Menú principal

Índice de Scripta Nova

Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98
Vol. XVII, núm. 446, 1 de agosto de 2013
[Nueva serie de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]

 

POR UMA CIDADE PRODUTIVA: A DIVERSIDADE URBANA NA TRANSIÇÃO PÓS-INDUSTRIAL

Ana Luísa Brandão
CR POLIS – Universitat de Barcelona
Centro de Sistemas Urbanos e Regionais (CESUR) – Universidade Técnica de Lisboa
ana.luisa.brandao@ist.utl.pt

Pedro Brandão
Instituto Superior Técnico – Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura
Centro de Sistemas Urbanos e Regionais (CESUR) – Universidade Técnica de Lisboa
pbrandao@civil.ist.utl.pt

Recibido: 22 de noviembre de 2011. Devuelto para correcciones: 10 de enero de 2013. Aceptado: 13 de marzo de 2013.

Por uma cidade produtiva: a diversidade urbana na transição pós-industrial (Resumo)

No contexto actual da cidade, a leitura do crescimento urbano e das várias escalas e formas da sua organização, não permite traduzir num modelo único, a ideia de cidade pós-industrial, aquela onde a função produtiva parece ter perdido importância em detrimento da comercial ou de lazer. A instabilidade manifesta-se em contextos de incerteza que questionam o planeamento e o desenho urbano.

Baseando-nos numa leitura interdisciplinar centramos a reflexão na transição entre modelos urbanos, como momentos de reconstrução de identidades urbanas. Através dos conceitos de infra-estrutura, sistema de paisagem e espaço público, analisamos dois exemplos da transição pós-industrial: a Margem Sul do Tejo na Área Metropolitana de Lisboa e o projecto 22@Barcelona, no bairro industrial do Poblenou.

A diversidade urbana é um factor estratégico para manter várias possibilidades em aberto nos momentos indefinidos da transição. Assim, avançamos uma hipótese de trabalho: a sobreposição de ciclos de transformação (uns emergentes e outros decadentes) mantendo a diversidade dos seus elementos poderá resultar numa maior adaptabilidade da cidade, conservando identidades diversificadas e capacidades produtivas, num novo contexto em que a indeterminação predomina sobre a previsibilidade.

Palavras-chave: cidade pós-industrial, função produtiva, transição, diversidade urbana, incerteza.

For a productive city: urban diversity in post-industrial transition (Abstract)

In today’s city, a reading of urban growth with its several scales and organizations form, does not translate the idea of post-industrial city into a single model, where productive function seems to have lost its importance, to commercial or leisure logics. Instability manifests itself on uncertainty contexts that question planning and urban design.

Based on an interdisciplinary approach we reflect about transition periods between urban models, as moments of urban identities’ reconstruction. Based on the concepts of infrastructure, landscape and public space systems, we analyze two examples of post-industrial transition: Tejo’s South Bank (Margem Sul do Tejo) in Lisbon’s Metropolitan Area and the 22@Barcelona project in the industrial district of Poblenou.

Urban diversity is a strategic factor to maintain several open possibilities in undefined moments of transition. Therefore, we propose a work hypothesis: the superposition of transformation cycles (emerging and decaying) by keeping its elements’ diversity, can result from city adaptability, preserving productive capacities in a new context where indetermination dominates predictability.

Key words: post-industrial city, productive function, transition, urban diversity, uncertainty.

Por una ciudad productiva: la diversidad urbana en la transición pos-industrial (Resumen)

En el contexto actual de la ciudad, una lectura del crecimiento urbano y de las varias escalas e formas de organización, no permite traducir en un modelo único, la idea de ciudad pos-industrial, aquellas donde la función productiva parece haber perdido relevancia en detrimento de la comercial o la del ocio. La inestabilidad se manifiesta en contextos de incertidumbre que cuestionan el planeamiento y el diseño urbano.

Basándonos en una lectura interdisciplinar centramos la reflexión en la transición entre modelos urbanos, como momentos de reconstrucción de identidades urbanas. Partiendo de los conceptos de infra-estructura, sistema de paisaje y espacio público, analizamos dos ejemplos de la transición pos-industrial: la Margem Sul do Tejo en la Área Metropolitana de Lisboa y el proyecto 22@Barcelona en el barrio industrial del Poblenou.

La diversidad urbana es un factor estratégico para mantener varias posibilidades en abierto en los momentos indefinidos de la transición. Así, avanzamos una hipótesis de trabajo: la sobre posición de ciclos de transformación (emergentes y decadentes), conservando sus elementos y diversidad, podrá resultar de la adaptabilidad de la ciudad, conservando capacidades productivas, en un nuevo contexto en que la indeterminación supera la predictibilidad.

Palabras clave: ciudad pos-industrial, función productiva, transición, diversidad urbana, incertidumbre.


Neste artigo promovemos uma discussão focada no contexto em transformação, da cidade industrial para a cidade pós-industrial, pondo ênfase especial no problema da persistência das funções produtivas na cidade[1].

A variedade dos contextos urbanos que hoje são emergentes não permite traduzir facilmente a ideia de cidade pós industrial num modelo único, por uma característica própria e bem definida, como acontece quando designamos uma cidade como agrária-tradicional ou industrial-moderna. Assim, os problemas que queremos aprofundar são, em primeiro lugar, como caracterizar um modelo do que chamamos pós-industrial e em segundo lugar, como se faz a transição entre um e outro modelo. Como objectivo, interessa-nos encontrar os factores que permitem manter, durante a transição, funções produtivas e promover indústrias urbanas viáveis, cultivando ao mesmo tempo a urbanidade num contexto de diversidade.

Parece hoje mais nítido que, talvez precipitadamente, se tenha considerado que as funções produtivas (como a indústria, a agricultura, algumas actividades portuárias, etc.) já não teriam lugar na cidade contemporânea - onde o modelo pós-industrial corresponderia então a uma substituição radical daquelas actividades e funções por outras como o lazer, o turismo, a informação, a cultura ou a moda.

A questão da cidade produtiva pode encontrar referências através de uma leitura de História crítica da Cidade, em autores como Kotkin[2] que sintetiza em três funções, as invariantes da cidade - segurança, produção e valores civilizacionais. Assim assinala-se a insustentabilidade da cidade contemporânea, ao substituir a produção pelo consumo, incluindo neste a cultura de entretenimento, ligadas ao lazer e ao turismo de massas. E refere-se também, que a própria ideia de cidade criativa, sofre de ambiguidade, ao ser mais impulsionada pelo êxito económico de determinadas actividades, do que por uma real criatividade na resolução de problemas urbanos, no quotidiano dos cidadãos.

Consideremos a transição, como o período de passagem de um modelo que se desintegra para outro diferente que está em formação, numa contínua interacção. Na heterogeneidade urbana actual, podemos estimar que na transição entre a cidade industrial e a pós-industrial haverá circunstâncias e resultados diversos. Consideremos também que nestes processos paralelamente às transformação físicas ocorrem expressões e construções de novas identidades sociais e culturais. Da mesma forma, podemos admitir que a formação destas identidades urbanas se desenvolve numa conjunção entre factores novos e elementos pré-existentes do sentido de pertença. É esta diversidade de elementos, funções e representações, patente no contexto de transição, que acrescenta possibilidades e valores a uma transformação ainda em aberto.

Definimos como hipótese de trabalho a possibilidade de trabalhar com a sobreposição dos ciclos (da decadência dum modelo para a emergência de outro), para admitir mais possibilidades para diversificar em vez de circunscrever a nova identidade urbana, num modelo único. Consideramos assim a diversidade urbana como uma oportunidade de manter e incorporar elementos e funções produtivas numa estratégia de maior inclusão e flexibilidade, face a contextos menos estáveis.

Apoiamos esta análise na avaliação de dois exemplos de transformação pós-industrial, em Barcelona e em Lisboa, baseando-nos nos conceitos de paisagem, infra-estrutura e espaço público, como moldura de base para as formas de transição. Avaliaremos, como objectivo final, se a diversidade e heterogeneidade urbana, podem resultar menos da substituição de modelos e mais da base da adaptabilidade das cidades (a base herdada da sua experiência anterior) em momentos indefinidos de transição.

Assim, abordamos três questões em aberto, na génese da cidade pós-industrial:

  1. As diferentes visões sobre a cidade pós-industrial,
  2. Transição pós-industrial - espaço publico, paisagem, infra-estrutura,
  3. Produção e diversidade - uma proposta de sistematização.


As diferentes visões sobre a cidade pós-industrial

Na complexidade e variedade da cidade actual, procuramos quais são as características do período pós-industrial e como se incorporam as temáticas emergentes, num novo modelo de identidade urbana.

Recolocando a questão da produtividade, é um facto que as cidades já não têm como elemento dominante a produção industrial, e que outras actividades como as ligadas ao consumo, aos serviços, ao lazer, à informação, ao conhecimento, à cultura e ao turismo, se vêm ampliando e diversificando. No entanto, o facto da função produtiva na cidade pós-industrial estar desvalorizada, não conduz por si só à constituição duma nova identidade urbana, num modelo ou tipo uniforme de cidade. Da mesma forma, em muitas cidades, as antigas funções produtivas existem e permanecem em novas condições (numa escala maior da cidade alargada), como parte da sua identidade. 

Em vez de um única característica, podemos constatar nas cidades contemporâneas diversos traços (mesmo se não estão todos sempre presentes), que se reflectem numa extensa bibliografia internacional, cobrindo diversos temas, tais como a globalização, a geografia económica, a paisagem metropolitana, as redes de mobilidades, as tecnologias de informação e conhecimento, a cultura urbano, as lógicas de consumo e de marketing urbano, o turismo, os eventos, etc. Não podendo aqui fazer a revisão de toda essa literatura, deixamos alguns breves apontamentos.

Das acima assinaladas, uma das características mais marcadas da cidade contemporânea é a sua vasta dimensão territorial, estimulando novas formas de organização e processos de crescimento e expansão. No entanto, essa característica é comum não só ao que designamos em geral como pós-industrial, mas também a outros modelos da cidade alargada bem distintos, que nalguns casos ainda podemos chamar de modernos. Os casos do sprawl urbano nas cidades dos Estados Unidos da América, o crescimento de grandes metrópoles africanas, ou a explosão das novas regiões urbanas asiáticas, correspondem a processos rápidos de transformação e de ampliação de escala da cidade e fundamentam muitas outras distinções nas relações cidade-território.

