Scripta
Nova
REVISTA
ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad
de Barcelona.
ISSN: 1138-9788.
Depósito
Legal: B. 21.741-98
Vol. X, núm.
218 (23), 1 de agosto de 2006
|
GEOGRAFIA
E HISTÓRIA, TRADIÇAO E MODERNIDADE: FUNDAMENTOS DA GEOPOLÍTICA
CONTEMPORANEA
Marcos
Bernardino de Carvalho
Pontifícia
Universidade Católica - São Paulo
Geografia
e história, tradição e modernidade: fundamentos da
geopolítica contemporânea (Resumo):
Partindo da
conformação dos estados nacionais modernos, da instituição
do estatuto da soberania territorial e considerando, particularmente, o
estreitamento das relações estabelecidas entre os países
(“pedaços” de planeta dos quais os Estados historicamente se apropriaram),
este artigo pretende avaliar a evolução histórica
dessa geopolítica, à luz dos fundamentos que foram sendo
impostos pelas características geográficas dos lugares apropriados
pelos Estados.
Tal
análise permitirá demonstrar a complexificação
que tanto a noção de soberania territorial como a de Estado
adquiriram, bem como discutir o papel exercido nesse processo pelo fundamento
geográfico-ambiental. A relação dos países
com a chamada questão ambiental e com os patrimônios mundiais
(de bens culturais e naturais, cf. definição da UNESCO),
será objeto de breve exame no artigo como forma de ilustrar o mencionado
processo de complexificação da geopolítica dos Estados.
Com esse mesmo propósito também examinaremos alguns termos
do Tratado Antártico.
Diversos autores
e pensadores, tanto tradicionais da análise historiográfica
e geográfica, como contemporâneos serão cotejados para
conferir lastro à análise pretendida. Entre outros merecerão
destaque as formulações de: F. Ratzel, F. Braudel, P. Veyne,
M. Santos, O. Dollfus, E. Morin, E. Leff e M. Foucault.
Geography
and History, tradition and modernity: fundamentals of contemporary geopolitics
(Abstract):
This article
is intended to account for the historical evolution of geopolitics of modern
national states, in the light of the fundamentals imposed by geographical
aspects of places they have conquered, considering the states conformation,
the establishment of the statute of territorial domain -- sovereignty --
, and, particularly, the narrowing of relations between countries (planet
“bits” states have historically annexed).
Such analysis
allows to demonstrate how complex that both the notion of territorial sovereignty
and of state have gained, as well as to discuss the role played in this
process by geographic-environmental foundations. The relationship of countries
to the so-called environment issue and world patrimonies (cultural and
natural goods, as defined by UNESCO) is briefly examined as a way of illustrating
that process. By the same token, some terms of Antarctic Convention are
examined.
Several players
and thinkers in the field of geographical analysis, both traditional and
contemporary ones, are reviewed so as to confer consistency to the intended
analysis, with an emphasis on formulations by F. Ratzel, F. Braudel, P.
Veyne, M. Santos, O. Dollfus, E. Morin, E. Leff, and M. Foucault among
others.
Key words:
borders, (bio)geopolitics, globalization, state, environmental complexity
A compreensão
dos fundamentos que presidem as relações existentes entre
os atuais países e destes com os “pedaços de planeta” que
configuram suas identidades territoriais e nacionais, envolve a consideração
de processos históricos antigos e recentes. Para o exame dos primeiros
se pode recuar até os séculos XIV e XV, momento em que uma
Europa fragmentada pelos feudos cedia passo para a nova geografia dos Estados
nacionais. No caso dos processos mais recentes, há que se examinar
as modificações introduzidas nessa geografia pelos inúmeros
fatos que ao longo do século XX, particularmente na sua segunda
metade, estabeleceram com maior clareza as dimensões, — das políticas
às físico-ambientais —, que devem ser consideradas para se
compreender os alcances, — do local ao global —, pretendidos pelos limites
políticos das soberanias dos Estados.
Entre os extremos
desses períodos afirmaram-se as condições que nos
permitiriam reconhecer características comuns e válidas para
a identificação de qualquer país, independentemente
das histórias e geografias particulares que apresentem. Nessas características
se poderá reconhecer alguns dos principais fundamentos que presidem
a geopolítica do conjunto, e destes, que ainda pautam as relações
entre os Estados, há antigos que estão em plena fase de revisão
ou de aprimoramento, assim como há inegáveis novidades em
curso. Ao exame de alguns deles e de seus contextos histórico-geográficos,
é que pretendemos dedicar parte dos esforços deste artigo,
com destaque para aqueles fatos e episódios que acreditamos possam
nos ajudar a compreender tanto as geografias mundiais estabelecidas, como
aquelas que atualmente se anunciam para o futuro das unidades que compõem
nossa geopolítica contemporânea.
Como ponto
de partida, é obrigatória a referência aos acordos
assinados em Münster e Osnabrück em 1648, conhecidos como os
Tratados da Westphália (região onde se situam essas cidades),
e que puseram fim à Guerra dos Trinta Anos (1618-1648).
A “Paz da
Westphália” e os termos dos seus acordos, são unanimemente
reconhecidos por institucionalizar a moderna concepção de
soberania territorial que passou a presidir as relações entre
os países desde então. A partir dela desenvolve-se o modelo
que reconhece os Estados não só pelos estatutos jurídicos,
políticos e institucionais que lhes conferem identidades, mas por
suas existências enquanto unidades que também são físicas
e territoriais.
O
Estado nacional territorializado, — o país —, passou a ser
a fonte exclusiva de poder e de determinação dos rumos econômicos,
históricos e políticos das áreas circunscritas pelas
fronteiras que os definem.
A
condição de igualdade jurídica e a soberania territorial,
conferiu aos Estados um papel de protagonismo exclusivo também para
as diversas ordens internacionais que a partir de então se estabeleceram.
Eliminou-se assim, tanto no plano nacional, como no internacional, quaisquer
resquícios de ingerências extraterritoriais, como aquelas
que emanavam das ordens eclesiásticas que submeteram todos os lugares
e nações do antigo mundo em que predominava a “geopolítica”
feudal.
Além
de soberanos, territorializados, juridicamente independentes, reconhecidos
por seus pares e detentores de mesmos direitos, os Estados que a paz da
Westphália consagrou pretendiam-se laicos e avessos a qualquer ingerência
exterior em seus assuntos internos. Vinculados unicamente às determinações
terrenas da política e da história das nações
que abrigavam, as fronteiras dos diversos Estados, bem como os termos dos
estatutos que os definiram, sofreram inúmeras modificações
e aprimoramentos ao longo dos anos e acontecimentos posteriores aos acordos
da Westphália. As Revoluções Francesa ou Americana,
por exemplo, um século e meio depois aperfeiçoaram os mecanismos
de representatividade jurídica e institucional dos Estados, acrescentando
inúmeras novas características às concepções
de soberania.
