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PERSPECTIVAS DE RECUPERAÇÃO DE SOLO PARA ÁREAS EM PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO NO SEMIÁRIDO DA PARAÍBA- BRASIL
Vânia Santos Figueiredo
Universidade Federal de Campina Grande
vaniasfgeo@yahoo.com.br
Perspectivas de recuperação para áreas em processo de desertificação no semiárido da Paraíba – Brasil (Resumo)
Na Paraíba o processo de desertificação é considerado grave tanto pela abrangência, como pelos níveis de degradação. As áreas mais afetadas são Seridó, Cabaceiras e São João do Cariri, os quais se destacam com terras que apresentam altos riscos à desertificação. Diante desse contexto, o objetivo deste trabalho foi destacar o município de Juazeirinho-PB enquanto a sua evolução no processo de desertificação e ainda demonstrar que o cultivo da palma (Opuntia Fincus Indica. Mill) é uma alternativa real no combate a desertificação, devido a sua versatilidade enquanto cactácea, podendo desempenhar um grande papel de mudança cultural na vida das pessoas que residem nas áreas semiáridas e tem como principal alimento do gado em épocas de seca a palma.
Palavras-chave: desertificação, palma, recuperação de áreas degradadas.Prospects for recovery in areas of desertification process in semiarid of Paraíba – Brazil (Abstract)
In Paraíba, the desertification process is considered serious both for its scope, as the levels of degradation. The worst affected areas are Seridó Cabaceiras and São João do Cariri, which stand out with lands that have high risks of desertification. Given this context, the objective of this research was to highlight the city of Juazeirinho-PB as its evolution in the process of desertification and also demonstrate that the cultivation of cactus (Opuntia Fincus Indica. Mill) is a real alternative to combating desertification due to its versatility as cactus, may play a big role in cultural change in the lives of people living in semi-arid areas and its main food of the cattle in times of drought the palm.
Key words: desertification, nopal, recuperation of degraded areas.
Objetivo
e área de estudo
A Paraíba é dividida por quatro mesorregiões: Litoral, Agreste, Borborema e Sertão[1]. Cada uma exibem paisagens com características distintas quantos aos fatores do potencial ecológico (geológico, geomorfológico, climatológico, hidrológico e pedológico) e biológico com a flora e fauna, bem como socioeconômicas e culturais.
As características que se apresentam de modo heterogêneo e complexo, demandando que estudos sobre desertificação no Estado da Paraíba e as tomadas de decisões devam ter ações adaptadas a cada realidade.
O município de Juazeirinho encontra-se na mesorregião da Borborema e na microrregião do Seridó Oriental do estado da Paraíba, situado a 224 km da capital do estado João Pessoa e a 80km da cidade de Campina Grande, as margens da rodovia BR-230. No cinturão latitundial de 7º10’18”S, encontrando-se a 553m de altitude, com uma área de aproximadamente 463,8km2. Possui uma temperatura média entre 20ºC e 30ºC[2].
O município de Juazeirinho foi incluído como sendo parte da área-piloto quatro durantes os estudos sobre desertificação[3] realizados por Vasconcelos Sobrinho (1983) e destacou também na Paraíba, os municípios de: São João do Cariri, Serra Branca, Cabaceiras e Camalaú.
Nessa trajetória, este trabalho teve como objetivo destacar o município de Juazeirinho-PB enquanto a sua evolução no processo de desertificação e ainda demonstrar que o cultivo da palma (Opuntia Fincus Indica. Mill) é uma alternativa real no combate a desertificação, devido a sua versatilidade enquanto cactácea, podendo desempenhar um grande papel de mudança cultural na vida das pessoas que residem nas áreas semiáridas e tem como principal alimento do gado em épocas de seca a palma.
Metodologia
Para obtenção dos resultados desta pesquisa a metodologia consistiu na análise bibliográfica, idas a campo e entrevistas. Para avaliar a evolução no tempo e no espaço sobre a degradação dos solos no ambiente da pesquisa, foram elaborados mapas de Índice de Vegetação Normalizada – IVDN, gerados através das imagens de satélite no intervalo de dez anos durantes o período seco e chuvoso da região.
Para fotointerpretar e comparar os dados das imagens de satélite, referentes a cobertura vegetal e do uso e ocupação do solo, foram analisadas imagens de diversos anos e por fim, chegou-se a conclusão que as imagens referentes aos meses de Abril e Outubro (1999/2009) e Maio (2010), foram as que apresentaram melhor condições de visualização devido a pequena incidência de nuvens, nesse sentindo, os períodos estão de acordo com os meses secos e chuvosos da messoregião da Borborema. O mês de maio de 2010 foi escolhido, pois não existiam no banco de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, imagens do mês de abril ou maio de 2009.
Nesse propósito, a quantificação dos resultados, utilizou-se do método de verossimilhança -MAXVER, baseado na superposição da base cartográfica a partir da análise automática das imagens obtidas pelas técnicas de geoprocessamento e de sensoriamento remoto. Após o banco de dados pronto com o georreferenciamento das imagens, foi possível gerar os mapas temáticos utilizando-se do SCARTA e assim, avaliar o IDVN, para uma melhor visualização da degradação/desertificação.
Portanto, foram gerados os mapas de solos, redes hidrográficas, cobertura vegetal, uso e ocupação dos solos que serviram de base para uma avaliação das características ambientais dominantes no local. A partir daí foi possível se obter uma real dimensão das características predominantes do processo de degradação/desertificação, bem como suas consequências.
Para demonstrar a eficácia da palma, foi realizadas discussões sobre as possibilidades de recuperação das áreas semiáridas, visando reconhecer a sua versatilidade e possibilidade real para sustentabilidade das pequenas comunidades rurais. Assim foram entrevistados vários estudiosos do Brasil, Argentina e México que trabalham com a palma.
Desertificação do global ao local
A desertificação é um processo de degradação das terras que ocorre nas regiões Áridas Semiáridas e Subúmidas secas no mundo inteiro. No Nordeste do Brasil, as condições climáticas e especialmente a intensa evaporação, baixos índices pluviométricos e o uso da terra em meio a falta de políticas públicas agrárias eficientes concorrem para aumentar o risco a de desertificação na região.
É nesse ambiente, que Paraíba tem 86,6% do seu território na área semiárida e por isso sofre com a irregularidade temporal e espacial da precipitação, o que gera desajuste sócio econômicos na região.
A área que corresponde ao semiárido é caracterizada por uma vegetação arbóreo-arbustiva adaptada ao clima da região apresentando muitos espinhos que possibilitam manter a umidade das plantas. Desta maneira, estão presentes muitas cactáceas e bromeliáceas em meio às variações fisionômicas e florísticas das caatingas.
Nos solos desmatados e erodidos é comum a ocorrência de uma crosta impermeável que dificulta a infiltração da água e facilita os escoamento superficial e a erosão. Nesse cenário,“às condições naturais de determinadas áreas, como a sua pré-disposição geo-ecológica e o forte rigor climático, dentre outros aspectos, são condicionantes e estimulantes ao desenvolvimento do fenômeno da desertificação”[4].
O conceito de desertificação advêm de duas palavras latinas: “desertum” adjunto particípio do passado do verbo “deserere” (desertar, deixar, abandonar), significando abandonado, desabitado, inculto, selvagem; e “desertus” substantivo que quer dizer solidão, desolação área vazia, mais o sufixo verbal “ficação”, da língua portuguesa, proveniente da forma passiva do verbo latino “ficare”(ficeri), ação de fazer ser feito, ser produzido[5].
Historicamente, no Brasil estudos sobre desertificação já havia sido mencionado por Euclides da Cunha em 1901, em dois ensaios intitulados “Fazedores de Desertos” e “Entre Ruínas”. Á esse respeito, Melo e Rodrigues nos diz que: Neles, são descritos pilhas de lenhas amontoadas ao longo da estrada de ferro provenientes da mata atlântica e as encostas laceradas pela erosão, nas terras antes ocupadas pelas plantações de café e que haviam sido abandonadas.[6]
O termo foi criado em 1927, pelo cientista francês Louis Lavauden e posteriormente popularizado por André Aubreville, engenheiro florestal francês e a ele coube o uso do termo pela primeira vez no final dos anos de 1940 após experiências sobre degradação ambiental no centro-oeste americano, mas tarde em 1949 percebeu que a degradação estava se prolongando para o norte, das zonas mais áridas do Saara para as regiões Semiáridas e Suúmidas do norte da África[7].
