REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98 Vol. X, núm. 218 (53), 1 de agosto de 2006 |
Francisco
Roque de Oliveira
Centro de História
de Além-Mar, Universidade Nova de Lisboa
Bolseiro da Fundação
para a Ciência e a Tecnologia (Portugal)
Cartografia antiga da cidade de Macau, c. 1600-1700: confronto entre modelos de representação europeus e chineses (Resumo)
Os mapas, plantas e vistas panorâmicas de Macau inventariados e descritos nesta comunicação constituem quase os únicos testemunhos visuais contemporâneos dos primeiros cerca de 150 anos de existência desta antiga colónia portuguesa na Ásia que chegaram aos dias de hoje. Destacámos aqueles espécimes cartográficos que conheceram uma maior difusão internacional na época, tanto na forma de plantas e mapas manuscritos como na de impressos. Assinalámos também o modo como certas formas particulares de representação da cartografia chinesa influenciaram o desenho de alguns mapas divulgados pelos europeus. Notámos ainda o modo como alguns mapas de Macau de origem europeia foram transformados por desenhadores e artífices chineses ou macaenses de acordo com o gosto oriental ou o simbolismo próprio da cartografia chinesa tradicional. Uma vez concretizados estes vários aspectos da nossa pesquisa, passámos a dispor de novos elementos que nos permitem perceber as potencialidades, mas também as limitações, que este corpus cartográfico possui enquanto instrumento auxiliar para a realização de exercícios de geografia histórica como aquele que ambiciona reconstituir as características e a evolução da primitiva malha urbana de Macau.
Palavras-chave: Macau, Portugal, China, Cartografia histórica, Século XVII.
São frequentes os ensaios que se propõem reconstituir as características e a evolução da primitiva malha urbana da antiga colónia portuguesa de Macau – ou, pelo menos, a cronologia do aparecimento de certos traçados viários e de algum edificado – tomando como referência os sinais fixados na cartografia coeva. Se bem que se trate de uma tarefa por demais aliciante, os resultados deste tipo de exercício tendem a ser decepcionantes. Como veremos neste artigo, sucede que a maioria das imagens de Macau disponíveis para o período correspondente aos primeiros cerca de 150 anos de existência do território enfrenta, por regra, uma de duas limitações recorrentes: ou não chega a tirar partido do conhecimento efectivo do terreno por parte do cartógrafo – ou de quem actuou como seu informador – porque a escala escolhida condiciona uma simplificação considerável dos pormenores urbanos representados; ou constitui uma cópia de imagens mais antigas, perpetuando modelos em vez de actualizar o retrato de um espaço físico entretanto necessariamente modificado. No caso específico da cartografia chinesa tradicional, acontece ainda a interferência de formas simbólicas de representação, as quais – junto com padrões estéticos não menos próprios – fazem com que a generalidade destes exemplares não possam ser interpretados com os mesmos critérios que usamos para a leitura dos mapas ocidentais.
Cientes destas fragilidades – e até contradições – que as imagens, apesar de toda a sua força sugestiva, também carregam, passamos a inventariar e a descrever os principais espécimes cartográficos europeus e chineses que cuidaram da representação de Macau ao longo do século XVII. Cingir-nos-emos àqueles mapas, plantas e vistas panorâmicas cuja escala permite vislumbrar a mancha urbana e/ou os principais pormenores do edificado. A partir daí, centraremos a nossa leitura na identificação da origem e da fortuna dos principais modelos reproduzidos. No seu conjunto, trata-se de um espólio muito menos divulgado que os desenhos e pinturas de Macau realizados durante os séculos XVIII e XIX, das conhecidas plantas de fortalezas da primeira metade de setecentos guardadas no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, aos esboços pitorescos de George Chinnery (1774-1852), passando pelos vários óleos anónimos oitocentistas da dita “Escola de Macau”.
Como ponto de partida para o nosso inquérito, dispomos das imagens de Macau recolhidas por Charles R. Boxer em Macau na Época da Restauração (Macau, 1942) e por Luís Silveira no vol. III do seu Ensaio de Iconografia das Cidades Portuguesas do Ultramar (Lisboa, 1956). Dispomos também das imagens e reflexões que Armando Cortesão e Avelino Teixeira da Mota dedicaram à maioria dos documentos portugueses reproduzidos nesses dois livros e que dispersaram pelos tomos IV e V dos Portugaliae Monumenta Cartographica (Lisboa, 1960).
À
parte uma ou outra omissão menor que acontece depois de somados
os catálogos proporcionados por estas três obras de referência,
o que é um facto é que, em qualquer delas, se excluiu a cartografia
chinesa de Macau referente ao período que tratamos. Ora, uma das
mais interessantes ilações que uma análise conjunta
de todos estes exemplares permite retirar prende-se com o modo como
um número muito escasso de modelos, tanto de origem europeia como
de origem chinesa, foi indistintamente utilizado por desenhadores ou ilustradores
europeus e chineses que se encarregaram da representação
de Macau. Um caso paradigmático sucede com aquele que denominaremos
“modelo de Pedro Barreto de Resende”. Mas a inversa não é
menos verdadeira, conforme constatará quem notar as influências
chinesas acolhidas na carta regional que o português Jorge Pinto
de Azevedo compôs em meados do século XVII, com o traçado
do delta dos rios do Oeste (Xi Jiang) e das Pérolas[1]
e a península de Macau.
Primeiros modelos portugueses
Tanto quanto se conhece, Macau aparece mencionado pela primeira vez na cartografia europeia num mapa da Ásia Oriental (de Ceilão ao Japão) que o cartógrafo luso-indiano Fernão Vaz Dourado desenhou em 1570, ou seja, pouco mais de uma década depois deste estabelecimento português se ter afirmado como a principal plataforma para o comércio sino-nipónico[2] . Numa série de cartas náuticas do mesmo espaço geográfico, datadas de entre 1571 e 1580, Vaz Dourado repete a inscrição do topónimo “macao” que aí aparecera, colocando-o sempre sobre a margem esquerda do delta do rio do Oeste. Porém, a escala empregue em todas estas representações não permite o registo de quaisquer pormenores da respectiva estrutura urbana.
Se exceptuarmos os múltiplos elementos sobre a ocupação do sítio facultados pela documentação escrita que foi sendo produzida desde os primórdios da presença portuguesa em Macau, é possível que a mais antiga sugestão visual individualizada e não fantasiosa da península de Macau de que há notícia seja um desenho saído da mão de outro cartógrafo luso-asiático, Manuel Godinho de Erédia (figura 1). Trata-se do esboço incluído num atlas-miscelânea de c. 1615-c. 1622, que pertenceu à colecção de Carlos M. Machado Figueira (Lisboa), mas cujo paradeiro se desconhece. Este esboço tanto poderá ter sido cópia de um mapa existente em Goa, como de um protótipo cedido a Erédia por alguém que conhecesse o terreno[3] .
O traçado de Godinho de Erédia é pouco detalhado, tal como
o confirma a ausência de casas de habitação na zona ocupada
pelos europeus, as quais, mesmo que precárias, se sabe terem sido erigidas
em grande número logo nas década de 1560 e 1570. Apesar disso,
torna nítida a coexistência de uma cidade cristã e de uma
cidade chinesa, separadas uma da outra, mas preenchendo toda a área entre
a Praia Grande e a Praia Pequena. Regista ainda os perímetros murados
da residência mandarinal e da cerca que os jesuítas fizeram levantar
no monte de S. Paulo, a qual foi concluída por volta de 1606 e antecedeu
a fortaleza do Monte (por seu turno, praticamente terminada em 1622). Marca
ainda as principais igrejas, ermidas e/ou baterias nos pontos elevados (Nossa
Senhora da Guia, S. Francisco, Barra), tal como o sítio do templo chinês
da Barra (Ma-Kou-Miu/Ma Ge Miao, ou Templo da Deusa A-Má), encravado
entre a Colina da Barra e o “sorgidoro” (Porto Interior). Na margem Norte, entre
um denso arvoredo e o istmo, marca ainda algumas casas, representando a aldeia
chinesa de Wangxia (Mongha).
Há que notar que este esboço cartográfico está inserido numa série de cartas relativamente homogénea que é antecedida por um frontispício com o título Livro de Plataforma das Fortalezas da India. É certo que a planta de Macau desenhada por Erédia nada tem do rigor das várias plantas de fortalezas que encontramos nesta série. No entanto, pormenoriza todos os pontos da península com valia estratégica, possibilitando uma leitura eminentemente militar do conjunto. É crível que se tratasse de um apontamento para um desenho mais consistente do sistema defensivo, interrompido pela falta de elementos [5] .
