Scripta Nova |
TURISMO E ESPAÇO: UMA LEITURA GEOGRÁFICA DA INTERFERÊNCIA DA ATIVIDADE TURÍSTICA NO PROCESSO DE (RE)ORGANIZAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA-PB
Xisto Serafim de Santana de Souza Júnior
Doutorando
E-mail: xtojunio@yahoo.com.br
UNESP/ Presidente Prudente/ SP. Departamento de
Pós-Graduação em Geografia.
E-mail: ito@prudente.unesp.br
Turismo e espaço: uma leitura geográfica da interferência da atividade turística no processo de (re)organização sócio-espacial do município de João Pessoa-PB (Resumo)
Palabras-Chaves: Turismo; atores
sociais; espaço; desenvolvimento
The decade
of 1970 brought for some Brazilian capitals events that have influenced in
their space organization. Among these
events, tourism has had prominence because ot its fast assimilation by the
public administrations. On the other
hand, tourism has produced some negative social and space changes, especially
as for sustentability of the spaces where it is implemented, leading to
dissatisfactions. The city of
Keywords: Tourism; social actors; space;
development
Introdução
A Geografia, e mais
precisamente os geógrafos, tem vivenciado, nestas últimas décadas, algumas
inovações na perspectiva de abordagem do seu objeto de estudo: o espaço geográfico.
Isto se deve, em parte, ao desenvolvimento de pesquisas nas áreas de saúde,
meio ambiente, turismo, entre outras que, embora interfiram na organização e
restruturação espacial, não despertavam o interesse do profissional de
geografia.
Dessas novas “demandas”
sócio-acadêmicas, o turismo tem recebido um certo destaque devido a sua
proximidade com o objeto e os objetivos de estudo da geografia, especialmente
no que se refere a dificuldade de se firmar e enquadrar-se a uma perspectiva
única de investigação científica, fato que tradicionalmente tem causado fortes
embates entre os geógrafos. Acrescenta-se a isto a existência de
questionamentos quanto ao reconhecimento do turismo enquanto ciência ou se este
corresponderia a mais uma atividade econômica que, dependendo do interesse e
objetivos dos agentes que o promovem e dos atores que dão significado a sua
existência, só serve para associa-lo enquanto atividade prática originada pelo
desenvolvimento social. (Boullón, 2002).
Contendas à parte, o fato é que, desde sua difusão, em meados do século
XIX, o turismo vem se apresentando, especialmente no Brasil, como a única das
atividades econômicas modernas que literalmente atua consumindo espaços (Cruz,
2002). Tal condicionante tem despertado
o interesse dos geógrafos no que diz respeito a busca por resposta sobre as
tendências e influências do turismo no processo da organização espacial.
Ao mesmo tempo em que a
geografia tem procurado construir uma base sólida, que ratifique a necessidade
de criação de vínculos com o turismo (Geografia do Turismo), as organizações
sociais, especialmente as de espaços urbanos com potencialidades turísticas,
tem buscado no turismo uma forma de inserção e desenvolvimento sócio-espacial o
que tem influenciado nas transformações espaciais. Assim, os espaços vem sendo
transformados pelo turismo sem o devido aporte científico, o que tem resultado
em fortes embates relacionados a viabilidade dessa atividade enquanto
alternativa de desenvolvimento. Por outro lado, espaços que fizeram a opção
pelo não investimento em estruturas turísticas têm tido problemas com relação
ao crescimento econômico e com o próprio desenvolvimento espacial, a exemplo de
João Pessoa (PB) que só agora tem tentado reaver o “tempo perdido”.
Tais aspectos nos despertam algumas inquietações: Que elemento(s) poderia(m) propiciar a ligação definitiva entre turismo e geografia? Os critérios de investigação geográfica são suficientes para fornecer o aporte necessário a compreensão das causas e conseqüências produzidas pela prática da atividade turística? Quais as transformações espaciais produzidas pela inclusão do turismo como alternativa de desenvolvimento? Quais os principais embates criados entre os atores sociais envolvidos com a inclusão do turismo na organização espacial?
É com a perspectiva de
traçar caminhos que propiciem a obtenção de respostas a tais questionamentos
que apresentamos este artigo. Para isso iniciaremos com um breve resgate da
base teórica tendo com objetivo situar o turismo dentro da evolução do
pensamento geográfico. A nossa proposta não é a de fazermos um resgate
sistemático da fundamentação científica aplicada ao turismo e nem muito menos
evidenciarmos os acontecimentos enquadrando-os as categorias geográficas. A
idéia é mostrarmos que a fundamentação do saber geográfico (enquanto abstração
da realidade) esteve sempre vinculado aos acontecimentos espaciais, entre os
quais o turismo, no sentido de elucida-los. Em seguida, tomando como exemplo a
cidade de João Pessoa frente a difusão da atividade turística no Nordeste,
buscaremos analisar quais os principais embates criados por parte dos atores
sociais que trabalham direta ou indiretamente com a especialização do turismo.
Turismo
e Espaço: do consumo a transformação
Se fazermos um resgate sobre
a “geohistória” do turismo perceberemos que o seu desenvolvimento é mais antigo
do que a origem do próprio termo. O mesmo pode-se afirmar quanto ao seu
significado, o qual foi difundido na Inglaterra do século XVIII com o emprego
do termo “tur” para explicar “volta,
retorno”1. De fato, as viagens produzidas para
contemplação dos primeiros jogos Olímpicos (
A difusão da atividade
turística, no entanto, só ocorreu de fato graças ao desenvolvimento tecnológico
do século XIX (máquina a vapor, trem com vagão leito, etc) e século XX
(desenvolvimento dos setores de transporte e comunicação). Adiciona-se a isto a
busca pelo ócio (Cruz, 2002) e a descoberta das paisagens litorâneas como
espaço optimun ao descanso e fuga do stress produzido pelas rotinas diárias.