Os estudos relacionados a desertificação iniciaram durante os anos 30, quando uma série de tempestades de areia ocorreu no meio oeste dos EUA, passando pelos estados de Oklahoma, Kansas, Novo México e Colorado e cobrindo cidades inteiras. O desastre, que apelidou a região de “Dust Bowl” (“Prato de poeira”), esta forçou a migração de milhares de pessoas para outros estados, trazendo, também, problemas sócio-econômicos como o desemprego e a pressão sobre a infra-estrutura das cidades. Aliás, este é um dos vários problemas causados pelo processo de desertificação[8].
As perdas econômicas anuais devido ao processo de desertificação chegam a 4 bilhões de dólares no mundo todo e 100 milhões de dólares só no Brasil. O problema se agrava ainda mais pelo fato de a maior parte das regiões atingidas pelo processo de desertificação ser de regiões pobres em países subdesenvolvidos, como por exemplo, a África onde em meados da década de 70, 500 mil pessoas morreram de fome na região conhecida como Sahel devido a processos de desertificação[9].
Para determinar os parâmetros os índices de aridez foram calculados por Brito que determinou equações empíricas para o nordeste[10] (Quadro 1).
Quadro 1.
Índice de Aridez das Classes Climáticas
Classes Climáticas |
Índice de Aridez |
Hiper-árido |
< 0,03 |
Árido |
0,03 - 0,20 |
Semi-árido |
0,21 - 0,50 |
Sub-úmido seco |
0,51 - 0,65 |
Sub-úmido e úmido |
> 0,65 |
Fonte: Atlas das Áreas Susceptíveis à desertificação- ASD, 2007. |
As áreas brasileiras susceptíveis à desertificação foram determinadas seguindo os pressupostos norteadores da Convenção das Nações Unidas de Combate a Desertificação - UNCCD, que propõem a adoção do índice de aridez, com base na classificação climática[11].
Dentre as regiões climáticas de abrangência da UNCCD (áridas, semiáridas e subúmidas secas), o Brasil não possui áreas com clima árido. Além dessas classes, decidiu-se agregar uma terceira categoria às Áreas Susceptíveis a Desertificação - ASD, áreas de entorno das áreas Semiáridas e Subúmidas secas. A razão por serem incluídas justifica-se pelo fato de apresentarem características comuns às áreas Semiáridas e Subúmidas secas e por existir elevadas ocorrências de secas e enclaves da vegetação típica do Semiárido brasileiro, a caatinga.
Reconhecendo a problemática da discussão sobre o processo de desertificação no (Quadro 2) estão apresentadas as conferências realizadas até o ano de 2009 para tratar das questões relacionadas a desertificação no mundo.
Quadro 2.
Conferências das partes desde 1997 a 2009
Conferências das Partes - COPs |
Local, data e período |
COP 1: Atenção às questões burocráticas e financeiras relativas ao funcionamento da CCD. Estabeleceu as normas de funcionamento das COP’s e regulamentou as funções do Mecanismo Mundial, responsável pelo financiamento da Convenção. |
Roma, Itália, setembro de 1997. |
COP 2: priorizou-se diferentes aspectos técnicos, como indicadores de Desertificação; saber tradicional; rede de informações. Realização da primeira reunião de Parlamento sobre Desertificação. |
Dakar, Senegal, novembro de 1998. |
COP3: elaboração de metas de médio prazo a serem cumpridas pela CCD e definição de formas de operação e atividades de mecanismo mundial. Elaboração da “Declaração do Semiárido”, durante a COP 3, por meio de um Fórum paralelo promovido pela sociedade civil. Consolidação da ASA – Articulação no Semi-árido Brasileiro, maior organização da sociedade civil brasileira para a convivência com o semi-árido. |
Recife, Brasil, novembro de 1999. |
COP 4: adoção de um anexo relativo a adesão de paises da Europa Central e Oriental, prevendo que no decênio 2001-2010 o potencial de execução das atividades de Combate à Desertificação e mitigação dos efeitos da seca. |
Bonn Alemanha, dezembro de 2000. |
COP 5: destaque ao Comitê de Ciência e Tecnologia que definiu os parâmetros e índices para os sistemas de alerta de Combate à Desertificação. Estabelecimento de um Grupo de Especialistas para apoiar o exame técnico das questões relativas a Desertificação e criação do Comitê de Revisão da Aplicação da Convenção (CRIC). |
Genebra, Suíça, outubro de 2001. |
COP 6: definição do GEF como mecanismo financeiro da Convenção. Aumento do orçamento do Mecanismo Mundial, instrumento de financiamento da Convenção. |
Havana, Cuba, agosto/setembro de 2003 |
COP-7: Foi apresentada a necessidade de aumentar a sinergia entre as convenções das Nações Unidas voltadas para os três maiores problemas ambientais enfrentados pela humanidade: biodiversidade, mudanças climáticas e desertificação. |
Nairóbi, Quênia, outubro de 2005 |
COP-8: A UE Manifesta o seu apoio a um plano estratégico de acção com objectivos a cumprir dentro de determinados prazos; exorta a UE a empenhar-se de forma construtiva na definição e na negociação do plano estratégico decenal, a fim de criar mecanismos fortes e eficientes tendo em vista uma aplicação efectiva da Convenção; neste contexto, exorta a que seja dada particular atenção:
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Madri, Espanha de 3 a14 de setembro de 2007 |
COP-9: Questões inacabadas da COP 8 tornou-se tema central na COP-9 o que o que culminou em 36 decisões e 1 resolução |
Buenos Aires, Argentina, 21 de setembro a 2 de outubro de 2009 |
Fonte: Adaptado, Nascimento 2006, p.63. |
A Convenção das partes é um instrumento jurídico do direito internacional, negociada pelos países membros da ONU nos anos de 1993 e 1994, foi criado com o objetivo de ser instrumento internacional existente que possa contribuir para a conservação dos recursos naturais das regiões semiáridas do mundo.
Muitos números têm sido apresentados por diversas instituições no Brasil e no mundo, como: O Programa de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca na América do Sul, que vem funcionando com o apoio do Fundo Especial de Governo do Japão, do IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura) e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) através de Programas de Ação Nacional (PAN) que visam combater a desertificação com ações para recuperar áreas degradadas.
Não desconsiderando a importância destes estudos que tem sido relevante para o conhecimento e democratização do entendimento do fenômeno em questão, sabe-se que os discursos são revestidos por questões políticas, o que implica na demora de ações eficazes e rápidas, para atingir o maior prejudicado, o ser humano, diretamente atingindo e obrigado a sair das suas terras, que no momento perderam a capacidade de se recompor.
Se as pesquisas comprovam que os estudos relacionados a desertificação iniciaram nos anos 30, fazem 81 anos no ano de 2011 que tem-se o conhecimento das áreas atingidas pelo processo de desertificação. Sendo assim, quais as áreas foram recuperadas no Nordeste do Brasil?
Processo de desertificação na Paraíba e
suas consequências
Na Paraíba o processo de desertificação é considerado grave tanto pela abrangência da área, como pelos níveis de degradação. As áreas mais afetadas são Seridó, Cabaceiras e São João do Cariri, os quais se destacam com terras que apresentam com altos risco a desertificação.
Tratar do tema desertificação torna-se complexo, por ser uma questão com distintas causas que a condicionam, com dimensões, resultante de fatores físicos-ambientais e sociais. Por isso, o seu controle requer a cooperação dos vários segmentos da sociedade. Haja vista, serem necessárias políticas governamentais específicas para cada município, com áreas em processo desertificação.
As consequências causadas pela grave degradação dos solos ou desertificação vão desde a esfera política a socioeconômica, agravando os desequilíbrios regionais. As maiores áreas afetadas pelo processo de desertificação se encontram nas parcelas mais pobres do planeta, onde a população se encontra com poucos recursos e utilizam os solos e das espécies vegetais de forma predatória Analisando o número total das áreas nas mesorregiões e nas microrregiões do estado da Paraíba que se encontra em processo de desertificação, fica claro que existe grande necessidade de medidas urgentes, que possam conter este avanço (Quadro 3).
Quadro 3.