A cidade pós-industrial também não pode ser definida apenas por uma alegada tendência para a uniformização, com a perca ou redução de identidades locais resultantes de processos de globalização económica, social ou cultural. Nem pode ser reduzida a conceitos como por exemplo: a metrópole, o parque temático ou o global. Estas são diferentes expressões da pós-modernidade, num contexto em transformação. Mas enquanto alguns dos factores ligados aos aspectos económicos, parecem conduzir a uma uniformização dos ambientes do consumo, outros podem acrescentar diversidade, por exemplo os provenientes de migrações, da oferta de eventos específicos ou da variedade de paisagens e espaços públicos.

Parece-nos portanto, que a cidade pós-industrial não pode ser caracterizada por uma lógica uniforme ou modelo único. Alguns exemplos de projectos e acções de regeneração urbana - vinculados com o espaço público[3] e a arte pública[4] como elementos de regeneração urbana - mostram formas de promover novas identidades urbanas, que se sobrepõem ou substituem modelos anteriores e onde a diversidade pode ser fruto de meios de investimento financeiro, de inovações tecnológicas, de estilos de vida, ou de outros factores.


Do global ao complexo: da diversidade à incerteza

Relacionada com processos de globalização, a problemática da instabilidade territorial contemporânea é amplamente discutida por vários autores, que identificam características desta cidade ou deste urbano[5] e a sua relação com a inconstância. Ascher[6] explica uma cidade grande, heterogénea, descontínua e móvel, com novos desafios para os profissionais urbanos. Uma cidade líquida[7], complexa, que funciona com múltiplas lógicas e incorpora contradições, num sistema aberto, diverso e instável.

Noutras teorias do crescimento e regeneração urbana, a questão da diversidade é referida como qualidade e atribuída a processos como o da criatividade[8], da sustentabilidade[9], da cidadania[10], fazendo de vários modos o esboço da ideia de pluralidade. A gestão da diversidade dos actores urbanos e das possibilidades para a acção, coloca também uma questão de governança urbana. Nesse âmbito, amplia-se o sentido do espaço público para os espaços de comunicação[11], tentando valorizar mais os processos e o software[12] no desenho urbano, inovando em factores como por exemplo:

-         serviço prestado,
-         comunicabilidade (userfriendly),
-         uso acessível (equidade),
-         vantagem relacional,
-         participação do destinatário.

Mas esta multiplicidade de contextos e factores, torna a cidade e a sua transformação, mais difíceis de compreender, e o seu futuro mais difícil de prever. Alguns autores apresentam outras abordagens ao nível do projecto urbano, na tentativa de lidar com a indeterminação como parte do processo de transformação: economia e graus de liberdade entre as partes do projecto[13], adopção de mecanismos de regulação variável[14], definição de cenários[15], ou integração da negociação e da participação no processo de design[16]. Mas numa época de retracção económica, reforça-se a necessidade de reconhecer e categorizar a incerteza, como parte da lógica dum projecto [17].

Em geral aponta-se para soluções de menor investimento e maior reversibilidade, como factores de flexibilidade, conservando, adaptando ou renovando elementos urbanos, tais como:

-         adaptações a novos usos de instalações e espaços industriais e portuários;
-         reinterpretações de velhas estruturas significativas, com novos elementos;
-         intervenções de curta duração ou que permitam a reversibilidade;
-         espaços escolhidos como reserva, conservando opções futuras em aberto.

Os projectos urbanos, nos seus elementos estratégicos como são as infra-estruturas, a paisagem e o espaço público, já não podem ser um rígido composto de investimentos, determinados por razões mal explicadas e determinantes dum futuro já pouco previsível, mas sim abertos e flexíveis, impondo mecanismos negociais envolventes dos destinatários nas decisões. Nesta teoria urbana, ela própria hoje em busca de estabilidade, há muitas referências a processos de regeneração e projectos urbanos construídos, nomeadamente os casos que em Barcelona aparecem como referência teórica e modelo operativo[18], todavia ele próprio logo questionado por vários autores[19] que o apresentam em perspectivas críticas. Mas se é um facto que quase sempre prevalece a instabilidade e a incerteza sobre o que poderá ser a cidade pós-industrial, as novas identidades urbanas podem ser objecto de estratégias com novos objectivos de projecto, sem que isso implique o sacrifício total da adaptação das identidades herdadas do anterior período histórico, da cidade industrial moderna.


A transição entre modelos e a tensão identidade/diversidade

Centremos então a reflexão nos períodos de transição, nomeadamente da cidade industrial para a pós-industrial, como momentos de construção de identidades urbanas futuras.

Na emergência de novas escalas de identidades urbanas metropolitanas ou regionais, pode ser frequente a dominância de uma identidade global, mais indiferente ao contexto espacial de proximidade, que se impõe sobre uma identidade local. Aquela identidade urbana global, pode assim tender a desvalorizar ou a excluir outras, seja por razão económica (mudança selectiva de propriedade), social (gentrificação, exclusão) ou cultural (aculturação, linguagens e discursos).

Neste contexto, nos períodos de transição da cidade industrial moderna para a cidade pós-industrial contemporânea, pode crescer a tendência para a uniformização, quando aquilo que emerge é orientado predominantemente para o consumo e para o lazer globais, ou para actividades exclusivas. Encontramos exemplos deste processo no acesso às redes de comunicação e mobilidade: num aeroporto, num centro de consumo ou diversão, num recinto de feiras e congressos e noutros espaços urbanos em que o global se sobrepõe ao local, fazendo recurso a certo tipo de características dos espaços, na realidade frequentemente traduzidas em espaços arquitectónicos de exclusão.

No plano económico, social, cultural, apresentam-se novos problemas e conflitos de interesses, um leque de novos elementos e actores urbanos, que integram uma nova problemática urbana, marcada por fenómenos tendencialmente uniformizadores:

-         estandardização,
-         tematização,
-         privatização,
-         comodificação,
-         gentrificação,
-         securitização (gated communities),
-         etc.

Mas hoje pode-se constatar que face à crise actual, os modelos globais[20] têm óbvias fragilidades. Sobretudo no predomínio de lógicas dominantes e homogeneizadoras - da produção e do consumo - cuja continuidade no tempo é pouco sustentável. Nas paisagens genéricas[21] a redução da diferença inclui a reprodução de standards, como as cidades disneyficadas[22], o starsystem, o exibicionismo dos oásis-resorts do Dubai[23], as dispersões urbanas do sprawl, ou a urbanalização[24] genérica… Os exemplos de afirmação de uma competitividade urbana pela lógica do evento mediático, do efeito espectacular mobilizador de grandes recursos, ou de uma fé absoluta na imagem do objecto arquitectónico[25], têm dificuldades em subsistir numa época de contracção económica.

Se os elementos de uniformização aumentam à medida que se desenvolve o modelo, já se atenuam quando permanecem elementos vivos da cultura local, como os sobreviventes de uma identidade anteriormente dominante, nomeadamente os elementos produtivos das indústrias urbanas. Ao mesmo tempo a maior mobilidade e comunicabilidade urbanas pode permitir interacções complexas, daí se formando novas escalas urbanas, com novos tipos de espaços em que se manifestam, de diversas formas, novos tipos e escalas de Identidade.

Assim, a diversidade que procuramos, não resultará tanto da variedade de opções estéticas, nem da afirmação do espaço público no palco da globalização, ou da produção de uma imagem por autores do starsystem. Mas tal diversidade poderá resultar da compreensão dos seus elementos e dos seus processos de interacção. Se os períodos de transição podem ser estimulantes de diversidade, devem-se estudar possíveis hipóteses para sustentar uma estratégia de identidade urbana, inclusiva de diferenças e estimulante da diversidade.


Transição pós-industrial: espaço público, paisagem, infra-estrutura

Esta proposta de reflexão leva-nos a abordar exemplos de transformação da paisagem urbana, em Lisboa e Barcelona. Como lemos as marcas dos diferentes ciclos de vida, em sobreposição, no antigo pólo industrial de Barcelona? E que indicações daí retiramos, para as opções em aberto nas margens do rio Tejo em Lisboa? Face aos valores invariáveis da paisagem, as suas potencialidades de produção, consumo e lazer, os canais de mobilidade, ou a disponibilidade dos antigos espaços industriais… poderemos considerar tais recursos, como suportes para transições graduais, que admitam várias possibilidades e cenários?


Uma moldura para a avaliação da transição

Na tentativa de sistematizar a avaliação da transição, procuramos uma moldura de base nos conceitos de paisagem, infra-estrutura e espaço público, como raiz dos modelos urbanos em gestação, em simultâneo com o aumento de escala do urbano.

… A Paisagem é um sistema complexo e dinâmico, onde vários aspectos naturais e culturais interagem e evoluem ao longo do tempo. Tradicionalmente entendida a partir de categorias disciplinares relativas ao território como a geografia, geologia, ecologia, hidrologia entre outras, incorpora também a expressão da sua relação com a actividade humana. Nesta relação podemos dizer que ela é uma paisagem cultural, e portanto é registo de memória e de identificação cultural[26].

Na cidade pós-industrial, a paisagem é mais marcada pelo contínuo construído de características urbanas, enquanto a agricultura e os sistemas naturais são mais descontínuos no território. As distinções entre rural e urbano, natural e artificial dão origem ou passam a conviver com novas categorias híbridas. A paisagem deixa de representar uma relação ordenada e estruturada com as actividades humanas, para passar a ser a-hierárquica e rizomática[27]. Ou seja, não deriva de uma raiz ou de um sistema primário, mas pode surgir espontaneamente em vários pontos, com influência de vários contextos e factores, numa expressão de multiplicidade.

A transição pode dar-se tanto em processos de urbanização da paisagem natural ou rural, como noutros casos, por ruralização da cidade, valorizando o equilíbrio das estruturas naturais nos ambientes urbanos.

… A Infra-estrutura é um sistema definido como conjunto de elementos que enquadram e suportam uma estrutura. Numa lógica territorial, representa um sistema técnico de estruturas, equipamentos e serviços (viários, de mobilidade, de saneamento e ou de fornecimento de energia) num determinado território. Mais recentemente a infra-estrutura passa também a designar canais de comunicação e tecnologias de informação. Historicamente mais durável, a infra-estrutura pesada determina em grande parte a configuração urbana, com flexibilidade reduzida e custos de implantação elevados.

Na cidade pós-industrial pode procurar-se uma nova abordagem tecnológica, mais ligeira e adaptável, em que a infra-estrutura é pós-linear, deixando de funcionar num sistema único e passando a integrar múltiplas lógicas de rede[28]. Para um qualquer elemento poder funcionar, basta-lhe estar articulado com a rede, facto singular mas com elevada relevância. As trocas, os fluxos, os intercâmbios entre os vários nós, são uma constante da cidade de hoje e as redes em que se apoiam os sistemas, podem constituir por vezes uma alternativa ou uma substituição de tradicionais relações sociais e urbanas unidireccionais.