Mas,
para os propósitosdeste artigo importa constatar que a partir dos
“pioneiros” europeus dos séculos XIV e XV, os episódios que
se sucederam apenas consagraram e ampliaram essa geografia política
fundada em unidades territorializadas por Estados soberanos. Nos séculos
imediatamente posteriores a estes, e impulsionado pela expansão
marítimo-comercial, esse modelo de organização se
estendeu para o resto do mundo até atingir mais recentemente os
confins do planeta.
Geopolítica
da subjugação e a complexa geografia das fronteiras
Dos
pioneiros dessa geopolítica dos Estados nacionais[1]aos
dias de hoje, aproximadamente 200 países se constituíram,
em diferentes momentos e por diferentes processos, atestando o sucesso
do modelo. Essas unidades dividem entre si a totalidade das terras emersas
do planeta, ou administram conjuntamente suas porções chamadas
internacionais, inclusive mares, oceanos e outras regiões sem “dono”.
As fronteiras
políticas que os Estados instituíram, entre outros significados,
nos indicam, portanto, partes apropriadas da natureza terrestre. Ou seja,
o caráter político dessas fronteiras se por um lado revela
uma geografia de subordinação a dinâmicas, “vocações”
ou imposições histórico-culturais, por outro torna
evidente os conteúdos físico-naturais que a componente territorial
do estado-nação impõe. Tal constatação,
apesar de óbvia, é importante, pois será dessa relação
entre as dinâmicas e os diversos conteúdos que as fronteiras
da política buscam acomodar, que se produzirão os inúmeros
aprimoramentos e transformações verificados nos princípios
de soberania legados aos países desde a ‘paz da Westphália’.
Na verdade,
são inúmeras as fronteiras que passam a conviver no interior
dos territórios estabelecidos por essa ‘paz’. Convivência,
diga-se de passagem, que será necessariamente conflituosa, pois
dificilmente os limites territoriais das fronteiras da política
coincidirão com aqueles necessários ao desenvolvimento das
dinâmicas econômicas, religiosas, nacionais ou até mesmo
físico-ambientais.
As fronteiras
que cada uma dessas dinâmicas revela, compõem o conjunto complexo
de dimensões que o estatuto da soberania permitiu a cada um dos
países subjugar. As contrariedades manifestadas diante dessa condição,
no entanto, às vezes impõem recuos ou, no mínimo,
revisões que flexibilizem a rigidez dos limites produzidos por uma
geografia ditada apenas pela pretensão apropriativa e soberana dos
Estados. É assim que fatos religiosos, políticos (não
contemplados pelas instituições dos Estados), econômicos,
culturais ou nacionais, e suas respectivas fronteiras, podem em determinados
momentos assumir as rédeas na condução da geopolítica
do mundo, ou de quaisquer uma de suas partes, e simplesmente desencadear
uma inversão no sinal pretendido pela fronteiras políticas,
subjugando-as, ao invés de serem por elas subjugados. Evidente que
essa inversão nunca é total e as relações que
se estabelecem entre todas as dimensões abrigadas pelos Estados,
passam em verdade a compor realidades complexas em que prevalece o princípio
da recursão organizacional[2].
Essas realidades,
como já afirmamos, lograram grande sucesso, pois o modelo de país
que elas produziram, a partir dos acordos da Westphália e de seus
posteriores aprimoramentos, abraçaram a geografia do mundo. A mundialização
desse modelo significou também a difusão desses complexos
de fronteiras, obrigadas a conviver em uma mesma unidade territorial (geopolítica),
por todos os lugares e, consequentemente, implicou na possibilidade generalizada
(mundializada) de manifestação dos incômodos produzidos
por essa convivência.
Mas, assim
como o processo de constituição dos países obedeceu
a diferentes ritmos, histórias, formatos ou temporalidades, também
as contrariedades manifestadas pelas outras fronteiras que eles foram subjugando
não necessariamente coincidiram, nem no tempo, nem no espaço
ou nas suas motivações.
Momentos houve,
no entanto, em que essas manifestações se generalizaram para
porções consideráveis do espaço terrestre,
envolvendo conjuntos significativos de países, ou de centros conjunturalmente
importantes.
Quando, além
de uma evidente ampliação de escala, esses momentos se caracterizam
pela coincidência temática de manifestações
(religiosas, políticas, étnicas etc.), que os limites da
geopolítica não conseguem conter (ou satisfazer), as crises
desencadeadas deixam de ser locais ou nacionais, espalham-se para regiões
mais amplas, podendo atingir até mesmo âmbitos planetários.
É isso que encoraja certos analistas a produzirem algumas daquelas
famosas caracterizações, em que os diversos períodos
dessa história que em parte estamos recuperando, são associados
exatamente às dimensões que, incomodadas, buscaram ampliar
seus espaços diante do sufocamento produzido ou das restrições
impostas pela geopolítica dos Estados.
Assim, é
comum nos depararmos, por exemplo, com análises que associam o século
da Revolução Francesa, XVIII, à problemática
política (da liberdade e da república), ou o século
XIX, dos socialistas e dos movimentos operários, à questão
social[3].
Destacando
outras referências, atribuídas a esses mesmos períodos
e igualmente relacionadas a essa busca pela expansão de limites,
alguns podem sugerir que ao século XIX, sejam associados os temas
do progresso técnico e econômico, produzidos pela Revolução
Industrial e pela afirmação da ciência (natural). Já,
para os séculos XVI e XVII, as associações corriqueiras
costumam eleger a revolução científica de Copérnico,
Kepler e Galileu, ou a expansão dos horizontes geográficos
dos europeus, ou a afirmação mundial do capitalismo mercantil,
da divisão internacional do trabalho ...[4]
Como se vê,
inúmeros seriam os exemplos que se poderiam dar para ilustrar esse
tipo de associação que os analistas costumam fazer entre
alguns episódios, por eles considerados determinantes para marcar
os rumos da nossa história, e os períodos ou intervalos de
tempo (um ou mais séculos) em que, segundo eles, mais se fizeram
sentir o alcance desses fatos marcantes. A importância que é
dada para determinado episódio, normalmente se pode aquilatar pela
amplitude do intervalo de tempo ou pela intemporalidade com que nos são
apresentados[5].
Limites físico-ambientais
para a ordem geopolítica
Todas
essas associações, no entanto, obviamente simplificadoras
das realidades complexas vividas nos diversos períodos históricos,
devem ser vistas apenas como o que de fato representam: a indicação
de acontecimentos e movimentos marcantes para uma dada época e as
posteriores. Esses eventos marcantes, que não são necessariamente
superados pelos novos episódios e problemas que os sucedem, passam
a compor complexos de superposições e inter-relações,
com fortes repercussões na organização das diversas
sociedades. Portanto, apresentam também forte incidência nos
arranjos do espaço mundial, pois desde há algum tempo praticamente
não há agrupamento humano ou fato da realidade físico-ambiental
do planeta, que possa se considerar alheio ao alcance das unidades que
definem a sua geografia política.
Nesse sentido
interessa prestar atenção a uma certa unanimidade manifestada
justamente em torno das chamadas questões físico-ambientais
para caracterização dos tempos que correm, considerando desde
os inícios do século XX, os momentos iniciais deste século
XXI e as perspectivas que se apontam para as décadas vindouras.
Tanto nas análises mais sofisticadas, como nas mais simples é
possível detectar isso: da problemática ecológica
associada ao século XX (Moscovici), à anunciada “bio” revolução
(Dagognet), passando pelos alarmes em torno da água, da biotecnologia,
do esgotamentos de recursos, do colapso climático, da desertificação,
da extinção de florestas etc., se podem extrair as indicações
dessa referida unanimidade[6].
Tais preocupações
se justificam, pois só uma fraca percepção do momento
que estamos vivendo e do futuro que ele anuncia, poderia arriscar quaisquer
prognósticos (econômicos, políticos, históricos
etc.) sem levar em consideração os limites físico-ambientais
impostos pelas realidades geográficas do planeta, independentemente
de terem sido elas naturalmente estabelecidas ou socialmente produzidas.
A esse propósito,
afirmamos em outra oportunidade:
“A imagem
real e sintetizadora é de que finalmente a economia e a política
se encontraram nas fronteiras da Terra.. E o capitalismo, esta economia-política,
canta sua vitória (...) mas não consegue disfarçar
o riso nervoso que tem acompanhado essa ‘comemoração’: um
misto de pânico e alegria, próprio daqueles que são
tomados subitamente pelas preocupações [inevitáveis]
de quem atingiu um limite da dimensão do espaço físico
planetário.(...) A impressão que se tem é de que esta
coincidência entre fronteiras políticas, econômicas
e físicas, simbolizada pelo atingimento dos confins do planeta,
revela, no mínimo, uma situação seriamente crítica
que se materializa até mesmo física e ambientalmente na escala
global.” (Carvalho, 1996: 23, 24 e 25)
Ou
seja, fruto das subjugações que a dinâmica geopolítica,
fortemente embalada e determinada pelo padrão de acumulação,
impôs ao conjunto das outras fronteiras (religiosas, culturais, nacionais
e até mesmo às que não foram criadas pelo homem —
natura
naturans —, na expressão consagrada por Spinoza), estabeleceu-se
um sistema-mundo (Dollfus, 1993) que se realiza como território
da economia-política (na usual expressão de Marx) e não
só como território da política ou da economia. Essa
territorialidade-limite, no entanto, ao ser atingida, estabeleceu um conteúdo
que é físico-ambietal também para todas as fronteiras.
Parafraseando o saudoso geógrafo Milton Santos, poderíamos
até afirmar, portanto, que em tempos de globalização
todas as questões são ambientais, porque são territoriais
( ou geográficas em um sentido amplo).
Evidentemente,
não é demais repetir, esses nossos vínculos contemporâneos
com a problemática ambiental, não devem ser entendidos como
superação ou inexistência dos outros problemas, que
poderiam continuar sendo associados tanto a esta como a épocas passadas.
Mas, tais vínculos devem ser vistos como sintomas do adensamento
ou da complexização[7]
em que o fluxo histórico nos precipitou. Ou seja a frase original
de Santos que há pouco parafraseamos continua correta: “Em tempos
de globalização tudo é política” (Santos, 2002:108).
Essa impressão
de que a totalidade do planeta e consequentemente de nossos problemas e
crises são, ao mesmo tempo, 100% ambientais e 100% políticos
(e também 100% econômicos, religiosos, étnicos, culturais...),
é exatamente a expressão sintomática desse adensamento
complexo a que nos referimos. Dentre essas dimensões abraçadoras
do mundo contemporâneo, inegável, no entanto, a força
com que emergiu em período mais recente a chamada questão
ambiental: as fronteiras físicas estabelecidas pelos sistemas naturais,
de algumas décadas para cá, de meados do século XX
aos dias atuais, passaram a ser uma das principais fontes de preocupações
(e atritos) com as regras estabelecidas pelo jogo da economia ou da política.
Referindo-se precisamente ao fim das ilusões de emancipação
“vendidas” pelas modernas sociedades urbano-industriais, com relação
às dinâmicas naturais, Morin, no volume II de seu O Método
afirmou o seguinte:
“As sociedades
humanas julgaram emancipar-se da natureza. E no entanto, repitamos, é
nesta e por esta emancipação urbana que a cultura , a civilização,
a sociedade se tornaram tributárias da natureza, como as sociedades
arcaicas nunca o foram. (...). Agora a sociedade humana encerra nas suas
malhas os ecossistemas, mas não escapa aos princípios fundamentais
da relação ecológica. O Homem alçou-se ao topo
da natureza, mas permanece no interior da natureza. Sofre a ecodeterminação
que toda a vida sofre, e a dependência ecológica acrescida
é o preço da sua independência acrescida. O homem tornou-se
o subjugador global da biosfera, mas por isso mesmo subjugou-se a ela.”
(Morin, 1989: 73)
Definitivamente,
as dimensões física e biogeográfica, incorporaram-se
aos processos das relações entre os Estados, realizando em
grande medida o que preconizava uma certa tradição da análise
geográfica inaugurada por K. Ritter, ainda no início do século
XIX, e difundida principalmente por F. Ratzel nas décadas finais
daquele mesmo século. Ambos não admitiam outra possibilidade
para entendimento e investigação da realidade, a não
ser com o auxílio de instrumentos cognitivos lastreados na percepção
das recorrências existentes entre os fatos da dimensão histórica
e os da dimensão geográfca.
O
próprio Ratzel, em sua Antropogeografia (1914, na versão
italiana), mencionando K. Ritter é quem nos esclarece isso:
«“a
ciência geográfica não pode prescindir do elemento
histórico, se pretende ser verdadeiramente um estudo do território
e não uma obra abstrata, uma moldura no interior da qual se observa
o vazio, e não a pintura que essa limita”[8].
E, da mesma maneira, a história não pode negligenciar a geografia,
pois os fatos que ela contempla necessitam de um cenário onde possam
se desenvolver.» (Ratzel, 1914: 83).
“A
história — prossegue afirmando Ratzel nessa mesma obra — não
pode ser compreendida sem a consideração do território
onde se desenvolve, e a geografia de qualquer parte da Terra não
pode ser representada sem o conhecimento da história, que sobre
essa geografia se imprime deixando suas próprias pegadas.” ( Ibid.:
84)[9]
Abordagens
histórico-geográficas e revisão da geopolítica
Adesões
críticas às formulações dos pioneiros da análise
geográfica, podem ser encontradas em todos aqueles que mantiveram
a insistência em abordagens integradas dos fatos físicos e
humanos. Muitas delas se fazem representar diretamente por exortações
de maior proximidade entre a geografia física e a humana, ou pela
retomada de certos enfoques e pretensões tradicionais, ou, ainda,
pela difusão de atitudes reconciliadoras entre as abordagens da
natureza e as da cultura.
Abordagens
estas, diga-se de passagem, que para muitos deixam-se simbolizar pura e
simplesmente (ou reduzidamente, se se preferir), pelas expressões
geografia e história. Vários são os autores que poderiam
ser aqui mencionados para ilustrar o que estamos dizendo. Entre os geógrafos,
e apenas para mencionar alguns, poderíamos lembrar de Carl Troll,
Jean Tricart, Georges Bertrand, Oliver Dollfus, David R. Stoddart, Yves
Lacoste ou Angelo Turco[10].
E entre os não geógrafos, além dos já mencionados
em outras partes deste artigo, não custa evocar também as
importantes contribuições de Fernand Braudel, Dan Sperber,
Paul Veyne, Donald Worster ou François Dosse[11].Apesar
de todas as diferenças de propósitos, contextos e análises,
as reflexões produzidas pelos diversos autores, entre muitos mais
que poderíamos agregar, revelam como traço comum o esforço
aproximativo entre tradições da abordagem histórica
e geográfica. Esforço este, que é o exatamente exigido
para enfrentar o desafio de compreender os limites produzidos por uma realidade
que se configura sócio-territorializada na escala global.A percepção
recente disso, além de obviamente ser facilitada pelos fatos desencadeados
pela própria condição limítrofe, resultou também
de um processo onde atuaram inúmeros e conhecidos episódios,
sobretudo a partir de meados do século passado, entre os quais vale
recordar os seguintes: final de um ciclo importante de guerras mundiais;
esgotamento dos últimos territórios colonizados (África
e Ásia, em particular); recrudescimento das disparidades econômicas
e sociais; eclosão de acordos mundiais e gestões internacionais,
que visam proteger os Estados nacionais de suas próprias e constatadas
voracidades, com relação às fronteiras e territórios
alheios; produção de ambiente favorável à emergência
da Liga das Nações, posteriormente consolidada na ONU, e
o importante papel que ela passou a desempenhar, com maior ou menor eficácia,
na administração das arestas que a coexistência de
todas as fronteiras na escala global impôem.
Especificamente
no campo dos chamados recursos naturais, essa tendência que poderíamos
caracterizar como “autofágica” do sistema geopolítico, por
causa da mencionada voracidade das unidades que o compõem, se tornou
ainda mais evidente e os limites físicos atingidos apenas realçaram
as desigualdades que também se estenderam para este campo: enquanto
as dependências de recursos semelhantes (como petróleo e outros)
generalizou-se, graças à territorialidade mundial do padrão
de acumulação, os acessos, as possessões, os direitos
de utilização, não obedeceu a semelhantes graus de
universalização. Some-se a isso, o agravamento das crises
de biocenoses (mundialmente desencadeadas a partir das revoluções
industriais dos sécs. XVIII e XIX) e as conseqüências
da generalização dos processos urbano-industriais, que a
partir da década de 1950, em média, espraiaram-se para praticamente
todos os países do mundo (dentro e fora de seus territórios)[12].
Diante desse
quadro, um sistema geopolítico fundado apenas nos antigos estatutos
de soberania, consequentemente em princípios de não ingerência
nos assuntos internos dos Estados, torna-se insustentável, por quaisquer
dos ângulos que se tome a questão.
Em amplos
setores das diversas sociedades, cresce a percepção de que
tal ordenamento, além de reduzir o ambiente terrestre a um mero
fornecedor de recursos para viabilização do padrão
de acumulação, perpetua desigualdades, produz escassez, ameaça
sistemas de vida e torna inapropriadas as condições de sua
reprodução, inclusive para os grupos humanos. E mesmo entre
os privilegiados por esse padrão, manifestam-se as preocupações
com as ameaças de esgotamento dos recursos considerados estratégicos
para a acumulação, — presente ou futura —, sobretudo quando
esses recursos estão sujeitos apenas às gestões soberanas
dos Estados que deles se apropriaram. Destes — os privilegiados —, é
que talvez tenham partido algumas das mais importantes e eficazes pressões
para flexibilizar as rígidas fronteiras da geopolítica dos
Estados.
Em síntese,
na precisa caracterização de Edgar Morin:
“o Estado-nação
se tornou bastante forte para destruir maciçamente homens e sociedades,
tornou-se demasiado pequeno para se ocupar dos grandes problemas agora
planetários, ao mesmo tempo que se tornou demasiado grande para
se ocupar dos problemas singulares concretos dos seus cidadãos[13].
Fundamentos
ambientais para uma geopolítica contemporânea
Em
obras, textos e relatórios tornados clássicos[14]
muitos dos temores mencionados ganharam ampla difusão. Também
podem ser evocados para atestar a percepção desses temores
e da condição limítrofe a que fomos conduzidos, não
só a enorme quantidade de eventos e de tratados envolvendo associações
entre Estados preocupados com a gestão das diversas partes e recursos
do ambiente terrestre, nas suas mais variadas escalas de abrangência,
mas os muitos movimentos que principalmente a partir dos anos 1960 foram
desencadeados, ao lado das centenas de associações não
governamentais que em torno da justificativa ecológica se organizaram.
Segundo Ribeiro
(2001) dos cerca de uma centena de tratados internacionais sobre o meio
ambiente, abrangendo trechos significativos do espaço terrestre
e assinados ao longo do século XX, apenas 10 o foram antes de 1950.
Na década imediatamente posterior à II Grande Guerra, esse
número não ultrapassou uma dúzia. Mas, dos anos 1960
em diante, é que se firmaram algo entre 70 a 80% dos acordos internacionais
relacionados ao ambiente planetário.
Isso
nos dá bem a medida de como apenas recentemente o cruzamento entre
os temores e as percepções de limites foi capaz de promover
atitudes, práticas e teóricas, com o intuito de mitigar os
impactos ambientais produzidos pela voracidade de algumas fronteiras, —
geopolíticas e econômico-políticas, p.e. —, em detrimento
de outras — ecossistêmicas, físicas, culturais...
A concentração
de um grande volume de acordos no período mencionado, deve –se particularmente
aos tratados firmados a partir dos dois grandes encontros mundiais que
a ONU promoveu nas últimas décadas do século XX: as
conferências sobre meio ambiente e desenvolvimento acontecidas em
Estocolmo (1972) e no Rio de Janeiro (1992).
A Eco 72 e
a Rio 92 trataram-se, como sabemos, de grandes encontros em que os limites
físicos e suas fronteiras entraram institucionalmente na pauta dos
gestores do espaço mundial.
Em Joanesburgo,
capital da África do Sul, teve lugar a mais recente das chamadas
“Cúpulas da Terra”, em 2002. Nos períodos de tempo existentes
entre todas essas grandes reuniões, inúmeras outras preparatórias
são realizadas, assim como acontecem muitos daqueles encontros,
às vezes tão grandiosos quanto os principais, que são
especialmente convocados para examinar a implementação dos
tratados e acordos firmados. Esse conjunto, integrado pelas grandes “cúpulas
mundiais” sobre o meio ambiente e por seus diversos desdobramentos dedicados
ao exame, por exemplo, de aspectos específicos do clima mundial,
da conservação da biodiversidade, do avanço da desertificação,
ou da ocupação da Antártida., parecem compor uma espécie
de “assembléia permanente” que, por si só, reflete o nível
de atenção que se tem dedicado à questão ambiental
nas últimas décadas. Sob o patrocínio da ONU é
que o conjunto de atividades que conformam essa “assembléia” têm
se realizado, e nestas é cada vez maior a afluência tanto
das delegações governamentais, representadas em muitos casos
por seus próprios chefes de Estado, como das chamadas ONGs (Organizações
Não Governamentais), cujos representantes têm participado
de alguns dos encontros oficiais e dos muitos eventos paralelos normalmente
por elas mesmas organizadas.
Alguns números
relacionados a tais participações de fato confirmam esse
nível de atenção e sobretudo a forma como ele tem
crescido. No que diz respeito às delegações governamentais,
113 delas estavam presentes já na Eco 72. Esse número que
chegou a 179 delegações na Rio 92, atingiu a quase totalidade
dos países existentes em 2002, no encontro de Joanesburgo. E, se
apenas dois chefes de Estado estiveram presentes na conferência de
Estocolmo, nas duas últimas “Cúpulas” podia-se contar mais
de uma centena deles chefiando pessoalmente suas delegações.
Quanto às
representações das ONGs e de outras entidades da sociedade
civil, esse número cresceu em proporções maiores ainda,
estimando-se em pelo menos 8 mil o número de seus representantes
presentes na conferência de Joanesburgo. Mas, nesse caso, mais importante
que os números é verificar o papel qualitativo crescentemente
desempenhado por essas entidades e delegações não
oficiais: de uma condição inicial pouco representativa e
restrita, passaram não só a interferir nas pautas dos próprios
encontros convocados pela ONU, como a ter assento e direito à representação
em vários deles.
Essas organizações
têm contribuído para conferir às grandes conferências
uma repercussão ainda maior, ampliando suas representativades para
além dos fóruns oficiais promovidos pela ONU e pelos chefes
de Estado. Mais uma vez, não estamos nos referindo apenas à
questão quantitativa, pois o grande fluxo de representações
governamentais e a diversificação de temas por elas trazidos,
é que também podem ser responsabilizados pelo amplo conjunto
de interesses hoje reunidos pelas temáticas relacionadas à
questão ecológica, ou em torno das preocupações
vinculadas à saúde ambiental do planeta. Não são
apenas as condições das florestas, a poluição
atmosférica, as ameaças à fauna ou a degradação
dos rios, que definem essas preocupações, pois, dos níveis
de renda e de emprego, às condições de moradia ou
de escolaridade, passando pelas regras do comércio internacional,
ou pela consideração dos direitos das minorias, entre outros,
todos são igualmente temas de interesse para a discussão
ambiental, já que direta ou indiretamente com ela se relacionam.
Essa
ampliação do significado da questão ambiental, também
pode ser creditada em grande medida àquele adensamento de fronteiras
a que nos referimos há pouco. As condições limítrofes
produzidas pela geopolítica dos Estados nacionais retirou do isolamento
(ou, no mínimo, tende a retirar), os diversos agrupamentos humanos
e todas as dimensões constituintes do espaço terrestre, incluindo
as múltiplas fronteiras que lhes são correspondentes. Nesse
quadro não será nem um pouco difícil estabelecer os
vínculos, diretos ou indiretos, entre um conjunto muito ampliado
de questões, independentemente delas poderem ser caracterizadas,
de maneira isolada, como econômicas, políticas, sociais, culturais
ou... ambientais.
Tais
vínculos, com todas as crises e tensões daí decorrentes,
podem ser entendidos, portanto, como resultantes de um processo histórico
de apropriação do espaço planetário, conduzido
pelos interesses, inclusive territoriais, dos Estados-nações.
Consequentemente, não fica difícil compreender, entre outras
indicações e medidas, que também a necessidade de
repensar os estatutos que fundamentam a geopolítica se impôs
nessas últimas décadas de tentativa de administração
dos “limites”. Os conteúdos político-geográficos a
que estão sujeitos todas as dimensões da existência
foram em grande parte revelados pela produção desses “limites”.
Ou
seja, diante de uma realidade como a que contemporaneamente se configura
em termos planetários não há hipótese de enfrentamento
e solução de quaisquer das questões produzidas nesse
contexto, incluindo é claro a ambiental, sem a consagração,
por exemplo, do “direito de ingerência” (com a mesma força
e respeito já desfrutados pelo “direito de soberania”) no âmbito
da geopolítica, ou sem a abertura de espaços para que outros
ordenamentos político-territoriais, não necessariamente subordinados
às fronteiras dos Estados, também possam ser admitidos, tais
como os produzidos pelas dinâmicas ecossistêmicas resultantes
das interações entre bio e sociodiversidade.[15]
Alguns
desses novos sentidos projetados para as apropriações territoriais
podem ser já observados. Vários deles estão sendo
promovidos no âmbito da própria ONU, enquanto outros têm
resultado da pressão exercida por grupos humanos que pelas mais
diversas razões não se sentem contemplados pela geopolítica
dos Estados. Para concluir essa nossa reflexão mencionaremos brevemente
exemplos de alguns fatos, medidas ou tratados que possam ser considerados
ilustrativos disso.
Patrimônios
mundiais e a (bio)geopolítica dos Estados-parte
Em
1972, naquele mesmo ano em que se inaugurava o ciclo das grandes conferências
sobre a questão ambiental em Estocolmo, a UNESCO, um dos principais
organismos da ONU, — especializado em educação, ciência
e cultura —, promoveu encontro no qual se estabeleceu a “Convenção
Para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural”
com o sentido de incentivar a preservação de bens culturais
e naturais considerados “como de alto valor universal”.
Os
países signatários da Convenção foram então
convocados, conforme o estabelecido em seu Artigo 11° (parágrafo
1), para: “submeter, em toda a medida do possível, ao Comitê
do Patrimônio Mundial um inventário dos bens do patrimônio
cultural e natural situados no seu território”.
A
partir daí, prossegue o texto da Convenção (Artigo
11°, parágrafo 2): “o Comitê deverá estabelecer,
atualizar e difundir, sob o nome de ‘lista do patrimônio mundial’,
uma relação dos bens do patrimônio cultural e do patrimônio
natural tal como definidos nos artigos 1.º e 2.º da presente
Convenção, que considere como tendo um valor universal excepcional.
De dois em dois anos deverá ser difundida uma atualização
da lista.”
Embora
se afirme o pleno respeito à soberania dos Estados, pois um determinado
bem só poderá figurar na lista do patrimônio mundial
com o consentimento do Estado interessado, são claras as indicações
para que se estabeleçam laços geopolíticos capazes
de aprimorar a relação entre as soberanias particulares e
os interesses maiores da comunidade internacional. No Artigo 6° (parágrafo
1), por exemplo, lê-se: “os Estados parte na presente Convenção
reconhecem que o referido patrimônio constitui um patrimônio
universal para a proteção do qual a comunidade internacional
no seu todo tem o dever de cooperar.” E no Artigo 7° (parágrafo
único), afirma-se: “Para fins da presente Convenção,
deverá entender-se por proteção internacional do patrimônio
mundial, cultural e natural a criação de um sistema de cooperação
e de assistência internacionais que vise auxiliar os Estados parte
na Convenção, nos esforços que despendem para preservar
e identificar o referido patrimônio”.
Em
síntese, cabe aos países conservar e administrar seus bens,
com o apoio da UNESCO, através dos mecanismos de cooperação
e de assistência internacionais, do qual todos os signatários
da Convenção são Estados parte. Ou seja, a esses mesmos
países cabem também responsabilidades pela conservação
e administração dos bens situados fora da jurisdição
de suas soberanias.
Desde
a promulgação da Convenção, mais de 800 bens
(628 culturais, 160 naturais e 24 mistos, conforme lista divulgada no início
de 2006) situados em 137 Estados parte foram incluídos na lista
do patrimônio da UNESCO.
O
número de bens, em especial os naturais, embora pequeno, evidencia
importante significado ‘simbólico’, pois tal relação,
dos países com a UNESCO/ONU, pode indicar um outro plano de concepções
para o conteúdo da geopolítica contemporânea.
O
processo de definição dos patrimônios revela-nos que
o país pode deixar de ser, pelo menos em tese, apenas uma unidade
geopolítica preocupada exclusivamente com seus interesses de soberania,
mas que ele é também uma espécie (ou pode vir a ser)
de representante dos interesses mais amplos da comunidade internacional
— um ‘Estado parte’ — sobre os ‘pedaços’ de natureza, ou
de cultura, apropriados/produzidos por seus territórios.
Se
mencionássemos um outro exemplo, anterior inclusive à Convenção
do Patrimônio — o Tratado Antártico —, essas potencialidades
de revisão dos estatutos que regem a geopolítica dos Estados,
particularmente quando suas fronteiras se cruzam com as da natureza terrestre,
apenas se reforçariam.
O
Tratado Antártico, assinado no final de 1959 (entrou em vigor no
ano de 1961) estabeleceu que por 30 anos estariam proibidas a exploração
econômica do continente, a fragmentação de suas terras
em possessões e qualquer outra atividade que não estivesse
voltada, segundo termos do próprio tratado, para: “fins exclusivamente
pacíficos”; “a investigação e a cooperação
científica”; ou “proteção e conservação
dos recursos vivos da Antártida” (Artigo IX itens a, b, c, f).
Em
1991, os participantes do tratado (originalmente 12, hoje já são
45 os signatários) reuniram-se em Madri e assinaram um novo protocolo.
Neste — Protocolo de Madri (que passou a vigorar em 1998) —, reafirmaram
os termos do compromisso inicial (relacionados ao estímulo das atividades
científicas e proibição das militares), renovando-o
por mais 50 anos.
Proibindo
explicitamente “qualquer atividade relacionada com os recursos minerais”
(Artigo 7) e comprometendo-se com a “proteção global de seu
meio ambiente e dos ecossistemas dependentes e associados”, o Protocolo
estabeleceu nova designação para a Antártida: “Reserva
natural consagrada à paz e à ciência” (Artigo 2).
Aponta-se
assim, para um espaço de cooperação internacional
fundado em uma geopolítica que não é entendida apenas
como justaposição dos interesses de soberania territorial.
As identidades dos Estados nações que os exemplos da “Convenção
sobre o Patrimônio” e o “Tratado Antártico/Protocolo de Madri”
indicam, não se resolvem apenas explicitando-se territórios
soberanos e fronteiras estatais, mas ampliam-se para incluir os laços
que os unem a interesses maiores que também passam a representar
nesses territórios, na condição de “Estados-parte”.
Pode-se
avistar aí tanto um aprimoramento como uma espécie de superação
dos antigos estatutos da soberania legados pela Paz da Westphália.
Segundo
Héctor Leis, há:
“um
progresso na direção de formas mais cooperativas das relações
internacionais e do reconhecimento de uma autoridade ambiental supranacional,
capaz de oferecer aos habitantes do planeta uma maior proteção
e segurança (semelhante àquelas que os Estados-nações
já ofereceram às populações de seus territórios
a partir da instauração da ordem paradigmática do
século XVII), capaz de evitar que nosso patrimônio comum se
converta na tragédia das gerações futuras.” (Leis,
1991: 64).
Vandana
Shiva e Laymert Garcia dos Santos ao examinarem as tensões produzidas
pelas diversas modalidades de apropriação do espaço
terrestre, nos esclarecem aspectos desse processo e ao mesmo tempo indicam
caminhos para o possível fortalecimento de uma geopolítica
do “Estado-parte”. Discutindo o papel e importância da Amazônia
no mundo de hoje (Garcia dos Santos) ou os problemas relacionados à
biodiversidade e biopirataria (Shiva), ambos recuperam conceitos empregados
pelo Direito Romano para designar as coisas sem dono, incluindo os lugares
e os territórios — res nullius e res communis —, ou,
no equivalente sugerido por Shiva: terra nullius — “terras destituídas
de pessoa, vacantes, desperdiçadas e não usadas por ninguém”;
e terra mater — “como todas as culturas sustentáveis, na
sua diversidade, têm concebido a terra.” (Shiva, 2001: 70 e 71).
Segundo
Garcia dos Santos (2003:23):
“Tradicionalmente
res
nullius está vinculada à abundância: ela não
pertence a ninguém e cada um pode livremente utilizá-la;
mas quando há escassez, ou medo de escassez, a res communis
emerge para impedir a apropriação e estabelecer uma espécie
de reservatório do que é comum a todos.”
O
Estado, portanto, nas condições limítrofes em que
contemporaneamente nos encontramos pode e deve assumir o papel a que foi
conduzido pelo fluxo da história e pela revelação
de sua geografia: intermediário que ao regular a propriedade, —
lembrando que onde esta se impõe anula-se tanto res nullius como
res
communis —, defende um conjunto mais ampliado de interesses, presentes
tanto no plano nacional como no internacional.
Ao
assumir-se como gestor de patrimônios comuns, nos dois planos aludidos,
o Estado contemporâneo renova o conceito de “soberania” ou de “territórios
soberanos”; liberta-se da obediência estrita aos limites impostos
exclusivamente pelas chamadas fronteiras políticas, ou, mais precisamente,
liberta-se do compromisso de exclusividade com as fronteiras geopolíticas,
no sentido que Kjellen conferiu a essa expressão (v. nota 1). Esse
Estado aproxima-se assim da condição de legítimo gestor
de res communis, ou res publicas, onde quer que elas se manifestem:
em âmbitos mais amplos do que as fronteiras dos países ou
sufocadas no interior dos territórios que elas demarcam.
Diante
de tais pressupostos, que pelo menos em tese indicam as bases para se assentar
uma nova geopolítica, o conjunto de fronteiras que os fenômenos
geográficos produzem adquirem o direito de representação
no jogo dos poderes político-territoriais mundialmente estabelecidos.
Ou seja, a dupla condição de identidade (nacional internacional/
transnacional) conferida aos Estados contemporâneos, amplia a possibilidade
do reconhecimento de diversos outros territórios — dificilmente
contemplados na velha geopolítica dos egoísmos nacionais
e de frágeis laços de solidariedade internacional —, bem
como de suas respectivas fronteiras, tais como as definidas pela convergência
entre a sócio e a biodiversidade produzida há tempos pelos
povos da Amazônia, ou as que poderiam resultar da delimitação
dos territórios que abrangem os patrimônios hídricos
e sócio-culturais reclamados por povos do Oriente Médio,
apenas para mencionar dois exemplos bastante significativos no mundo atual.
Uma
geopolítica que considere e respeite essas novas territorialidades
reivindicadas, ultrapassa aquele fundamento histórico legado pela
Paz da Westphália, abre-se também para o fundamento (bio)geográfico,
— imposto, diga-se de passagem, pelas próprias precipitações
da história contemporânea —, e amplia o espaço para
representação de fronteiras ecossistêmicas: identificadoras
dos territórios resultantes sobretudo das interações
entre diversidades remanescentes, tanto no âmbito da cultura como
no da chamada natureza.
Essa
nova geografia política, no entanto, só conseguirá
se implantar através de Estados fortes que tenham poder suficiente
para garantir representatividade, espaço de afirmação
e respeito ao conjunto complexo de fronteiras que os territórios
mencionados sugerem.
Consequentemente,
o força desses Estados será diretamente proporcional
ao nível de respeito que demonstram pelos mecanismos de democracia
política, pela valorização dos espaços de vida
e pela atenção que dispensam aos territórios imprevistos
ou sufocados pelas determinações e interesses exclusivos
dos padrões hegemônicos da economia ou da cultura. As racionalidades
em que se apoiam tais Estados são, portanto, mais ecológicas
e menos econômicas. E as “utopias” que alimentam não são
as de um espaço mundial sem fronteiras — sempre em risco de ser
regido pela fronteira única de uma economia-política (qualquer
uma delas) —, mas as de afirmação da diversidade de lugares,
territórios e do amplo e complexo conjunto de fronteiras que todas
as manifestações de existência requisitam.
A
geografia política resultante das interações entre
esses Estados fortes nos lembram, consequentemente, da biogeografia universal
de Ratzel, mas também da biopolítica de Foucault (2004)[16].
Em ambas, as dimensões que sustentam os espaços de vida são
realçadas como fundamentos importantes para alicerçar a produção
de todas as fronteiras e para a configuração do jogo de poderes
que entre elas se estabelecem.
Dessas
dimensões, a territorial, sempre figura com destaque, tanto em antigas
e tradicionais formulações (esquecidas ou abandonadas) como
nas mais recentes.
Talvez
Milton Santos continue, por conseguinte, tendo razão. Diante de
tantos “finais” e “mortes” insistentemente decretados (da história,
do espaço, da geografia, dos lugares, dos territórios, da
natureza etc.), contestou certa vez o velho geógrafo: “Nunca o espaço
do homem foi tão importante para o destino da História. Se
como diz Sartre ‘compreender é mudar’, fazer um passo adiante e
‘ir além de mim mesmo’, uma geografia refundada, inspirada nas realidades
do presente, pode ser um instrumento eficaz, teórico e prático
para a refundação do Planeta.” (Santos, 1993:22)
Notas
[1]
Embora o vocábulo “geopolítica” possa ser empregado nas referências
genéricas às fronteiras dos Estados nacionais, ou até
mesmo como contração da expressão “geografia política”,
rigorosamente ele só aparece em 1916, utilizado pela primeira vez
em uma obra de autoria do pensador sueco Rudolf Kjéllen (1864-1922),
relacionado precisamente às políticas e estratégias
territoriais dos países (Haggman, 1988) . A expressão “geografia
política”, no entanto, pode ser empregada em um sentido mais amplo,
indicando quaisquer outras fronteiras que possam ser utilizadas para estabelecer
limites entre as diversas apropriações territoriais e o jogo
(distribuição) de poderes que elas estabelecem. Sendo assim,
fundamentos econômicos, culturais , religiosos ou até mesmo
naturais, por exemplo, podem constituir-se em referências para definições
de “geografias políticas”. O fundamento dos limites territoriais
do Estado nação é apenas uma das possíveis
facetas dessas definições. Rigorosamente, portanto, a expressão
“geopolítica dos Estados nacionais”, seria uma expressão
redundante, mas convém utilizá-la para evitar interpretações
equivocadas do que se diz e para não se confundir com as possíveis
menções às outras geografias políticas (ou
‘geopolíticas’) fundadas em outras dimensões. Neste texto
empregaremos ambas as expressões, mas sempre que o contexto exigir
elas serão qualificadas , apesar do risco da redundãncia
e para não deixar dúvidas sobre o sentido em que as empregamos.
Por conseguinte, nas omissões desses qualificativos, vale o reducionismo
estatal para o significado de ‘política’.
[2]
Aqui nos referimos a um daqueles três princípios (o dialógico,
o da recursão organizacional e o hologramático) que Morin
considera básicos para o reconhecimento de situações
de complexidade. Segundo o próprio Morin (1991): “ A idéia
recursiva é uma idéia em ruptura com a idéia linear
de causa/efeito, de produto/produtor, de estrutura/superestrutura, uma
vez que tudo que é produzido volta sobre o que produziu num ciclo
ele mesmo auto-constitutivo, auto-organizador e auto-produtor.” (p. 90).
[3]
Serge Moscovici (Apud Vesentini, 1989), em seu Essai sur l’histoire
humaine de la nature (Paris: Flamarion, 1968), é quem fez uma
das mais clássicas afirmações nesse sentido. Segundo
Vesentini (1989:16): “Mosocovici fez uma afirmação que nos
parece essencial para entendermos a contemporaneidade: o século
XVIII colocou a questão política (da liberdade e da República),
o século XIX a social (socialismo, movimento ooperário) e
o século XX a problemática ambiental-ecológica.”
[4]
Algumas dessas outras referências podem ser verificadas em compêndios
da história da ciência tais como Bernal (1975) ou Garcia-Borrón
(1986).