Áreas do estado da Paraíba
susceptíveis à desertificação
Grau de Susceptibilidade |
Mesorregião |
Microrregião |
Nº De Municípios |
Área Atingida (Km²) |
População (Hab) |
Muito Alta |
Borborema |
Seridó Oriental |
07 |
2.345,3 |
53.189 |
Área Total do Município |
Seridó Ocidental |
06 |
1.758,3 |
36.228 |
|
Cariri Ocidental |
03 |
1.102,7 |
22.603 |
||
Sertão |
Teixeira |
02 |
246,9 |
14.091 |
|
Catolé do Rocha |
05 |
1.812,2 |
54.451 |
||
Sousa |
04 |
1.168,2 |
15.985 |
||
Patos |
07 |
1.929,3 |
105.042 |
||
Subtotal |
02 |
07 |
34 |
10.326,9 |
301.589 |
Alta Área Total do Município |
Borborema |
Seridó Oriental |
02 |
217,8 |
8.987 |
Sertão |
Seridó Ocidental |
12 |
4.158,8 |
59.008 |
|
Cariri Ocidental |
14 |
5.963,4 |
87.880 |
||
Teixeira |
03 |
510,1 |
27.894 |
||
Catolé do Rocha |
06 |
1.179,4 |
51.840 |
||
Sousa |
13 |
3.681,8 |
141.545 |
||
Patos |
02 |
620,3 |
8.668 |
||
Piancó |
07 |
2.826,5 |
56.524 |
||
Cajazeiras |
09 |
1.454,9 |
57.761 |
||
Agreste |
Curimataú Ocidental |
05 |
1.727,1 |
40.249 |
|
Capina Grande |
01 |
448,2 |
4.522 |
||
03 |
11 |
74 |
22.798,3 |
544.878 |
|
Sertão |
Teixeira |
02 |
801,4 |
19,260 |
|
Piancó |
01 |
275,4 |
7.226 |
||
Cajazeiras |
02 |
988,1 |
68.202 |
||
Itaporanga |
01 |
150,7 |
21.751 |
||
Curimataú Ocidental |
04 |
2.033,4 |
49.290 |
||
Agreste |
Esperança |
01 |
146,2 |
27.781 |
|
Campina Grande |
01 |
644,1 |
348.671 |
||
Umbuzeiro |
01 |
283,3 |
6.643 |
||
Subtotal |
02 |
08 |
13 |
5.322,6 |
548.823 |
TOTAL |
121 |
38.483,8 |
1.395.290 |
||
PORCENTUAL DO ESTADO |
54,26% |
68,01% |
41,60% |
||
Fonte: SUDEMA - Superintendência de Desenvolvimento do Meio Ambiente. |
Dentre os sete municípios inseridos no Seridó Oriental apresentados no (Quadro 3), o município de Juazeirinho, é um dos sete municípios incluídos nas áreas susceptíveis a desertificação.
As áreas semiáridas no Nordeste do Brasil têm uma vocação natural para deserto[12]. Assim sendo, o processo de desertificação é muito mais veloz e intenso na área em estudo. A manifestação do processo de desertificação no município de Juazeirinho também é decorrente de sua posição geográfica, pois encontra-se localizado no fim do percurso dos fluxos úmidos que se direcionam para o semiárido nordestino e em situação de sotavento, fazendo parte da diagonal mais seca do Brasil.
Entre os municípios que fazem parte da “diagonal seca”[13] estão: Soledade, Juazeirinho, Gurjão, Santo André, Boa Vista, Sumé, Monteiro e São João do Cariri.
O solo desprotegido pela falta de cobertura vegetal aliado ao pisoteio do gado forma uma camada compactada, unindo-se ao impacto provocando pelas gotas da chuva, as partículas de solo são transportadas pela água levando consigo toda a camada fértil do solo. Então, provavelmente esse material carreado pela erosão será depositado nas baixadas dos riachos e lagoas, e pelo fato de não possuírem mata ciliar, tem-se o fenômeno da elevação de seus leitos, gerando consideráveis prejuízos ambientais.
Analisando a paisagem do município em questão é percebido um ambiente de solo exposto, devido a pressão antrópica exercida no local. Dentre os elementos presentes, os núcleos de desertificação são áreas de formatos variados, onde os solos encontram-se lesionados, apresentando um horizonte superficial decapitado pela erosão laminar ou em lençol, ou ainda, retalhados por sulcos e ravinas, generalizadas[14]. Diante de tantas discussões acerca do processo de desertificação no Nordeste do Brasil, em especial no estado da Paraíba, e de tantas evidências concretas sobre tal fato é necessário que se discutam medidas práticas como delimitar as unidades geoambientais da área e nortear um esboço de um zoneamento geoambiental, utilizando técnicas com a utilização da palma na recuperação dos solos.
Nesse sentido, é de extrema importância que a sociedade discuta as potencialidades do Semiárido e, busquem conhecer melhor o espaço em que estão inseridos.
O estudo sobre degradação/desertificação no município supramencionado pode contribuir para que haja uma reflexão sobre a problemática no local, e ainda alertar os gestores para um manejo mais adequado a partir do paradigma da sustentabilidade, sendo este, um fator importante por se tratar da necessidade de adequação das atividades agropecuárias no espaço em questão.
É preciso destacar que a desertificação não necessariamente tornará um determinado ambiente, em uma área deserta seca, mas o ambiente pode tornar-se impróprio para agricultura e demandar custos, sociais e econômicos. Sendo assim, se há possibilidades para recuperação destas áreas com recursos próprios da Caatinga, em destaque as espécies vegetais como a palma (Opuntia Fincus Indica. Mill), porque não trabalhar essa cultura na recuperação das áreas, bem como sua versatilidade com toda a sociedade?
Histórico e a importância da Palma para o
Semiárido
Relatos históricos denotam que os primeiros europeus ao desembarcarem no continente americano logo, perceberam a importância das Opuntias, presentes na cultura pré-hispânica, e ainda a sua relevância econômica. “Quando o primeiro conquistador, Hernán Cortés, chegou em 1519 ao planalto do México, não foi possível deixar de observar a presença de palmais nativos selvagens por toda parte”[15].
A palma forrageira, cujo nome científico é Opuntia Fincus Indica. Mill originou-se das regiões áridas e semiáridas do México, data da época pré-hispânica, quando desenvolveu um papel importante na economia agrícola do Império Asteca. “É conhecido que desde 1520 as opuntias mexicanas foram levadas para a Europa de onde se divergiram, a partir do Mediterrâneo, para a África, a Ásia e a Oceania”[16].
As Opuntias podem ter diversos nomes que retraçam sua história, pois segundo as regiões pode chamar-se Hindia (indiana, porque oriundo das Índias ocidentais), Karmouss Ennsara (figo dos Cristãos, porque introduzido via Europa), ou Aknari (das canárias, outra região de importação). No ano de 1520 as opuntias mexicanas foram levadas para Europa, de onde se dispersaram por todo mediterrâneo[17].
Alguns estudiosos afirmam que a introdução da palma no Nordeste do Brasil, se deu pelos portugueses na época da colonização, provavelmente trazida das Ilhas Canárias, sendo estas de origem mexicana. Inicialmente, foi utilizada para a produção de corantes naturais “carmim”, vindo a ser utilizada como forragem somente por volta de 1915. Sendo introduzida no Nordeste provavelmente depois de 1900. Após a seca de 1932, por ordem do Ministério da Viação, foram plantados do Piauí até a Bahia, diversos campos de demonstração, sendo este o primeiro grande trabalho de difusão da palma no Nordeste.
No Início do século passado, dois grandes empresários da indústria têxtil, Delmiro Gouveia e Herman Lundgren, importaram do México a palma para o Nordeste brasileiro. A palma hospeda naturalmente um inseto conhecido como Cochonilha e, sua fêmea, ao se alimentar da seiva da planta, produz ácido carmínico que é a substância química de um corante vermelho de alta qualidade, denominado carmim, que se distingue por sua estabilidade quando submetido à oxidação, luz e altas temperaturas. O objetivo dos empresários era produzir o corante para ser empregado no processo de tingimento dos tecidos em suas indústrias[18].
Sobre as características fisiológicas que confere a tolerância da palma como fruto e sua adaptabilidade e utilização como alimento humano e para animais, bem como a sua adequação a recuperação de áreas degradadas do trópico semiárido, tem aumentado o interesse mundial e impulsionou as tendências mais recentes a sua dispersão por outros continentes com áreas semiáridas.
Atualmente a fruta da palma é encontrada na América do norte e principalmente na América do Sul, no Brasil, Peru, Bolívia, Argentina e Chile e em muitos países da África Subssariana, Ertrea e Etiopia, no Nordeste Africano, Imen, Síria, Líbano, Israel e Turquia. Em alguns lugares no interior da China em outros lugares também onde é encontrado cactus selvagens, como na Austrália e Mandagascar.
No Brasil a palma forrageira é amplamente utilizada na pecuária cobrindo 300.000ha no Nordeste.
Nesta óptica, a palma forrageira é vantajosamente usada como um hospedeiro para o inseto cochonilha, a matéria-prima para o ácido carmínico, um corante natural vermelho, de importância histórica grande, mas também adequado para utilização em alimentos na indústria.
A palma pode ser plantada em consorciação com diversas culturas anuais como milho, sorgo, feijão, fava, jerimum, mandioca, entre outras. Este sistema diminui os gastos com os tratos culturais desta forrageira, como também a força de trabalho, por existir uma menor competição por água, luz e nutrientes. Pode ser utilizado em espaçamentos simples de 2,0 x 0,5m e 2,0 x 1,0m, apenas recomendado para consorciação no ano de plantio da palma ou no ano de colheita.