Assim a transição faz-se em redes sobrepostas e comunicantes, que tanto representam importantes estruturas físicas no território (antigas estruturas duradouras ou novas intervenções decisivas), como se desmaterializam em ligações tecnológicas e virtuais, com novas possibilidades de interacção.

… O Espaço Público é caracterizado pelo uso e posse comum de espaços urbanos com plena liberdade de acesso, em oposição ao espaço privado de utilização e interesse particular. Elemento estruturante da forma urbana, pode ser considerado como hardware, desempenha um papel integrador no plano territorial e funcional da cidade. E agrega ainda, para além da dimensão físico-espacial, outra sociocultural, representativa de uma determinada sociedade[29], como lugar de manifestação e da partilha: é como software[30] que ele incorpora as relações operativas e as interacções que fazem a vida urbana.

Na cidade pós-industrial o espaço público adquire carácter pós-canónico, o que quer dizer que deixa de corresponder a tipologias consolidadas - como praça, jardim, público, privado -  passando integrar espaços híbridos - público-privado-colectivo - e utilizações diversas, incluindo também o espaço dos meios de comunicação e de realidade virtual. Incorpora também as tendências do lazer, do consumo, de mediatização e do marketing, com várias características de mercadoria, de identidades representadas ou simuladas.

A transição, na produção do espaço público, ocorre na re-interpretação de espaços canónicos ou na criação de novos espaços que respondem a desejos de transformação, numa diversidade de novos e velhos elementos, condutores de identidades urbanas diversas a diferentes escalas (desde o bairro à metrópole). Tal implica que o espaço público urbano seja aberto a interpretações e adaptações ao longo do tempo.


Os casos e as estratégias da transição

A partir da aplicação da matriz acima descrita (paisagem, a infra-estrutura, e o espaço público) a casos e processos de regeneração urbana, podemos explicar duas estratégias para a transformação, numa base da diversidade:

a) Um caso é o projecto 22@Barcelona[31] como processo de regeneração de um tecido urbano industrial compatibilizando usos existentes com novos objectivos de uma sociedade do conhecimento. A execução de novas redes de base urbana (serviços técnicos, transportes, elementos do espaço público) apoia a substituição progressiva dos elementos urbanos (edifícios ou blocos), introduzindo novos usos, e a definição pontual de espaços públicos com nova dimensão e imagem.

Podemos analisar esta transformação urbana, condicionada por questões económicas, sociais e tecnológicas, tendo como elemento de observação o espaço de mudança de paradigma tecnológico no processo 22@Bcn no Poblenou. No que diz respeito aos modelos de transformação (que não são consensuais) - desde as pequenas operações de substituição de parcelas, a casos de uma real reutilização do património industrial, até às mudanças mais radicais da estrutura urbana – eles provocam sempre conflitos envolvendo a questão da identidade. Há também divergências na avaliação, entre perspectivas institucionais e referências críticas, pondo em evidência as dimensões políticas de problemas que se manifestam pelo menos em três tópicos: o da apropriação de mais-valias geradas, o da gentrificação e o da participação cidadã.

b) Outro caso, na Área Metropolitana de Lisboa, na margem sul do rio Tejo, é o de um conjunto de antigas zonas industriais desactivadas, englobadas no projecto Arco Ribeirinho Sul, que se encontra num impasse da sua regeneração, expectante de investimentos transformadores. Esta análise, juntamente com suas relações e implicações sobre o desenvolvimento urbano, permite-nos considerar um processo de simulação e avaliação de cenários futuros de ocupação. O desmantelamento de espaços industriais e o possível reaproveitamento das suas localizações, nas proximidades do futuro aeroporto e outras infra-estruturas, dão-nos uma oportunidade de reflectir sobre as transformações futuras e as relações com a mobilidade, o potencial de qualidades do espaço e das actividades urbanas. Neste caso, pode a reciclagem de estruturas industriais representar um potencial de diversidade na regeneração urbana?

Se a vitalidade de um espaço urbano alargado depende em grande parte de questões do movimento e da acessibilidade, na escala metropolitana as interacções de mobilidade marcam também as relações de integração do território. A infra-estrutura pode ser um gerador múltiplo, de actividades e espaços de urbanidade. Poderá também representar um potencial de regeneração, ao articular-se com projectos de pequena duração/dimensão cuja viabilidade não dependa dum modelo homogéneo?


Poblenou e 22@Barcelona: de pólo industrial à cidade do conhecimento

Na zona levante de Barcelona, o bairro do Poblenou cresceu e desenvolveu-se ao longo dos sécs. XIX e XX como um dos pólos industriais mais importantes de Espanha. A partir de meados do séc XIX a instalação alargada de indústrias baseada num conjunto de factores (posição privilegiada, a proximidade do porto, baixo preço do terreno, abundância de água, boas comunicações), atraiu uma população migrante que se foi consolidando numa comunidade operária forte.

No final do séc. XIX, o Poblenou era o território com a maior concentração industrial do país, recebendo a alcunha de Manchester Català. A introdução generalizada da electricidade a partir do séc. XX leva à implantação de indústrias mecanizadas e com maiores necessidades de espaço, conduzindo a uma expansão territorial. O historial industrial consolidou-se não só na configuração física do bairro (marcado por deficits de infra-estruturas, equipamentos e qualidade urbana), mas também na coesão social da comunidade, com uma identidade própria e uma vida social muito activa[32], que se mantém actualmente.  

O declínio industrial inicia-se nos anos 60, com outras zonas da cidade e periferia a reunirem melhores condições, e é reforçado na década de 70, num processo de desindustrialização transversal a muitas cidades europeias. O processo foi lento, mas entre 1963 e 1990, o Poblenou perdeu mais de 1.300 indústrias[33]. Conservando a classificação de solo industrial, algumas áreas são transformadas por empresas de transporte e armazenagem, ou em pequena escala por oficinas, ateliers e pequenos negócios. Nos anos 80 e 90 vários espaços fabris[34] são ocupados e reinterpretados por colectivos de artistas, empreendedores e criadores, atraídos pelo baixo preço, disponibilidade de espaços livres e uma conjugação de elementos de passados, locais e metropolitanos. No entanto, a perca de vitalidade económica é evidente e acompanhada pela continuada falta de infra-estruturas e equipamentos, acentuada pelo isolamento do bairro.

As grandes intervenções de regeneração em Barcelona, no contexto dos Jogos Olímpicos de 1992 – com destaque para a recuperação da frente marítima e para a construção da Vila Olímpica - promovem melhorias nas condições de vida urbana, contribuindo para uma abertura do bairro à cidade e a atracção de novas actividades antes inexistentes. No caso do Poblenou, as intervenções assentam numa transformação radical de grandes zonas de solo industrial, para dar lugar a novos núcleos habitacionais e novas áreas de usos terciários. Não obstante estas acções, o bairro continua a ser configurado por uma variedade de tecidos urbanos, em que se constatam insuficiências nas infra-estruturas e quebras das actividades económicas.

Será no prolongamento deste contexto de regeneração urbana, que no final da década de 90 surge o projecto 22@Barcelona (Figura 1): uma operação de renovação urbana e económica de antigas zonas industriais, promovendo um modelo de cidade compacta e diversa com aposta numa mistura de usos, funções e tipologias. O objectivo da intervenção é redireccionar a vocação e tradição produtiva[35] para sectores científicos, tecnológicos e culturais, adquirindo a nova centralidade da cidade e dando à cidade uma plataforma de inovação e de economia do conhecimento de âmbito internacional[36].

 

Figura 1. Área de intervenção do projecto 22@Barcelona, no bairro do Poblenou.
Fonte: www.22barcelona.com.

 

O projecto é definido através de uma alteração ao planeamento vigente que define o enquadramento, as regras e critérios e estabelece usos admitidos para transformação. A acção pública passa ainda pela criação de uma agência pública que gere todos os processos urbanos e económicos e pela definição de alguns planos de iniciativa pública que se pretende que funcionem como motor da transformação. Os novos critérios reconvertem a baixa ocupação típica das zonas industriais para outros mais densos, possibilitando a edificação em altura, libertando solo para usos público - cerca de 30% do solo industrial é destinado a equipamentos, zonas verdes e habitações com protecção oficial. Ao mesmo tempo, permite uma re-urbanização progressiva (infra-estruturação e definição da malha Cerdá), projectando uma imagem urbana mais coesa e compacta.

Num projecto de transformação que já se prolonga por uma década, podemos estudar como se estabelece a transição entre modelos e como ela se formaliza em relação à diversidade do território urbano, não apenas na vertente económica mas também nas manifestações sociais e no significado das apropriações, ou rejeições, dos espaços resultantes do projecto (Quadro 1).

 

Quadro 1.
Síntese da matriz da transição, no caso 22@Barcelona

Conceito

Contexto
Exemplos
Paisagem Reequacionamento das relações entre o natural, o artificial e o cultural,   sobretudo no âmbito de usos, actividades e representações Intervenções recentes de recuperação de estruturas naturais degradadas ou de criação de espaços de características naturais, enquadram toda a zona em transformação
Elementos marcantes e significativos da paisagem industrial, re-integrados ou re-significados no novos contexto pós-industrial
Novas paisagens urbanas, marcadas pelo predomínio da imagem e do consumo, resultam de algumas transformações dos estilos ou padrões culturais, com valores como a mobilidade, a cultura, o lazer, etc
Infra-estrutura Forte componente da estratégia de renovação urbana e económica, pretendendo suprir as deficiências histórias da zona Intervenções desencadeadas por grandes infra-estruturas de mobilidade (eixos viários, reconversão de espaços portuários ou novos projectos ferroviários) potenciam a criação de novas centralidades
Investimentos em inovações técnicas e tecnológicas de referência, associadas à promoção de actividades económicas e culturais intensas
Restabelecimento da malha Cerdà e das suas valências urbanas, como base para conexão do território e distribuição de serviços
Espaço Público Grande número de intervenções recentes, protagonizam situações, âmbitos e abordagens distintas Lugares historicamente de relação e representação local, marcados por uma intensa actividade social, cultural e comercial
Intervenções recentes de maior projecção na cidade, como os novos parques, com carácter icónico mas pouco apropriados no quotidiano
Novos espaços resultantes da transformação em curso, com possibilidades para articular a nova paisagem urbana e com as pré-existências

Fonte: Elaboração Própria.