Contudo, se de um lado o turismo propiciou o desenvolvimento dos locais onde
foi estabelecido; por outro, sua implementação resultou em fortes alterações no
meio ambiente devido a exaustão do uso dos espaços selecionados e a preocupação
“tardia” com o equilíbrio ambiental2, além dos
embates criados entre os espaços de inclusão e os espaços de exclusão. Isto
levou o poder público a tomar a dianteira no que se refere a criação de
políticas públicas destinadas ao controle da implementação das atividades
turísticas em espaços predefinidos. Desta forma, o turismo deixa de ser algo
produto da “contingência”, se transformando em uma forte “arma” de
reordenamento espacial.
Contudo, o que seria
realmente o turismo? Até que ponto esta atividade interfere na dinâmica do
espaço geográfico? Os caminhos para obtenção das respostas a esses
questionamentos parecem estar centrados na visualização da atividade pela
perspectiva científica –, nesse caso, que ciência poderia assumir a
responsabilidade de analisar a interferência da atividade turística no consumo
dos espaços?
Oliveira (2001:36), fazendo
uma adaptação ao conceito de turismo desenvolvido pela Organização Mundial de
Turismo, define este como um “conjunto de
resultados de caráter econômico, financeiro, político, social e cultural,
produzidos numa localidade, decorrentes da presença temporária de pessoas que
se deslocam do seu local habitual de residência para outros, de forma
espontânea e sem fins lucrativo”. Citando Mcintosh, Oliveira (2001:39)
associa ainda o turismo como sendo uma “ciência,
arte e atividade capaz de atrair, transportar e alojar visitantes, com o
objetivo de satisfazer suas necessidades e a seus desejos”. Tanto a
primeira como a segunda concepção tem alguns equívocos implícitos.
Na primeira concepção a questão
da relação espaço-tempo é desconsiderada ao se valorizar o espaço e o tempo
como duas coisas distintas3. O
turismo não pode estar limitado a um resultado econômico, financeiro, político,
social e cultural. É também isso, mas, principalmente, é reflexo temporal
dessas influências em um determinado espaço com escalas hierárquicas
diferenciadas porém indissociáveis, assimiladas por um observador. Nesse
contexto, Pires (2002:162), compreende a paisagem como um elemento essencial
para o turismo: “Se a razão de ser do
turismo (...) é o deslocamento ou movimento voluntário das pessoas de um lugar
para outro no espaço, então o turismo pode ser concebido como uma experiência
geográfica na qual a paisagem se constitui como elemento essencial”.
Avançando um pouco mais nessa perspectiva Rodrigues (1997) utiliza o termo
espaço turístico para identificar a influência desta atividade no consumo do
espaço uma vez que seus elementos são dotados de territorialidades e
intencionalidades. Completa ainda ratificando a importância do estudo da
paisagem ao enquadra-la como um recurso extraordinário sendo importante a
análise da imagem (percepção) que esta produz no observador e como este
interfere em sua dinâmica.
Um outro equívoco está
relacionado a classificação do turismo enquanto ciência uma vez que este não se
desenvolveu em meio a idéias conexas, resultantes de uma explicação sobre uma
dada realidade. Ao contrário, o turismo tem-se apropriado das idéias
desenvolvidas por outros ramos do conhecimento científico como a geografia, a
economia, a antropologia, entre outras. Nessa perspectiva, Boullón (2002:19)
menciona que “o turismo não nasceu de uma
teoria, mas de uma realidade que surgiu espontaneamente, e foi se configurando
sob o impacto de descobertas em outros campos, como, entre outras coisas, o
progresso da navegação e a invenção da ferrovia, do automóvel e do avião”.
Desta forma, como não surgiu enquanto produto de teorias o mais pertinente
seria enquadra-lo no campo de estudo de outras ciências que tenham como ponto convergente
o fornecimento de hipóteses que expliquem os fatos que levam ao desenvolvimento
do turismo ou suas influências na organização espacial. Nesse contexto, a
geografia seria uma importante via de acesso tendo em vista os seus objetivos
de estudo. Conceitos como paisagem, região, espaço e território,
tradicionalmente desmistificados pela Geografia, podem fornecer importantes
subsídios a interpretação espacial e configuração territorial produzida pelo
turismo.
De fato, se fizermos um
resgate sobre a produção geográfica, desde o período pós-sistematização
científica (séc. XIX), poderemos evidenciar que, assim como ocorre com outros
fatores responsáveis pela relação sócioespacial, o turismo tem seu
desenvolvimento em harmonia com a investigação científica, fato que pode
justificar a pertinência de estudá-lo segundo o viés geográfico4
Isto é facilmente observado
quando nos reportamos a produção de geógrafos da Geografia Tradicional, como
Humboldt e Ritter que, apoiados na visão positivista, estipularam os conceitos
de paisagem e região (natural e transformada) como forma de explicação da
relação do homem com a natureza e a associação desta através de representações
de paisagens cuja totalidade evocava a união dos elementos naturais (Gomes,
1997) como fator determinante da configuração espacial. Por outro lado, os
geógrafos regionalistas pertencentes a essa mesma escola entenderam a
classificação das regiões como o produto final da relação do homem com a
natureza, dando base para a definição de zonas com características
paisagísticas similares – definidas pelos elementos da natureza - com ênfase
especial ao fator cultural, ou seja, a importância da marca deixada pelo homem
sobre a natureza, transformando-a segundo seus interesses.