Sendo a palma uma planta altamente resistente à seca, devido particularmente a sua fisiologia e completa estrutura anatômica e morfológica, oferece uma alternativa real para o uso dos solos da região Semiárida. Para que isto aconteça, exige técnicas agronômicas específicas, porém simples que garantam seu melhor estabelecimento, produção e aproveitamento.
No tocante, a palma forrageira é um importante alimento para os rebanhos nas regiões áridas e semiáridas, devido a sua alta resistência a seca, aliada a produção de biomassa. Nos estados do Nordeste do Brasil, principalmente nas bacias leiteiras de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Paraíba, a palma muitas vezes, durante a estação seca é o único alimento para o gado[19].
Ainda neste contexto, a água em muitos locais no semiárido é um fator limitado, portanto a palma contribui decisivamente para minimizar a necessidade de água dos animais, devido a seu alto teor de umidade[20].
Conforme as orientações do engenheiro Agrônomo Paulo Suassuna e consultor do SEBRAE para o trópico do Semiárido, após o seu retorno dos países do México e Estados Unidos, observando a produtividade dos palmais naqueles países com o intuito de minimizar custos da produção e os impactos com ambiente e aumentar a produtividade, proporcionando a sustentabilidade da pequena propriedade rural, resolveu implantar em algumas áreas, a priori na Paraíba, no município de Juazeirinho as novas técnicas de plantio.
O plantio da palma é recomendado para ser realizada no terço final do período seco, próximo a queda das primeiras chuvas, ou seja, entre os meses de outubro e/ou dezembro a fim de que seja evitado o apodrecimento dos cladódios (raquetes ou folhas), plantadas na estação chuvosa. Utiliza-se um espaçamento de um 1,80m, entre um sulco e outro para facilitar o manejo dentro do palmal. Seguindo essas orientações as raquetes da palma devem ser plantadas na posição em relação ao eixo do sol, leste e oeste, assim elas captarão mais energia solar que é essencial para o seu desenvolvimento.
Esta cactácea recebeu pouca atenção por muitos anos no Nordeste do Brasil, fato que vem sendo modificada, pela tecnologia do cultivo intensivo, técnica aprimorada a cada ano.
A respeito do desempenho da palma na proteção e conservação dos solos nas zonas áridas e semiáridas, esta desempenha um papel importante, pois esses ambientes geralmente têm solos rasos e pedregosos e sofrem com as precipitações torrenciais, onde em uma única precipitação dependendo da intensidade das chuvas e dos solos desnudos, podem-se carrear os solos que levaram anos para sua formação, consequentemente formando ravinas que podem evoluir no sistema provocando a total perda da fertilidade dos solos chegando a desertificação.
A importância dada à palma forrageira no uso agronômico deve-se ao fato da sua adaptabilidade às condições endafoclimáticas, onde seu sistema radicular caracteriza-se por um sistema de raízes superficiais e carnosas, com uma distribuição horizontal. Em condições favoráveis e de solos secos, como ocorre nas áreas áridas e Semiáridas, se desenvolve uma raiz estendida que penetra a 30cm no solo e dessa maneira absorve água em níveis mais baixos[21]. Todavia, em todos os tipos de solo, a massa de raízes absorventes se encontra nos primeiros centímetros, “com uma profundidade máxima de 30 cm e uma dispersão de 4 a 8 m. Também foi observado que as plantas fertilizadas periodicamente com esterco desenvolvem raízes suculentas não ramificadas[22]. Ainda, o sistema radicular das Opuntias Fincus Indica.Mill, pode haver quatro tipos de raízes: As raízes estruturais, absorventes, esporão e as desenvolvidas de aréolas.
Para Hoffmann “de todas as cactáceas em sua distribuição original, a palma forrageira é a mais difundida no continente americano. Nos outros continentes, só é comum encontrá-las de forma cultivada”[23]. Todavia em nenhum outro país desempenha um papel tão importante quanto no México.
As Opuntias convergem para uma fonte inesgotável de produtos e funções podendo desempenhar diversos usos: Frutos e casca de fruta (fresca, seca, enlatada, congelada, cristalizada), suco; polpa; bebidas alcoólicas (vinho, licor, etc), verdura (cladódios jovens frescos, processados em vinagre; pré-cozidos, congelados e doces), xampu; creme hidratante; sabonetes, adstringente (cladódios). Cladódios, frutas, sementes, biogás (cladódios, frutas); etanol (cladódios, frutas); lenha. Proteção do solo; cercas vivas; quebra-vento; matéria orgânica[24]. A priori como uma planta selvagem e em seguida como uma planta cultivada, tanto para agricultura de subsistência, quanto para agricultura orientada para o mercado, no entanto o seu desenvolvimento varia de acordo com as condições físicas e características culturais de cada país[25].
As Opuntias no Marrocos e Argélia tem usos múltiplos, tanto funciona como cercas vivas ao redor da casas de pequenos povoados. Também servem como quebram vento e em épocas de seca para alimentação do gado. A produção do fruto, não é direcionada para exportação, mas apenas para o consumo próprio ou vendido em mercados locais[26].
No Peru, em contraste com outras plantas, as cactáceas representam grande parte de sua cobertura vegetal e destacam-se as espécies mexicanas O. megacantha e as sem espinhos O. fincus indica. Na cidade Ayacucho Peru as Opuntias se mantém, como importante sistema de cultivo, no sopé das montanhas, estas proporcionam uma colheita das frutas na época chuvosa do verão, ao mesmo tempo em que a parte área descartada, resultante dessa colheita, é utilizada como pasto, para cabras, ovelhas e jumentos. Além disso, fornece uma densa vegetação que funciona como barreira de erosão das montanhas. O uso diverso desta cactácea tem proporcionado há muitos anos o sustento econômico de muitas famílias rurais. Constituindo-se em um oásis na paisagem desértica[27].
O processo de fotossíntese das cactáceas é diferente de outras plantas. Como se sabe, a palma não possui folhas, no entanto, seu aparelho fotossintético está localizado nos caules notadamente nos cladódios ou raquetes. Devido a espessura dos cladódios (1-5 cm) e o alto conteúdo de líquidos contidos nas células de todos os tecidos que o constituem,do mais externo (a epiderme), até o mais interno (o parênquima), os cladódios são classificados como suculentos, característica fundamental das plantas CAM (Metabolismo Ácido da Crassuláceas), que está diretamente relacionada com a sua habilidade em conservar água.
Existem três tipos de sistema fotossintético que podem ser divididos em três grupos. O primeiro deles é denominado de C3,, no qual o primeiro produto da fotossíntese é composto de 3 carbonos. O segundo é denominado de C4, cujo primeiro produto da fotossíntese é um ácido orgânico com 4 carbonos e o terceiro grupo, o qual a palma faz parte é denominado de CAM - Metabolismo Ácido da Crassuláceas. As plantas CAM representam entre 6 a 7% das quase 300.000 espécies de plantas. Tendem a ser nativas das regiões áridas e semi-áridas ou de micro habitats que sofrem secas periódicas. O grande diferencial das plantas CAM, é que elas abrem seus estômatos a noite, quando a temperatura encontra-se amena havendo assim pouca perda de água, o que a faz sobreviver nas regiões semi-áridas.[28]
Os dados que resultaram da pesquisa, foram obtidos através de uma experiência realizada com a palma, onde as plantas foram fertilizadas, regadas e não tiveram sombra. Sendo assim, os resultados referem-se a condições de dias claros de verão, nesse ínterim, com temperaturas máximas do ar de 30º a 35ºC e com temperaturas mínimas noturnas do ar de 15º a 20ºC[29].
Estas cactáceas apresentam uma grande eficiência no armazenamento de água em relação a outras, detalhe que as faz enfrentar a deficiência hídrica com maior resistência. Neste caso, o diferencial está no número reduzido estômatos em relação à superfície foliar (15-35 estômatos por mm2), e sua abertura durante a noite quando a temperatura encontra-se amena, o que ocasiona uma menor transpiração.
O processo de fotossíntese da maioria das plantas se faz durante o dia quando seus estômatos se abrem o que determina à maior perca de água em virtude da alta incidência solar direta sobre as folhas, provocando seu aquecimento e aumentando a evaporação o que se torna difícil a sua sobrevivência nas condições semiáridas. Diferente das plantas que possuem o mecanismo CAM, como é o caso da palma, pois a sua troca gasosa é realizada durante o período noturno, com isso sua perca de umidade é mínima, também captam CO2 com seus estômatos abertos, agindo como importante “agente despoluente” do meio ambiente, melhorando a qualidade do ar.
