se pensar na fase de transição do poder para a China e para a Ásia, região que tem não só atraído parcelas consideráveis de investimentos, senão que ainda tem se tornado um importante centro promotor de IED nas várias escalas.

Esses fluxos de IED provenientes de países periféricos não são um fenômeno recente e, ao longo do tempo, houve alternância de importância entre as diferentes regiões, dada a perda de importância da América Latina e a emergência da Ásia como principal investidora entre as regiões periféricas. Apesar dos refluxos, a tendência histórica é de aumento da importância dos países periféricos nos fluxos mundiais de IED. É necessário ressaltar, porém, que somente algumas economias do Sul têm apresentado um incremento de sua relevância, ou seja, estar-se-á diante de um processo de reconfiguração econômica e espacial - cuja aparência é a emergência de novos pólos de concentração e centralização de capital em escala mundial – em que novas assimetrias estão sendo construídas.

Dentro da América Latina, Brasil, México, Chile e Argentina, respectivamente, destacam-se como principais detentores de estoques de IED da região. A Argentina, antes pioneira e principal investidora, apresentou uma diminuição significativa de seu papel, enquanto o Chile foi o que mais avançou. Em países como Brasil, México e Colômbia (outro país com avanço extraordinário nos fluxos, principalmente neste século) emergiram algumas iniciativas estatais de apoio ao IED das diversas frações de capitais.

Parte considerável dos IED tem sido levada a cabo por grandes grupos econômicos, cuja estrutura setorial é diversificada. Por isso, muitos deles têm avançado, no exterior, em vários ramos econômicos. Seja por conta do contexto local (institucional, infraestrutura econômica etc.) complexo, seja por conta das políticas econômicas (apoio ou abertura), os grupos construíram capacidades distintivas para atuar em outras escalas e fazer frente ao avanço da concorrência oligopólica em seus ramos de atuação.

Last but not least, vale ressaltar dois aspectos a respeito das Multilatinas. Primeiro, os investimentos estão concentrados, ainda, na América Latina, embora haja a realização de IED, principalmente sob a forma de fusões e aquisições, na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. Segundo, apesar dos investimentos em bens intensivos em conhecimento e dos avanços na gestão, comercialização e tecnologias da informação, prevalece a atuação internacional de empresas cujas atividades estão baseadas em tecnologias maduras e em recursos naturais.

 

Notas

[1] Luo e Tung, 2007.

[2] Mathews, 2006.

[3] Andreff, 2000.

[4] Santos, 2012.

[5] Não é do escopo deste artigo aprofundar as várias subdivisões; para tanto, sugere-se a consulta às seguintes obras: Taylor e Thrift, 1986; Gonçalves, 1992; Dicken, 1998; Andreff, 2000; Sposito e Santos, 2011; Santos, 2012.

[6] Santos, 2010.

[7] Johanson e Vahlne, 1977.

[8] Johanson e Vahlne, 1977, p. 23.

[9] Johanson e Vahlne, 1977, p. 23.

[10] Dunning, 1973, 1988.

[11] Dunning, 1988: p. 2-5.

[12] Días Alejandro, 1976, p. 5.

[13] White, Campos e Ondarts, 1977, p. 1.

[14] Haberer e Kohan, 2007, p. 2.

[15] Sull e Escobari, 2004, p. 30.

[16] Chudnovsky e Lópes, 2000, p. 66.

[17] Martinez, Souza e Liu, 2003, p. 3.

[18] Cuervo-Cazurra, 2007, p. 1.

[19] Santos, 2012.

[20] Harvey, 2005, p. 60.

[21] O dólar tornou-se o padrão internacional de trocas e de reserva de valor - um equivalente geral. A instauração de um espaço monetário mundial permitiu que os capitais particulares, sobretudo os situados nos Estados Unidos, pudessem inserir diversos territórios, nas várias escalas, no movimento de valorização do capital.  

[22] Harvey, 2005, p. 58.

[23] Brenner, 2003.

[24] Arrighi , 1996, p. 310.

[25] Arrighi, 2008.

[26] Arrighi , 1996, p. 310.

[27] Harvey, 2005, p. 62.

[28] Soja, 1993; Smith, 1988.

[29] Harvey, 2005, p. 82.

[30] Santos, 2012, p. 275.

[31] Santos, 2008, 2010a.

[32] Sposito e Santos, 2012, p. 54.

[33] Sposito e Santos, 2012, p. 54.

[34] Sposito e Santos, 2012.

[35] Kosacoff, 1999.

[36] Katz e Kosacoff, 1982.

[37] Katz e Kosacoff, 1982.

[38] Bisang, Fuchs e Kosacoff, 1992.

[39] Chudnovsky e Lópes, 1999.

[40] Tavares, 2007.

[41] Chudnovsky e López, 2000.

[42] Chudnovsky e López, 2000, p. 34.

[43] Chudnovsky e López, 2000, p. 34.

[44] Casanova, 2010, p. 36.

[45] A respeito do papel desempenhado pelo time de abertura e pelas políticas de privatização, ver: Chudnovsky e Lópes, 2000; Hoffmann, 2006; Cuervo-Cazurra, 2007.

[46] Cepal, 2011, p. 60.

[47] Casanova, 2010, p. 37.

[48] Lópes, 1999, p. 284-285.

[49] Garrido, 2000.

[50]  Wells, 1988.

[51] Lópes, 1999, p. 285.

[52] Garrido, 2000.

[53] Cepal, 2006.

[54] Hoffmann, 2006, p. 152.

[55] Sposito e Santos, 2012, p. 246.

[56] Daniels, Krug e Trevino, 2007.

 

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Ficha bibliográfica:

SANTOS, Leandro Bruno. Multilatinas na economia global. Caracterização histórica, setorial e espacial. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. [En línea]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de marzo de 2014, vol. XVIII, nº 469. <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-469.htm>. ISSN: 1138-9788.

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