É ainda através da iconografia portuguesa que temos as representações mais aproximadas e detalhadas de Macau da época em que, na sequência dos ataques holandeses de 1603-1622, se concluiu a construção das principais fortificações (1622-1638). O modelo de referência corresponde à planta desenhada por Pedro Barreto de Resende, funcionário da Matrícula Geral de Goa e secretário pessoal do vice-rei D. Miguel de Noronha (figura 2). Esta planta foi concebida para ilustrar o Livro das Plantas de todas as Fortalezas, Cidades, e Povoaçoens do Estado da India Oriental, que o cronista da Índia António Bocarro compilou em 1635 a pedido do rei Filipe III de Portugal (IV de Espanha) [6] .
Trata-se de uma vista à vol d’oiseau, num plano deslocado 90º
para Oeste, que toma de frente o Porto Interior e tem o istmo e as Portas do
Cerco (muradas em 1573) no canto inferior esquerdo. À semelhança
das restantes 47 plantas que compõem este livro, o desenho de Macau não
tem escala nem orientação. É também nítido
que privilegia os pormenores do sistema defensivo em detrimento do edificado
civil, em particular dos aldeamentos chineses situados fora das muralhas. Contudo,
permite a leitura de uma cidade de casas modestas de planta rectangular, adaptadas
à morfologia do terreno e agrupadas em núcleos, que sabemos corresponderem
às principais zonas de ocupação ou eixos de crescimento
que vinham do século XVI: Porto, S. António-Patane, Monte-Sé
e Rua Central (Rua Direita)-Penha. As ruas são tortuosas, existem grandes
terreiros adjacentes às igrejas, e a organização em lotes
subentende um crescimento espontâneo, carente de planeamento prévio[7]
. Além do destaque concedido às igrejas e fortificações
(centralidade absoluta no quadrado perfeito da fortaleza de S. Paulo do Monte),
assinala Wangxia, entre arvoredos e campos de cultivo, e o que parece ser o
templo chinês da Barra.
Esta representação repete-se na segunda das duas vias originais do Livro das Plantas de Bocarro (ms. 1635, dito de Oxford)[8] , na cópia do mesmo livro atribuída a João Teixeira Albernaz I (ms. c. 1635)[9] e na cópia assinada por António de Mariz Carneiro (ms. 1639)[10] . O protótipo do Livro de Bocarro serviu de base à planta intitulada “Demonstração da Cidade de Machao” que está no exemplar do Livro do Estado da India Oriental de Pedro Barreto de Resende preservado na Bibliothèque Nationale de Paris (ms. c. 1636)[11] . Aqui, o desenho original surge muito simplificado, desaparecendo boa parte dos símbolos de vegetação, reduzindo-se as proporções das casas e igrejas e eliminando-se vários pormenores de carácter militar, como as peças de artilharia instaladas nos fortes e nas muralhas. A mão de Resende reaparece na planta de Macau incluída no exemplar do Livro do Estado de 1646[12] , mas volta a ser substituída no desenho esquemático atribuído a João Nunes Tinoco (ms. 1663), o qual copia o do códice anónimo de Paris[13] .
Também a planta de Macau de autor anónimo que foi integrada c. 1640 no Lyvro de Plataforma das Fortalezas da India de Manuel Godinho de Erédia (ms. original c. 1620) corresponde à simplificação de um protótipo desconhecido do Livro de Resende, tendo evidentes analogias com o códice de Paris[14] . Os detalhes são de tal forma expurgados, de modo a valorizar a muralha e demais pontos defensivos, que Wangxia eclipsa-se por completo do desenho. Esta imagem é decalcada na carta gravada de “Macao” que surge a acompanhar o vol. III da Asia Portuguesa de Manuel de Faria e Sousa (Lisboa, 1675)[15] . Outra simplificação um pouco diferente do modelo do Livro de Resende – onde reaparece Wangxia, mas se reduz ainda mais a densidade edificada intramuros –, encontra-se na planta do “Porto de Macao” inserta no Livro de Plataforma das Fortalezas, Cidades, e Povoaçois do Estado da India Oriental (ms. c. 1640)[16] .
Usos chineses do “modelo
de Resende”
Foram recentemente identificadas nas colecções públicas chinesas duas pinturas de Macau, as quais incluem, sobrepostos ao desenho original, legendas em manchu mais ou menos extensas. Fora este pormenor, é patente que as imagens em causa constituem simples variações sobre o modelo de Resende, com traços pictóricos de exclusiva inspiração europeia. Apesar das diferenças que exibem entre si, comungam também de certo tipo de originalidades em relação àquele modelo, o que prova que existiu uma estreita interdependência entre elas. Seguindo a ordem pela qual têm aparecido reproduzidas, a primeira corresponde a uma pintura que os catálogos sugerem datada de c. 1679-1682[17] , enquanto sobre a segunda apenas se indica que terá sido elaborada nos primeiros tempos da dinastia Qing[18] .
A mais precisa destas duas datações remete-nos, de imediato, para o tempo da missão diplomática que o cidadão de Macau Bento Pereira Sarmento de Faria conduziu a Pequim, em nome dos interesses da sua cidade, em 1678. Pouco antes, desenrolara-se a embaixada de Manuel de Saldanha a Pequim (1667-1670), mas sucede que é a propósito da missão de Bento Pereira que surge a notícia de que a delegação portuguesa levava como presente uma pintura representando Macau, a qual tinha sido executada por um pintor local pelo preço de dois pardaus[19] . Sucede também que a segunda destas imagens está pintada sobre uma tela envernizada de dimensões consideráveis (101x185 cm). Como Bento Pereira partiu para Pequim no início de 1678 – e como é elevada a probabilidade de alguma destas peças coincidir com a que então levou consigo para a Corte do imperador Kangxi –, além de insistirmos na origem portuguesa ou macaense de ambas, devemos considerar a hipótese de qualquer delas ter sido executada por volta de 1678.
Olhando o panorama do casario – de um imaculado branco mediterrânico – que a primeira destas imagens oferece, detecta-se que tal representação está mais próxima do traço original de Barreto de Resende do que de qualquer uma das posteriores simplificações do respectivo modelo já descritas (figura 3). As principais diferenças face a esse mesmo modelo de partida traduzem-se no acrescento de alguns perímetros amuralhados e na supressão de outros, numa maior precisão do risco da maioria das fortalezas e peças de artilharia, nas bandeiras com a cruz de Cristo levantadas dentro dessas fortalezas e na aparente ausência da silhueta de qualquer navio – dizemos aparente porque alguma ou algumas das nove grandes legendas em manchu que, manifestamente, foram acrescentadas ao desenho poderá ter ocultado o bosquejo de uma ou mais embarcações. A propósito destas 9 legendas, importa ainda notar que assinalam as 7 baterias e fortalezas principais, as Portas do Cerco e o templo de A-Má. Com excepção daquela que se reporta a estes dois últimos sítios, a informação nelas contida respeita apenas a matéria militar, designadamente ao número e à qualidade das peças de artilharia[20] .
Temos notícia de que o imperador Daoguang recorreu à cartografia ocidental de Macau, por interposto Zaobanchu (Direcção de Obras do Neiwufu, ou Administração da Casa Civil do Imperador), quando teve de decidir sobre o destino da colónia lusa no contexto marcado pelo enfrentamento entre as teses do lobby anti-cantonense (acolhidas na intenção imperial de arrasar todo o sistema defensivo de Macau) e as pretensões do alto funcionalismo civil e militar de Cantão (o qual, a propósito da matéria crucial do tráfego do ópio, em 1835 apelou em uníssono e veio a conseguir impedir a concretização dessa mesma intenção)[21] . A partir da letra do despacho em causa (recebido no 17º dia da 12ª lua do 14º ano do reinado de Daoguang, i.e. 3 de Abril de 1835), já foi sugerida a hipótese do imperador ter então manuseado este mapa legendado em manchu[22] . Em qualquer caso, devemos notar que a ordem imperial que esteve na origem do memorial ao trono dos “advogados” cantonenses de Macau – dada no 25º dia da 10ª lua do 14º ano do reinado de Daoguang (25 de Novembro de 1834) – apresenta uma contabilidade das peças de artilharia distribuídas pelas fortalezas da cidade bastante diferente daquela que temos neste mapa, pelo que preferimos ser mais cautelosos e não forçarmos tal associação[23] .