Assim, durante um período de 24 horas, a O. fícus indica pode transpirar 11,3 moles (203 g) de água por m2 de superfície, enquanto que a planta C4 representativa e altamente produtiva pode perder cerca de 2,9 vezes mais e uma planta C3 até 4,7 vezes mais.[30]
Foi a partir da década de 50 que realmente começaram os estudos de caráter mais aprofundados sobre a espécie, visando assim seu melhor aproveitamento, e entre os anos de 1979 e 1983, durante a estiagem prolongada ocorrida no nordeste brasileiro, que a palma ganhou de vez seu espaço no cenário semiárido.
Há três tipos da palma que são mais cultivadas no Nordeste do Brasil, a palma gigante e a palma redonda, ambas com nome científico de Opuntia fícus indica.Mill, e a palma doce ou miúda (Napolea cochenillifera Salm-Dyck). As duas primeiras são cultivadas nas zonas mais secas, enquanto a palma miúda é cultivada nas zonas mais chuvosas de solos ricos. Sendo que no estado da Paraíba devido às condições edafo-climáticas predominam a palma gigante, contudo em algumas áreas cultiva-se a palma redonda e a miúda[31].
Conforme Lelis a Paraíba é referência nacional no plantio de Palma forrageira com cerca de 150 mil hectares de plantio do vegetal[32], principalmente na região semiárida encontrada em grande parte no território paraibano, fato que vem modificando a situação sócio-econômica das comunidades rurais, visto que, os pecuaristas diante da seca não mais precisam vender suas criações a baixo do preço. Essa realidade tem trazido ânimo e alegria aos produtores já que encontraram na palma a base alimentar para seus animais e uma alternativa solucionável para tal problema.
A Empresa Brasileira de Pesquisa em Agropecuária- EMBRAPA têm obtido resultados significativos de produtividade nos rebanhos bovinos testados com a palma associada a outros alimentos. Observa-se o aumento do peso, como também o crescimento da produtividade leiteira. Este fato pode revolucionar a situação sócio-econômica da região semiárida, se estas informações forem transmitidas ao pequeno agricultor, de forma que venha a capacitá-lo para o manejo e utilização dos recursos da caatinga de forma racional. Faz-se necessário uma maior valorização da caatinga, ou seja, reconhecer suas riquezas, a fim de que estas potencialidades possam ser revertidas para as populações que habitam este ambiente.
Apesar de no Brasil a palma ser utilizada basicamente como forragem estratégica para períodos de seca, em muitos países a palma serve para vários fins. É difícil encontrar uma planta tão distribuída e cultivada, sobretudo em zonas áridas e semiáridas entre os agricultores.
No México, a palma é conhecida como hortaliça de deserto e sempre fez parte do cardápio dos mexicanos. As raquetes (cladódios ou brotos) podem ser consumidos “in natura” ou processados em salmoura ou vinagre; e são a matéria prima para a preparação de uma variedade de pratos doces, salgados, conservas, sucos, frituras, uso medicinal entre outros. É comercializada nos supermercados e nas feiras livres mexicanas.
Experiências de uso da palma na
recuperação de áreas degradadas e em processo de desertificação
A desertificação, cada vez mais acentuada na região do Nordeste do Brasil, tem sido um dos principais motivos pelo qual têm levado muitos dos produtores da região a perderem suas lavouras e abandonarem suas terras.
No México a partir de meados de 1980, os estudos sobre a palma foi intensificado com propósito de conservar o solos, em áreas que estão sendo muito degradadas pela pressão demográfica. Fatos comprovados estão em bacias do mediterrâneo e nos desertos do México, onde a palma é usada como cerca – viva, quebra vento e fontes de matéria orgânica em solos degradados[33]. Atuando no controle de erosão quando cultivada em curvas de nível nas encostas (Figura 1).
Figura 1. Plantação de palma forrageira para
produção de verdura e conservação do solo na cidade de Milpa Alta (México). |
Em meio à degradação ambiental, esta cactácea apresenta-se como uma alternativa mitigadora dos efeitos da ação humana, podendo apontar caminhos para proporcionar um maior equilíbrio no ambiente. A palma proporciona uma maior agregação das partículas do solo evitando o carreamento provocado pelas chuvas torrenciais típicas da região.
Fazendo referência Suertegary uma das técnicas para recuperação de solos degradados é a utilização de espécies espinhosas como cerca viva cuja função é desviar pessoas e animais associando-se a ela (cerca) vantagens como o controle da erosão eólica e hídrica, também se pode-se utilizar a palma na produção de alimentos para população residente nessas áreas[34]. Para combater a degradação do solo, a agrosilvicultura e o silvopastoreio nas áreas norte do mediterrâneo (países europeus) e no sul do mediterrâneo (países africanos) sugere a conversão de campos de cereais em campos com espécies forrageiras[35].
As práticas conservacionistas (Figura 2) devem ser eficientes no controle da erosão, ter aceitação técnica, social e cultural da comunidade e ter uma relação custo benefício compensadora. A palma pelo seu grande potencial surge como alternativa as perdas de solos no semiárido e com possibilidades de gerar renda para os pequenos produtores.
Figura 2. Plantação destinada a recuperação de solo, na
Tunísia – África. |
A palma é viável por vários motivos: 1) tem crescimento relativamente alto sob as condições de solo e clima da região; 2) devido ao formato achatado dos seus cladódios é capaz de formar barreiras de retenção de água e solo e 3) já é cultivada na maior parte da região Semiárida com grande valor de forragem. Em vários países, a palma vem sendo utilizada para recuperação e a conservação dos solos e para outros fins. Porém esse uso é pouco difundido no Semiárido brasileiro[36].
No Nordeste brasileiro foram encontrados apenas dois trabalhos sobre a uso da palma para contenção de sedimentos ambos no agreste de Pernambuco – PE.
No primeiro foram comparadas as perdas de solo verificadas com diferentes coberturas vegetais e sistemas de preparo de solo foram determinados as quantidades de solo e nutrientes retidos por reques de palma adensada. Em curvas de nível em contorno também utilizou-se dos componentes da equação universal para estabelecer os valores de perdas de solo para as condições de Caruaru- PE. Em outro trabalho, utilizou-se da palma plantada em fileiras de modo que ao final foram comprovados que é possível uma associação das faixas de palma adensadas com terraços de infiltração, plantando-se a palma sobre um camalhão, proporcionando uma infiltração mais segura da enxurrada que exerça um controle mais eficiente da erosão, sem perda da qualidade do solo.[37]
O experimento montado com a palma no Instituto Pernambucano de Pesquisa- IPA, concluiu que: a retenção de solo foi de 100t ha-1 ano-1.
Portanto, diante dos resultados da pesquisa, percebe-se que a palma é um importante agente no combate a erosão na contenção de sedimentos.
Para melhor viabilizar o cultivo da palma em termos econômicos e de tratos culturais, faz-se a intercalação com outras culturas anuais, como milho sorgo, feijão, fava, jerimum, mandioca, etc. A palma consorciada com outras culturas, permite ao agricultor diminuir custos, como também a força de trabalho, por existir uma menor competição por água, luz e nutrientes.
No Brasil as opuntias representam uma importante forragem. Estas são bastante difundidas nos estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Nestes estados foram realizadas pesquisas para estimular o cultivo intercalado com a espécie Opuntia SP. E outras forrageiras, como milho com propósito de obter um padrão alimentar mais balanceado para os animais. Já os frutos da palma são considerados de menor importância, não obstante são exportadas para Europa nos meses de março e abril a partir de plantações existentes no sudeste desse país[38].
Formas de uso/ocupação do solo no município
de Juazeirinho-PB
O uso e ocupação do solo como os termos bem coloca, encontram-se associadas as atividades desempenhadas pela sociedade no ambiente em que se encontram. E desta forma irão constituir os fatores determinantes para produção do espaço. A degradação dos solos está diretamente relacionado ao seu uso, numa relação sistêmica homem-meio.
Tem se observado que a forma de degradação dos solos no município de Juazeirinho deve-se as práticas inadequadas na mineração e agropecuária sem um devido manejo racional da caatinga, mas sim com uma forte agressão ao ecossistema, caracterizada pelo desmatamento ilimitado e irracional, provocando assim impactos cuja reversão, com técnicas especificas se dará de forma lenta em detrimento da exploração que é muito mais acelerada.
As pessoas que habitam a zona rural vivem sem muitas alternativas de sobrevivência e com isso exercem uma forte dependência com o meio, estes são forçados a retirar do ambiente de forma predatória condições para viver e acabam por extrair a madeira e utilizar os solos de forma inadequada e com isso agravam a situação de um ambiente comprometido por questões naturais, tais como: solos rasos e pedregosos, chuvas torrenciais, erosão, entre outros.