O turismo se adapta bem a
esse contexto ao valorizar as “belezas paradisíacas” produzidas pela natureza,
especialmente em regiões pouco habitadas e de difícil acesso (Oliveira, 2001). Com a influência de “agentes
patrocinadores”, não demorou muito para que a atividade turística se
utilizasse, indiretamente, do aporte descritivo fornecido pela geografia ao
optar pela seleção de espaços destinados ao seu desenvolvimento. Tais espaços
passaram a ser não apenas os que compreendiam os cenários naturais, mas também
as grandes construções e monumentos arquitetônicos históricos. São, assim,
criados roteiros onde os diversos conjuntos arquitetônicos adquirem importância
semelhante a dos ambientes naturais uma vez que ambos são produtos de uma
temporalidade, como é o caso da “exploração” das ruínas de civilizações antigas
(Maia; Inca; Egípcia; etc). Adiciona-se a isto a profissionalização das
atividades e a crescente exigência dos visitantes que refletiram na necessidade
de mudança também dos aspectos fisionômicos dos centros urbanos, especialmente
no que se refere a infra-estrutura (transporte, hospedagem, alimentação, etc) e
equipamentos (objetos criados e/ ou adaptados para o turismo, como é o caso do
trem com leito e do navio a vapor) (Oliveira, 2001) Isso resulta na criação das
primeiras zonas ou paisagens planejadas para o desenvolvimento da atividade
turística5.
Novamente a produção
geográfica se torna fundamental para explicação dessas novas relações
sócioespaciais produzidas pelo turismo. O conceito de região assim como o de
território, enquanto delimitação de áreas, passam a ser utilizados na análise
das organizações espaciais. Para isso, a geografia, da segunda metade do século
XX, busca nos modelos sistêmicos – como por exemplo o das localidades centrais,
de W. Christaller –, o embasamento para a análise das funcionalidades definidas
para o espaço e dos elementos responsáveis por sua produção. Tal fator coincide
com as descobertas das praias como ambiente de lazer, especialmente por parte
dos europeus que, no período de férias e fugindo do rigor do inverno, rumaram
em direção as orlas marítimas da região intertropical (Oliveira, 2001). Isto
foi ainda mais acentuado com a criação de
empreendimentos e roteiros destinados exclusivamente para a atividade
turística. Assim, o turismo passa a ser também enquadrado como um sistema cuja
dinâmica encontra-se relacionada ao diálogo oferta e demanda. Novamente existe
uma valorização da paisagem, estipulada como potencialidade devido ao seu
caráter estético produzido pelo arranjo e interdependência de seus elementos6.
Nesse contexto, os
ecossistemas costeiros se tornaram os condicionantes paisagísticos mais
valorizados pelos visitantes e, evidentemente, pelos agentes de turismo. Em
contraposição, com o objetivo de se adaptar a esta nova conjuntura, os espaços
urbanos, especialmente os das capitais litorâneas, são reconstruídos através da
implementação de novos equipamentos e infra-estruturas que, direta ou
indiretamente, são criados para o atendimento das novas demandas espaciais
“impostas” pela atividade turística. Em uma outra escala, as localidades rurais
(interioranas), com todos os seus atributos geofísicos, começavam a despontar
como um outro atrativo turístico ao fornecer uma possibilidade de fuga ao stress urbano cada vez mais presente e sufocante
.
Dessa forma, o sistema
turístico e a rede onde este se encontra sitiado é produto da relação entre os
pólos de atração e os espaços satélites cujos atrativos passam a dar sentido ao
espaço turístico confabulando para a criação de espaços hierárquicos para o
desenvolvimento do turismo (Barros, 1998; Barros, 2002). Entre os aspectos que
passam a ser relevantes para o desenvolvimento do sistema turístico,
destacam-se os elementos arquitetônicos de valor histórico, estimulando vários
centros urbanos a investirem na construção de infra-estrutura para “exploração”
do turismo cultural. Com o estabelecimento de vários pontos de atração e
difusão são criadas as primeiras redes turísticas, ou seja, o turismo passa a
não privilegiar o fixo, mas os roteiros, contribuindo para uma maior divulgação
das regiões que investiram na atividade turística.
A partir da década de 1970,
o crescimento urbano e o agravamento dos embates sociais, especialmente sobre o
futuro da natureza, produzem toda uma mudança na forma de compreender a relação
homem-natureza. Na geografia o reflexo disso é representado pelas críticas aos
modelos anteriores de explicação da dinâmica espacial os quais, de um lado, são
provenientes das produções de geógrafos adeptos ao materialismo histórico e
dialético que tem na relação sócioespacial o seu principal viés de análise e;
por outro lado a contribuição dos geógrafos fenomenologistas mais preocupados
em analisar a reprodução dos espaços a partir da interferência da cultura da
sociedade e do seu grau de subjetividade. Isso encontra-se bem refletido nos
encaminhamentos estipulados para o desenvolvimento da atividade turística que
passou a valorizar tanto os aspectos naturais e artificiais produzidos ao longo
da história, frutos da influência dos mais diferentes atores sociais, como a
própria impressão que as configurações paisagísticas deixam no imaginário do
indivíduo – lembranças ou desejos de visitação. A atividade turística é, assim,
de um lado valorizada como atividade consumidora de espaços (Cruz,2002) e por
outro se apresenta como produto também de ações dos mais diferentes atores
sociais através de suas práticas ou intencionalidades.
A primeira perspectiva é
valorizada pelos geógrafos marxistas que se preocupam em analisar os impactos
produzidos pela atividade turística na (re)organização espacial. Os objetos e
as ações ganham uma relevância na abordagem. Além disso, os atores sociais se
tornam objetos de investigação uma vez que suas ações passam a ser
determinantes do processo de organização espacial pela atividade turística e
pelos embates por ela produzidos. Já a segunda perspectiva, a dos
fenomenologistas, busca analisar as produções dos espaços turísticos segundo as
representações dos indivíduos que reproduzem, com apoio do imaginário,
ambientes de aproveitamento turístico onde a paisagem seria “o concreto e característico produto da
complexa interação entre uma determinada comunidade humana com suas
preferências e potenciais culturais, e um quadro de circunstâncias naturais”
(Wagner & Mikessel, 1962 Op. Cit. Barros,1998: 4). Neste caso, a relevância
maior não está direcionada a observância dos conflitos, mas a importância da
influência dos atores sociais, a partir de suas representações, criação e
recriação de espaços estrategicamente delimitados para o desenvolvimento do
turismo.
Além das divergências de
ordem conceitual e teórica, teríamos o tradicional equívoco relacionado ao
enquadramento do turismo ao setor econômico. É comum identificarmos nas mais diversas
produções bibliográficas a associação do turismo ao segundo setor da economia:
construção ou indústria. No caso da associação ao setor da construção não
existe dificuldade em identificarmos a falibilidade desta associação tendo em
vista que o turismo não constrói nada, apenas fornece uma função a um objeto
construído. Já no caso da indústria o que nos preocupa é o vínculo literal do
turismo como integrante desse setor. Desde sua origem o turismo surge como
sinônimo de serviço, especialmente os relacionados ao fornecimento do lazer.
Assim, sua classificação como indústria se torna questionável, especialmente se
levarmos em consideração o fato da existência de várias formas de se fazer
turismo (turismo ecológico, ecoturismo, turismo aventura, etc), as quais nem
sempre produzem mudanças espaciais.
A indústria, como
conhecemos, corresponde ao setor econômico destinado a transformação de
matéria-prima em produtos finais ou intermediários. O turismo não é um produto
final e nem muito menos intermediário. Conforme menciona Boullón (2002) não
existe uma indústria do lazer ou do tempo livre, o que nos leva a dedução de
que essas atividades não podem estar associadas como “industria do turismo” uma
vez que nem todos que têm tempo livre ou praticam atividades de lazer estão
produzindo ou são produto do turismo. Os próprios equipamentos utilizados por
aqueles envolvidos com o turismo são produtos industriais criados para tornar
mais fácil e confortável o “fazer turismo”. Isto se torna ainda mais grave
quando o termo é associado a um agrupamento de restaurantes, agências de
viagens, redes de hospedagem como indústrias do turismo (indústria dos
restaurantes; das agências de viagens e; das redes de hospedagem,
respectivamente). Tais elementos correspondem a setor de serviços e tem no
turismo um importante campo de ação.
De acordo com o quadro de
referências apresentado o turismo corresponderia a uma atividade econômica
responsável pelo consumo do espaço estando sua implementação diretamente
relacionada a existência de um espaço de atração, com os devidos elementos
espaciais presentes, e um sujeito disposto a desfrutar das potencialidades
desse espaço. Nesse contexto, o papel da geografia se torna muito importante
tendo em vista a influência dessa atividade com o seu objeto de estudo (o
espaço geográfico) e com as relações presentes entre os atores sociais
responsáveis pela existência dessa atividade.
Diante do exposto, os
conceitos de espaço e território seriam os principais meios de inserção ao
estudo científico dessa atividade: o primeiro por conter todas as
possibilidades de relações entre os atores (sistemas de objetos e sistemas de
ações direcionados a explicação das mudanças espaciais produzidas pelo
turismo), assim como as percepções desses com as paisagens dos locais
visitados; e o segundo por ser o principal significado do chamado fazer turismo
ao possibilitar a identificação das estratégias e táticas dos atores sociais no
que se refere a interferência histórica dessa atividade no consumo do espaço,
abarcando com isso desde a explicação da existência das zonas turísticas até a
evidência das redes que interligam os espaços turísticos. A atividade
turística, ou o “fazer turismo”, se relacionaria, assim, a uma forma de consumo
e produção do espaço cujo reflexo está relacionado aos aspectos
sócio-econômicos em seu reflexo no meio ambiente.
Outrossim, ao analisarmos
a produção e consumo do espaço pela
atividade turística a teoria se sobrepõe a prática uma vez que uma se torna
dependente da outra. O resultado disso seria a concepção de paisagem ou de
configurações paisagísticas enquanto aspectos fisionômicos de um espaço
influenciado pelo turismo tanto no que se refere aos conflitos sócioespaciais
produzidos pelos atores sociais como no que diz respeito as representações
inerentes destes ao longo de um período de ocupação.
O
turismo e a (re)produção do espaço: o município de João Pessoa/PB em contexto
A atividade turística no
Brasil teve sua ascensão a partir da década de 1970 quando os grandes centros urbanos
resolveram investir em políticas públicas que propiciassem o desenvolvimento
sócio-econômico dos seus espaços. A inclusão e difusão do modelo capitalista
fizeram com que os governantes investissem cada vez mais em programas de
infra-estrutura e alocação de equipamentos voltados para a dinamização
econômica de seus centros administrativos. Dos diversos empreendimentos
criados, o turismo ganha um destaque progressivo ao se tornar um elemento
estratégico ao desenvolvimento e organização espacial, especialmente para os
centros urbanos que dispunham dos condicionantes (físico-naturais e
sócio-culturais) básicos para o desenvolvimento desta atividade, com exceção da
infra-estrutura que passa a ser montada paulatinamente a medida em que o
turismo vai fornecendo novas dinamizações ao espaço onde é implementado.
Os fatores que motivaram
tais mudanças são, no entanto, de natureza externa e interna. A primeira é
decorrente dos novos processos produzidos na economia mundial: a globalização
(abertura de mercados), a reestruturação produtiva (desenvolvimento de novas
tecnologias e meios de produção) e o neoliberalismo (minimização da
participação do Estado no mercado) (Leubauspin, 2000), os quais passam a
interferir diretamente na escala estadual e municipal; Já o segundo, de origem
interna, se destaca através da autonomia administrativa decorrente da
(re)democratização do país na década de 1980 – os municípios deixam de ser
obrigados a submeter-se ao modelo centralizador importo pelo governo Federal
durante praticamente 30 anos –, e a conseqüente participação mais ativa do
empreendedores privados e da própria sociedade civil organizada que passaram a
influenciar de forma mais significativa no processo de seleção das políticas
públicas de desenvolvimento (Araújo, 2000).
Associando este raciocínio
ao advento do turismo estaríamos identificando que um dos principais elementos
que comandam sua origem e difusão – a infra-estrutura – está relacionado a
interferência de duas escalas cuja as ações são tanto convergentes como
divergentes: a escala exterior – corpo da superestrutura, representada pela
administração pública e setor privado, responsáveis pela seleção dos espaços e
difusão das atividade; e a inferior – tipos de investimentos em infra-estrutura
turística que propiciam toda as dinâmicas e relações espaciais no
desenvolvimento do turismo (Boullón, 2002).
Concomitante a esses acontecimentos, ocorre a difusão do turismo
de massa e a valorização das orlas marítimas como principais opções de lazer.
As administrações municipais, em sua maioria, passam a fazer fortes
investimentos em obras de infra-estrutura (rodovias, aeroportos, obras de
restauração, etc) e estímulo a difusão de equipamentos urbanos (hotéis,
pousadas, restaurantes, etc), elementos indispensáveis a atração do turista.
Embora isto tenha se desenvolvido em praticamente todas as capitais, foi no
Nordeste em que tais investimentos se apresentaram como elementos-chave no
processo de reorganização espacial, embora não de forma homogênea.
O fato é que a difusão do turismo no Nordeste
brasileiro não ocorreu por acaso. De um lado, foi nesta região que os agentes
de turismo encontraram a combinação então predominante na escala mundial: a
tríade sol, praia e mar. Por outro lado, foi com estímulo ao desenvolvimento
desta atividade que o governo Federal pode “amenizar” a má impressão deixada
com a ineficiência da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste)7 através da valorização das propriedades
físico-naturais desta região (morfológica e climática)8
adequada ao modelo de internacionalização ou de massificação do turismo (Cruz,
2002). A paisagem natural se torna, assim, o principal elemento na seleção dos
espaços destinados ao desenvolvimento da atividade turística.
Para viabilizar o
desenvolvimento do turismo nas orlas marítimas da região nordeste, o governo
Federal criou, no final da década de 1970, dois programas: o PRODETUR – Programa de ação para o
Desenvolvimento do Turismo no Nordeste – que tinha por objetivo o investimento
em infra-estrutura para áreas estipuladas como espaços-potenciais9 a atividade turística – e a política de
MEGAPROJETOS10 – que visava a
urbanização turística de trechos da orla marítima viável ao aproveitamento
turístico. Tais programas foram complementados durante a década de 1990 com a
criação do PLANTUR - Plano Nacional de Turismo – cujo objetivo estava centrado
na criação de pólos-turísticos. Tais pólos foram concebidos enquanto premissa
de que a concentração e seleção de espaços turísticos levariam a uma difusão e
aceitabilidade desta atividade bem como um conseqüente retorno sócio-econômico
(Cruz, 2002). Como exemplo disto teríamos dois Pólos turísticos desenvolvidos
no Recife: o Pólo Pina e o Recife antigo (Souza Júnior, 2001). Contudo, ao
contrário da valorização da paisagem natural, nesta nova proposta evidenciou-se
a valorização dos elementos culturais e humanizados criados para servir
prioritariamente a prática do turismo. Isto só foi possível em decorrência da
ação pública em infra-estrutura urbana e no estímulo aos investimentos em
equipamentos urbanos por parte das empresas privadas.
Contudo, os programas
desenvolvidos não foram eficientemente aplicados em todas as capitais o que
gerou fortes tensões no que se refere a locação de recursos destinados ao
desenvolvimento e estímulos a atividade – especialmente no que diz respeito aos
entraves políticos produzidos entre os governantes dos diversos estados da
região. Isto é bem evidenciado em João Pessoa, capital da Paraíba, que embora
tenha sido um dos espaços selecionados para implementação do megaprojeto (Cabo
Branco) este, após ter tido a implementação de toda a infra-estrutura básica,
foi deixado de lado retornando apenas ao debate no cenário político nesses
últimos anos, fato que não ocorreu nas capitais dos estados vizinhos a exemplo
do projeto Costa Dourada em Pernambuco e o projeto Parque das dunas
Via-costeira, em Natal.
Se analisarmos o histórico
do investimento turístico na porção oriental do litoral nordestino, tomando
como exemplo de caso as capitais Natal (RN), João Pessoa (PB) e Recife (PE)
poderíamos visualizar as divergências paisagísticas criadas pelo turismo. João
Pessoa encontra-se localizada entre Recife e Natal. Essas três capitais
constituem um dos eixos mais dinâmicos da porção oriental no nordeste
brasileiro, especialmente no que se refere a economia e as potencialidades de
desenvolvimento sócioespacial. Contudo, elas são muito diferentes. Enquanto as
áreas metropolitanas de Natal e Recife fizeram, nestas últimas três décadas,
fortes investimentos na criação de infra-estrutura para implementação da
atividade turística, João Pessoa investiu pouco. O resultado disso é que,
diferente do que ocorreu em Recife e em Natal, se de um lado houve
favorecimento a manutenção dos seus aportes paisagísticos naturais; por outro
obteve investimentos inferior aos obtidos por Recife e Natal que já dispõem de
uma área turística composta por um ou mais centros turísticos o que dificulta a
inserção concreta do município no roteiro turístico do Nordeste oriental. Apenas
recentemente é que se tem evidenciado ações (por partes do governo municipal,
estadual e empresas privadas) voltadas para reverter a situação mencionada.
Desta forma, se de um lado o “acordar tardio” de João Pessoa produziu perdas consideráveis, especialmente as de ordem econômica; por outro lado este município pode contar com um fator diferencial: a manutenção dos seus potenciais paisagísticos os quais, se bem trabalhados, podem produzir o arranque definitivo do município como referencial turístico para a região Nordeste. Contudo, as divergências entre os atores sociais e a própria distância que separa o município em relação as áreas turísticas vizinhas já edificadas assim como a disputa com outros atrativos turísticos que emergiram nos últimos anos (turismo rural; aventura; ecoturismo; etc) se apresentam como obstáculos a esse processo de implementação da área turística de João Pessoa, basta lembrarmos que no momento em que os empreendimentos turísticos foram criados em Recife e Natal as representações sociais (ONG´s, Organizações comunitárias, etc) ainda estavam em estágio inicial de consolidação não existindo, assim, grandes embates sobre a elaboração de espaços turísticos. Já em João Pessoa, esse quadro se apresenta bem diferente tendo em vista a coesão em que se encontram alguns importantes setores da sociedade civil e o desenvolvimento das políticas ambientais que tem sido usada como instrumento de retenção ao uso das potencialidades paisagísticas, especialmente pelos movimentos ambientalistas.
O fato é que a cidade de
João Pessoa, no que se refere ao turismo, possui algumas qualidades que se
apresentam como fator diferencial se relacionadas as de outras capitais, como
Recife e Natal. Esta diferença se inicia a partir do próprio processo de
urbanização. A existência de muitas barreiras litorâneas fez com que o acesso
ao continente fosse realizado apenas pelo estuário do rio Sanhauá (Mello,
1987). Foi nas margens desse rio, a partir do porto (porto do Capim)11 que a cidade nasceu e se difundiu
(Rodriguez, 1992), deixando preservada toda a área litorânea. A proteção
litorânea foi mantida devido ao surgimento de várias leis de preservação
ambiental e inibição a criação de edificações de grande porte. Isto fez com que
João Pessoa tivesse condições de manter preservado o seus condicionantes
paisagísticos – fato não evidenciado em outros municípios. Assim, contrariando
a tendência evidenciada em outras capitais, a cidade de João Pessoa possui um
acervo paisagístico ainda pouco urbanizado a exemplo das praias do litoral
norte (município de Lucena) e do litoral sul (município do Conde), além das
praias de Cabo Branco e Tambaú, localizadas no próprio município.
Contudo, se de um lado a
legislação urbana acabou resultando em benefícios para a cidade, por outro os
seu desenvolvimento fez com que a cidade fosse praticamente negligenciada nos
investimentos no setor de turismo. O Megaprojeto Cabo Branco ficou limitado a
montagem da infra-estrutura básica, não existindo ações ou investimentos que
tornassem viável a sua dinamização. Nesse contexto, a dialética está centrada
entre reaver o tempo perdido no que se refere a inserção da cidade como espaço
da zona turística do nordeste oriental e, ao mesmo tempo, promover medidas de preservação
dos seus condicionantes paisagísticos que acabaram por se tornar a identidade
da cidade. Seria isso possível?
A resposta para essa questão
depende do interesse do poder público e
da participação de outros atores sociais na organização de planos e
estratégias para o desenvolvimento e difusão da atividade turística em João
Pessoa e sua conseqüente inserção na zona turística do nordeste oriental. Como
vimos anteriormente, João Pessoa conta com os requisitos básicos para tornasse
um importante espaço turístico: um ambiente paisagístico diferente dos
encontrados em outras capitais no que se refere a preservação. Além disso, a
infra-estrutura criada para o desenvolvimento do megaprojeto Cabo Branco, no
início da década de 1990, pode ser utilizada como justificativa a atração de
investimentos por parte dos agentes que trabalham com o turismo, ficando as
demandas maiores para a revitalização das infra-estruturas urbanas necessárias
a viabilização do Pólo Cabo Brando, como é o caso de obras em saneamento ambiental
e montagem de equipamentos urbanos.
Contudo, o longo período de
ausência de uma política pública eficiente no processo de dinamização desse
espaço para o desenvolvimento da atividade turística se apresenta como um
agravante a implementação desta atividade. Os principais atrativos turísticos
estão em locais pouco acessíveis e sem uma estrutura que possibilite uma rápida
conexão entre ambos. Esta desarticulação entre a cidade de João Pessoa e esses
pólos turísticos tem sido um dos principais problemas para o desenvolvimento do
turismo e conseqüente inserção da cidade enquanto um espaço de referência na
criação da zona turística do nordeste oriental. A situação se torna ainda mais
agravante se levarmos em consideração a inexistência de um diálogo entre os
atores sociais no sentido de criar uma proposta de dinamização do espaço
turístico de João Pessoa sem perda da qualidade do seu meio ambiente e da
herança cultural.
Embora tais deficiências sejam evidenciadas, o fato de possuir áreas turísticas sitiadas nas cidades vizinhas que podem ser utilizadas como pontos na montagem da rede turística e, conseqüentemente, na criação de um sistema turístico bastante promissor onde a capital seria a área core e os municípios próximos os pontos-satélites, contribuindo para a organização do espaço turístico da grande João Pessoa, são fundamentos que justificam a necessidade de observar as possíveis transformações espaciais que podem ser produzidas com a criação desse espaço. Identificar as potencialidades e analisar as intencionalidades dos atores sociais no processo de construção e (re)construção do sistema turístico de João Pessoa seria, assim, a melhor forma de se analisar as conseqüências sócio-espaciais do turismo na organização do espaço urbano de João Pessoa.
Exemplos como os de Recife
(PE) e Natal (RN) ratificam bem a necessidade de se pensar em medidas para se
evitar transformações negativas do espaço. Isso se deve a decadência do setor
de saneamento básico e falta de ações em infra-estrutura urbana. Os primeiros
passos já estão sendo dados tanto por parte do poder público federal e estadual
ao investirem na restauração de infra-estrutura básica como o aeroporto,
realizada no final de 2004, e duplicação de avenidas e rodovias federais; como por parte das
administrações públicas dos municípios que compõem a grande João Pessoa como é
o caso da criação de resorts,
recapeamento e, principalmente, com a reativação do Megaprojeto Cabo Branco.
Por outro lado, as empresas privadas e a sociedade civil organizada têm
demonstrado interesses em investir e debater sobre ações de melhoria do espaço
turístico de João Pessoa. Tal evidência já se apresenta como um elemento
importante para o desenvolvimento sustentável do espaço turístico de João Pessoa.
Nesse contexto, a Geografia
pode fornecer um importante subsídio tendo em vista o compromisso desta com o
estudo das organizações espaciais. Os conceitos de paisagem, território e
região se apresentam como elementos-chave no estudo do espaço pela atividade
turística. Tais critérios de análise, no entanto, não podem ser concebidos com
existência em si. O turismo é uma atividade social e econômica e como tal é
objeto de estudo de outras ciências sociais. Assim, o desafio é tentar
delimitar as estratégias e táticas que remetam a um diálogo não apenas
horizontal entre as ciências, mas também vertical no sentido da sobreposição
das concepções sobre a análise da dinâmica do espaço turístico. Esta visão
multidisciplinar, por sua vez, tem que ser conduzida levando-se em consideração
as possíveis transformações espaciais e a identificação de instrumentos que ao
mesmo tempo possibilitem o desenvolvimento sócioespacial de João Pessoa.
Concluindo
Conforme observado, a
relação turismo e espaço é influenciada pelas mudanças produzidas nas
organizações espaciais uma vez que esta cria distorções verticais e horizontais
na configuração dos espaços onde é implementada cuja marca chega as vezes a
superar as temporalidades dos eventos em questão. A atividade turística se
apresenta como um importante agente reorganizador das configurações espaciais
ao criar núcleos de inclusão e núcleos de exclusão.
Isto pode ser observado se
levarmos em consideração que se de um lado a implementação da atividade
turística no consumo do espaço resulta na dinamização sócio-espacial; por
outro, produz fortes embates intra-regional uma vez que não ocorre de forma
homogênea resultando em fortes divergências espaciais e embates sociais. Essa
relação entre espaços de inclusão e espaços de exclusão se apresenta igualmente
contraditória, como foi observado em João Pessoa no que se refere a inserção da
atividade turística: se apresentando como espaço de exclusão, o que favoreceu
na preservação do seu aporte paisagístico (natural e cultural). Contudo, a
falta de investimentos em infra-estrutura para o turismo e estímulo a
implementação de equipamentos urbanos que facilitem o desenvolvimento dessa
atividade têm propiciado sérios problemas no que se refere a inclusão
definitiva da cidade na zona turística do litoral oriental brasileiro. Para
saber se este aspecto é positivo ou
negativo, se faz necessário um estudo mais aprofundado.
Por outro lado, novamente
verifica-se o equívoco que vem acompanhando o turismo ao longo do processo de
sua difusão: sua análise faz parte dos objetivos finais de sua implementação,
ou seja, não é fruto de um arcabouço teórico que seja capaz de analisar as
conseqüências sócioespaciais dessa atividade segundo uma perspectiva
científica. Cabe a Geografia o
fornecimento do aporte teórico que ratifique a importância do turismo para o
desenvolvimento sócioespacial e a articulação dos referenciais metodológicos
necessários a redução dos impactos dessa atividade no contexto espacial.
Notas
1 Oliveira (2001) aponta que a origem do termo pode estar relacionada a denominação “tur” do hebreu antigo que significa “viagem de descoberta, de exploração, de reconhecimento”.
2 De acordo com Seabra (2003) a preocupação com os danos ambientais produzidos pela atividade turística só ocorre na década de 1990 com os ambientalistas que propõem a substituição do turismo de massa pelo ecoturismo.
3 Santos (1997) vai mais além ao alertar para a necessidade de indissociarmos os termos espaço e tempo para não cairmos nos erros que limitam a interpretação de um com a ausência do outro.
4 Não queremos com isso negar a importância do estudo do turismo por parte de outras ciências sociais. Cada uma tem seu objeto e objetivo de análise e pode fornecer substanciais contribuições acerca da compreensão da dinâmica turística. O que estamos advogando é que a Geografia se apresenta como a melhor opção quando o assunto está relacionado a investigação da relação sócio-espacial nas mudanças espaciais.
5 As referências sobre o(s) tipo(s) de paisagem(ens) são, predominantemente, os modelos emergentes no mundo ocidental. No oriente, por exemplo, os templos e os jardins, em suas variedades, já eram motivos de visitação turística antes mesmo do turismo aparecer como atividade consolidada no campo da economia.
6 A importância da paisagem é destacada por vários autores. Um destes é Maria de Bolós y Capdevila que cogita a possibilidade da existência de uma Ciência da Paisagem que tem no geossistema o modelo ideal para compreensão dos fatores responsáveis por sua diversidade (Bolós y Capdevila, 1992).
7 Embora a SUDENE tenha feito fortes investimentos na Região ela não conseguiu atingir os objetivos que fundamentaram sua criação. Nesse contexto, os investimentos no setor de turismo emerge como forma de minimizar esta deficiência (Cruz, 2002).
8 Existe, no entanto, uma outra perspectiva nesta argumentação uma vez que ao valorizar os condicionantes naturais das áreas litorâneas, o semi-árido foi praticamente excluído das propostas para o desenvolvimento do turismo o que produziu fortes contrastes sócio-econômicos entre o litoral e o sertão.
9 Termo utilizado por Boullón (2002) para se referir a espaços aptos ao desenvolvimento da atividade turística.
10 De acordo com Cruz (2002) os megaprojetos são: Projeto Parque das Dunas-Via-Costeira, Natal (RN); Cabo Branco, João Pessoa (PB); Costa Dourada, litoral sul de Pernambuco e norte de Alagoas; e Linha Verde, litoral norte da Bahia.
11 Denominação popular dada ao porto do Viradouro, era o ponto principal da cidade de João Pessoa antes da fundação do Porto de Cabedelo.
ARAÚJO, T, Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro:
heranças e Urgências. Rio de Janeiro: Revan/ Fase, 2000. 392p.
BOLÓS Y CAPDEVILA, M (et al). Manual de Ciencia del paisaje: Teoría, métodos y aplicationes. Barcelona: Masson, 1992.
BOULLÓN, R. Planejamento do espaço turístico. Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo: EDUSC, 2002. 278p. (Coleção Turis).
BARROS, N. Análise regional e destinações turísticas: possibilidades teóricas e situações empíricas em Geogrfia do Turismo. In. Turismo Visão e Ação. ano 4. v. 4. n4. Revista científica do Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade Vale do Atajaí. Atajaí: UNIVALI, abr.-dez. 2002, p. 9-32.
BARROS, N. Manual de Geografia do Turismo: meio ambiente, cultura e paisagens. Recife: UFPE, 1998.
CRUZ, R. Política de Turismo e território. 3.ed. São Paulo: Contexto, 2002. (coleção turismo)
GOMES, E. Recortes de paisagens na cidade do Recife: uma abordagem geográfica. São Paulo, setembro de 1997. Tese de doutorado (Universidade de São Paulo/ Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/ Departamento de Geografia) São Paulo: USP, 1997. 278p. (Coleção Turis).
LESBAUPIN, I. Poder local X exclusão social: a experiência das prefeituras democráticas no Brasil. Petrópolis, RJ: vozes, 2000.
MELLO, J (coord.). Capítulos da História da Paraíba. Campina Grande: Grafset, 1987.
OLIVEIRA, A. Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização. 3.ed.ver. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001.
PIRES, P. A paisagem litorânea como recurso turístico. In. Yázigi, Eduardo; Carlos, Ana Fani A.; e Cruz, Rita de Cássia Ariza. (org.). Turismo: espaço, paisagem e cultura. 3a ed. São Paulo: Hucitec, 2002. Pg. 161-177.
RODRIGUES, A. Turismo e espaço – rumo a um conhecimento transdisciplinar. São Paulo: Hucitec, 1997.
RODRIGUEZ, J. (Coord. Geral). Guia Turístico - Conheça a Grande João Pessoa. Prefeitura de João Pessoa, 1992.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo. Razão e emoção. 2.ed. São Paulo: Hucitec, 1997.
SEABRA, L. Tursimo sustentável: planejamento e gestão. In. Cunha, S. Baptista da; Guerra, A. Teixeira (org.). A questão ambiental: diferentes abordagens. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. P. 153-189.
SOUZA JÚNIOR, X. Os Atores sociais na organização sócio-espacial do bairro do Pina em Recife-PE: convergências e dissidência. dezembro de 2001. Dissertação de Mestrado (Universidade Federal de Pernmabuco/ Centro de Filosofia e Ciências Humanas/ Departamento de Geografia) Recife: UFPE, 2001.
© Copyright Xisto Serafim de Santana de Souza Júnior y
Claudemira Azevedo Ito, 2005
© Copyright Scripta Nova, 2005
Ficha bibliográfica:
SANTANA, X.; AZEVEDO, C. Turismo
e espaço: uma leitura geográfica da interferência da atividade turística no
processo de (re)organização sócio-espacial do município de João Pessoa-PB . Scripta Nova. Revista electrónica de
geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de
agosto de 2005, vol. IX,
núm. 194 (116). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-194-116.htm> [ISSN:
1138-9788]
Volver
al índice de Scripta Nova número 194
Volver
al índice de Scripta Nova