A segunda das referidas pinturas de Macau alonga em relação à
anterior a representação do conjunto do território sem
que, no entanto, desse prolongamento (longitudinal) resulte qualquer ganho informativo
de monta. A este propósito, a ideia que fica é a de que se tratou
apenas de ajustar a imagem que ia ser copiada à forma e às dimensões
da tela disponível. Esta pintura não traz as extensas legendas
informativas que assinalámos terem sido acrescentadas à gravura
precedente. Em compensação, mostra maior densidade dos edifícios
implantados intramuros, acrescenta algum casario tanto nos terrenos situados
entre a fortaleza do Monte e as Portas do Cerco como na Ilha Verde, para além
de multiplicar o número de cais que bordejam o Porto Interior. De qualquer
modo, pelo menos em pormenores como as fortificações, as peças
de artilharia nelas dispostas, ou a geografia das ilhas que rodeiam Macau, confirma-se
que existe um vínculo directo entre esta imagem e a anterior gravura
pertencente aos arquivos chineses: em nenhuma das outras várias versões
do desenho de Resende que já conhecíamos foram desenhados assim
esses mesmos pormenores.
A atestar a popularidade do modelo genérico de Barreto de Resende, existem as duas vistas de Macau reproduzidas, já no século XVIII, nas tampas de duas arcas de madeira lacada de negro e ouro. Trabalhos chineses de encomenda portuguesa quase idênticos, integram, respectivamente, as colecções do Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa)[24] e do comandante Alpoim Calvão (Cascais)[25] . No centro da moldura superior do primeiro destes exemplares pode ler-se: “MACAO ANNO DE 1746”. Sendo certo que, por exemplo, faz desaparecer boa parte da muralha, que já representa a fachada de pedra da igreja de S. Paulo (concluída c. 1637) e que trabalha a vegetação de acordo com um gosto oriental, o modelo tomado é ainda o de Resende.
Pertence também a um tempo cronológico ligeiramente adiantado em relação àquele que elegemos para este artigo o mapa de Macau que faz parte da Guangdong Tongzhi (Monografia Geral da Província de Cantão), de 1731[26] . Apesar de se tratar de um objecto cartográfico de elaboração chinesa, importa referi-lo aqui atendendo às impressionantes semelhanças que se observam entre esta representação e o desenho de Macau difundido por Barreto de Resende. Mais: a sua influência na cartografia chinesa posterior foi de tal ordem que o mesmíssimo traçado de 1731 – onde é patente um claro hibridismo sino-português ou sino-europeu – voltará a ser escolhido para representar o espaço macaense numa obra de “geografia política” tão tardia como a Aomen Jilüe (Monografia Abreviada de Macau) de Yin Guangren e Zhang Rulin (1.ª ed. 1751; figura 4)[27] . O mesmo acontecerá na edição actualizada da Guangdong Tongzhi publicada em 1822 e devida ao erudito, bibliófilo e à data vice-rei dos Dois Guangs Ruan Yuan[28] . Neste último caso, acrescentou-se a representação de Qianshan (Casa Branca), a pequena cidade onde residia um dos mandarins que detinha jurisdição no território de Macau. Tal surge de acordo com a forma convencional das cartas chinesas, quer dizer, como uma fortaleza circular, com as entradas assinaladas por grandes pórticos e o interior preenchido por legendas e um conjunto mínimo de edifícios, mas de proporções propositadamente exageradas. Como resultado de tudo isto, duas tradições cartográficas distintas, e aparentemente inconciliáveis, fundiram-se num mesmo mapa.
No capítulo da cartografia chinesa manuscrita, há também
que deixar aqui uma nota sobre um mapa do início do século XIX
que representa o Sul da ilha de Xiangshan, de novo segundo uma perspectiva tomada
de Oeste. Além de Macau, também abrange o perímetro de
Qianshan, este desenhado outra vez de acordo com os padrões de figuração
chineses[29] . Este mapa foi
concebido para ser anexado a um memorial ao Trono apresentado pelo vice-rei
de Cantão, Wu Xiongguang, em 1808[30]
. No sector ocupado pelos portugueses, dá a ver pouco mais ou menos
o mesmo perfil urbano saído das mãos de Barreto de Resende, salvo
no pormenor dos muros e fortificações – que aqui não surgem,
com excepção das Portas do Cerco. Muitas das principais formas
de relevo das áreas que circundam a península evocam as que encontrámos
no mapa de Macau que incorpora extensas legendas em manchu. Exactamente como
nesse outro mapa, também este difere dos desenhos de Macau produzidos
a partir do padrão de Resende que existem nas colecções
europeias porque, ao contrário destes, assinala o local dos principais
postos defensivos com várias bandeiras.
Uma legenda escrita sobre o Canal da Taipa instrui sobre a presença de navios ingleses na zona. Outras legendas noticiam que “os soldados e bárbaros do Oceano do Oeste” (por Portugal) foram substituídos em algumas fortalezas pelos “soldados bárbaros ingleses”, ajudando a situar o contexto em que a carta foi desenhada: depois de cerca de seis anos durante os quais a presença de navios britânicos nas proximidades de Macau foi constante, em Setembro de 1808 uma força expedicionária comandada pelo almirante Drury, comandante-chefe das Forças Navais Britânicas nos mares da Ásia, desembarcou no território, ocupou as fortalezas da Guia e do Bom Parto, tendo reembarcado no final desse ano, pressionada pelos cerca de 80.000 homens que o exército chinês entretanto fizera avançar até às portas da cidade[31] . Em qualquer caso, o que, acima de tudo, torna a impressionar nesta imagem urbana de Macau é a semelhança que ela oferece em relação ao longínquo arquétipo resendiano[32] .
Macau em mapas
regionais e cartas náuticas portuguesas
Nada tem a ver com o modelo de Pedro Barreto de Resende o desenho da cidade de Macau que surge no desenho aguarelado de Cantão e do delta dos rios do Oeste e das Pérolas, de Ainão até Lantau, apenso às Aduertencias ha Coroa del Rey Dom João 4º do antes mencionado Jorge Pinto de Azevedo (figura 5). Ao invés do texto em si – que visa caracterizar a situação portuguesa no Oriente e propor soluções para a crise em que vivia mergulhada em meados do século XVII –, não é líquido que o mapa em causa tenha sido obra deste português então residente em Macau (ms. 1646)[33] . Tal não invalida que, pelo menos, tanto para as legendas como para a representação das construções das cidades e povoados ou das áreas agricultadas, o traço seja declaradamente português/europeu. Mas já o esquema global corresponde, grosso modo, ao das cartas gerais chinesas da província de Guangdong. A atenção está centrada na massa continental, reduzindo-se ao mínimo os elementos respeitantes à península macaense, os quais são desenhandos sem perspectiva e muito desproporcionados: Portas do Cerco, muralha do lado Norte, principais acidentes topográficos, 4 edifícios (distribuídos de forma muito parecida às igrejas representadas na planta de Erédia) e cinco pontos providos de peças de artilharia (provavelmente, as fortalezas ou os fortes de S. Paulo, S. Francisco, Guia, Bom Parto e Barra). Percebe-se que fosse esta a escala eleita pelo autor das Aduertencias já que, no seu texto, Pinto de Azevedo demora-se na planificação de um ataque militar a Cantão a partir de Macau e na subsequente ocupação dos “rios e mar da pintura” (Aduertencias, fol. 27r.).
A escala empregue torna a condicionar a pormenorização dos elementos
do edificado urbano que nos é dada a ver no desenho de “Macao” inserto
numa das mais antigas representações da respectiva península:
a que se descobre na carta náutica das ilhas do estuário dos rios
do Oeste e das Pérolas, manuscrito a tinta da China e aguadas a cores,
sobre pergaminho, que existe na Biblioteca Nacional de Lisboa[34]
. Trabalho anónimo, mas que apenas incorpora topónimos portugueses,
cremos que seja datado do início do século XVII. À semelhança
do mapa de Pinto de Azevedo, tem o Norte no topo e abrange uma extensa linha
de costa, neste caso começada a marcar um pouco a ocidente da “I[lh]ª
Alta” e interrompida, a Oriente, por alturas de “Lantao falso”[35]
, frente a uma correnteza de ilhas dispostas com uma orientação
N.E.-S.O. e de que fazem parte as “de pedra”, “de Lema”, “Furada”, “Lemy” e
“atravessada”. Perto do centro deste troço de litoral surge a foz do
“Rio de Camtaõ”.
Cabem
dentro do perímetro da pequena península que constitui a
extremidade Sul da ilha de “Amçaõ” (Anção/Xiangshan)
a legenda que indica Macau, tal como outra que situa a “porta do cerco”
e, ainda, a quadrícula de uma fortaleza. Esta última está
desenhada na proximidade do extremo S.O. da península, à
entrada da barra do Porto Interior. Se a sua forma evoca as representações
canónicas da fortaleza de S. Paulo, já esta localização
equívoca remete, antes do mais, para o sítio onde se erguia
o Forte do Patane ou da Palanchica, desarticulado em 1604 por imposição
das autoridades chinesas. O ancoradouro do Porto Interior é ilustrado
por um signo convencional, a Sul da “I[lha] verde” (Qingzhou), enquanto
na parte Norte da ilha de Xiangshan uma legenda indica a localização
da “casa branca” (Qianshan). É nítido que esta carta foi
pensada para auxiliar navegação que entrava e saía
da barra de Macau. Tal explica a inscrição de escalas ao
longo das esquadrias inferior e direita, o desenho de uma rosa-dos-ventos
e a marcação de linhas de rumo. O mesmo propósito
prático condiciona o facto de estar despida de qualquer desenho
de construções, salvo o daquelas duas que são visíveis
em Xiangshan, mais uma terceira a assinalar o lugar da morte de S. Francisco
Xavier, na ilha de “Samchoaõ Verd[adei]ro”[36]
.
Ainda antes de se iniciar a circulação do modelo de Pedro Barreto de Resende por via do Livro das Plantas de Bocarro, os impressores Hans-Theodor e Hans-Israel de Bry imprimiram uma vista de “Amacao” no vol. VIII da edição alemã das suas Petits Voyages (Frankfurt-am-Main, 1606; ed. idêntica em latim, Frankfurt-am-Main, 1607)[37] . Este título designava a série “oriental” da colecção de relatos de viagem dita Collectiones Peregrinationum in Indiam Oriental et Indiam Occidentalem, programada e lançada pelo famoso cartógrafo e editor flamengo Theodor de Bry, pai de ambos (25 vols., 1590-1634).
Esta vista de Macau – que foi a primeira gravura deste território a ser impressa na Europa (figura 6) – é tomada do mesmo ângulo escolhido por Barreto de Resende. O enquadramento também é idêntico. Já os contornos do litoral estão um pouco modificados, sobretudo em consequência de um prolongamento claramente arbitrário do extremo S.E. da península em direcção a Oriente, como que para permitir um maior equilíbrio estético ao conjunto. As partes altas do terreno são sinalizadas por pequenas elevações, o que contribui para dar a perspectiva de uma cidade quase plana. Em relação ao desenho de Resende, o número de casas é reduzido, é ampliada a dimensão de cada unidade do edificado (que ganha formas norte-europeias), conserva-se a ideia de distintos núcleos distribuídos de modo anárquico, assim como a presença dominante de algumas igrejas, diante de amplos terreiros. Também se mantém a leitura original de Resende de duas zonas de ancoragem (Porto Interior e Praia Grande). Apenas existe um pequeno troço fortificado no sector Norte. A Norte da Praia Grande, inventa-se a presença de uma estrutura exótica, talvez para sugerir um templo chinês. Há cenas de lavoura, de mar e de transporte de bens, destacando-se as figuras que carregam liteiras e aquelas de homens ocidentais que atravessam as ruas protegidos por guarda-sóis empunhados por escravos ou serviçais, tal qual em muitas gravuras holandesas da época que ilustravam a vida dos portugueses na Índia.
Composição em boa medida aleatória, sobre um protótipo que pode ter sido comum ao que serviu a Resende c. 1635 (o que não surpreende, sabendo-se da intensa circulação de espécimes cartográficos lusos nos Países Baixos a partir de finais do século XVI)[38] , a vista de Macau editada pelos irmãos De Bry em 1606 e 1607 vai servir de modelo a múltiplas gravuras holandesas, alemãs, inglesas, venezianas ou francesas do século XVII. É o caso da representação que surge na margem do mapa da Ásia de Willem J. Blaeu de 1608, em cuja gravação terá colaborado Hessel Gerritsz (Nova et exacta Asiæ geographica descriptio; reed. Henricus Hondius, 1624. Reeds.: W. J. Blaeu, 1612; H. Hondius, 1624; A.-H. Jaillot, 1679) – referência apenas às cópias disponíves e datadas)[39] . A mesma representação reaparece nas margens dos mapas da Ásia de W. J. Blaeu de 1617 (Asia noviter delineata, com várias reedições até ao final da década de 1650), de Pieter van den Keere de 1614, de J. Hondius de 1619 e 1623 (Asia recens summa cura delineata) e de John Speed de 1627 (in Prospects of the Most Famous Parts of the World; 9 reeds. até 1676), na margem dos mapas-múndi em 2 hemisférios de anónimo-Petrus Plancius de c. 1619 e de P. Plancius de 1607, editado por Cornelis Danckerts em 1651 (Universi orbi tabula de integro delineata), ou, ainda, nas margens da imitação veneziana do original de W. J. Blaeu editada por Stefano Scolari (1646) e do New, Plaine, and Exact Map of Asia de Robert Walton (1658).
Numa estampa de “Maccavw” reproduzida na colectânea Begin ende Voortgangh Van de Vereenighde Nederlantsche Geochtroyeerde Oost-IndischeCompagnie, que Isaac Commelin editou e reeditou em Amesterdão entre 1645 e 1646, voltamos a ter uma vista assaz simplificada e fantasiosa tomada da ilha da Lapa. Ainda que denunciando bastantes traços do esquema dos De Bry, este desenho – que acompanha a descrição da viagem que o médico Seyger van Rechteren realizou à Ásia do Sueste e à China entre 1629 e 1633 por conta da Companhia Holandesa das Índias Orientais – tem a vantagem de reintroduzir o essencial do relevo e de precisar os principais sítios fortificados e outros elementos mais salientes, como a grande escadaria de S. Paulo[40] .
Bastante mais tarde, tornará a ser impressa no vol. IX de Recueil des Voyages qui ont servi à l’établissement et aux progrès de la Compagnie des Indes Orientales, correspondente à versão francesa do trabalho holandês de Commelin apresentada por René-Augustin Constantin de Renneville (1.ª ed. Amesterdão, 5 vols., 1702-1706).
A vista de “Makou” que ilustra o livro Het Gezantschap Der Neerlandtsche Oost-Indische Compagnie, Aan Den Groten Tartarischen Cham, Den tegenwoordigen Keizer Van China, de Jan Nieuhoff (1.ª ed. Amesterdão, 1665), quase tomada do nível do mar e salientando apenas os cumes do N.E. da península, multiplica os perfis artificiais típicos de uma cidade do Norte da Europa inaugurados pelos De Bry e reforçados por Commelin (figura 7)[41] . Em compensação, encontramos uma leitura muito mais fina da península de Macau nas duas aguarelas coloridas que integram o Atlas manuscrito de Johannes Vingboons, de c. 1665. Uma delas leva por título “De Stadt Macao” e faz figurar vários navios holandeses ancorados no Porto Interior, o que sugere que o desenhador poderá ter reconhecido o local ao viajar num deles [42] . Se assim foi, também é possível que se tratasse de uma das várias expedições holandesas que navegaram até Cantão entre 1653 e 1657[43] . Mais uma vez, a cidade é tomada em perspectiva deslocada 90º para Oeste. Sobressai a minúcia com que são traçadas as fortificações e os edifícios mais relevantes, todos eles acompanhados por uma breve legenda.
Na segunda das aguarelas de Macau do Atlas de Vingboons conserva-se a
perspectiva aérea, mas substitui-se a representação das
áreas urbanizadas intramuros e extramuros pela geometria própria
de uma planta (figura 8)[44] .
Em relação àquela primeira imagem, percebe-se que aqui
se estende mais para Norte a área coberta pela representação,
que desse modo chega a abranger as Portas do Cerco. O título está
ajustado ao conteúdo: “Platte Gronde van Stadt Macao, waer ia aen geweesen
wordt de voornamste Plaetsen der Stadt” (Grande Plano da Cidade de Macau, onde
se indicam os principais sítios da cidade). Estes dizeres aparecem no
topo do desenho, enquadrados por uma moldura onde consta a legenda correspondente
a 26 pontos da carta, tanto da área terrestre como das águas do
Porto Interior[45] . Já
no século XVIII, a “Platte Gronde vande Stadt Macao”, impressa por François
Valentyn na colecção de relatos de viagem dos holandeses à
Ásia que intitulou Oud en Nieuw Oost-Indiën (Dordrecht e
Amesterdão, 1724), reproduz a imagem exemplar da obra de Vingboons[46]
.
As cartas chinesas que representam Macau nos primeiros cerca de 150 anos da presença portuguesa no território tendem a fazer figurar o espaço ocupado pelos europeus num quadro regional mais amplo, seja ele o do distrito de Xiangshan, o da prefeitura de Guangzhou, seja ainda o do litoral da província de Guangdong. Daí que os mapas chineses de Macau das dinastias Ming e Qing que olharemos a seguir ofereçam, por regra, uma informação muito menos detalhada sobre o urbanismo e a arquitectura erigida no território do que a cartografia de origem ocidental. Considerando apenas os aspectos associados à representação espacial, depreende-se, assim, que são relativamente escassas as possibilidade de confronto directo entre os exemplares de tradição chinesa e de tradição europeia da mesma época.
Apesar de se tratar de uma peça cartográfica anterior à instalação dos portugueses em Macau, terá todo o interesse começar por assinalar a representação do local do futuro espaço macaense que encontramos num dos vários mapas insertos na Xiangshan Xianzhi (Monografia do Distrito de Xiangshan), uma história local pioneira concluída em 1547[47] . Esse local surge aí representado em forma de ilha e assinalado com o nome de Fenghuangshan (Monte de Fénix). Acrescente-se que, em chinês arcaico, “ilha” é também chamada “monte”, no sentido de um pico que emerge do mar: daí que Monte de Fénix seja equivalente a Ilha de Fénix.
Ainda que com contornos algo mais “realistas” do que aí, a mesma imagem convencional insular do local onde entretanto se implantara Macau não deixa de nos reaparecer, por exemplo, nos mapas que representam o litoral de Guangdong de Chouhai Tubian (Defesa Marítima Ilustrada)[48] . Esta obra está atribuída a Zheng Ruozeng e foi xilogravada em 1562 – num contexto, portanto, em que os poderes regional e central chineses já têm que incluir a colónia lusa na equação mais ampla que avalia os problemas da defesa marítima do império e, em particular, a preocupação administrativa principal correspondente ao contrabando e à pirataria.
Uma década depois, a península de Macau torna a aparecer identificada como um perímetro insular noutro mapa que representa a província de Guangdong, este pertencente a Zheng Kaiyang Zazhu (Miscelânea de Zheng Kaiyang), também da autoria de Zheng Ruozeng[49] . Tal como no mapa anterior, a toponímia que a identifica passa a ser Aoshan (Monte ou ilha da Baía). Para além disso, continuam a não se visualizar aqui os principais elementos estruturantes do recente assentamento urbano colonial já que, ao invés do que nos habituámos a reconhecer na cartografia de tradição ocidental, boa parte da informação está contida nas anotações e legendas. Trata-se de uma ocorrência própria de muitos dos mapas chineses tradicionais, que tantas vezes privilegiam a apresentação verbal de informação histórica e geográfica, contra uma relativa secundarização do desenho – ou da “exactidão” do desenho – dos pormenores do espaço físico[50] . Apesar de estarmos perante mapas que fixam orlas costeiras, outra característica inconfundível de qualquer destes espécimes chineses prende-se com a forma ameaçadora como nos aparece tratado o mar. Este meio geográfico surge sempre preenchido com ondas alterosas, símbolo poderoso daquela filosofia cultural e política “introspectiva” própria de uma civilização agrária que, mais do que nunca, se fechava sobre si própria[51] .
Duas outras peças do século XVI que continuam a representar os litorais de Guangdong servir-nos-ão agora para exemplificar um tipo de olhar cartográfico algo mais “fino” que os chineses também souberam lançar sobre o território de Macau poucos anos volvidos sobre a instalação da comunidade portuguesa. A primeira corresponde à carta incluída em Cangwu Junmenzhi (Topografia Militar do Distrito de Cangwu), a qual foi traçada antes de 1579 (figura 9)[52] . A segunda – praticamente idêntica àquela, incluindo nas legendas, facto que indicia tratar-se de uma simples reprodução – é a carta de 1595 que foi inserida em Qiantai Wocuan (Informações sobre a Pirataria Japonesa), da autoria de Xie Jie[53] .
Nestes dois casos, algumas das instruções mais relevantes tornam a descobrir-se no texto sobreposto à imagem cartográfica. Assim, no lugar onde está o Canal da Taipa encontramos a seguinte legenda: “Shizimen Ao Yichuan Boci Aonei” (Baía da Porta de Letra Dez [ou da Cruz]. Os barcos bárbaros ancoram aqui)54] – a alusão aos portugueses é óbvia. A área que corresponde ao Porto Interior apresenta dimensões excessivamente ampliadas para os padrões ocidentais de representação cartográfica e surge identificada com o nome de Xiangshan’ao (Baía do Monte Odorífero). Uma legenda complementar, que cobre o N.O. da península, esclarece: “Yichuan Boci Aonei” (Os bárbaros vivem aqui). Tal serve para confirmar a ideia de que o primitivo estabelecimento dos portugueses se situava na Praia Pequena, nas margens do Porto Interior, no lugar depois chamado Chão do Campo de Patane e que também recebeu o nome chinês de Shalitou (Cais de Pêra Arenosa).
Passamos à cartografia chinesa de Macau do século XVII servindo-nos
para o efeito do mapa xilogravado do litoral de Guangdong apenso a Yuedaji
(Grande Crónica de Guangdong), de Guo Fei, terminado por volta
de 1602 (figura 10)[55] . Assim
como nas duas cartas anteriores, na secção deste mapa onde se
representa Macau sobressai o facto do respectivo traçado ampliar em demasia
– de novo, de acordo com os critérios figurativos da cartografia europeia
– as proporções do Porto Interior. Sobre este, estão ancorados
dois navios, assinalados por uma legenda que diz “Fanchuan” (barcos bárbaros).
Neste caso, basta a observação das figuras desses navios para
concluir que se trata de embarcações portuguesas. Figuras idênticas
reaparecem nos segmentos da mesma gravura dos litorais de Guangdong que cobrem
a área situada entre Sanchoão e a actual Hong Kong[56]
. Tal assinala-nos os antigos ancoradouros lusos no litoral de Cantão
– ou, pelo menos, serve como testemunho impressivo da diversidade de sítios
que os portugueses então frequentavam nessa zona.
Voltando à secção onde está Macau, constata-se que o estabelecimento português já se encontra representado com meia dúzia de construções, acompanhadas por uma legenda que indica: “Fanren Fangwu” (casas dos bárbaros). Uma outra legenda, com sete caracteres que se transcrevem “You Lulu Zhi Xiangshanxian” pode ser traduzida assim: “Por aqui, e pela via terrestre, chega-se ao distrito de Xiangshan”. Na extremidade E. da península, três outros caracteres designam o local da aldeia de Mongha (Wangxia). Trata-se da única povoação destacada no conjunto, o que ajuda a perceber que se tratava, senão de um dos mais antigos povoados da península, pelo menos do único que, nesta altura, já adquirira dimensão suficiente para merecer ser assinalado cartograficamente. Sobre as águas que estão diante do Templo da Barra, uma breve legenda diz “Yamagang” (literalmente, “Baía ou Porto da Deusa A-Má”).
São quase idênticos os dois belos mapas do distrito de Xiangshan
insertos no Guangzhoufu Yutu (Atlas da Prefeitura de Cantão
da Província de Guangdong), o primeiro dos quais elaborado para o
governo imperial no 24.º ano do reinado de Kangxi (1685; figura 11)[57]
. Tirando partido de uma hábil combinação de cores
de tons claros e escuros que evoca alguma da mais divulgada pintura chinesa
de paisagens da época, estes mapas oferecem uma imagem pormenorizada
da ilha de Xiangshan, tomada em perspectiva do quadrante Sul. Destacam-se aí
os principais acidentes do relevo (todos eles identificados pelos respectivos
topónimos) e os perímetros murados da cidade de Xiangshan, no
extremo N.O. da ilha, e do posto militar de Qianshan (Qianshanzai = Vila Fortificada
da Casa Branca), no limite S.E. da mesma, diante do istmo que tem do outro lado
Macau. Tal como o corpo principal de Xiangshan, a península macaense
surge disposta no sentido O.-E., com Wangxia assinalada no campo extramuros.
Todo o edificado do território de Macau apresenta formas orientais e
está pontualmente agrupado em pequenos núcleos. Como dissemos,
os pormenores dessas construções são muito menos esclarecedores
do que aqueles cedidos pela maioria das representações cartográficas
ocidentais mesmo período. Ainda assim, não passa despercebido
que o número de edifícios representados no enclave luso supera
em muito o número daqueles que figuram dentro do perímetro da
própria capital de distrito. No mesmo sentido, constata-se que a área
da península de Macau está sobredimensionada em relação
à restante área da ilha de Xiangshan. No segundo destas mapas,
lemos alguns caracteres ao lado de duas construções situadas em
Macau (“Haojing Aoshan” = Monte ou Ilha da Baía da Vieira) e junto das
casas que representam Wangxia.
É da mesma época a grande carta oficial da prefeitura de Cantão
que aparece pintada a cores sobre suporte de seda e que, como as duas precedentes,
também permanece à guarda do antigo Arquivo Imperial, em Pequim[58]
. Tem Cantão e a sua dupla muralha no centro do desenho, e inclui
múltiplas legendas que identificam a divisão administrativa da
prefeitura, os principais caminhos terrestres, as montanhas e os rios. Esta
é a prática habitual nos mapas regionais chineses, que tendem
a traduzir as preocupações administrativas subjacentes à
sua produção com a marcação da capital administrativa
nas proximidades do respectivo centro geométrico, acompanhada do sacrifício
da maioria dos pormenores urbanos, excepto as muralhas, que se desenham com
dimensões exageradas. Enquanto isto, a ilha de Xiangshan surge na margem
inferior do desenho, praticamente alinhada com a capital provincial.
Tanto a escala utilizada para a representação como os critérios estéticos ou administrativos que condicionam a produção desta carta, acarretaram uma extrema simplificação dos pormenores relativos à ilha de Xiangshan, sobretudo no que respeita ao registo das principais formas de relevo. Os caracteres que indicam Xiangshanxian e Qianshanzai voltam a aparecer desenhados no interior (quase sempre vazio) dos respectivos muros circulares. Confrontando este desenho de Xiangshan com o que está nas duas cartas anteriores, detecta-se, de imediato que a sua forma surge agora alongada no sentido N.-S. Por contraste, o território de Macau não só conserva a disposição O.-E. que vinha nesses dois mapas, como perde proporcionalmente menos detalhes relativos aos principais acidentes topográficos que o enquadram.
Tal acabará por suceder num mapa da província de Guangdong, pintado a cores sobre suporte de seda que, segundo o Tianxia Yuditu Zongzhe (Memorial Geral ao Trono sobre a Cartografia Nacional [da China]), foi realizado para a Casa Civil em 1692[59] . Aí, é patente que uma escala ainda mais reduzida acabou por impor nova simplificação da geografia interior da ilha de Xiangshan. Curiosamente, enquanto os contornos do seu sector principal surgem decalcados da carta da prefeitura de Cantão que acabámos de analisar, a leitura do território de Macau desentende-se quase por completo de qualquer das cartas chineses mais antigas que analisámos, seja ao nível da forma (que agora como que se “enche”, a ponto de surgir quase circular), seja ao nível da distribuição dos pormenores do terreno (do qual tudo “desaparece”, excepto o traço das Portas do Cerco, a Norte, e o cume montanhoso do extremo oposto). A Sul das Portas do Cerco, há uma legenda cujos caracteres servem para dar nome ao conjunto do lugar: “Aomen” (Porta da Baía). Sobre a única forma de relevo representada voltamos a ler “Haojing Aoshan”. Uma terceira legenda indica “Sizimen” (Canal da Taipa).
Se a cronologia estimada estiver correcta, em pleno século XVIII ainda conseguimos encontrar numa carta chinesa manuscrita esta figuração de Macau como uma quase circunferência de grandes proporções, de tal modo que apenas o estreito segmento fronteiriço do istmo impede que o território apareça como uma das principais ilhas de todo o litoral compreendido entre o Guangdong e o Mar Amarelo. Referimo-nos àquele usualmente catalogado como Shiwushen Zongtu (Mapa Geral das Quinze Províncias), pintado a cores sobre suporte de papel, e que se calcula tenha sido elaborado durante o reinado do imperador Kangxi (1661-1722)[60] . Trata-se de mais um exemplo da extrema longevidade de certos modelos cartográficos e das implicações que daí decorreram para o realismo e a fidelidade dos espaços codificados nos mapas – salvaguardando sempre, como é evidente, que os conceitos de “realismo” e “fidelidade” aplicados às cartas geográficas ocidentais pouco ou nada têm que ver com o complexo jogo de símbolos que condiciona toda a cartografia chinesa tradicional.
Síntese: coincidências
instrumentais em estéticas diferentes
Fixando-nos nos termos estritamente associados à produção e à difusão do conhecimento cartográfico, a primeira ideia que ressalta da análise comparativa dos espécimes europeus do século XVII que representaram Macau diz respeito ao predomínio de um modelo de representação relativamente homogéneo e duradouro. Sabemos que quando Filipe III de Portugal ordenou ao vice-rei de Goa, em 1632, o levantamento de cartas náuticas e de plantas de cidades e fortalezas do Estado Português da Índia, António Bocarro e – sobretudo – Pedro Barreto de Resende satisfizeram boa parte do encargo com recurso a propótipos já existentes à época. A comparação entre vários dos desenhos que Manuel Godinho de Erédia inseriu num atlas intitulado Plantas de Praças das Conquistas de Portugal (ms. 1610) e desenhos traçados por Resende vinte ou trinta anos depois evidenciam isso mesmo. De facto, nem em versões substancialmente corrigidas e alargadas do Livro das Plantas de Bocarro de 1635, como o dito “Sloane Ms. 197” do British Museum, de 1646, Resende logrou dispensar o recurso a plantas que já se encontravam nos compêndios cartográficos de Erédia[61] .
Ainda que disponhamos de poucos testemunhos concretos equivalentes a este, possuímos indícios suficientes para perceber que, na altura em que Resende desenhou as plantas do Livro de Bocarro, há décadas que se vinha produzindo um razoável número de peças cartográficas do mesmo teor. São disso exemplo as vistas de povoações e fortalezas incluídas nas Lendas da Índia de Gaspar Correia (crónica manuscrita de meados do século XVI), as quais foram executadas a pedido do rei D. João III. O mesmo se poderá dizer dos levantamentos que deverão ter sido determinados pelo italiano Giovanni Battista Cairati, engenheiro-mor do Estado Português da Índia entre 1583 e 1596. Outro tanto se depreende compulsando o chamado Livro das Cidades, e Fortalezas, qve a Coroa de Portugal tem nas partes da India (ms. c. 1582)[62] ou a Relação das Plantas, & descripsões de todas as Fortalezas, Cidades, & Povoações que os Portuguezes teem no Estado da India Oriental (cópia manuscrita do séc. XVIII de um original realizado entre 1622 e 1633)[63] .
Muito provavelmente, será por causa da extensão temporal deste tipo de vícios de consanguinidade que as primeiras gravuras de Macau impressas na Europa – e, desde logo, o “sub-protótipo” oferecido nas Petits Voyages dos irmãos De Bry, em 1606-1607 – apresentam afinidades evidentes com a imagem que, bem mais tarde, veio a ser produzida em Goa por Resende. Há ainda muito por esclarecer a respeito do modo como alguns dos mais importantes levantamentos cartográficos ultramarinos realizados pelos portugueses foram desviados para o estrangeiro e acabaram difundidos através da gravura editada noutras partes da Europa, em particular nos Países Baixos. Seja como for, basta lembrar os mapas inspirados nos de Bartolomeu Lasso que Jan Huygen van Linschoten incluiu no Itinerario, Voyage ofte Schipvaert naer Oost ofte Portugaels Indien (Amesterdão, 1596) ou os preciosos roteiros portugueses que o mesmo Linschoten traduziu para o também seu Reys-gheschrift van de Navigatien der Portugaloysers in Orienten (Amesterdão, 1595) para visualizarmos o essencial do mecanismo de transmissão aqui implícito. Qualquer destes títulos consta entre os que mais contribuíram para gerar um ambiente favorável aos projectos expansionistas holandeses, ingleses e, até certo ponto, franceses – ajudando, assim, de forma decisiva, ao início da segunda expansão europeia[64] .
Dado o valor incomparável de boa parte da cartografia ultramarina portuguesa, quando a competição entre os impérios europeus passou a ser declarada e aberta, persistiu o mesmíssimo circuito subterrâneo de transmissão dos segredos lusos às oficinas de produção cartográfica da Europa do Norte. Caso paradigmático é o do negociante de mapas Pieter Mortier, editor da Suite du Neptune François ou Atlas Nouveau des Cartes Marines levées par ordre exprès des Roys de Portugal sous qui on a fait la découverte de l’Afrique, etc. (Amesterdão, 1700). Desta vez, os objectos terão sido obtidos por suborno em Portugal, provavelmente na Casa da Índia, por um agente do governo francês de seu nome Jean Frémont d’Ablancourt[65] . Situação extrema parece ter sido a dos levantamentos realizados in loco pelo autor das duas plantas de Macau que acompanham o Atlas de Johannes Vingboons: cartografia de uma cidade que resistiu às sucessivas investidas que os holandeses fizeram para a conquistar, mas que, apesar disso, tem aqui o mais detalhado registo da respectiva forma urbana que conhecemos.
Admitamos que a intenção que presidiu ao trabalho do autor das cartas de Macau do Atlas de Vingboons tenha assentado num projecto de conquista militar semelhante ao assalto gorado de 24 de Junho de 1622. Afinal, sobejam elementos que o poderão indiciar, da contagem exaustiva de peças de artilharia ao número de degraus de acesso à principal fortaleza, passando por legendas de apoio à navegação que assinalam profundidades e baixios. De qualquer modo, cerca de um século antes já os primeiros mapas chineses que representam a colónia lusa revelavam uma preocupação que, no essencial, equivalia a essa. É que, a despeito de traduzirem uma concepção estética que não podia ser mais contrastante com o “hiper-realismo” da cartografia neerlandesa, tais cartas têm sempre subjacente as questões identificadas com a segurança costeira ou a defesa marítima face aos problemas endémicos do contrabando e da pirataria no Mar do Sul da China.
À
medida que o tempo for passando – e que a realidade económica e
urbana da colónia portuguesa se for afirmando diante de Cantão
como uma visibilidade progressivamente maior – os próprios mapas
chineses como que revêem a escala ou o enquadramento da respectiva
representação, ampliando e registando os pormenores mais
salientes do sítio urbano, assim como articulando-o com o todo administrativo
e económico da província de Guangdong e a sua orgânica
defensiva. No limite, quer as autoridades cantonenses quer a Corte de Pequim
acabarão por recorrer à cartografia europeia do território
de Macau de modo a melhor visualizarem os problemas específicos
dessa fronteira do império. E porque não há coincidências
em cartografia, quando o fizerem recorrerão muitas vezes ao mais
conhecido e ao mais sugestivo dos modelos portugueses disponíveis:
o de Barreto de Resende. Será curioso notar que esta célebre
planta de Macau começou por ser divulgada quando o império
português era governado a partir de Madrid (1635), foi incorporada
em cartas chinesas na mesma altura em que a Corte de Portugal se transferiu
para o Rio de Janeiro (1808), e continuou a ser requerida para consulta
na Cidade Proibida no momento em que o imperador Daoguang foi forçado
a decidir pela primeira vez sobre a questão do ópio (1835).
Mudam-se os tempos, mas alguns mapas ficam.
Notas
Siglas
AHNC – Arquivo Histórico Nacional N.º 1 da China, Pequim
AN-TT – Arquivos Nacionais-Torre do Tombo, Portugal
BAL – Biblioteca da Ajuda, Lisboa
BM – British Museum, Londres
BNL – Biblioteca Nacional de Lisboa
BNM – Biblioteca Nacional de Madrid
BNP – Bibliothèque Nationale, Paris
BPE – Biblioteca Pública de Évora
CCCM – Centro Científico e Cultural de Macau
FO – Fundação Oriente, Lisboa
ICM – Instituto Cultural de Macau
IPOR – Instituto Português do Oriente
PMC
– Portugaliae Monumenta Cartographica
Bibliografía
AMARO, Ana Maria. Das cabanas de palha às
torres de betão – Assim cresceu Macau. Lisboa: Instituto Superior
de Ciências Sociais e Políticas & Livros do Oriente, 1998.
As ruínas de S. Paulo – Um monumento para o futuro. Macau; Lisboa: ICM & Missão de Macau em Lisboa, 1994.
BARRETO, Luís Filipe. Cartografia de Macau – Séculos XVI e XVII. Lisboa: Missão de Macau em Lisboa, 1997.
BESSA, Carlos. Macau e a China. Um só combate em rara relação de séculos. In BARATA, Manuel Themudo & TEIXEIRA, Nuno Severiano (dir.). Nova História Militar de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, 2004, vol. 3, p. 315-322.
BOXER, Charles R.. Obra Completa de Charles Ralph Boxer, vol. 1, Estudos para a História de Macau. Séculos XVI a XVIII, t. 1. Lisboa: FO, 1991.
BOXER, Charles R.. Obra Completa de Charles Ralph Boxer, vol. 2, Macau na Época da Restauração (Macao Three Hundred Years Ago). Lisboa: FO, 1993.
BOXER, Charles R.. António Bocarro and the Livro do Estado da Índia Oriental. In BOXER, Charles R.. Opera Minora II. Lisboa: FO, 2002, p. 39-52.
CAÇÃO, Armando. A Fundição do Chunambeiro e as Muralhas de Macau. In PEREIRA, Fernando A. B. (coord.). Os Fundamentos da Amizade. Cinco Séculos de Relações Culturais e Artísticas Luso-Chinesas – Catálogo da Exposição. Macau: CCCM, 1999, p. 71-73.
CALADO, Maria; MENDES, Maria Clara; TOUSSANT, Michael. Macau – Da fundação aos anos 70. Evolução sócio-económica, urbana e arquitectónica. RC. Revista de Cultura, Macau, Janeiro/Abril 1998, 34 (II série), p. 75-146.
Cangwu Junmenzhi [Crónica Militar de Cangwu] Ed. fac-símile da ed. xilogravada de 1579. Pequim: Centro de Reproduções e Microfilmagens das Bibliotecas Públicas da China, 1991.
CARNEIRO, António de Mariz. Descrição da Fortaleza de Sofala e das mais da Índia – Reprodução do cód. Iluminado 149 da Biblioteca Nacional. Nota introdutória e legendas de Pedro Dias. Lisboa: FO, 1990.
CARVALHO, A. Ayres de. Catálogo da Colecção de Desenhos. Lisboa: Presidência do Conselho de Ministros & BNL, 1977.
CID, Isabel. Macau e o Oriente na Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Évora (Séculos XVI a XIX). Macau: ICM & AN-TT & BPE, 1996.
COLOMBAN, Eudore. Resumo da História de Macau, refundido e aumentado pelo editor Jacinto José do Nascimento Moura. Macau: Tipografia do Orfanato da I. C., 1927.
CORTESÃO, Armando; MOTA, Avelino Teixeira da (eds.). Portugaliae Monumenta Cartographica. Lisboa: s.ed., vols. 1 e 3-5, 1960 (reed. 1987).
COSTA, Maria de Lourdes Rodrigues. História da Arquitectura em Macau. Macau. ICM, 1997.
DAVEAU, Suzanne. O novo conhecimento geográfico do mundo. In CAETANO, Joaquim Oliveira (coord.). Gravura e conhecimento do mundo: o livro impresso ilustrado nas colecções da BN. Lisboa: BNL, 1988, p. 127-197.
DAVISON, Julian; TAN Lay Kee. Mapping the Continent of Asia. Singapura: Antiques of the Orient, 1994.
DE BRY, Teodoro. Asia y África (1597-1628). Ed. Gereon Sievernich; traducción Carlos Fortea. Madrid: Ediciones Sirueta, 1999.
Descrição da Fortaleza de Sofala e das mais da India – Reprodução do cód. Iluminado 149 da Biblioteca Nacional. Nota introdutória e legendas de Pedro Dias. Lisboa: FO, 1990.
GRAÇA, Jorge. Fortifications of Macao, Their Design and History. Macau: Imprensa Nacional de Macau, 1969.
GRAÇA, Jorge. Fortificações de Macau – Concepção e História. 3.ª ed.. Macau: ICM, 1984.
Gran Atlas Johannes Blaeu – Siglo XVII. Madrid: Editorial Libsa, 2000.
GUERREIRO, Inácio. Pedro Barreto de Resende. In ALBUQUERQUE, Luís de (ed.). Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses. Lisboa: Círculo de Leitores, 1994, vol. 2, p. 944-945.
GUIMARÃES, Ângela. A Conjuntura Política: antes de Hong Kong. In MARQUES, A H. de Oliveira (dir.). História dos Portugueses no Extremo Oriente. Lisboa: FO, 2000, vol. 3, p. 11-33.
GUIMARÃES, Ângela. Uma Relação Especial – Macau e as Relações Luso-Chinesas (1780-1844). Lisboa: Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, 1996.
GUO Fei. Yuedaji [Grande Crónica de Guangdong]. Editora da Universidade de Zhongshan, vol. 2, 1988.
JIN Guo Ping; WU Zhiliang. Dongxiwangyang [Em busca de história(s) de Macau apagadas pelo tempo]. Macau: Associação de Educação para Adultos, 2002.
KAMMERER, Albert. La Découverte de la Chine par les Portugais au XVIème Siècle et la Cartographie des Portulans. Leyden : E. J. Brill, 1944.
LEÃO, Francisco G. Cunha. Macau e o Oriente na Biblioteca da Ajuda. Macau: ICM & Instituto Português do Património Arquitectónico & BAL, 1998.
Livro das Cidades, e Fortalezas, qve a Coroa de Portugal tem nas Partes da India, e das capitanias, e mais cargos qve nelas ha, e da importancia delles. Ed. Francisco Mendes da Luz. Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1960.
LOURIDO, Rui d’Ávila. A Portuguese Seventeenth-Century Map of the South China Coast. Santa Barbara Portuguese Studies, 1994, 1, p. 240-271.
Macau: Cartography of the West-East Encounter. Macau: Comissão Territorial de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, s.d.
MARREIROS, Carlos. Traces of Chinese and Portuguese Architecture. In CREMER, R. D. (ed.). Macau – City of Commerce and Culture. Hong Kong: The University of East Asia Press, 1987, p. 87-102.
MATOS, Artur Teodoro de (apresentação, leitura e notas). Advertências e Queixumes de Jorge Pinto de Azevedo a D. João IV, em 1646, sobre a Decadência do Estado da Índia e o Proveito de Macau na sua Restauração. Povos e Culturas, 1996, 5, p. 431-545.
MORELAND, Carl; BANNISTER, David. Antique Maps. Londres: Phaidon Press, 1995.
O Lyvro de Plataforma das Fortalezas da India da Biblioteca da Fortaleza de São Julião da Barra. Ed. fac-símile com estudo de Rui Carita. Lisboa: Defesa Nacional & Edições Inapa, 1999.
OLIVEIRA, Francisco Roque de. A construção do conhecimento europeu sobre a China, c. 1500 – c. 1630. Impressos e manuscritos que revelaram o mundo chinês à Europa culta [Tese disponível na internet]. Barcelona: Universitat Autònoma de Barcelona, 2003. < http://www.tdx.cesca.es/TDX.1222103-16016/ > [14 de Março de 2006] ISBN: 84-668-3934-5
OLIVEIRA, Francisco Roque de; JIN Guo Ping. Mapas de Macau dos Séculos XVI e XVII – Inventário, descrição e análise comparativa de espécimes cartográficos europeus e chineses. RC.Revista de Cultura, Macau, ed. internacional, Janeiro/January 2006, 17 (em publicação).
PEREIRA, A. Marques. As Alfândegas Chinesas de Macau – Analyse do Parecer da Junta Consultiva do Ultramar sobre o objecto. Macau: Typographia de J. da Silva, 1870.
PIMENTEL, Pe. Francisco, S.J. Breve relação da jornada que fez à corte de Pekim o Senhor Manoel de Saldanha, embaixador extraordinário do «l Rey de Portugal ao Emperador da China, e Tartaria (1667-1670). Ed. Charles R. Boxer & J. M. Braga. Macau: Imprensa Nacional, 1942.
PORTER, Jonathan. Macau: the Imaginary City . Culture and Society, 1557 to the Present. Boulder: Westview Press, 2000.
RUGGIERI S.J., Michele; RICCI, S.J., Matteo. Dicionário Português-Chinês. Ed. John W. Witek, Lisboa: Biblioteca Nacional, 2001.
SALDANHA, António Vasconcelos de; JIN Guo Ping. Para a vista do Imperador: memoriais da Dinastia Qing sobre o estabelecimento dos Portugueses em Macau (1808-1887). Macau: IPOR, 2000.
SCHILDER, Günther. Monumenta Cartographica Neerlandica. Alphen aan den Rijn: Uitgeverij “Caneletto”/Repro-Holland, 7 vols., 1986-2003.
SILVA, Beatriz Basto da. Cronologia da História de Macau. Macau: Direcção dos Serviços de Educação, vol. 1, 1992.
SILVEIRA, Luís (ed.). Livro das Plantas das Fortalezas, Cidades e Povoações do Estado Português da Índia. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 1988.
SILVEIRA,Luís. Ensaio de Iconografia das Cidades Portuguesas do Ultramar. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, vol. 3, s.d. [1956].
SMITH, Richard J.. Chinese Maps. Hong Kong: Oxford University Press, 1996.
SUÁREZ, Thomas. Early Mapping of Southeast Asia. Singapura: Periplus Editions, 1999.
TANG Kaijian. Aomen Kaibu Chuqishi Yanjiu [Estudos sobre os primórdios de Macau]. Pequim: Zhoughua shuju, 1999.
TANG Kaijian. Macau – Notas sobre a evolução urbana e arquitectónica durante a dinastia Ming. RC. Revista de Cultura, Macau, Janeiro/Abril 1998, 34 (II série), p. 47-74.
TANG Kaijian. Yongzheng Guangdong Tongzhi Aomentu Yanjiu [Um estudo sobre o mapa de Macau, publicado na Crónica Geral da Província de Guangdong, do Reinado de Yongzheng]. RC. Revista de Cultura, Macau, ed. chinesa, Primavera e Verão de 2000, 41-42, p. 84-92.
TANG Kaijian. Jiaqing Shisannian Aomen Xiangshitu Yanjiu [Um estudo sobre o mapa de Macau de 1808]. RC. Revista de Cultura, Macau, ed. chinesa, Primavera e Verão de 2000, 41-42, p. 93-98.
TCHEONG-Ü-Lâm; IAN-Kuong-Iâm. Ou-Mun-Kei-Leok [Monografia de Macau]. Trad. Luís Gonzaga Gomes. Macau: Imprensa Nacional, 1950.
WIEDER, F. C. (ed.). Monumenta Cartographica – Reproductions of unique and rare maps, plans and views in the actual size of the originals; accompanied by cartographical monographs. Haia: Martinus Nijhooff, vol. 1, 1925.
WU Zhiliang. Segredos da Sobrevivência – História Política de Macau. Macau: Associação de Educação de Adultos de Macau, 1999.
XIE Jie. Qiantai Wocuan [Informações sobre a Pirataria Japonesa]. Ed. fac-símile. Pequim: Biblioteca Nacional da China, vol. 1, 1947.
YEE, Cordell D. K. Reinterpreting Traditional Chinese Geographical Maps. In HARLEY, J. B. & WOODWARD, David (eds.). The History of Cartography. Chicago; Londres: The Chicago University Press, vol. 2, bk. 2, 1994a, p. 35-70.
YEE, Cordell D. K. Taking the Worls’s Measure: Chinese Maps between Observation and Text. In HARLEY, J. B. & WOODWARD, David (eds.). The History of Cartography. Chicago; Londres: The Chicago University Press, vol. 2, bk. 2, 1994b, p. 96-127.
YIN Guangren; ZHANG Rulin. Aomen Jilüe [Monografia Abreviada de Macau]. Anotações de Zhao Chunchen. Macau: ICM, 1992.
YIN
Guangren; ZHANG Rulin. Aomen Jilüe [Monografia Abreviada de
Macau]. Fixação paleográfica de Zhao Chunchen. Cantão
(Guangzhou): Editora do Ensino Superior, 1998.
© Copyright Francisco Roque de Oliveira, 2006