A derrubada da vegetação natural já comprometida, para fins de combustível doméstico, extração de minério e para alimentação dos fornos para o beneficiamento do caulim ao longo dos anos, produziram áreas em processo de desertificação no município.
Os conflitos ambientais, causados pela relação sociedade-natureza, que ocorrem no município de Juazeirinho são perceptíveis, pois constituem a paisagem. No município existem vários locais de extração e decantamento do mineral (caulim).
Nas estações de decantamento do caulim é onde o minério recebe o trato antes de ser importado, para diversos estados, com destaque para a cidade de São Paulo, este tipo de atividade contamina solo, água e o ar e em especial as pessoas que trabalham diretamente nesses locais, pois as mesmas se encontram sem o material de Instrumento de Proteção Individual-IPI, e inalam as substâncias que por conseqüência podem gerar problemas respiratórios.
Nesse sentido, o espaço em questão vem sendo alvo de esgotamento dos solos, devido o mau uso ocorrido por décadas, historicamente pela cultura do algodão, extração de minério e exploração da caatinga com a retirada da vegetação para alimentar os fornos das olarias e panificadoras. Essa exploração predatória vem produzindo espaços degradados como é possível observar analisando as elaborados sobre a evolução da degradação do espaço em questão.
Para chegar-se aos mapas apresentados nas Figuras 3, 4, 5 e 6, foram necessários a base do material cartográfico do estado da Paraíba município de Juazeirinho (SB.24.-Z-D-II), na escala 1:100.000 do ano de 1982 da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, SUDENE. E para validação dos resultados obtidos foi imprescindível as idas a campo. Nesse sentido, para composição dos mapas, foram utilizadas as bandas (3, 4 e 5), pois representam espacialmente melhor o estudo ambiental que se pretendeu alcançar. Assim, foram criados nos mapas as classes: área urbana, água, vegetação e solo exposto.
Figura 3. Mapa de IVDN do mês chuvoso, abril de 1999. Fonte: Produção própria. |
Figura 4. Mapa de IVDN do mês chuvoso, maio de 2010. Fonte: Produção própria. |
Figura 5. Mapa de IVDN do mês seco, outubro de 1999. Fonte: Produção própria. |
Figura 6. Mapa de IVDN do mês seco, outubro de 2009. Fonte: Produção própria. |
A não existência da parte urbana e de espelhos de água nos meses de maio de 2010, e abril do ano de 1999 nas imagens do município, devem-se a análise técnica realizada pelo reflectância, devido a resposta espectral da absorção da imagem LANDSAT, ou seja, quando o satélite escaneou a superfície nesse período, houve uma alta reflectância que impossibilitou a distinção do que era solo exposto e parte urbana, bem como as imagens dos rios.
Área urbana. Esta classe está distribuída, onde se observa a cor vermelha, na parte central e ao norte do mapa é onde localiza-se a sede do município de Juazeirinho, nas demais áreas em vermelho, alguns povoados da área rural.
Solo exposto. Este se encontra distribuído em vários pontos do município, correspondendo a diversos elementos tais como: estradas não pavimentadas, vazios urbanos, área de uso agrícola e afloramentos rochosos. Essas áreas apresentam um grande potencial de degradação ambiental devido ao fato de não possuir cobertura vegetal podendo ser transportadas com a água da chuva para lugares mais baixos. A cobertura vegetal funciona com caráter estabilizador, protegendo os solos das influências naturais, dos fluxos de radiação, das gotas da chuva e da ação modeladora do vento, que podem desestabilizar o sistema.
Vegetação. Apresenta-se, de forma rudimentar e com agricultura de subsistência, e sobressaem-se as culturas de (milho, feijão e palma).
Em suma, as imagens de satélites na obtenção e discussões dos mapas, quanto a desertificação, apresentaram uma evolução na degradação das terras, mas não se obteve a resposta esperada, devido a alta reflectância nos períodos de maio de 2010 (Figura 4), e abril do ano de 1999 (Figura 3). O que impediram uma melhor discussão através da visualização das imagens, mas não impossibilitou a avaliação da evolução da desertificação, devido as idas a campo que serviram para comprovação do que foi apresentado através das imagens.
Fazendo referência à produtividade da palma, os produtores não devem considerá-la apenas para as épocas secas[39], pois aplicando a nova tecnologia de cultivo intensivo da palma no município de Juazeirinho, foi comprovado que em 1ha, o pequeno produtor poderá garantir alimento de 20 a 30 vacas leiteiras ou então de 200 a 300 carneiros ou cabras leiteiras durante todo ano.
A duplicidade de vantagens é perceptível, pois, além de ganhar espaço, ainda segundo Suassuna a produtividade média chega a mais de 300 toneladas por hectare[40], equiparando-se a do México e a durabilidade dos canteiros é assegurada por 20 anos, sem perca de rendimento.
O principal empecilho para que as pessoas adotem a palma como alimento é a questão cultural, pois as pessoas têm a imagem de que apenas o gado pode ser alimentando com a palma. Portanto é necessário campanhas educativas para sensibilização das comunidades rurais, demonstrando os benefícios que a palma pode desempenhar na dieta das pessoas, trazendo uma maior qualidade de vida através de uma alimentação saudável e rica em vitaminas.
Diante de todas as discussões presentes neste artigo foi possível perceber a importância da (Opuntia Fincus Indica) para as áreas semiáridas os conflitos socioambientais pelos quais passam o município de Juazeirinho-PB, bem como resultados apresentados sobre recuperação dos solos em outros ambientes. Na sequência, segue a ótica de diversos estudiosos sobre as potencialidades da palma.
A ótica dos diversos pesquisadores que
trabalham com a palma: algumas considerações
Iniciando as discussões, a primeira entrevistada foi a coordenadora regional da FAO na America Latina, que faz parte do (INDEAS) Instituto de Desarrollo Agropecuario del Semiárido e também atua como pesquisadora da Faculdade de Agronomia da Universidade Nacional de Santiago do Estero localizada na Argentina. A esse respeito, foi perguntado se na Argentina, existem plantações de palma para a recuperação de solos degradados? De acordo com a pesquisadora.
Na Argentina existem 1.680ha (CNA 2002) de áreas cultivadas para produção do fruto da palma, mas não há para plantações com objetivo de controle da erosão. Ressalta-se, que as maiores dificuldades em se trabalhar com a fruto da palma é o nível socioeconômico dos agricultores, isto faz com que o produtor só visite o palmal apenas pra colher e vender a fruta, sem atender ou cuidar do cultivo e de suas necessidades.
O fruto da palma tem destaque no Chile, Sul da África, Sicília (Itália) como maior exportador do fruto. No país do México a comercialização da fruta esta em crescimento e também se exporta.
Nos países que se utiliza o fruto de palma se tem observado efeitos significativos sobre as comunidades, sobretudo no norte da África e da África em geral, são importantes, não pelo impacto que possa desempenhar na balança comercial, e sim pelo futuro que possa ter nas regiões Áridas e Semiáridas, dependendo do desenvolvimento de sistemas agrícolas (técnicas de agro produção) sustentáveis e da implantação de culturas adequadas a região estas culturas terão que resistir a falta de água, altas temperaturas, deficiência nutricional dos solos. Nesse sentido, os cactus podem preencher esses requisitos e são cada vez mais importantes para que a região possa sobreviver. Em um pesquisa feita por uma equipe da universidade, 90% dos agricultores vivem 4 meses do ano com a renda obtida da venda do fruto da palma.
A pesquisadora pontua as possibilidades de desenvolvimento da palma como:
Agregar valores ao fruto da palma, o cultivo da palma possibilita o uso de terras sem muita fertilidade, a qualidade do produto nos permite competir a nível internacional, Existem organismos oficias, nacionais e internacionais, institutos de investigação dedicados ao cultivo. Criar redes a nível nacional de intercambio de informação, experiências, criar uma rota agroalimentar fazendo do fruto um produto de identidade estimulado através do turismo.
Sendo entrevistado o coordenador Regional North America – México quanto a utilização da palma para fins de recuperação do solo, ele esclarece que “no México existe um programa do Governo Federal que apóia os produtores agropecuários com recursos econômicos para realizar plantações na recuperação dos solos” e ainda:
Definitivamente, a palma proporciona benefícios aos produtores e que, em momentos críticos do ano, esta cactácea é uma das poucas plantas em pastagens, a sobreviver em condições onde não há cactus durante este período, muitos animais morrem e aqueles que disponhe da palma é que consegue sobreviver. No caso do gado leiteiro quando não é fornecido a palma ao gado a produção da quantidade de leite diminue. Assim, pode-se apreciar os benefícios que a palma promove no México.