 

Este caso de transformação urbana evidencia alguns fenómenos que nos parecem ser relevantes da transição entre dois modelos, particularmente na relação entre a identidade e a diversidade:

-         A transformação desenvolve-se faseada no tempo, com intervenções parciais que incidem na unidade base do quarteirão, ancoradas numa operação alargada de infra-estruturação mais profunda. Esta maneira de intervir pode permitir (em teoria) a incorporação de estruturas e elementos pré-existentes, assim como uma mudança incremental do ambiente urbano, resultando numa diversidade de actividades, tipologias e espaços, numa transição onde coexistem vários modelos e hipóteses. Porém, a preferência por um determinado modelo económico, o favorecimento de intervenções de carácter global ou a falta de abertura dos processos à participação, podem reduzir esta diversidade potencial e afastar outros actores, com menores capacidades[37].

-         O redireccionamento para sectores tecnológicos, criativos e da economia do conhecimento, enquadra-se na estratégia de internacionalização da cidade de Barcelona (iniciada com a organização de eventos e promoção do turismo), que se pretende alargar e ganhar posição noutros sectores da economia. No caso concreto do Poblenou, a perca de importância do sector produtivo secundário, o aumento dos investimentos no sector terciário, a chegada de nova população residente com diferentes estilos e standards de vida, conduzem a um processo de gentrificação do bairro.

-         Este mesmo processo de transformação, conduz a um sentimento de reserva ou recusa das mudanças em curso, que se constata na comunidade local. Apesar das melhorias introduzidas em alguns domínios (infra-estruturas urbanas, mobilidade, equipamentos, etc.), o período longo de transformação, a par da perca de elementos industriais, modificam a paisagem urbana (Figura 2) e diminuem estruturas e referências consolidadas[38]. Actualmente o afastamento da actividade industrial, o aumento do sector terciário e de novas zonas residenciais, parecem já não constituir referências locais positivas, antes reflectindo uma conjugação de interesses privados, lógicas exteriores, imagens de espectacularidade ou artifícios icónicos.

 

Figura 2. Imagens da paisagem urbana industrial e pós-industrial no Poblenou.
Fonte: Arxiu Municipal del Districte de Sant Martí e José Miguel Hernández Hernández (http://www.jmhdezhdez.com/).

 

Relacionando os temas da diversidade de actividades e da identidade do bairro, destacamos a importância das questões relacionadas com a herança industrial: a reabilitação e os novos usos do património industrial[39], a manutenção e promoção de actividades produtivas e o carácter identitário operário do bairro. O desaparecimento recente de parcelas significativas de património industrial, conservando apenas pequenos fragmentos (chaminés, fachadas), conjugada com a insuficiente e pouco aprofundada protecção do património industrial[40] tornou esta questão mais visível e polémica, concretamente no caso Can Ricart. O recinto industrial (de meados do séc. XIX), compreendia vários edifícios industriais representativos, sendo ocupado à data por um misto de pequenas empresas, escritório e colectivos de artistas. No âmbito do 22@ iniciou-se o processo de transformação (PERI Parc Diagonal), com o fecho de empresas, a saída das actividades produtivas e algumas demolições e incêndios no recinto.

Aqueles acontecimentos, combinados com sentimentos de “perca de identidade” e “ausência de participação” nas decisões urbanísticas, já patentes no bairro, originaram um movimento de defesa Salvem Can Ricart e um conjunto de reivindicações, numa discussão alargada e mediática[41]. Dinamizada por entidades locais, associações de moradores e grupos profissionais e académicos, tanto na investigação histórica, como na participação em processos de reivindicação ou na criação de alternativas à transformação actual – uma solução de compromisso para o património industrial parece ainda não estar estabilizada. Mas a gestão equilibrada destas questões, pode assegurar elementos de continuidade na transição industrial / pós-industrial, constituindo uma transformação mais estável e bem acolhida, ancorada em estruturas que já constituem referências na paisagem urbana.

Procurando responder à questão da cidade produtiva, que avaliação é possível fazer neste período transformação das funções produtivas mantidas ou criadas pelo projecto 22@? Tomando como base os documentos da execução do projecto, é possível verificar:

-         A atracção de novos usos, empresas, trabalhadores e população residente no âmbito do projecto.
-         Estas mesmas empresas enquadram-se em larga maioria nos sectores estratégicos - media, TIC, tecnologias médicas, energia e design - identificados no programa da transformação.
-         O modelo económico e urbano centrado no cluster, é utilizado como uma estratégia para potenciar relações, conhecimento e criatividade, com a colaboração de várias entidades e agências públicas.

Não descurando as intervenções e acções já concretizadas, parece-nos ser necessário um estudo mais aprofundado para entender qual a efectiva função produtiva das actividades localizadas no sector e quais as suas ligações e trocas com a comunidade local do Poblenou.

Assim, um olhar para os agentes e actividades com menores recursos, parece mostrar o seu afastamento, vinculado à subida do valor do solo (resultado de vários factores como a localização central na cidade, o contexto da operação de transformação e o objectivo da atracção de usos tecnológicos, etc.), podendo no extremo criar um núcleo homogéneo e monofuncional. Na própria lógica de diversidade preconizada pelo projecto, seria necessário equacionar espaço para intervenções não programadas, espaços criativos não convencionais ou de carácter mais espontâneo, lugares de economia local e serviços de bairro. Parece-nos ainda relevante, trabalhar em estratégias para compatibilizar usos e capacidades de intervenção diferentes, nomeadamente de forma a não expulsar actividades produtivas existentes e a radicação de populações, que são hoje reconhecidas como valores locais.

Na perspectiva de que o processo 22@ continuará nos próximos anos (décadas) a marcar a transformação do Poblenou, podemos avaliar a capacidade operativa do plano e identificar desafios futuros:

-         Quais as oportunidades geradas para novos empregos e diversificação de actividades e quais os resultados reais das políticas de acesso à habitação, de criação de serviços e equipamentos, para a população local? É possível manter o carácter identitário operário no Poblenou, ou construir uma nova identidade múltipla e diversa?
-         Num cenário de retracção da economia e de crise do imobiliário, será possível encontrar alternativas de regeneração? Como integrar na regeneração, verdadeiros processos de participação e negociação com os vários actores com influência no território?

No caso do Poblenou e da cidade de Barcelona, o espaço público é um palco relevante das transformações e resistências. Mas para além disso, podemos avançar com uma nova possibilidade: a produção do espaço público, como uma ferramenta da transição industrial / pós-industrial, oferecendo uma base para o diálogo entre os factores emergentes e os elementos passados, evidencia a diversidade. Durante a transição, a produção do espaço público, pode ocorrer na reinterpretação de espaços vinculados com a memória e a história ou na criação de outros espaços que respondam às novas necessidades e transformações, conduzindo identidades múltiplas. Aqui podem-se incluir as que decorrem da sobrevivência não só de testemunhos, mas também de algumas possibilidades de conservação de funções produtivas.


A Margem Sul do Tejo: industrialização, desindustrialização e incerteza

O território da Margem Sul do Estuário do Tejo (Figura 3), frente a Lisboa, hoje de carácter suburbano, apresenta uma evolução e transformação ao longo da história que vai configurando a sua especificidade. Marcado pela matriz geográfica e paisagística[42] do estuário, cresceu com origem em estruturas locais diferenciadas, ancoradas tradicionalmente em actividades relacionadas com o rio ou com a terra. O desenvolvimento das ocupações urbanas neste território deu-se com mais intensidade a partir dos locais de acessibilidade fluvial a Lisboa ou integrados nas redes viárias principais.

A partir do início do século XX os investimentos associados à indústria e às actividades portuárias impulsionaram o crescimento dos aglomerados em torno destes novos pólos, mantidos por fluxos migratórios consideráveis de zonas rurais para estas zonas urbanas em crescimento. Por associação estes primeiros grandes pólos industriais foram ao longo do tempo fomentando tanto a instalação de outras indústrias, como de serviços sociais que serviam os trabalhadores, reforçando o vínculo e a inserção identitária de toda a população. O pico deste desenvolvimento industrial será nos anos 60, marcando o território a nível socioeconómico, cultural e identitário. Nesta época existe-se à construção ou expansão dos grandes conjuntos industriais polarizadores: construção e reparação naval no estaleiro da Margueira em Almada, siderurgia e indústria do aço no Seixal e desenvolvimento da indústria química no Barreiro.

Na mesma década, o crescimento demográfico passa a ser acompanhado por um processo de suburbanização da cidade de Lisboa, fomentado pela construção da primeira ponte sobre o Tejo (em 1966) e pelo aumento da mobilidade proporcionada pelo uso generalizado do automóvel. Numa primeira fase, o crescimento acompanha os novos eixos viários com zonas de densidades elevadas, mas como tempo expande-se por antigas zonas agrícolas ou florestais em modelos mais espraiados, com vários casos de loteamentos clandestinos.

Nos anos 70, a crise económica provocada pelo choque petrolífero em conjunto com o clima de instabilidade política e económica vivido em Portugal, provocaram uma crise na maioria das indústrias da região. Muitas dessas indústrias, ao longo de duas décadas foram sendo progressivamente desactivadas ou abandonadas, reconfigurando o perfil económico e empresarial da zona. A falta de medidas e de meios financeiros adequados no período posterior à revolução de 25 de Abril de 1974, dificultou a gestão do território, sujeito fortes pressões sociais e politicas centradas nas carências de habitação condigna, de infra-estruturas, de equipamentos colectivos, de transportes.

Nos anos 90, a alteração do tipo e processo de produção e o incremento dos sectores do comércio e armazenagem, permitiram movimentos de reorganização espacial das actividades - deslocando as actividades económicas (nomeadamente no sector automóvel) no eixo de Coina-Palmela-Setúbal (com ligação a auto-estradas). Noutros sectores assistiu-se a um processo de reconversão de unidades industriais, embora sem uma lógica integrada de desenvolvimento.

 

Figura 3. Enquadramento Territorial da Área Metropolitana de Lisboa.
Fonte: Google Maps (maps.google.pt).

 

No final dos anos 90, um conjunto de infra-estruturas estruturantes (Figura 3) - ponte Vasco da Gama, novas auto-estradas, linhas ferroviárias, metro ligeiro - reconfiguraram o território e introduzem novas formas de mobilidades, redesenhando a própria relação da infra-estrutura com o espaço público. Para além do crescimento habitacional suburbano - com uma oferta diversificada - promovido pelo sector imobiliário, a melhoria da rede de acessibilidades atrai desde logo o investimento do sector comercial, com a instalação de centros comerciais, plataformas logísticas e o desenvolvimento de parques industriais.

A partir do final dos anos 90, desenha-se um conjunto de oportunidades de investimentos  de grande escala - novo aeroporto de Lisboa (Alcochete), comboio de alta velocidade (linha Madrid-Lisboa), nova ponte (Barreiro-Chelas), plataforma logística (Poceirão) – que podem desencadear novos processos de transformação e crescimento.

A conectividade interna deste território é fraca, e processa-se entre concelhos fisicamente próximos, com primazia aos que têm ligação directa a Lisboa. Da mesma forma e apesar dos esforços nos últimos anos em promover pólos locais de actividades, o território continua em grande parte depende da oferta de Margem Norte (Lisboa), sobretudo no que respeita a emprego e serviços especializados. Sujeita a diversos processos de crescimento, a Margem Sul é hoje marcada por realidades com diferentes dinâmicas políticas, sociais, económicas, culturais e urbanas, espelho da complexidade da cidade pós-industrial:

-         núcleos ribeirinhos históricos relativamente bem conservados,
-         zonas urbanas consolidadas,
-         bairros-dormitório com tipologias distintas,
-         modelos residenciais turísticos,
-         núcleos de habitação com problemas de exclusão social,
-         zonas urbanas de construção clandestina em processo de requalificação,
-         antigas áreas e complexos industriais,
-         pequenos núcleos rurais em transição.

Pretendendo actuar nesta complexidade, a estratégia territorial desenvolvida desde 2002 no plano regional (PROTAML - Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa) constrói um cenário de revalorização metropolitana. Desenvolvendo a ideia de uma cidade de duas margens, ancorada no estuário do Tejo como principal espaço de estruturação metropolitana, propõe o reequilíbrio do modelo dependente de Lisboa. Ganha relevância a unidade territorial - Arco Ribeirinho Sul - faixa ribeirinha que constitui a grande coroa urbana da margem sul do Tejo (Figura 4).

 

Figura 4. Unidade Territorial Arco Ribeirinho Sul.
Fonte: Parque Expo (www.parqueexpo.pt).

 

A partir de 2008 anuncia-se o desenvolvimento da operação de regeneração urbana “Arco Ribeirinho Sul” centrada na mesma unidade territorial, ancorada nas possibilidades abertas com o vasto conjunto de infra-estruturas então definidas. A estratégia passa por propor uma concentração de acções perto de núcleos urbanos consolidados, aproveitando para isso o conjunto das antigas áreas industriais - Quimiparque (Barreiro), Siderurgia Nacional (Seixal) e Margueira (Almada).

A operação apoia-se em algumas ideias estruturantes: a valorização da relação com o rio Tejo, a atracção e fixação de uma população jovem ou o desenho de estruturas e espaços urbanos com forte qualidade física e funcional. Pretende-se que os efeitos da infra-estruturação e da localização possam desencadear uma dinâmica de desenvolvimento sustentável e dinamização económica com efeitos em toda a Área Metropolitana de Lisboa (Figura 5).

 

Figura 5. Planta Síntese do projecto Arco Ribeirinho Sul.
Fonte: Parque Expo (www.parqueexpo.pt/).

 

No decorrer de processo, a crise internacional a partir de 2008 e as suas repercussões nacionais, mais marcadas a partir de 2010, geram instabilidades políticas e financeiras que limitam recursos e acentuam a queda de actividade económica (muito forte em sectores como o imobiliário pela redução drástica da procura e a paralisação de novos esquemas residenciais), colocando o projecto numa situação de incerteza e possível inviabilidade. Finalmente em 2011, um conjunto de decisões políticas congelam o investimento nas grandes infra-estruturas (que alavancavam toda a transformação), deixando por definir a viabilidade e a continuidade futura da operação.

O sector imobiliário, que dez anos antes viabilizou a Expo98 não é agora suficiente motor, tendo em conta a retracção da procura, a abundância de oferta disponível e a localização excêntrica, totalmente dependente das infra-estruturas agora suspensas, são factores adversos que agora rodeiam o projecto, num contexto frágil e incerto.

Considerando que numa visão estratégica, de longo prazo, estas tendências de transformação (policentrismo, reconversão de usos, diversificação de actividades) desenham caminhos alternativos possíveis, podemos procurar o potencial da diversidade neste território, colocando questões como:

-         Quais as possibilidades de regeneração, por articulação de projectos de pequena duração/dimensão cuja viabilidade não dependa dum modelo homogéneo?
-         Numa óptica de flexibilidade que elementos podemos encontrar dentro deste território, que constituam pistas para uma transição, entre modelos?
-         Que aspectos podem configurar, num contexto de transformação, a génese de uma identidade ribeirinha, de âmbito alargado e metropolitano?

Numa óptica de flexibilidade e no actual contexto de incerteza, procuramos os elementos que neste território, podem dar pistas para uma transição, partindo da complexidade e do potencial oferecido por uma diversidade que persiste. (Quadro 2).

 

Quadro 2.
Síntese da matriz da transição, no caso Margem Sul do Tejo

Conceito
Contexto
Exemplos
Paisagem
Marcada pela forte configuração e interacção com o Estuário do Tejo, relaciona-se com várias actividades existentes
Valores e paisagens naturais (esteiros, mouchões, sapais, montado)
Actividades primárias radicadas na paisagem e nos costumes (zonas agrícolas, salinas, portos de pesca, etc.)
Resistências da era industrial, (vestígios, estruturas e cultura associativa), actividades de pequena escala ou grandes indústrias que permanecem
Infra-estrutura
Organizada inicialmente com ligações radiais a Lisboa, numa relação subsidiária, a lógica em rede mais recente pode configurar outras formas de crescimento
Mobilidade fluvial tradicional no rio pode ser reforçada com novos serviços e estruturas de transporte optimizadas, soluções low-cost, etc.
Redesenho da rede de transporte público pode reforçar a conectividade interna e potenciar novas articulações do território
Novas centralidades podem ser potenciados por grandes investimentos (ponte, aeroporto, alta velocidade) que dependem de factores incertos, ou por outras lógicas alternativas
Espaço Público
A rápida expansão do território nem sempre privilegiou uma estrutura coesa ou a qualidade das soluções, temas que têm sido alvo de actuações
Requalificação dos núcleos históricos das várias localidades
Recuperação de waterfronts, como os novos espaços de lazer sugerem diversificação de ofertas, com resultados distintos
Intervenções em espaço associadas a grandes estruturas de mobilidade, equipamentos ou centros comerciais como novos padrões de uso e consumo
Fonte: Elaboração Própria

 

O contexto descrito da evolução recente desta área, permite-nos salientar as várias formas e contextos onde se concentra o potencial de transformação (mas também de indefinição), do território metropolitano:

-         O processo de desindustrialização na Margem Sul do Tejo, não conduziu ao aparecimento generalizado de um novo modelo de cidade, nem apagou vestígios anteriores - da mesma forma que a industrialização não substituiu totalmente os traços de ocupação rural tradicional. Esta diversidade de paisagens e situações urbanas, tanto levanta incoerências e conflitos, como pode promover conexões e articulações múltiplas, particularmente no caso do espaço público, podendo ser geradores de centralidades, amenidades e factor de coesão[43].

-         A ocupação espacial da Margem Sul do Tejo, apesar de um carácter urbano forte é ainda muito marcada pela componente geográfica, paisagística e natural, com a especificidade do estuário e o carácter de interface entre vários territórios, onde a diversidade articula vários aspectos persistentes. A possibilidade de desenvolver soluções de integração e valorização destes aspectos, pode constituir uma alternativa a modelos intensivos e mono funcionais de desenvolvimento. Por outro lado uma gestão temporal da paisagem, pode construir uma transição entre situações mantendo graus de flexibilidade e de reserva.

-         Algumas intervenções nos últimos anos na Margem Sul reflectem a aposta no espaço público como elemento estruturante e de valorização e polarização, com exemplos de: requalificação de zonas ribeirinhas, costeiras ou industriais, reabilitação de centros históricos ou criação de novos espaços de lazer e mobilidade (passeios, ciclovias, espaços verdes). No contexto de um pequeno crescimento com recursos limitados, pode ser útil desenvolver uma abordagem centrada no espaço público, não como elemento de cosmética, mas numa perspectiva de potenciação de dinâmicas sociais e económicas. Este modo de pensar envolve escalas, ferramentas e estratégias de transformação para uma paisagem urbana pós-industrial (Figura 6).

 

Figura 6. Imagens da paisagem urbana industrial e pós-industrial na Margem Sul do Tejo (Barreiro).
Fonte: Jean Gaumy (www.magnumphotos.com) e Paulo Iglesias (olharobarreirodeoutromodo.blogspot.com).

 

Cenários da transição

Os objectivos da produção e da mobilidade da cidade à escala metropolitana, hoje têm várias linhas de justificação, ancoradas na realidade do fim dum ciclo económico consumidor de território, baseado no motor imobiliário e assente em crédito fácil para um  mercado artificial. Estas situações permitem explicitar de várias formas o potencial mas também a incerteza que caracterizam as transições no Arco Ribeirinho Sul. Ressalta desde logo a importância duma reflexão sobre o que podem ser as actividades produtivas compatíveis, numa lógica de fileira ou cluster, num contexto cujo motor já não é o da bolha imobiliária, podendo incluir diferentes variáveis de contexto e assegurar a sua viabilidade em cenários menos dependentes do investimento em infra-estruturas:

-         novos artefactos da logística e infra-estrutura;
-         turismo e lazer de natureza (estuário, áreas protegidas) ribeirinho e interior;
-         agricultura / alimentação – da horta social à agricultura biológica;
-         pesca, aquacultura, salinas, transformação e comercialização, restauração;
-         energia renovável (marés, sol, biomassa…);
-         transformação e comercialização da cortiça;
-         universidade-paisagem-agricultura-tecnologia.

Como referido, na conjuntura actual, a natureza espacial da transição, assim como as suas componentes e diversidades (existente e/ou promovida) não estão definidas num modelo. Mas como exercício podemos, a partir de alguns factores, simular uma variedade de cenários futuros:

a) Prolongada

Uma hipótese de transformação será a aposta na restauração do modelo em decadência, prolongando a sua actividade temporal, baseada na persistência da identidade passada, agora baseada na construção de novas estruturas produtivas. Por exemplo, um investimento em actividades industriais pesadas pode evoluir para a aposta numa desmultiplicação em pequenas unidades que permitam manter uma comunidade operária qualificada e uma identidade centrada na produção. Mas quais seriam as possibilidades decorrentes de vantagens reais da localização, para recriar um parque industrial-tecnológico na Margem Sul do Tejo, com novas infra-estruturas e mão-de-obra?

Neste caso, o aumento forçado da duração dum modelo em crise, pode produzir uma maior homogeneização do espaço, apenas centrada numa única expressão de actividade? Posto de outro modo, a falta de diversidade não retira adaptabilidade, fragilizando o modelo?

b) Substituição

Um caso de transformação extrema e rápida, em que o modelo anterior praticamente desaparece para dar lugar a uma nova cidade desenvolvida a partir de novas lógicas. Os casos mais representativos são intervenções integradas em grandes eventos (exposições internacionais, eventos desportivos, etc.), ou acções com grande capacidade de investimento que rapidamente conseguem regenerar grandes áreas desqualificadas da cidade. Uma candidatura da Área Metropolitana de Lisboa para os Jogos Olímpicos de 2020, com as intervenções centradas nas margens do Rio Tejo, é viável numa situação de crise económica?

Uma mudança célere, com um novo modelo em tábua rasa (tipo Expo98) é uma rotura desvinculada das permanências sociais, que pode resultar da substituição de uma homogeneidade / dominância, por outra?

c) Sucessão

Uma mudança incremental de um modelo para o outro, em que durante um período alargado co-existem várias marcas passadas e possibilidades futuras. Uma operação parcial de transformação que conviva e tire partido das pré-existências paisagísticas, económicas, produtivas (agrícolas, industriais, artesanais…) pode potenciar novas interpretações de elementos passados. Qual o potencial de aproveitamento das velhas estruturas industriais para novos usos mais flexíveis, ou a reactivação de actividades tradicionais primárias, recriadas com novos actores mais flexíveis e intervenientes?

Numa situação de sobreposição de ciclos, em transição simultânea, existe um acréscimo de diversidade? Ou podem as novas identidades em construção e relacionadas com o projecto urbano, acrescentar e promover a diversidade?


Produção e diversidade - uma proposta de sistematização

É frequente nos nossos dias encontrar espaços urbanos que parecem ambíguos, pelas suas características, ou pelos usos que proporcionam. É também frequente considerar-se a diversidade urbana como uma qualidade que está em perca, ou considerar o seu contrário, a homogeneidade, como um custo crescente dos fenómenos globais e, nesse contexto, um problema das cidades pós-industriais, do consumo. Mas podemos reconhecer que Diversidade Urbana é um conceito que ganha pertinência. Veremos se estas ideias traduzem por inteiro as realidades da transformação que está na ordem do dia. Mas para tal será necessário aclarar o que é a diversidade urbana.

Apresentamos algumas noções comuns sobre o que se considera como diversidade urbana, com referências abundantes, na cidade ocidental contemporânea, apontam para noções de:

-         Diversidade do espaço físico - variação de forma, por razões topográficas, de espaços edificados ou da paisagem, dos elementos herdados ou emergentes da cultura urbana;
-         Mix de usos do espaço, apropriações sociais ou por estilos de vida, traduzidos em actividade residencial, de consumo e lazer, com utentes de diferentes perfis sociais, económicos, culturais;
-         Sobreposição, ou interacção de fluxos da mobilidade urbana e da informação, desde os meros percursos quotidianos, ao impacto espacial dos fluxos dos negócios;
-         Eventos, momentos ou ciclos, em que a cidade adquire outro tipo de diferença e significado (no tempo excepcional, festivo ou cerimonial).

Estamos, na cidade actual num contexto de transição de modelos, mas também já num contexto de crise do que chamámos cidade pós-industrial. A complexidade desse contexto comporta uma gestão da subjectividade, que advém da incerteza[44], na capacidade de prever com muitas variáveis. Considerando que uma normal subjectividade do conhecimento não significa arbitrariedade, é preciso reduzir as margens de incerteza, e reconhecer a própria diversidade, nos factores que facilitam a transição:

-                A diversidade urbana acolhe, prepara ou estimula o inesperado?
-                Depende da escala dos problemas ou da dimensão das obras?
-                Gera hibridações, em novas identidades, ou em novos tipos de espaço urbano?
-               
Resulta de plataformas entre diversas actividades, grupos, saberes, conhecimento

A resposta tem várias implicações nas atitudes com que podemos actuar:

-                Não depender de uma única estrutura/ forma/ maneira, para sobreviver/ crescer,
-                Partilhar atributos distintos/ complementares/ contraditórios,
-                Ter maior capacidade de adaptação e admitir escolhas sobrepostas,
-                Ser mais aberto à diferença porque existem muitas coisas diferentes,
-                Elaborar soluções distintas para o mesmo problema,
-                Aceitar mais problemas resultantes das diferenças,
-               Preservar diferentes possibilidades de agirperante a incerteza,

Estas atitudes estão longe da auto-suficiência com que o conhecimento e a acção profissional se tem afirmado no planeamento e no desenho urbano. No contexto das transformações actuais da cidade, em que já não podemos considerar as opções como resultado de previsões ou soluções credíveis, vindas de uma única fonte de saber profissional, a própria diversidade de actores e interesses envolvidos requer processos também diversos, com mais fundamento negocial. A cidade, de todos, é uma chave política da transição, que exige um novo tipo de conhecimento e experiencia.

Ainda assim, as fontes de saber sobre o urbano, têm produzido um novo Estado da Arte, no que toca à explicação das mutações: umas mais ligadas às soluções de  projecto urbano participativo, outras às novas capacidades analíticas do território, nomeadamente as da geografia e da sociologia urbana, outras no decifrar da economia da cidade alargada em que se enquadram funções produtivas e também das shrinking cities[45]. Mas a maior complexidade e diversidade da realidade urbana será proporcional à menor previsibilidade e reclama cada vez mais uma visão integradora, colaborativa, participativa.


Diversidades operativas

A necessidade de novos desenvolvimentos interdisciplinares, decorre dos próprios problemas, do facto de serem emergentes e, provavelmente admitirem mais do que uma solução e das soluções não poderem ser avaliadas por um único padrão de certo e errado. Assim, a legitimação das opções já não poderá advir apenas pelo recurso às categorias de consagração artística dos seus autores, em regra mais atentas aos aspectos formais dos “objectos estéticos”; terá antes de recorrer cada vez mais a perspectivas interdisciplinares: da geografia económica, da sociologia crítica, do projecto colaborativo, da prospectiva…

Devemos então tentar sistematizar a noção de diversidade urbana, cruzando diferentes perspectivas, permitindo em todas elas acolher a sobreposição de modelos urbanos com capacidade produtiva (industrial, de serviços, do conhecimento, da cultura…) incluindo a produção do próprio espaço:

1. -A perspectiva da morfologia do espaço[46] pode hoje ser valorizada nas justaposições históricas de linguagem que o desenho urbano acolhe, a partir da percepção e da psicologia da forma e da visão[47], em diferentes dimensões polissémicas:

- No campo geométrico-intuitivo, a partir das possibilidades da estruturação do espaço pelas várias combinações entre partes;
- No campo tipológico procura-se a entidade una (mais que a soma das suas partes), com possibilidade de ser replicada de formas distintas;
- No campo topológico, em que a relação se percepciona relativamente a um lugar de vida em livre movimento;
- No campo fenomenológico em que a diversidade é comportamental, como no que se refere ao uso e apropriação social do espaço, também nos usos produtivos.

2. -Na perspectiva da paisagem urbana, na variedade paisagística conflui a simultaneidade dos elementos naturais e artificiais, começando pela própria base geográfica e a diversidade resolve-se na interdependência entre um sistema e os seus limites exteriores. Convocam-se assim as noções de eco-sistema artificial, diversidade e entropia, aplicadas à diversidade nos ambientes e ecosistemas urbanos[48]. O equilíbrio entre consumo (recursos, energia) e produção, assegura a constante renovação, para o que se requer diversidade e resiliência, nos processos de restabelecimento das capacidades vitais.

3. -As perspectivas sobre a diversidade no plano da infra-estruturação do crescimento do urbano, acentuam as condições espaciais das redes, nos novos modos de vida, que produzem diversidade urbana através do aumento de escala e variedade de tipos urbanos, e através dos factores de temporalidade[49] – os modelos inovadores  da mobilidade, os recursos para os processos de readaptação, os novos ciclos de vida. A produção de novas realidades espaciais e temporais numa cidade a grande velocidade, envolve crescente diversidade de factores.

4. -As perspectivas sobre a diversidade no plano do social e cultural, não são apenas sobre um mix funcional enriquecedor dos usos no espaço urbano. A coexistência de distintos grupos e comunidades que vivem no mesmo espaço com novas manifestações de conflito entre interesses e culturas diversas[50] pode ou não, viabilizar a intensidade urbana, em função de variáveis múltiplas. Mas a mobilidade física e social no acesso à informação e à tecnologia são também novos factores de segregações dos modos de vida, com cada vez maior imprevisibilidade.


Conclusões e reflexões finais

Quais são as possibilidades de aplicação e os pontos em aberto desta visão da cidade em transição? Como mostrámos é necessário que consideremos a própria transição, não só como estádio intermédio e inacabado de um determinado modelo, mas como um processo: a reconstrução e representação do espaço da urbanidade[51].

Podemos concluir deste estudo e da teoria subjacente, que se diversidade significa ao mesmo tempo, complexo, heterogéneo, e multifacetado, a questão que permanece é se está em causa, também, o incerto e indeterminado. E sendo maior o domínio do imprevisível, depois da falência dum modelo, como se pode desenhar a transição para outro modelo? Uma abordagem da gestão dos factores temporais e da flexibilidade pode desempenhar um papel importante na viabilidade do planeamento e do projecto. A incerteza passa a ser parte integrante dos processos de transformação da cidade, e a sua gestão pode assegurar a diversidade de opções e possibilidades envolvendo os actores urbanos, os cidadãos.

É fácil constatar que, se cresce a indeterminação, diminui a estabilidade e a capacidade operativa de formas de planear ancoradas em relações de causa-efeito, regras pré-estabelecidas ou standards. Os instrumentos e práticas correntes do planeamento e desenho urbano, parecem hoje não conseguir totalmente incorporar ou responder a estas condicionantes, apresentando-se críticas de excesso de determinismo e falta de adaptabilidade, abordagens sectoriais ou fragmentadas sem resposta à diversidade urbana, excesso de consumo de tempo face às necessidades, proliferação e sobreposição de instrumentos alternativos, desadequação á realidade, deficit de estruturação urbana, etc.

O planeamento urbano, dependente do resultado de decisões a montante, na economia (o mercado) ou na política (a cidadania), terá mesmo perdido espaço, por um lado em favor da estratégia (organizando elementos polarizadores ou limitadores da acção), e por outro lado em favor do projecto (que exige procura de uma certeza provável, na acção de dar uma forma). No âmbito das estratégias de desenho cresce a necessidade de gerir factores, elementos e actores que mudam mais facilmente, reduzindo a sua previsibilidade e aumentando em aspectos variáveis e diversificados.

É neste contexto que prevalecem as maiores dúvidas e também os espaços de reflexividade  em aberto:

a)      uma ou várias identidades urbanas possíveis, na escala maior e diversa da cidade? Observando as situações urbanas apontadas, como se podem afirmar diferentes identidades (de bairro, cidade, metrópole, região) em simultâneo, nos períodos de transição? Em certos momentos e locais, poderemos inferir quais as condições necessárias para manter capacidades de evolução, num mesmo processo da cidade rural para a comercial, desta para a industrial e desta para a cidade pós-industrial?

b)      Como podemos (ao nível de programa, plano e projecto) admitir mais flexibilidade? Com os exemplos em mente, podemos voltar a avaliar oportunidades, estratégias de gestão temporal/processual e ferramentas para a transição, com várias formas e momentos de mobilização e tomada de decisão, para responder não apenas aos actuais problemas, mas também a futuras necessidades, possibilidades e recursos?

c)      Como pode o espaço público, elemento de software da cidade, desempenhar papeis estimulantes em períodos de transição? Sendo factor de construção de convergências de interesses, acções e valores percepcionados, como assegurar a continuidade duma estrutura física permanente, em que a substituição de elementos não interfira com o sentido de pertença?  Como tornar visíveis as diferenciações baseadas na localização das funções produtivas da cidade? 

d)     Oferecendo uma base para o diálogo entre as transformações emergentes e os elementos passados, criando relações e evitando tensões entre intervenções opostas (conservação-substituição), poderá a produção do espaço ser, ela própria, o elemento em transformação? A oportunidade de introdução novos usos e práticas, com efeito económico, social e político, pode exprimir-se como promotora de regeneração e re-apropriação do entorno urbano, pelos cidadãos?

Podemos então repor o problema: Se não há um sentido único na transição dos modelos de cidade industrial, para os de uma cidade pós-industrial (tenha ela os atributos de produtiva, criativa, ou do conhecimento), poderemos desenhá-la, também, quando o contexto não é de expansão mas de contracção, com diferentes opções, de coexistência e consenso, numa transição menos rígida que mantenha as funções produtivas na cidade?

Concluímos, a partir das aportações empíricas aqui apresentadas, que o contexto explicitado das transformações analisadas, decorre do esgotamento do modelo expansivo e da abundância de recursos de investimento, com a emergência de um ambiente de retracção e procura de novas formas de organização social e espacial. A raiz dos novos modelos urbanos poderá estar a ser gerada neste período de transição, em várias escalas do território e das relações de cidadania.

No processo de transformações da cidade contemporânea, as acções no espaço público e no desenho urbano - relativamente às infra-estruturas, às paisagens e aos espaços públicos -  podem garantir uma diversidade de opções e uma continuidade das funções (produtivas, simbólicas, etc) que possibilitem uma transição, resultado de uma expressão real dos seus actores. Uma expressão configurada e representada na identidade da cidade - com os atributos sociais, culturais, económicos e políticos, de uma cidade para os cidadãos.


Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), no âmbito da Bolsa de Doutoramento SFRH / BD / 69911 / 2010.

 

Notas

[1] Com objecto semelhante e dos mesmos autores, o artigo “Do industrial ao pós-industrial: transições e diversidade urbana - Lx/Bcn”, está publicado na revista “Waterfronts”, nº22, Abril 2012.

[2] Kotkin 2006.

[3] Brandão 2006, 2011, Brandão, Remesar 2000.

[4] Remesar 2007, 2011, Miles 2000.

[5] Harvey 2004, Castells 2003.

[6] Ascher 1995.

[7] Bauman 2001.

[8] C. Landry 2000, Florida 2002.

[9] Rogers, 1999.

[10] Borja, Muxí 2003.

[11] Habermas 1997.

[12] Brandão 2008.

[13] Carmona 2003.

[14] Portas 2003.

[15] Secchi 2007.

[16] Remesar et al. 2000, 2012.

[17] Aprofundando a questão da indeterminação e das implicações da incerteza na lógica do Projecto Urbano, a comunicação de Ana Brandão - “How uncertain is this project? Reflections on instability and the case of “Arco Ribeirinho Sul”, na Conferencia “Ambivalent Landscapes – sorting out the presente by designing the future” da FAUTL, em Dezembro de 2012, aponta uma proposta de matriz de categorização inicial.

[18] Bohigas 1985, Busquets 1992.

[19] Capel 2005, Delgado 2007 entre outros.

[20] Sassen 1991.

[21] Koolhaas 2006.

[22] Sorkin 1994.

[23] Bourdin 2011.

[24] Muñoz 2008.

[25] Koolhaas, Mau 1995.

[26] Gaspar 1993.

[27] Domingues 2007.

[28] Castells 1989.

[29] Borja, Muxí 2003.

[30] Brandão 2008, 2011.

[31] www.22barcelona.com.

[32] Arranz 1991.

[33] Nadal, Tafunell, 1992.

[34] Roca 2008.

[35] Sobre o tema dos espaços produtivos à escala da Região Metropolitana de Barcelona ver Font et al. 2012.

[36] Oliva 2003.

[37] Marrero 2003.

[38] Tatjer 2008.

[39] Capel 1996.

[40] Tatjer, 2008.

[41] Cruz i Gallach, Martí-Costa, 2010.

[42] Cruz 1973.

[43] Pinto, Remesar 2011.

[44] Portas 2003.

[45] Oswalt 2005.

[46] Panerai et al, 1999.

[47] Marcolli 1978.

[48] Bettini 1998.

[49] Ascher 2007.

[50] Sennet 1994.

[51] Lefebvre 1974.

 

Bibliografía

AJUNTAMENT de Barcelona. Barcelona: La segona renovació. Barcelona: Ajuntament de Barcelona, 1996.

AJUNTAMENT de Barcelona. Barcelona. Nous projectes. Barcelona: Ajuntament de Barcelona, 1999.

AJUNTAMENT de Barcelona. Modificació del PGM per a la renovació de les arees industrials del Poblenou - Districte de activitats 22@BCN. Text refós. Barcelona: Ajuntament de Barcelona, 2000.

AJUNTAMENT de Barcelona. 22@Barcelona: Estado de Ejecución. [Em linha]. Barcelona: Ajuntament de Barcelona, 2009. <http://www.22barcelona.com/documentacio/Estat_execucio_2009_cat.pdf>. [20 de Abril de 2011].

AJUNTAMENT de Barcelona. Presentación: 22@Barcelona el distrito de la innovación. [Em linha]. Barcelona: Ajuntament de Barcelona, 2010. <http://www.22barcelona.com/documentacio/22bcn_1T2010_cat.pdf>. [20 de Abril de 2011].

ARRANZ, Manuel (et al.). El Poblenou: Més de 150 anys d’historia. Barcelona: Arxiu Històric del Poblenou, 1991.

ASCHER, François. Métapolis ou l'Avenir des Villes. Paris: Éditions Odile Jacob, 1995.

ASCHER, François. Les Nouveaux Principles de L'Urbanisme. La Tour D'Aigues: Editions de L'Aube, 2004.

ASCHER, François. Multimobility, multispeed cities- a challenge for architectes, town planners and politicians. The Future Metropolitan Landscape Journal. UC Berkeley: Issue Places, 19, College of Environmental Design, 2007.

BARCELÓ, Miquel; OLIVA, Antoni. La Ciutat Digital. Barcelona: Pacto Industrial de la Región Metropolitana de Barcelona, Beta Editorial, 2001.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BETTINI, Virginio. Elementos de ecología urbana. Madrid: Editorial Trotta, 1998.

BOHIGAS, Oriol. Reconstrucción de Barcelona. Madrid: Ediciones del MOPU, Ministerio de Obras Públicas y Urbanismo, 1985.

BORJA, Jordi; MUXÍ, Zaida. El Espacio Público: Ciudad y Ciudadanía. Barcelona: Electa, 2003.

BORJA, Jordi; CASTELLS, Manuel. Local y Global. La gestión de las ciudades en la era de la información. Madrid: Taurus, 2004.

BORJA, Jordi. Un Futuro Urbano con un Corazón Antiguo. Biblio 3W, Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales. [Em linha]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 20 de Maio de 2005, Vol. X, nº 584. <http://www.ub.edu/geocrit/b3w-584.htm>. [19 de Outubro de 2011].

BOURDIN, Alain. O Urbanismo depois da crise. Lisboa: Livros do Horizonte, 2011.

BRANDÃO, Ana. Arco Ribeirinho Sul: How do we design for a future we don't know. Actas da 3ª Conferência Anual do CITTA "Bringing City Form back into Planning". Porto: Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, 2010.

BRANDÃO, Ana.  How uncertain is this project? Reflections on instability and the case of “Arco Ribeirinho Sul. Actas da Conferência “Ambivalent Landscapes – sorting out the present by designing the future”. Lisboa: Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, 2012.

BRANDÃO, Ana Luísa, BRANDÃO, Pedro. Do industrial ao pós-industrial: transição e diversidade urbana - lx/bcn. On the W@terfront. [Em linha]. Barcelona: Universidade de Barcelona, Abril 2012, Vol. 22, p. 105-121. <http://www.raco.cat/index.php/Waterfront/article/view/252059>. [20 de dezembro de 2012].

BRANDÃO, Pedro. A Cidade Entre Desenhos. Profissões do Desenho, Ética e Interdisciplinaridade. Lisboa: Livros Horizonte, 2006.

BRANDÃO, Pedro. O Sentido da Cidade. Ensaios sobre o mito da Imagem como Arquitectura. Lisboa: Livros Horizonte, 2011.

BRANDÃO, Pedro. O software, o espaço público. In AA.VV. Manual de Metodologia e Boas Práticas para a Elaboração de um Plano de Mobilidade Sustentável. Sub-Projecto TRAMO - Operação Quadro Regional MARE, Depósito Legal nº 277343/08, Moita, 2008.

BRANDÃO, Pedro; REMESAR, Antoni. (coord.) O Espaço Público e a Interdisciplinaridade, Lisboa: Centro Português de Design, 2000.

BUSQUETS, Joan. Barcelona. Evolución urbanística de una capital compacta. Madrid: Editoral MAPFRE, 1992.

CAPEL, Horacio. La rehabilitación y el uso del patrimonio histórico industrial.  Documents d'Anàlisi Geogràfica [Em linha]. Bellaterra: Universitat Autònoma de Barcelona, Nº29, 1996. <http://ddd.uab.es/pub/dag/02121573n29p19.pdf>. [8 de Novembro de 2011].

CAPEL, Horacio. El modelo Barcelona: un examen crítico. Barcelona: Ediciones del Serbal, 2005.

CAPEL, Horacio. De nuevo el modelo Barcelona y el debate sobre el urbanismo barcelonés. Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Barcelona: Universidad de Barcelona, 25 de Janeiro de 2006, vol. XI, nº 629.  <http://www.ub.es/geocrit/b3w-629.htm>. [19 de Outubro de 2011].

CAPEL, Horacio. El debate sobre la construcción de la ciudad y el llamado ‘Modelo Barcelona. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales [Em linha]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 15 de Fevereiro de 2007, Vol. XI, nº233. <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-233.htm>. [19 de Outubro de 2011].

CARMONA, Matthew (et al.). Public Places, Urban Spaces. Oxford: Architectural Press, 2003.

CASTELLS, Manuel. The Informational City. Oxford: Basil Blackwell, 1989.

CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Vol I A sociedade em rede. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

CCDRLTV. Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa 2002. [Em linha]. <http://www.ccdr-lvt.pt/pt/prot/1267.htm>.

CCDRLVT. Documentos de apoio à Revisão do Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa. 2009. [Em linha]. <http://consulta-protaml.inescporto.pt/plano-regional>. [19 de Outubro de 2011].

CLARÓS, Salvador. De la Ciutat dels Prodigis a la Barcelona Social - Una visió de la política municipal de les darreres dècades des del nord-est de la ciutat. Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales[Em linha]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 30 de septiembre de 2007, Vol. XII, 751. <http://www.ub.edu/geocrit/b3w-751.htm>. [26 de Abril de 2011].

CRUZ, Maria Alfreda. A Margem Sul do Estuário do Tejo. Factores e formas de organização do espaço. Lisboa, 1973.

CRUZ I GALLACH, Helena; MARTÍ-COSTA, Marc.  Conflictos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas: reflexiones desde Barcelona, Finisterra. [Em linha]. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2010, Vol. XLV, Nº 90, p. 111-132. <http://www.ceg.ul.pt/finisterra/numeros/2010-90/90_06.pdf>. [8 de Fevereiro de 2013].

DELGADO, Manuel. La ciudad mentirosa. Fraude y miseria del "modelo Barcelona. Madrid: La Piqueta, 2007.

DOMINGUES, Álvaro. Da cidade ao urbano. In PORTAS, Nuno; DOMINGUES, Álvaro; CABRAL, João. Políticas urbanas – Tendências, estratégias e oportunidades. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.

FLORIDA, Richard. The rise of the creative class—and how it is transforming leisure, community and everyday life. New York: Basic Books, 2002.

FLORIDA, Richard. The Great Reset. How New Ways of Living and Working Drive Post-Crash Prosperity. New York: HarperCollins Publishers, 2010.

FONT, Antonio; VECSLIR, Lorena; MARISTANY, Lorena; MAS, Silvia; SOLÉ, Josep, VAN MIEGHEM, Jeroen. Patrons urbanístics de les activitats econòmiques. Regió metropolitana de Barcelona, Barcelona: Institut d'Estudis Territorials, 2012.

GASPAR, Jorge. As Regiões Portuguesas. Lisboa: Direcção Geral do Desenvolvimento Regional, 1993.

GRUP DE PATRIMONI INDUSTRIAL del Fòrum de la Ribera del Besòs. Proposta de pla integral de patrimoni industrial de Barcelona. Nou Projecte. Biblio 3W, Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales. [Em linha]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 5 de abril de 2005, Vol. X, nº 581. <http://www.ub.es/geocrit/b3w-581.htm>. [26 de Abril de 2011].

HABERMAS, Jurgen. L’ Espace Publique – Archéologie de la Publicité comme dimension constitutive de la societé bougeoise. Paris: Payot, 1997.

HARVEY, David. The condition of Postmodernity. Oxford: Blackwell Publishing, 2004.

INNERARITY, Daniel. El Nuevo Espacio Publico. Madrid: Espasa Hoy, 2006.

KOOLHAAS, Rem. A Cidade Genérica. Barcelona: Gustavo Gili, 2006.

KOOLHAAS, Rem; MAU, Bruce. S, M, L, XL. Rotterdam: 010 Publishers, 1995.

KOTKIN, Joel. La Ciudad: Una Historia Global. Barcelona: Debate, 2006.

LANDRY, Charles. The Creative City: A toolkit for urban innovators. London: Earthscan, 2000.

LEFEBVRE, Henri. La production de l'espace. Paris: Anthropos, 1974.

LYNCH, Kevin. What time is this place? .Cambridge: MIT Press, 1976.

MARCOLLI, Attilio. Teoría del campo – Curso de Educación Visual, Madrid: Xarait Ediciones, 1978.

MARRERO GUILLAMÓN, Isaac. ¿Del Manchester Catalán al Soho Barcelonés? La Renovación del Barrio del Poblenou en Barcelona y la cuestión de la vivienda. Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. [Em linha]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2003, vol. VII, nº 146. <http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-146(137).htm>. [19 de Outubro de 2011].

MILES, Malcom. Depois do domínio público: espaços de representação, transição e pluralidade . In BRANDÃO, Pedro; REMESAR, Antoni. (coord.). O Espaço Público e a Interdisciplinaridade, Lisboa: Centro Português de Design, 2000.

MINISTÉRIO DO AMBIENTE, DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL, Projecto do Arco Ribeirinho Sul - Documento Estratégico. 2008 [Em Linha]. <http://www.maotdr.gov.pt/Admin/Files/Documents/ Relatorio%20resumido_Projecto%20Arco%20Ribeirinho%20Sul_RCM.pdf>. [19 de Outubro de 2011].

MUÑOZ, Francesc. urBANALización. Paisajes comunes, lugares globales. Barcelona: Gustavo Gili, 2008.

NADAL, Jordi; TAFUNELL, Xavier. Sant Marti de Provençals: Pulmo Industrial de Barcelona. Barcelona: Columna, 1992.

OLIVA, Antoni. El districte d’activitats 22@bcn. Model Barcelona, Quaderns de gestió, nº15, Barcelona: Aula Barcelona, 2003.

OSWALT, Philipp (ed.). Shrinking Cities, Volume 1: International Research Ostfildern: Hatje Cantz Verlag, 2005.

PANERAI, Philippe; DEPAULE, Jean-Charles; DEMORGON, Marcelle. Analyse urbaine. Marseille: Éditions Parenthèses, 1999.

PINTO, Ana, REMESAR, Antoni. Public space networks: a support for urban diversity. Open House International: Urban Space Diversity, 2011 vol.37 nº2, Em fase de publicação.

PORTAS, Nuno. El Surgimiento del Proyecto Urbano. Perspectivas Urbanas. [Em linha]. Barcelona: Universitat Politècnica de Catalunya, 2003, nº3. <http://www.etsav.upc.es/urbpersp/num03/art03-2.htm>. [15 de Maio de 2011].

PORTAS, Nuno; DOMINGUES, Álvaro; CABRAL, João. Políticas urbanas – Tendências, estratégias e oportunidades. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.

ROCA, Joan. Els espais per a la creació en el territori urbà: del passat industrial a la creació artística. Fàbriques per a la Creació. Laboratoris culturals a les ciutats. Cronica Fabra i Coats. [Em linha]. Barcelona: Institut de la Cultura de Barcelona. Novembro 2008. <http://www.bcn.cat/cultura/docs/CronicaLaboratCulturCiutats.pdf>. [8 de Novembro de 2011]

REMESAR, Antoni. Public space is not dead. On the w@terfront. [Em linha]. Barcelona: Universidade de Barcelona, Setembro 2007, Vol. 10, p. 5-6. <http://www.raco.cat/index.php/Waterfront/article/view/218359>. [8 de Fevereiro de 2013].

REMESAR, Antoni. Public Art, strategies for the regeneration of public space. On the w@terfront. [Em linha]. Barcelona: Universidade de Barcelona, Fevereiro 2011, Vol 17, p. 3-27. <http://www.raco.cat/index.php/Waterfront/article/view/234245/316480>. [8 de Fevereiro de 2013]

REMESAR, Antoni; POL, Enric. Civic Participation Workshops in Sant Adrià de Besòs: A creative Methodology. In BENNETT, S.; BUTLER, J. (eds). Locality, Regeneration and Divers(c)ities: Advances in Art and Urban Futures. Bristol: Intellect Books, 2000.

REMESAR, Antoni; SALAS, Xavi, PADILLA, Samuel; ESPARZA, Danae. Inclusion and empowerment in public space design. On the w@terfront. [Em linha]. Barcelona: Universidade de Barcelona, Outubro  2012,Vol. 24, p. 3-32. <http://www.raco.cat/index.php/Waterfront/article/view/259235/346497>. [8 de Fevereiro de 2013].

ROGERS, Richard (coord.). Towards an urban renaissance. London: Urban Task Force, 1999.

SASSEN, Saskia. The Global City. Princeton: Princeton University Press, 1991.

SECCHI, Bernardo. Primeira lição de urbanismo. São Paulo: Perspectiva, 2007.

SENNET, Richard. Flesh and Stone: The Body And The City In Western Civilization. New York: W.W. Norton, 1994.

SORKIN, Michael. See You in Disneyland. In SORKIN, Michael (ed.). Variations on a theme park. The New American City and the End of Public Space. New York: Hill and Wand, 1994.

TATJER, Mercè. El Patrimonio Industrial de Barcelona entre la destrucción y la conservación, 1999-2008. Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. [Em linha]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2008, vol. XII, nº 270. <http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-270/sn-270-140.htm>. [19 de Outubro de 2011].

 

© Copyright Ana Luísa Brandão y Pedro Brandão, 2013. 
© Copyright Scripta Nova, 2013.

 

Edición electrónica del texto realizada por Jenniffer Thiers.

 

Ficha bibliográfica:

BRANDÃO, Ana Luísa; Pedro BRANDÃO. Por uma cidade produtiva: a diversidade urbana na transição pós-industrial. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. [En línea]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2013, vol. XVII, nº 446. <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-446.htm>. [ISSN: 1138-9788]


Índice de Scripta Nova