[5]
A esse propósito, são bastante ilustrativas as três
revoluções identificadas pelo filósofo da ciência
francês, François Dagognet. Segundo Rabinow (1991): “[Dagognet]
identifica três revoluções principais nas nossas atitudes
em relação ao mundo; a primeira foi a possibilidade de uma
mecanização do mundo, associada a Galileu; a segunda foi
a Revolução Francesa, que mostrou à humanidade que
suas instituições lhe pertenciam, e consequentemente os homens
poderiam se tornar ‘senhores das relações sociais’; a terceira,
que está agora à mercê de nossa vontade, não
se refere nem ao universo nem à sociedade, mas à própria
vida.” (p. 92).
[6]
Além dos autores mencionados há pouco, especialmente nas
notas 3 e 5, vários outros poderiam ser indicados para se verificar
tais unanimidades. Entre outros: Garcia dos Santos (2003), Legget (1992),
Leis (1991), Petrella (2002), Rifkin (1999), Shiva (2001), Capra (2002),
Sartori, & Mazzoleni (2003), Rebouças (2004), Prigogine, &
Stengers (1997).
[7]
No sentido empregado por Leff (2003) que usa tal expressão para
se contrapor “ao processo de “economização” [e “tecnologização”]
do mundo”, que, segundo ele “desterrou a natureza e a cultura da produção
(...)”; “a complexização da produção — prossegue
Leff — implica a desconstrução do logos globalizador
do mercado, da compreensão mecanicista do equilíbrio macroeconômico
e dos fatores produtivos, da lei do valor que desconheceu a natureza e
a cultura” (p. 43 e 44).
[8]
Karl Ritter in: Ueber das historische Element in der geografischen Wissenschaft,
conf. 1833. Reeditado em Einleitung zur allg. vergl. Geographie,
pg. 152, cf. Ratzel (1914).
[9]
Exortações mais enfáticas sobre as necessidades de
aproximação entre os campos do conhecimento dedicados à
compreensão das dimensões geográficas, históricas
e políticas, Ratzel as retomará em seu Politische Geographie
(publicado pela primeira vez 1897) Há uma versão francesa
(texto não integral) dessa obra (Ratzel, 1988). Boa parte da primeira
seção de Géographie Politique (Du Raport
entre Le Sol et L'Etat), por exemplo, é dedicada à discussão
daquilo que Ratzel denominou de “concepção biogeográfica
de Estado”. “O Estado não é outra coisa senão uma
realidade humana, que só pode se concretizar sobre o solo da Terra”
(p.: 2), afirma Ratzel de início e ao mesmo tempo anuncia: “Eu me
sentirei amplamente recompensado por meu sacrifício se puder contribuir
para uma reaproximação das ciências históricas
e políticas com a geografia. Convencer-nos-emos, de uma vez por
todas, que o conjunto das ciências sociais não pode se desenvolver
plenamente sem uma base geográfica. Em contrapartida, nós
poderemos contar com a mais fértil das estimulações
para a geografia, seja como ciência, seja como disciplina escolar”
(Ratzel, 1988: 3). Tal “reaproximação”, para Ratzel, dependeria
tanto de convencer historiadores e sociólogos a considerar os fatores
geográficos, como de convencer geógrafos a considerarem os
fatores humanos, sociais e históricos.
[10]
Para uma rápida verificação de algumas das idéias
de vários destes (Troll, Tricart, Bertrand e Stoddart) e de outros
autores, sugerimos a coletânea organizada por Josefina Gomez Mendoza,
Julio M. Jiménez e Nicolás Cantero (Mendoza, 1988). Ver também
Dollfus (1993), Lacoste (2005) e Turco (1988).
[11]
A verificação dos esforços aproximativos das áreas
de conhecimento desses e de outros não geógrafos com a geografia
podem ser observadas especialmente nas seguintes obras: Veyne (1995), Sperber
(1992), Dosse (2004), Braudel (1992) e Worster (1991).
[12]
Para uma real dimensão do alcance desse processo urbano-industrial,
importante ir além da concepção estatístico-demográfica
que costuma reduzir a idéia de urbanização a uma simples
verificação quantitativa de quantos estão dentro dos
limites da cidade. O urbano entendido como uma “uma nova forma de mentalização
do mundo” (Moreira, 1993), vai além desses limites, pois, como sintetizou
Lefebvre (2001) em sua clássica definição: “o urbano
é tudo aquilo que cresce ao nosso redor”.
[13]
Morin & Kern,1993, p.95
[14]
Nesse conjunto poderiam ser relacionados, por exemplo, do clássico
Silent Springs de Rachel Carson ao chamado Relatório Brundtland
e o Relatório Meadows produzido pelo Clube de Roma. Tratam-se de
textos conhecidos publicados em vários países, com diversas
edições. No Brasil há edições de todos
eles. V. na bibliografia as referências completas para Carson (1962),
Meadows et al. (1972) e Brundtland et al. (1988).
[15]
As territorialidades produzidas por essas dinâmicas, estabelecem
limites e fronteiras raramente coincidentes com as dos Estados nacionais.
E as tentativas de sujeição e de enquadramento daqueles a
estes têm produzido (ou pelo menos anunciado) resultados nefastos,
seja para os ambientes locais desses mananciais de bio-sociodiversidade,
seja para regiões mais ampliadas, ou até mesmo para os recursos
e possíveis futuras matérias -primas com as quais muitos
gestores do sistema mundial aindam contam. A importância desses territórios,
portanto, é crescente e assim também é o papel que
jogam no equilíbrio de forças (considerando aqui todas as
dimensões, das naturais à sociais) planetário. Já
avaliamos parcialmente isso em dois outros trabalhos, para os quais tomamos
a liberdade de remeter o leitor: Carvalho (1996) e Carvalho (2004) — também
publicado em: www.ub.es/geocrit/mbernar.htm.
[16]
Em Naissance de La Biopolitique (Foucault, 1997), o pensador francês
afirma: “entendo por biopolítica o modo como, desde
o século XVII, a prática governamental tem tentado racionalizar
os fenômenos projetados pelo conjunto de seres vivos constituídos
em população: problemas relativos à saúde,
higiene, natalidade, longevidade, às raças e outros. Somos
conscientes do papel cada vez mais importante que esses problemas desempenharam
a partir do século XIX e também do fato de terem se convertido,
desde então e até os dias atuais, em assuntos verdadeiramente
cruciais, tanto do ponto de vista político como econômico.”
Mais considerações de Foucault acerca da biopolítica
também podem ser encontradas em sua obra A Vontade de Saber (História
da Sexualidade I), publicado no Brasil pela Graal (15ª ed. em
2003).
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Copyright Scripta Nova, 2006
CARVALHO, Marco BERNARDINO
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1 de agosto de 2006, vol. X, núm. 218 (23). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-218-23.htm>
[ISSN: 1138-9788]
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