De fato, no México, há vários usos da palma, um deles e talvez o mais importante como um vegetal para os seres humanos, há uma grande quantidade de plantações de palma em torno da Cidade do México (Milpa Alta), na qual existe uma grande quantidade do consumo de cactos como um vegetal. Outro uso importante é o fruto consumido de forma natural e no preparo de geléias, compotas, doces, etc .. Outra é para consumo animal que ocorre principalmente no nordeste do México. Outro uso é para a produção de farinha para consumo humano como fonte de fibra, e outros usos são na área de cosméticos. Finalmente, há também a produção de cochonilha (um inseto que vive no cacto) para a produção de corantes e ácido carmim utilizado na indústria têxtil o México e Peru são os maiores produtores mundiais.
De acordo com o prefeito do município de Juazeirinho, que tem dado importância as discussões referentes a cultura da palma, no sentido de apoiar projetos referentes a palma, realizou, no mês de maio do ano de 2010 o 1º Fest Palma oferecendo aos presentes palestras e oficinas destinadas aos agricultores para maior conhecimento a respeito da cultura. Ainda, para 2011 a prefeitura estará em busca de recursos junto ao Banco do Nordeste/BNB, no sentido de conseguir financiamento para cultivo de novos campos de palma adensada, pois apenas 15 agricultores no município, planta a palma de forma adensada, por não dispor de crédito para o financiamento dos campos.
Segundo o secretário de agricultura do município, recentemente devido a realização do 1º Palma Fest no município, foram realizadas discussões na busca de parcerias em conjunto com BNB e prefeitura, para apoiar os pequenos produtores no plantio de palma adensada, como também, treinamento para os técnicos da EMATER, nesse sentido,
será realizado em setembro de 2011, um dia de campo para divulgar o cultivo da palma é será doado um terreno da prefeitura na BR-230, que servirá com um centro de pesquisa da palma, além disso, para fazer um campo de plantio adensado da palma, que servirá como demonstração aos pequenos agricultores, no sentido de apresentar aos mesmos, que vale a pena essa nova forma de cultivo adensado. Pois, uma das principais dificuldades para se trabalhar com cultivo adensado é o próprio agricultor que por uma questão cultural de décadas plantando da mesma forma, são bastante irredutíveis quanto a mudança.
O secretário de agricultura também destaca outros tipos de cultura que produzem renda, são elas: A pinha, umbu e acerola, mas dentro das alternativas de projetos e viabilidade para o homem do campo a palma tem um maior destaque, quanto sua versatilidade.
Cabe lembrar, que com novo método é mais fácil o manuseio, visto que a falta de mão de obra nas famílias rurais, pois os jovens migram na busca de empregos nas cidades.
Com método tradicional o agricultor em Juazeirinho só colhia a palma após 3 anos do plantio, com a nova técnica com um ano ele já pode fazer a primeira retirada para forragem. Com a nova forma de plantio a melhoria tem sido de 70%.
Nessa perspectiva, a instrutora do SENAR, professora Ms. Ione Alves Diniz vem desenvolvendo trabalho de desmistificação da palma, por toda a Paraíba trabalhando a palma nas comunidades rurais como alimento humano realizando cursos, demonstrando em várias receitas, como se pode enriquecer alimentação com recurso natural que muitos dos agricultores têm em casa e não sabem com utilizar.
Continuando a entrevista sobre a importância da palma com a professora e Ms em agronomia e especialista em agronegócio, afirma que:
A palma é uma forma de garantir o futuro sustentável das zonas semiáridas, sendo necessário o desenvolvimento de sistemas agrícolas com base numa seleção adequada de cultivos. E, torna-se evidente que, em função das condições climáticas que vigoram no semiárido, os cultivos mais adequados são aqueles que podem suportar condições de baixa disponibilidade de água e elevadas temperaturas criando alternativas de sustentabilidade. Nesse contexto, surge a palma forrageira, que satisfaz as exigências descritas acima, e apresenta inúmeras vantagens como alimentação humana, alto valor nutritivo, propriedades medicamentosas, além de reconhecidamente ser fundamental como alimento para os animais em períodos de falta de água.
É neste contexto que, a professora Ione nas suas viagens pela Paraíba, promovendo cursos através da parceria com o SENAR, tem percebido que o preconceito com esta cultura tem diminuído bastante, e ainda menciona que a cada dia as pessoas têm despertado o interesse pela palma como fonte de alimento humano, devido o seu potencial para variados tipos de receitas com a facilidade de implantação, uma vez que sendo uma hortaliça de deserto, devem ser aplicados, de forma simples e corriqueira na culinária nordestina, pois possui altos valores nutritivos e principalmente “o seu sabor é suave e muito agradável, surpreendendo as todas as pessoas que participam dos cursos apreendendo a manusear a palma com uma hortaliça”.
Para que a palma possa ter o devido reconhecimento, a pesquisadora Ione Alves nos diz que, primeiramente deve haver a inserção da cultura em programas de políticas públicas e montar uma boa estratégia de marketing, agregando forças as já existentes, destacando o SENAR/UFPB/INSA/SEBRAE.
Nesse sentido, no ano de 2011, a professora em destaque, pretende lançar a 2ª edição do livro com receitas diversas sobre o uso do broto (a palma que está brotando) da palma e destacará os resultados de suas existentes por toda a Paraíba. Para tanto e ressalta que “(FAO) reconhece o potencial da palma, sua importância e que ela contribui com desenvolvimento das regiões áridas e semiárida no mundo. Em razão disso, o Conselho de Segurança Alimentar – CONSEA (2008), já a reconhece a palma como alimento humano”.
Reconhecendo o valor que a palma apresenta para o semiárido, o entrevistando instrutor do SENAR, nos diz:
A palma tem um papel social muito grande. Levando em conta a permanência do homem no campo em sua atividade. A palma entra diretamente na sobrevivência dos rebanhos bovinos caprinos e ovinos tanto na produção de leite como carne. Na região semiárida a palma apresenta é um banco vivo de energia dentro da propriedade fazendo com que o produtor mantenha sua renda e sua produção. Como um dos pilares da pecuária e a alimentação, a palma surge como alternativa para melhorar e aumentar o rebanho.
A pequena propriedade rural hoje dispõe de varias técnicas para otimização da produção. A palma entra como fonte alternativa de renda para as pequenas e médias propriedades. Como exemplo produção de raquetes para o plantio. A renda do produtor rural deve ser bem diversificada sabe-se diante desse quadro varia muito conforme cada propriedade. A palma é fonte de energia assim como o milho, o produtor deve analisar o custo para compor a ração que deseja. A palma pode ser parte da ração substituindo outras fontes de energia como o milho.
Em entrevista com duas técnicas em agropecuária, ambas destacam sobre como surgiu o interesse de trabalhar com a palma.
Nosso interesse surgiu a partir do projeto “Palmas Para o Semiárido” da instituição do SENAR e SEBRAE, onde tivemos a oportunidade de descobrir as potencialidades da palma e pudemos perceber que a partir dessa cactácea poderia gerar renda pra nós, e para os jovens que por vez faziam parte do projeto” Assim, optou-se para atuar na área de consumo humano, despertando bastante preconceito e curiosidade, principalmente quando se tratava de comer a palma, pois o que se tinha na mente das pessoas era que a palma servia apenas como alimentação animal e com o projeto aos poucos esse estereótipo criado devido a falta de informação, começa a ser desfeito e numa percentagem de 100% chegou a 26%, de aceitação da população, enquanto que na área de cosméticos o resultado era 100%. Em termos de saúde, a palma favorece um sistema digestivo mais pontual e nesse sentido funcionou com as mesmas. Na situação profissional “conseguimos renda própria com a palma, sociabilidade com outros jovens, ciclo de amizades em fim através da palma conheci um novo mundo de informações”. Assim, sem dúvida alguma, se o poder legislativo desse maior importância a zona rural principalmente, a palma seria a maior fonte de renda da região e por se tratar de semiárido Juazeirinho seria realmente a capital da palma, principalmente por ter esse recurso disponível o ano todo e 95 % da população já conhecer a mesma.
Nesse cenário, é possível perceber quantos benefícios a palma pode desempenhar na vida dos agricultores.
Em entrevista com presidente da Federação da Agricultura da Pecuária – FAEPA. O projeto “Palmas para o Semiárido” visa não só o melhoramento do plantio da palma, mas a produção da palma in natura, como farelo.
Um produtor vende na época seca o farelo da palma a 0,50 centavos o quilo. Antes quem plantava 10 hectares hoje com 1ha, resolve o problema na sua propriedade, mas isso requer investimento e tecnologia.
No caso de cosméticos e alimentação humana, a associação criada em Juazeirinho com este fim, após um certo tempo não teve prosseguimento, pois a associação se desfez e apenas uma pessoa continua produzindo os cosméticos por conta própria. Mas é necessário a parceria com os órgãos públicos da cidade para criação e fortalecimento e acompanhamento da associação para que a mesma prossiga.
O Presidente da FAEPA destaca ainda que, alunos da Universidade Federal da Paraíba que desenvolveram geléia de palma, foram premiados em 1° lugar a nível de Nordeste pelo SERAE e em 2º lugar a nível de Brasil.
Perguntado sobre a Cochonilha de carmim, praga que dizima os palmais,
A FAEPA, também preocupada com a cochonilha de carmim, recentemente fez uma parceria com uma empresa de defensivos agrícolas para a aquisição de um determinado produto produzido para exterminar a cochonilha do carmim este já foi publicado no diário oficial e pelo ministério da agricultura. Agora serão realizadas parcerias com as prefeituras para se fazer dia de campo no sentido de orientar os produtores como utilizar esses defensivos nos palmais. Também já está em fase de experimentos com novas espécies resistentes a cochonilha do carmim.
Com relação a produtividade da palma, não se pode plantar palma sem manejo adequado, deve-se tratar a palma com tecnologia, para maior produtividade, pois antigamente um produtor tirava de 60 a 70t por hectare hoje 500 a 600t por hectare, com a nova tecnologia da palma adensada.
Considera que, “O México tem 85% do seu país em área semiárida e as alternativas de culturas agrícolas para este país é pouca, e por este motivo a palma tem grande importância no México”. Contudo:
O México tem 3 milhões de hectare de palma nativa e 150 mil de hectare plantado e todo beneficiamento é para cosmético, culinária e no processo de recuperação dos solos. Visitei 400hectares de palma só para venda de frutos e em 2004 quando lá estive eles exportavam para Canadá e Estados Unidos uma caixinha com quatro frutos de palma por 7 dólares, nesse sentido é preciso trabalhar esse tipo de cultura aqui na Paraíba.
Com relação desertificação visitei lugares recuperados com a palma em 3 anos, ambientes amplamente degradados estavam sendo explorados palma e destes campo retirados frutos para venda.
Estando no ano de 2010 no VII Congresso Internacional da Palma na Índia, visitei no Marrocos plantios de palma em pleno deserto, lá se planta e vende os frutos. Outra iniciativa que visitei, surgiu após a vinda de dois agricultores do Marrocos ao Nordeste do Brasil durante VI o Congresso Internacional da Palma, no ano de 2007 em JP, lá eles já tinham plantações de palma, para proteção do solo no combate a erosão, e vendo os resultados apresentados durante o congresso sobre a nova tecnologia de plantio da palma no Nordeste do Brasil e em outros países resolveram montar um campo de palma adensada e agora produzem fruto para venda, criaram também 3 cooperativas, que tem apresentado ótimos resultados.
A versatilidade da palma possibilita reduzir a dependência dos agricultores aos favores individuais dos políticos e valoriza o saber tradicional do homem do campo.
Para tanto, deve existir uma articulação entre os poderes públicos e as comunidades locais tendo em vista a mudança das práticas convencionais de planejamento e gestão.
Dentre os elementos, é destacado alguns resultados conseguidos após a iniciativa do projeto “Palmas para o Semiárido” (Quadro 4).
Quadro.4.
Benefícios avaliados antes e depois o projeto palma para o semiárido ser
implantado na Paraíba
Antes de 2004 |
Após 2004 |
Apenas o cultivo tradicional e com baixa produtividade; |
Implantação de campos de alta produtividade |
Início de colheita com 03 a 04 anos; |
Uso de tecnologia nos cultivos |
Vista como uma reserva que poderia ser utilizada em casos extremos |
Início de colheita com 10 a 12 meses de plantio |
Uso de baixíssimo nível de tecnologia no cultivo |
Inicia-se uma visão de reserva estratégica e que pode gerar renda real ao agricultor |
Nenhuma visibilidade no Estado e na região Nordeste. |
Vem ganhando visibilidade tanto na Paraíba como na região Nordeste |
- |
Abriu oportunidades e possibilidades de usos diversos |
- |
Cursos ofertados pelo SENAR, na área de cosméticos e alimentação humana |
Fonte: Presidente da FAEPA, Mario Borba, em jan de 2011. Pesquisa de campo. |
Diante dos dados apresentados (Quadro 4) de acordo com a nova tecnologia de cultivo da palma, os resultados vem reafirmar as possibilidades reais que a palma pode desempenhar na vida dos agricultores do semiárido paraibano que trabalham com a palma.
Em suma, a proposta do presente trabalho foi finalizada de maneira satisfatória.
Conclusão
Diante do estudo realizado, o município de Juazeirinho apresentou-se com uma nova remodelagem da paisagem devido aos anos de exploração irracional dos recursos naturais. Como foi descrito ao longo do trabalho, a exploração mineral é um dos grandes mantenedores das áreas degradadas, no entanto, não apenas a exploração mineral concebeu espaços modificados, mas o desmatamento em grande escala para o fornecimento de material de construção a serem vendidos diversas cidades circunvizinhas, bem como, para atender aos fornos das olarias e serem consumidas como (lenha, carvão e para produção de cercas).
As conseqüências geradas pela desertificação são sérias e necessita de soluções urgentes, pois devido à falta de políticas públicas o processo de desertificação pode chegar ao ponto de ser irreversível, fazendo com que a população seja obrigada a se deslocar para outras áreas, gerando graves problemas sociais no campo e na cidade.
Nesse sentindo, buscou-se contribuir de forma positiva demonstrando as possibilidades de sustentabilidade rural utilizando as potencialidades locais disponíveis no município de Juazeirinho, no tocante a palma, que se revelou como uma cactácea altamente versátil, tanto para recuperação das áreas degradadas como para o consumo humano e animal.
É preciso buscar mecanismos de aquisição de conhecimentos capazes de sensibilizar os agricultores e os gestores, demonstrando as conquistas que podem ser alcançadas, quanto o equilíbrio no âmbito econômico, ambiental (físico e social), político institucional e cultural como uma nova percepção sobre a cultura da palma. E para que isso se viabilize, tornou-se de fundamental importância os estudos realizados no município de Juazeirinho-PB.
A palma, por ser uma cultura com diversos usos citados durante este artigo, demonstrou que pode ser inserida no cotidiano alimentar das pessoas que residem em áreas rurais, não apenas servindo de alimentação para o gado, mas a partir da inserção de políticas públicas a nível regional e local é possível através da palma possibilitar uma melhor condição na vida das pessoas residentes nas áreas afetadas pelos efeitos causados pela seca e desertificação.
Notas
[1] Estudo referente a Dissertação de Mestrado em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG/PB.
[2] Rodriguez, 2002.
[3] Vasconcelos Sobrinho, 1983.
[4] Ab’Saber, 1977.
[5] Melo e Rodriguez, 2004.
[6] Melo e Rodriguez, 2004, p.65.
[7] Pádua et al., 2001.
[8] IICA, 2007.
[9] IICA, 2007.
[10] Brito, 2000.
[11] Thorntwaite, 1941.
[12] Vasconcelos Sobrinho, 1983.
[13] A diagonal seca corresponde a uma área localizada na porção central do Estado da Paraíba, a qual se caracteriza do ponto de vista climático por apresentar baixos totais pluviométricos e irregularidade das chuvas devido à continentalidade e o dispositivo do relevo (orientação das cristas e maciços serranos, disposição das grandes vertentes, distribuição das altitudes e basculamento dos grandes blocos de relevo) (Silva, 2006, p. 23).
[14] Ab’ Saber, 1977.
[15] Barbera, 2001, p. 1.
[16] Hoffmann, 2001, p. 13.
[17] Araujo, 2004.
[18] Lopes, 2007.
[19] Santos et al., 2004.
[20] Santos et al., 2004.
[21] Hillis, 2001.
[22] Hillis, 2001, p. 28.
[23] Hoffmann, 2001, p. 17.
[24] Barbera, 2001.
[25] Hoffman, 2001
[26] Barbera, 2001
[27] Barbera. 2001.
[28] Nobel, 2001, p. 36.
[29] Nobel, 2001.
[30] Nobel, 2001, p. 37.
[31] Lopes, 2007.
[32] Lelis, 2010.
[33] Menezes et al., 2005.
[34] Suertegary, 2006.
[35] Le Houérou, 1992.
[36] Galindo et al., 2005, p. 163.
[37] Galindo et al., 2005, p. 163.
[38] Barbera, 2001.
[39] Suassuna, 2010.
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Ficha bibliográfica: