Scripta Nova |
AEROPORTO REGIONAL E
BUSINESS PARK: LOGÍSTICA E NEGÓCIOS NA
GEOGRAFIA URBANO REGIONAL DE JUIZ DE FORA, BRASIL
Maria Lucia Pires Menezes
Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil.
Aeroporto Regional e Business Park: logística e negócios na geografia urbano
regional de Juiz de Fora, Brasil. (Resumo)
No município de Juiz de Fora tem
se configurado uma série de investimentos em fixos territoriais para atender a
demanda local e regional por negócios, valorização do espaço, ampliação do
consumo e ofertas alternativas de emprego. Fruto de uma política estruturada há
cerca de sete anos, este processo tem no Plano Estratégico do governo local,
com assessoria do Programa Centro Ibero-americano de Desarrollo Estratégico
Urbano (CIDEU), a tarefa de organizar e garantir as condições políticas
para implantação de vários projetos. Dentre eles destacaremos a construção do
Aeroporto Regional e de um “bussines park”, incluindo inovações na logística
dos fluxos para atender o circuito das economias regional, nacional e do MERCOSUL.
No setor das comunicações, as inovações incluem a reformulação da rede de
comunicação Panorama, afiliada da rede Globo e que atua como estruturadora do
mercado e da identidade regional da Zona da Mata mineira. Tais processos
contabilizam um importante incremento no mercado de terras e na extração de
renda urbana setores tradicionalmente importantes na economia municipal e
regional.
Palavras-chave: Juiz de Fora- Minas Gerais- inovação – gestão do território -
planejamento.
Regional aeroport
and business park: logistics and business in the urban geography of Juiz de
Fora, Brazil (Abstract)
A series of
territorial investments has been taking place in Juiz de Fora district in order
to meet the local and regional demand for business, space valorization,
consumption increase and alternative job offers. Engendered through a
structured politics that was established about seven years ago, this process
has, according to the Plano Estratégico, and with the assistance of the
Programa Centro Ibero-Americano de Desarrollo Estratégico Urbano – CIDEU, the
task of organizing and assuring the political conditions to the implementation
of several projects. Among them, the building of the Regional Airport as well
as the business parks can be highlighted as innovations in the logistics of the
flows to support the regional, national and MERCOSUL economies network. Concerning
the communication sector, the innovations include the reformulation of Panorama
Communication Network; a Rede Globo’s affiliated which acts as an element that
structures the regional market and identity of Zona da Mata mineira. These
processes amount to a significant development in the land market, a
traditionally important sector in the regional and municipal economy.
Keywords: Juiz de Fora – Minas Gerais – innovation –
territory management – planning
Juiz de Fora cidade e município de 460
mil residentes nasceu moderna. Alçada em menos de 50 anos à cidade mais
populosa e importante da Província de Minas Gerais construiu seu espaço a
partir de inovações que estruturaram rapidamente o espaço urbano entorno da
função de centro agrícola, industrial, financeiro e atualmente o mais
importante centro regional prestador de serviços do sudeste de Minas – a
Zona da Mata Mineira. Recentemente a administração pública e o empresariado
local aliançados e apoiados em modelos de gestão do território racionalista e
de orientação neoliberal tentam atrair novos investimentos para a cidade e
garantir a reprodução ampliada a partir, principalmente, da realização do
empreendimento imobiliário numa junção inédita e inovadora de investimento em infraestrutura
logística, novas tecnologias e um cardápio variado de tipos de equipamentos
imobiliários.
Ao longo do texto são destacados os
principais momentos atuais na geografia urbana da cidade, quando de um modo
geral, a inovação (ou ausência de) foi capaz de articular com o mercado de
terras e o capital imobiliário novos territórios a partir da incorporação de
terras ou da requalificação do uso intensivo do solo urbano em Juiz de
Fora. Na história do espaço urbano é possível identificar a importância
estratégica para a economia urbana e regional do capital imobiliário.
Atualmente uma nova configuração no
arranjo espacial urbano-regional se articula sobre as áreas de expansão da
cidade que seguem os principais eixos da malha viária urbana e rodoviária.
Presentes estão diversas instâncias de poder e construção do espaço, dentre
elas se destacam: o governo federal alocando recursos financeiros na duplicação
da rodovia BR-040, também presente na operacionalização técnica do Aeroporto da
Zona da Mata e a Universidade Federal de Juiz de Fora produzindo conhecimento,
ciência e tecnologia com política voltada para a cultura, para a sociedade e a
economia regional. Ao governo do estado de Minas Gerais cabem
investimentos diretos e, através de programas e políticas, a orientação
do aproveitamento econômico e das potencialidades de articulação com a economia
nacional e internacional. São os supracitados agentes os responsáveis pelos maiores
empreendimentos em curso no momento. Destaque para a iniciativa privada
que em consórcio e/ou com o apoio da prefeitura, esta devidamente
legitimada pelo Plano Estratégico municipal, assume a competência de
regular e normatizar a instalação dos novos equipamentos territoriais sobre o
município, e apoiar politicamente empreendimentos para a região. E, especificamente,
os empreendimentos imobiliários, os quais são beneficiados, direta e
indiretamente, por todos os principais projetos de impacto territorial. Assim,
quanto à iniciativa privada, salientamos sua condição beneficiária dos
empreendimentos que tem impactado a cidade e a região de modo a movimentar
investimentos que atendam ao mercado local, regional, nacional e internacional.
Nesta conjuntura, emerge uma nova
cartografia que redesenha a cidade e seu entorno e segue geograficamente nas
direções oeste-nordeste e sul-noroeste revelando as principais áreas de
expansão dos investimentos na cidade. Finalizamos com o mapeamento dos
principais empreendimentos – os que aliam tecnologia, logística e negócios
imobiliários atualmente em implantação exatamente sobre o nó rodoviário em que
se localiza Juiz de Fora. A malha viária articula e insere o espaço urbano da
cidade com os eixos das rodovias nacionais BR-040: ligação entre Rio,
Belo Horizonte- Brasília e a BR-267 – principal ligação entre o sul de
Minas, São Paulo e a Zona da Mata oriental, esta enlaçando com o eixo da BR-116
em Leopoldina, principal ligação entre o sul e o nordeste do país e a rodovia
estadual MG- 353 em direção ao interior da Zona da Mata (Piraúba) e ao estado
do Rio de Janeiro.
Inovações e origens do espaço urbano de
Juiz de Fora
Elevada, em 1850 à categoria de
município e vila nasce juntamente com a Lei de Terras, que passa a regular o
florescente e ávido mercado de terras brasileiro. Como margem de caminho ou de
caminhos, por isto, talvez, seja tão difícil compor a geografia histórica da
cidade, esta que a principio se referenciava sobre o Morro da Boiada na margem
esquerda do rio Paraibuna. Mas, imediatamente surgem outras localizações ou
outros três núcleos: Alto dos Passos, Rio Novo (ou Juiz de Fora e
atualmente Mariano Procópio) e o centro da cidade batizado como Santo
Antônio do Paraibuna, o qual se estendia entre o Morro de Santo Antônio e
a atual rua Halfeld. Disputas políticas envolvendo Henrique Halfeld, José Antônio
da Silva Pinto – o Barão de Bertioga e Mariano Procópio Ferreira Lage, todos
com interesses latifundiários e imobiliários, resultaram na votação na Câmara
Municipal em 1865, sob a defesa do Barão de São Marcelino (Marcelino Assis
Tostes, filho de Manoel Dias Tostes) do projeto que incluiu as três últimas
localidades acima mencionadas num perímetro urbano único e sob a mesma
denominação de Juiz de Fora em detrimento a Santo Antônio do Paraibuna.
Do encontro dos que vieram subindo a
serra da Mantiqueira acompanhando a frente de expansão do café com aqueles que
vinham das áreas mineradoras estagnadas, rapidamente, em menos de meio século,
surge a aglomeração urbana de Juiz de Fora. O processo estruturador do espaço
urbano e as formas que emergem se relacionam com o aporte das mais
contemporâneas inovações urbanas protagonizadas por burgueses,
religiosos, liberais e imigrantes, juntamente e ao lado do conservadorismo
católico dos proprietários cafeicultores e escravistas, escravos e agregados
rurais. O que é hoje sua área central foi rapidamente loteada numa
operação consorciada envolvendo Halfeld e os fazendeiros donos das terras.
Henrique Halfeld - ex-militar
prussiano e contratado pelo império como engenheiro de Minas na região de São
João del Rei, onde a lavra tinha recentemente escasseado, torna-se por decreto
imperial Chefe de Polícia da capital Ouro Preto. Em seguida, foi encarregado de
melhorar as condições de acesso entre a capital da Província e a capital do
país. Assim que cumpriu o primeiro trecho do caminho para a corte aporta e se
baseia em Juiz de Fora. Casando-se com uma herdeira da família Tostes,
latifundiários locais, logo enviúva. Sobre o espólio de sua esposa negocia
a troca da parte de terras com o cunhado, transferindo a que lhe
cabia: da margem esquerda do rio Paraibuna pela várzea mais ampla da margem
direita em direção às colinas que antecedem a encosta do Morro do Imperador,
exatamente na porção circundante ao trecho em que estava processando a recente
modernização do Caminho Novo. Inicia-se, assim, um florescente mercado de
terras que anos mais tarde receberia um plano urbanístico.
Na verdade a cidade foi paulatinamente
se estruturando e ampliando seu espaço ocupado entorno dos três sub-núcleos,
todos localizados na beira das rotas de trânsito para a região. O movimento de
residentes e passageiros na cidade aumentava na medida em que se expandia a
comunicação entre a Província do Rio de Janeiro e a hinterlândia produtora de
café. Tanto o Alto dos Passos como a estalagem do Rio Novo eram opções de
pouso para os viajantes, fazendeiros e comerciantes em trânsito. Entre os
núcleos oriundos dos pousos, localizavam-se as terras da família Tostes:
mais precisamente a região no entorno da colina de Santo Antônio -
rua Halfeld. Nos interstícios entre os três núcleos a Igreja vai sucessivamente
ocupando vastas extensões de terras.
Esta ordenação territorial vai se
configurando em função do controle e da urbanização das terras e do forma do
arranjo espacial que expressava as particularidades das relações entre o campo,
a capital da província e do império e a nascente cidade. Enquanto sede
municipal a cidade pressupõe a presença do aparato burocrático, jurídico e
administrativo que foi localizado exatamente na região circundante a Rua
Halfeld, onde hoje se encontra o Parque Halfeld. Além da organização do
espaço intra-urbano, a produção rural ao se avolumar vai requerer uma logística
de comercialização, atendimento ao estoque e ao escoamento do volume da
produção, principalmente se considerarmos que inicialmente ainda não havia a
malha ferroviária a serviço da circulação do produto e da força de trabalho.
Assim, a infraestrutura no espaço urbano, no caso as terras localizadas nos
aforas da região central, precisou atender a função de Juiz de Fora como
florescente entreposto comercial da região e, consequentemente,
gerando a necessidade da organização de novo espaço, em função da
intensificação do movimento mercantil e financeiro na cidade. Novos
estabelecimentos surgiram e localizaram-se na rua Halfeld. Paralelamente,
crescia a pressão sobre a moradia, surgiam novas atividades e profissões
urbanas, enquanto consolidava-se variados tipos de prestação de serviços.
De início, do estoque de terras
mercantilizáveis fazia parte, conforme supracitado, as propriedade dos
Tostes e de José Antônio da Silva Pinto, este latifundiário da região do Alto
dos Passos e urbanizador da área, além de fazendeiro em terras do município de
Simão Pereira, limítrofe a Juiz de Fora. Juntos Halfeld e Silva Pinto
construíram a rua Principal, atual avenida Rio Branco e que na verdade era o
prosseguimento da estrada que Halfeld estava remodelando. Segundo Blasenheim
(1996) Silva Pinto ganhou um contrato do governo provincial para ampliar o
Caminho Novo: de Juiz de Fora até a fronteira com o Rio de Janeiro,
transformando o povoamento do Alto dos Passos e dos arredores, o que
viria a ser mais tarde a cidade de Juiz de Fora. Esta cresceu em função do
intercâmbio comercial, sendo o principal mercado para as 150 000 mulas que
chegaram à Zona da Mata entre 1852 e 1862.
O crescimento da cidade redunda na
intensificação da especulação de terras e impulsiona o empreendedorismo com
fins de loteamento e implantação de infraestrutura. Enquanto Henrique
Halfeld – investia na várzea e no trecho compreendido pelo Morro de Santo Antônio
e a rua da Califórnia (atual rua Halfeld), Mariano Procópio implantava na
região da estalagem do Rio Novo, uma urbanização moderna que tentava se
diferenciar da “velha”, ou seja, a cidade entorno da rua Principal (atual Rio
Branco). Em suas terras, construiu o solar que seria sua casa e que recepcionou
o imperador Dom Pedro II, fundou uma colônia de imigrantes trabalhadores da
nova Estrada União Indústria por ele construída e localizou a antiga fábrica
têxtil dos Ingleses. Em 1876, na vizinhança entre sua residência e a fábrica,
Mariano Procópio inaugurou a estação ferroviária de Rio Novo. O controle de terras
significava a consolidação do poder político local, embora as relações de
Mariano Procópio com outros políticos locais não foram tão amistosas. Oriundo
de Barbacena, proprietário de terras e cafeicultor em direção de Goianá, antigo
distrito de Rio Novo, era deputado imperial com forte influencia na capital do
Brasil. Talvez tal fato explique o antagonismo local, ao ter Ferreira
Lage “roubado” o protagonismo sobre a construção de estradas antes de
Henrique Halfeld e seu “novo” Caminho Novo, ao em seguida se tornar o
empreendedor e construtor da moderna – União Indústria, nova estrada que
passou a ligar Juiz de Fora a Petrópolis, em terras do Imperador, e mais
adiante tornar-se diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil.
São, portanto, as rotas o mote
simbólico da criação e recriação da história e da geografia da cidade. Ferreira
Lage ainda tentou criar uma Sociedade para melhoria da cidade, mas Silva Pinto
foi escolhido como presidente e Halfeld como secretário, o que segundo Pedro
Nava avaliou, revelava que a cidade era dominada por dois grupos sociais bem
distintos: de um lado pessoas vinculadas à antiga tradição senhorial
aristocrática e católica e do outro membros da nova burguesia emergente. “Esses
aspectos ficam bastante evidenciados através da análise dos quatro pontos
principais que serviram de núcleo ou eixo para o desenvolvimento urbano: o Alto
dos Passos, o morro de Santo Antônio, e rua Halfeld e a estação Mariano
Procópio.” (1). A rivalidade descamba, conforme supracitado, na disputa entre o
núcleo de Juiz de Fora (Mariano Procópio) e Santo Antônio do Paraibuna. Face à
posição política contra Mariano Procópio que resultou no impedimento a qualquer
manifestação de secessão - a medida do Barão de São Marcelino, deputado
provincial redunda na anulação do nome de Santo Antônio de Paraibuna e
impõe o nome de Juiz de Fora (1865) como era então conhecida a área em torno do
palacete de Mariano Procópio. De uma só penada Marcelino Tostes retira o nome
de Santo Antonio do Paraibuna, impõe o nome de Juiz de Fora que era exclusivo
da localidade comanda por Ferreira Lage, amalgamando o território urbano em
torno de um só topônimo.
Na verdade, o sucedido revela um
processo em curso, que é a reconversão da renda da terra e formação
inicial do mercado imobiliário urbano, isto é, negócios de terras,
envolvendo o espolio da família Tostes e Souza Pinto através de seus herdeiros
e projetos de urbanização em torno dos núcleos e localidades originais e o
incremento do mercado de terras, responsáveis por impulsionar a vida
urbana e configurar a cidade. Assim que, do espólio dos Tostes que em
1837 por meio de seu patriarca – Antônio Dias Tostes – divide a Fazenda do Juiz
de Fora entre seus quatro filhos: Custódio, Manoel, Antônio Jr. E Cândida Maria
Carlota – ficando os três primeiros com as propriedades da margem direita e
Carlota com a margem esquerda. Manoel e Antônio ficaram com a parte da encosta
em direção a serra e Custodio com a várzea, a quem mais tarde vendeu a Halfeld
para um projeto ambicioso: o de fazer a variante do Caminho Novo pela várzea,
enquanto que os outros dois negociaram as terras do Alto dos Passos para
Antônio da Silva Pinto e do Morro de Santo Antônio para Halfeld e a
administração da capela de Santo Antônio também para Antônio de Souza Pinto.
A importância econômica do lugar
e a valorização das terras explicava-se pela riqueza do café que dava poder
político a região, sob e a influência da capital do Império. Desde seus
primórdios até os dias atuais Juiz de Fora é a cidade mais importante
economicamente e mais próxima da cidade do Rio de Janeiro e região. Naquele
momento o grande movimento em direção à vila de Juiz de Fora se dava porque o
café trazia lucratividade. Sobre a base urbana mais coesa, nas proximidades de onde
se localizava a Câmara Municipal, identifica-se cada vez mais a presença dos
cafeicultores e da elite política inserida no projeto de modernização imperial,
que se revelava na “transformação da cidade de Juiz de Fora num símbolo do seu
poder e do sucesso de seu estilo de vida - leia-se, da economia cafeeira
de exportação baseada na exploração do trabalho escravo. A pretensão é tornar o
centro urbano um lugar atraente, para o bem viver de uma elite poderosa e
em sintonia com as modernas noções de higiene, planejamento urbano, transporte,
cultura e segurança. Uma cidade moderna, uma cidade oitocentista” (2).
Em 1860 a Câmara Municipal contrata o
engenheiro Gustavo Dotti para alinhar e nivelar as ruas e em 1868 a
partir do cruzamento das ruas Principal e Califórnia novas ruas foram abertas.
Em Menezes (2003) expusemos como foi se
ampliando o espaço urbano a partir da modernização dos eixos viários
interligando a capital do país e da província, a introdução da malha
ferroviária e a organização dos primeiros espaços fabris de Juiz de Fora
entorno do seu núcleo central, mais precisamente nas margens do rio Paraibuna e
entorno do atual bairro Mariano Procópio e do Alto dos Passos. A imigração
iniciada por Mariano Procópio – para construção da estrada União Indústria e
para um núcleo rural familiar de suporte aos trabalhadores - fixa-se
principalmente entorno da cidade contribuindo para a formação de um exercito
industrial de reserva que vai ser paulatinamente encorpado com os egressos
rurais da abolição da escravatura e com o êxodo rural, processo que se
acentuaria sobremaneira com a crise cafeeira e a substituição paulatina pela
pecuária extensiva de base leiteria anos mais tarde. Tal processo se coaduna
com a implantação da vida escolar capitaneada por setores da Igreja católica e
protestante, assim como de instituições técnicas da iniciativa privada.
Inovação e organização do espaço
urbano-industrial
A reinversão de capitais na indústria
com o apoio do capital financeiro representado na região, principalmente pelo
Banco de Crédito Real de Minas Gerais, seguindo modelo autoexplicativo em
outras regiões cafeeiras do país iniciam o comando da economia sobre base urbano-industrial.
A cidade de Juiz de Fora veio
paulatinamente consolidando-se como centro regional da Zona da Mata (3) Centro
médio fabril, prestador de serviço e polarizando uma região agrícola
tradicional, Juiz de Fora sentirá os efeitos sobre o espaço urbano de um
crescimento acelerado e constante.
A economia urbana cresce apoiada na
difusão da indústria fordista e no mercado imobiliário criando bairros, vilas
operárias e adensando a ocupação da área central da cidade. A princípio os
vales laterais a calha do Paraibuna são ocupados e depois na medida em que a
demanda aumenta, a meia encosta das elevações no entorno da várzea são
paulatinamente loteados. O transporte de bondes chega à cidade em 1880, quando
foi criada a CIA. Ferro Carril de Bondes de Juiz de Fora. A geografia de
suas linhas é capaz de revelar a estrutura urbana da cidade, a complexificação
do espaço da área central da cidade e a formação dos bairros mais afastados ou
ainda não totalmente urbanizados como Tapera de Baixo – onde existiu a
hospedaria dos imigrantes Horta Barbosa (Santa Terezinha), Tapera de Cima (Bandeirantes),
Pito Aceso (Bonfim), Manoel Honório (homenagem ao dono da Fazenda da
Divisa que tinha sede na atual rua Américo Lobo), José Weiss- ponto da
cervejaria e mais tarde por causa do bonde – Fábrica, Passarela (final do São
Mateus), Lamaçal, (futuro Bom Pastor), Creosotagem (Francisco Bernardino), e
aqueles que se estendiam numa primeira expansão urbana ao longo de ambas as margens
do rio como Poço Rico (Três Pontes) na margem direita e Costa Carvalho (Bota
N´Água de baixo) – antigo Caminho Novo de Garcia Paes, Vitorino Braga (Bota
N´Água de cima) dentre outros.
A Companhia Bernardo Mascarenhas,
empreendimento que reuniu investimentos em produção de energia e iluminação
pública criou as bases para uma série de inovações urbanas a partir da
atividade industrial (Cf. Menezes, 2003): a primeira usina hidrelétrica da
América do Sul passa a atender à fábrica e à iluminação pública da cidade ao
mesmo tempo. Assim como fez Mariano Procópio, Bernardo Mascarenhas cria a
Associação Promotora da Imigração, sociedade particular que reunia os financiadores
e interessados no projeto, principalmente os mais importantes fazendeiros. A
abolição da escravatura e a crescente urbanização demandam força de trabalho. A
subvenção governamental apoia o projeto e uma nova onda de imigrantes chega à
região e, em sua maioria, instalam-se em Juiz de Fora. Afora os bairros de São
Pedro (Colônia de Cima) e Borboleta (Colônia de Baixo) sempre muito
referenciados como localização da população alemã; acredita-se que
outros grupos de imigrantes (portugueses, sírio-libaneses e italianos, por
exemplo) se alojaram na cidade obedecendo e promocionando o mercado
imobiliário, incluindo pequenos promotores particulares e, assim,
disseminando-se pelos bairros que surgiam no entorno da área central da cidade
original.
A cidade passa próspera pela década de
20, progressista, liberal, católica, conservadora, protestante, imigrante,
negra e acolhedora de migrantes de toda a região. Do ponto de vista da cidade
formal e oficial a cidade se modernizou, se aculturou e se embelezou.
Os anos 30 marcam o início da inflexão
da cultura cafeeira, mas a atividade urbano-industrial foi capaz de manter a
poupança interna pelo crescimento dos setores secundário e terciário da
economia urbano industrial e, principalmente, pelo crescimento da infraestrutura
da cidade física.
Um marco na historia e geografia
urbanas de Juiz de Fora foi a enchente de 19 que desalojou a população pobre
que morava em suas margens, além de atingir o setor comercial da “parte baixa”
da cidade. O rescaldo desta tragédia refletiu-se no mercado imobiliário de
baixa renda quando surgiu o bairro Vila Furtado de Menezes que abrigou
inicialmente os flagelados da enchente de 19. O governo local conseguiu verbas
do governo federal para retificação do rio, liberando assim mais terras as margens
do rio e, principalmente na margem direita aumentando o espaço que foi sendo
ocupado por fábricas e grandes armazéns, constituindo o setor atacadista da
cidade, em virtude da proximidade com a estação ferroviária.
Do ponto de vista das mudanças estruturais,
Juiz de Fora subsistiu e ampliou o setor industrial, sua base industrial era a
de substituição de importação, sendo a indústria têxtil e alimentar as de
maiores expressões na cidade. No entanto, nos anos 50 quando a base industrial
nacional muda para privilegiar o setor de bens de capital e bens de consumo
durável, outra geografia regional tinha se delineado na Zona da Mata Mineira e
a cidade de Juiz de Fora, estabelece novas relações de centro com sua região.
Uma das expressões espaciais mais reveladoras
das novas interações espaciais se expressam na falência gradativa da rede
ferroviária e sua substituição pela malha viária rodoviária. A maior
acessibilidade dada pelos transportes terrestres e novos eixos de rodovias
federais marcam uma série de clivagens na dinâmica regional e em especial
refletem sobre Juiz de Fora de duas maneiras bem importantes.
A primeira com a construção da rodovia
Rio-Bahia que adentrou na Zona da Mata no sentido longitudinal e que vai
estabelecer a ligação entre o Sudeste Oriental e o Nordeste, a leste da Zona da
Mata e impulsionam as cidades sobre este eixo, dentre elas Leopoldina,
Cataguases e Muriaé, Caratinga e Manhuaçu, todas oriundas da produção cafeeira
e interligadas a época por malha ferroviária.
A segunda diz respeito ao eixo com Belo
Horizonte, como eixo preferencial, o que ocasionou a decadência e muitas vezes o
isolamento das ligações mais interiores com municípios próximos a Juiz de Fora.
Ligações que passam a ser vicinais, quando órfãs da decadência ferroviária. As
ligações se tornam mais difíceis, mesmo cidades próximas devido à precariedade do
sistema de comunicação terrestre se tornam quase que inacessíveis.
O resultado para a economia municipal
se dá em função de uma combinação de fatores que incidem sobre uma política
nacional que não reverte investimentos para a região e que articulam outros
espaços com investimentos de ponta, sendo o caso modelar o governo Juscelino Kubitschek (1956-60) e a
montagem do arcabouço da indústria automobilística, indústria motriz para o
complexo industrial que irá consolidar a liderança da economia paulista, a
partir da expansão, articulação e funcionalidade da região metropolitana de São
Paulo.
A mudança da capital para Brasília
inicia um processo de desmobilização geopolítica e conseqüente desaceleração
econômica para o Sudeste Oriental. Para Juiz de fora, e obviamente para o
estado do Rio de Janeiro tal fato gerou um espaço de transição, onde uma
economia regional sem fôlego de competição e cuja base agrária sobrevivia com problemas
de renovação, ausência de inovações, inexistente processo de beneficiamento,
frágil organização de circulação e distribuição de bens e produção.
Paulatinamente se consolidam no país as multinacionais do setor de laticínios.
Localizadas no sul mineiro e em São Paulo foram uma concorrência agravante para
com a economia da Zona da Mata e em especial para Juiz de Fora. Enquanto isto a
maior parte da distribuição da produção agro-pastoril passa a ser dominada pelo
Central de Abastecimento da Grande São Paulo (CEAGESP), capturando, inclusive a
região metropolitana do Rio de Janeiro, antes mercado consumidor preferencial
da produção agropecuária da Zona da Mata.
A crise regional dos anos 50 se somaria
a crise nacional dos anos 60 acrescentando um quadro de crise industrial
local. Na verdade, a indústria e mais amplamente a economia regional estavam à
deriva na divisão interna do trabalho. A região perde participação na produção
e competitividade no mercado interno.
“Nos anos 50, os setores que passaram a
liderar o crescimento econômico brasileiro foram os de bens de capital e de
bens de consumo durável (siderurgia, metalurgia, química e automobilística), em
detrimento dos setores tradicionais. Juiz de Fora esteve ausente dos grandes
projetos de investimentos idealizados pelo Plano de Metas, sendo apenas
beneficiada marginalmente com a instalação da Facit S.A. Máquinas de Escritório
e da Becton and Dickinson Indústrias Cirúrgicas Ltda., de capital
internacional, sem alterar a tendência de decadência industrial da cidade. O
capita local entrou num processo de falência, com várias indústrias
tradicionais fechado suas portas e os novos empreendimentos não foram seguidos
de similares, razão pela qual não possibilitaram a dinamização da estrutura
produtiva da cidade.” (4)
Os anos 70 são um importante marco para
a economia da cidade, pois significaram a inserção do território municipal na
economia regional do estado de Minas, através de incentivos propostos pelo II
Plano de Desenvolvimento Nacional. Neste processo, o espaço juiz-forano passa a
compor uma complementaridade com o setor metalúrgico da região de
Belo Horizonte, integrando-se, pela primeira vez, à economia de Minas Gerais. A
instalação da siderúrgica Mendes Jr, atual Belgo Mineira e da Paraibuna
de Metais – metais não ferrosos foram capazes de revitalizar parcialmente o
mercado de empregos e a dinâmica interna da economia urbana. Além destas
plantas o município recebeu uma unidade da White Martins multinacional no setor
de gases químicos e a Paraibuna de Papéis fábrica de embalagens situada no
distrito industrial no bairro de Benfica e primeira indústria a receber e ser
atendida, recentemente, pelo gasoduto Rio – Belo Horizonte.
Na verdade, a crise da indústria
tradicional, a nova política industrial brasileira, a centralização fiscal e
administrativa do Estado nacional pós-64, a decadência rural e a perda de
hegemonia do Rio de Janeiro, aliados a emergência do Região Metropolitana de
Belo Horizonte ancorado no novo modelo da indústria de transformação reverberaram
na organização espacial da Zona da Mata. Juiz de Fora como centro
regional constrói novos espaços de expansão, acompanhando o modelo dominante da
América Latina, ou seja, a constituição de uma imensa periferia social
ocupando cada vez mais espaços precários e sem infraestrutura, cujo resultado é
o padrão de crescimento urbano acelerado sobre uma base econômica setorizada
cada vez mais concentrada e especializada.
Coube ao Estado autoritário (ditadura
militar 1964-85) a função de interventor no acoplamento de infraestruturas de
inserção numa nova dinâmica baseada no capital monopolista de base urbano-industrial.
Portanto, a mudança de modelo incorreu na necessidade de regular as forças de
mercado, implantar os setores de indústria estratégica, balizando o modo do
desenvolvimento sob um aparato técnico centralizado e um modelo “planejado”.
Qual o lugar da região – Zona da
Mata neste modelo? Quais os efeitos sobre a cidade de Juiz de Fora?
O plano adotado foi o das Cidades de
Porte Médio (5). Inicialmente concebida como “periferia estagnada” à Zona da
Mata Mineira coube a função e a necessidade de ordenar a força de trabalho e
imputar a sua cidade polo e centro regional-Juiz de Fora, a função de reter o
fluxo migratório que congestionava os espaços metropolitanos do país. No âmbito
rural o governo estadual lançou o PRODEMATA, programa destinado a recuperar a
produção agropecuária em áreas de concentração de pequenos agricultores, mas de
atuação pífia. Como articulação regional nenhum programa contemplou
especialmente a Zona da Mata. O resultado não tardaria se apresentar na
paisagem urbana.
Dos resultados da ação do projeto
Cidades médias a cidade promoveu a expansão da Cidade Alta, contemplada
inclusive com um plano diretor específico, intervenções sobre no centro da
cidade como urbanização de ruas de pedestres e o alargamento da avenida Rio
Branco, incluindo a construção de uma pista seletiva para o transporte público.
Além da melhorias de acesso a universidade situada na Cidade Alta, incluindo a
avenida Independência e a melhoria de acesso pela avenida engenheiro Gentil
Forn no acesso ao bairro Martelos e a região do São Pedro, dentre outras ações
urbanísticas de extrema importância para a cidade.
Sobre a organização interna da cidade
assistiu-se nos últimos 20 anos a busca de modelos e as tentativas de
implantação de políticas e projetos de regulação da pobreza urbana.
Efetivamente foram realizadas obras de infraestrutura viária, marketing e
inovações no mercado imobiliário de alta renda (6), com a implantação de novos
bairros exclusivamente residenciais, os primeiros condomínios fechados e
a ordenação da expansão urbana em eixos de alcance da rodovia BR-040, na
direção oeste do município. Funcionalmente a expansão urbana estruturou e
equipou novos subcentros dentro da cidade, como o bairro Benfica (antigo e
importante subúrbio militar e industrial da cidade) no setor noroeste e uma
região de modernidades e inovação que compreende o espaço entre o Alto dos
Passos, o São Mateus, o bairro Cascatinha e a Cidade Alta no setor sudoeste da
cidade.
Atualmente, ao longo do processo
de espacialização verifica-se a implantação de novos empreendimentos que
operam com agentes complementares e que envolvem a ação e reação do mercado
imobiliário local com a introdução de novos equipamentos territoriais e sua
consequente inserção no livre mercado da economia globalizada. A cidade passa a
ser servida pelo sistema de cabos de fibra ótica e por gás natural. O gás
natural associado (quando no reservatório
está dissolvido no óleo ou sob a forma de capa de gás e sua produção é condicionada
a produção de óleo) que é comercializado em Juiz de Fora é
processado na bacia de Campos (PETROBRAS/RJ) e bombeado até Minas Gerais,
através de uma rede que liga Rio de Janeiro a Belo Horizonte. Atualmente a
maior consumidora de gás natural é a siderúrgica Belgo Mineira.
Os novos tempos da economia aberta e da
chegada de novas tecnologias parecem redundar no abandono por parte do
inconsciente coletivo do ideal da industrialização fordista, perfeitamente
compreensível e muito desejado por sua capacidade de empregar força de
trabalho. Mas, segue preponderante a estratégia do investimentos em terras e
patrimônio. A permanecia histórica do setor de bens imóveis, feliz em tempos de
bonança e seguro em tempos de desânimo, segue como agente fundamental sobre o
espaço urbano com sua generosa capacidade de açambarcar alianças com diferentes
agentes sociais e econômicos legais e ilegais. Seu ethos incentiva o prazer
juizforano de cultuar a casa e o seu patrimônio imobiliário.
Casamento
duradouro... mesmo porque, ambos, ampliam a reprodução do capital. Sua contraface é a necessidade premente e constante da regulação do
espaço geográfico sobre o uso e a ocupação do solo.
Escalas de embate: possibilidades de
inserção regional e nacional rumo aos negócios globais
Em tempos de inovação e renovação
realiza-se uma nova rodada de reestruturação e reincorporarão dos espaços e
territórios nas regras e modos operacionais do modelo econômico em curso. Após
os anos 90 com a abertura da economia, a redemocratização do país e a nova
constituição alicerçada pelas novas tecnologias de mídia e informação, cidades
e regiões transitam para novas inserções no sistema espacial brasileiro.
Lugares emergentes, ranking de cidades, qualidade de vida são temas midiáticos
que logram apresentar novos lugares de investimentos para as mais diversas
gamas de empresários e corporações econômicas. As listas das “mais mais”
cidades que abundaram em tempos do governo de Fernando Henrique Cardoso (
1995-2002) e o sucesso da estabilização monetária do Plano Real na
imprensa baseavam-se em critérios cuja base seria a infra-estrutura implantada
pelas cidades para aportarem novos investimentos e empresas. Do ponto de vista
financeiro, o fator fundamental seria que dispor o município de poupança,
além da existência de recursos recicláveis de uma para outra atividade, através
de privatizações, parcerias e concessões. Tudo isto somado ao cuidado e à
revalorização do meio ambiente e, também, à cultura criavam uma
conjuntura favorável ao desenvolvimento do turismo.
Tal discurso encontra uma matriz geral,
européia e globalizante, onde a cidade estratégica se confunde com a cidade
sustentável (7). Estratégia e sustentabilidade são entendidas como modelo
exemplar na forma de um sistema retroalimentador de sinergias positivas.
Trabalha-se com a perspectiva de realização de negócios, atração de
investimentos e competitividade baseados na exploração máxima das vantagens
comparativas locais. O discurso incorpora a qualidade de vida e a participação
cívica de todos os setores sociais como metas a alcançar permanentemente, de
modo que a cultura cidadã e urbana possa ser revertida em fonte de atração e se
possível incremente o turismo. A gestão urbana muda radicalmente de escala
passando da organização interna da cidade para a preocupação com possíveis
investimentos estratégicos em sua região de influência direta.
Concomitantemente busca a adequação à demanda das empresas não locais às
necessidades de equipamentos territoriais de logística. Objetiva-se através da
operacionalização dos fluxos a inclusão regional nos circuitos nacionais e
internacionais.
Estudos efetuados pelo Instituto de
Pesquisa Aplicada (IPEA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e a universidade de Campinas (UNICAMP) em 1998 sobre a rede urbana
brasileira classificou Juiz de Fora como centro regional que, porém, não
constitui aglomeração urbana. Segundo o estudo, os critérios de
classificação das aglomerações urbanas busca verificar em que grau referida
aglomeração atende aos chamados aspectos fundamentais de natureza demográfica,
de estrutura ocupacional e de integração entre os núcleos. Numa aglomeração
urbana os municípios integrantes devem apresentar minimamente as seguintes
características: densidade de 60hab./km² por espaço urbanizado contínuo e um
mínimo de 65% de PEA nos setores secundário e terciário e conurbação urbana
interna. Os município de Ewbank da Câmara e Matias Barbosa sobre os quais
avança a mancha urbana de Juiz de Fora ainda não constituem processo de
conurbação completa, sendo mais provável esta configuração, do ponto de vista
da maior densidade demográfica em direção ao município de Chácara que funciona
com mais um bairro de periferia de Juiz de Fora. Na verdade o exemplo
acima se insere na problemática apontada pelo IPEA e que diz respeito ao
processo de aglomeração urbana se fazer por periferização baseada no
empobrecimento, no desemprego na não requalificação da força de trabalho, o que
vem implicado da “ocupação informal” dos centros urbanos, nas áreas centrais e
periféricas, agravada pela dificuldade do acesso a terra e por deficiências jurídicas
e políticas para legalização das áreas ocupadas. (8), contexto que os
municípios limítrofes a Juiz de Fora se inserem perfeitamente.
Assim, os municípios do entorno de Juiz
de Fora, Ewbank da Câmara e Santos Dumont, cuja sede municipal dista cerca de
35 quilômetros ao norte, ambos no eixo da BR-040 apresentam inicio de
conurbação. Ewbank constitui um pequeno município de origem rural e hoje
funciona como área de expansão urbana de Juiz de fora com característica de
periferia social e Santos Dumont um município com pequena atividade industrial,
onde se destaca a Companhia Brasileira Carbureto de Cálcio. Ambos constituem
parte do movimento pendular de trabalhadores para Juiz de Fora.
Mas, é no município de Juiz de
Fora entorno do entroncamento da BR – 0 e da BR 267 (rodovia longitudinal
ligando Mato Grosso do Sul a Zona da Mata mineira, passando por São Paulo e o
sul de Minas), que se encontram importantes indústrias, entorno das quais
se organiza um sub-eixo de expansão da cidade. Neste perímetro localiza-se
desde os anos 80 a planta da Paraibuna de Metais do grupo Votorantim, de origem
paulista - empresa dedicada à indústria, importação e exportação de minério de
zinco e seus metais associados, ligas, produtos e subprodutos. Próximo, na
BR-040 localiza-se a Mendes Júnior Siderúrgica arrendada pela Companhia
Siderúrgica Belgo-Mineira, fabricante de aços para a construção civil e
implementos agrícolas para o mercado interno nacional. No antigo distrito
industrial, no bairro de Benfica, ainda dentro deste eixo, porém já em
área urbana contínua encontra-se a Paraibuna de Papéis. Embora citadas as
principais plantas industriais nesta região, também aí se localizam inúmeras
outras indústrias dos ramos de bens de consumo. E no novo distrito industrial
entre o rio Paraibuna e a BR-040 localiza-se a fábrica da Mercedes Bens,
instalada na segunda metade dos anos 90.
Adentrando no perímetro urbano de Juiz
de Fora este eixo se prolonga até o centro da cidade acompanhando a margem
direita do rio Paraibuna onde se localizam o “velho” distrito industrial da
cidade, outros bairros industriais e vias urbanas importantes que, na verdade funcionam
como continuação da BR-267, já que a cidade não dispõe de um arco de contorno
para esta rodovia. É importante acrescentar que a geomorfologia da área urbana
de Juiz de Fora em face da declividade e dos movimentos de massa contribui para
acentuar a orientação das áreas de expansão da cidade sobre a várzea do rio
Paraibuna interconectando-se ao restante da malha viária tanto no sentido Rio -
Belo Horizonte, quanto no sentido Juiz de Fora – sul de Minas – São
Paulo, e também no sentido Juiz de Fora, Ubá – Viçosa- Ponte Nova
interiorizando-se sobre a Zona da Mata.
Mas, como complementaridade na escala regional
é o eixo entorno da BR-040 que vai aceleradamente se consolidando como área
linearmente ocupada desde o Rio de Janeiro passando por Petrópolis,
Itaipava, Areal, Três Rios- Paraíba do Sul, Simão Pereira e Matias Barbosa até
chegar a Juiz de Fora. Este eixo vem sofrendo paulatinamente um processo
intenso de urbanização podendo-se assim supor um embrião de aglomeração urbana
da Serra dos Órgãos pelo vale do rio Piabanha, do rio Paraíba do Sul até o rio
Paraibuna, explicada funcionalmente como uma área de expansão urbano-industrial
a partir do Rio de Janeiro, confirmando o estudo do IPEA-IBGE-UNICAMP (Op.cit.)
que descreve o sistema urbano do Rio de Janeiro como composto pela região
metropolitana do Rio de Janeiro, por Juiz de Fora e pela cidade de Vitória,
capital do estado do Espírito Santo e sua região metropolitana.
O prolongamento e a interioridade dos
eixos de investimentos e produção sobre a Zona da Mata poderão ser feitos a
partir da ligação de Juiz de Fora com a cidade de Ubá (centro microrregional)
impulsionada pela entrada em operação do Aeroporto Regional de Zona da Mata
(embora sua denominação seja aparentemente redundante, na verdade, associa o
tipo de instalação aeroportuária com sua localização). Obra controversa e ainda
inacabada, eivada de juízos incautos e “à boca pequena” o projeto do aeroporto
regional foi bancado pelo ex-presidente Itamar Franco, político de Juiz de Fora,
enquanto governador de Minas Gerais (1999-2002).
De modo a abstrair o contexto das
opiniões locais é importante ressaltar o significado e a importância do
aeroporto regional e da aviação regional. A idéia da aviação regional
passou a realidade quando do primeiro período de desregulamentação da economia
no EUA, por volta de 1980, a indústria aeronáutica passou a investir em modelos
menores que fossem servir de transporte de pequena carga e passageiros entre
pequenas cidades ao redor de grandes cidades. Lógica pertinente para entender
ao construção do aeroporto de Zona da Mata se não fosse por dois motivos: o
poder aquisitivo da classe média brasileira que deriva no baixo consumo do
transporte aéreo e do turismo e da não consolidação do agronegócio na Zona da
Mata como economia dominante e, portanto, alicerçada na existência de um setor
agrícola capitalizado e dinâmico. No entanto, o empresariado nacional, desde
que desprendido das amarras dos juros e da tributação necessita incrementar a
aviação regional, pois a intensificação dos fluxos no mercado interno requer a
logística aeroviária. Recentemente, com os objetivos de debater as principais
dificuldades da Aviação Regional, propor suas soluções e apresentar propostas
sobre o novo Sistema Brasileiro de Aviação Regional, foi realizado em Brasília,
o 2º Congresso Nacional de Aviação Regional, com o apoio das mais importantes
empresas aéreas brasileiras, em especial as novas empresas de âmbito regional
como a Ocean Air interessada em operar no futuro aeroporto da Zona da Mata O
evento tenta encontrar soluções para o incremento da aviação regional no espaço
brasileiro, salientando sua crescente importância face as novas demandas da
logística de transporte em que o modal aéreo ganha competitividade em relação,
principalmente ao sistema rodoviário atualmente em estado de conservação
precária, congestionado e sem alternativas viáveis de expansão física. Os dados
revelam que há 50 anos a aviação brasileira atendia 400 cidades. Atualmente
este número não chega a 130 e, caso haja uma redução haverá impacto negativo
sobre o mercado interno. A idéia que se pretende veicular é o de ser a aviação
regional uma promotora da integração e desenvolvimento de regiões afastadas dos
grandes centros urbanos. (9)
Independente do tempo que possa levar
para conclusão das obras do aeroporto da Zona da Mata é importante salientar
que, num certo sentido, sua existência pode ser encarada como ação de
planejamento para o setor econômico, cujo objetivo geral é criar assim espaços
de interseção do global com o local e regional. No entanto, sua implantação e
localização ocasionou grande impacto ambiental, social, inclusive atingindo
áreas de sítios arqueológicos. Situado numa extensa várzea rodeada por um
anfiteatro de serra de grande importância paisagística, uma das maiores
críticas sobre a localização do aeroporto recai sobre a distância com a cidade
de Juiz de Fora – cerca de 40 quilômetros. Instalado em território fronteiriço
dos municípios de Goianá e Rio Novo, o aeroporto regional e a historia de sua
construção não deixa de espelhar o histórico jogo de poder da elite
política regional: o de associar estoques de terras, com empreendimentos de
alcance regional e lucratividade imediata, com ampla reconversão do capital
social para a contabilidade da política local. Segundo o plano diretor
elaborado pela Fundação João Pinheiro de Minas Gerais em 2002, a
construção se fez a partir da implantação inicial de uma pista de pouso e
decolagem com 1800 metros de comprimento e 30 de largura – já construída, o
terminal de passageiro ocupará área de 1950 km² contando ainda com 2000 m² do
terminal de cargas.
Do ponto de vista econômico o aeroporto
se justificará quando for capaz de exportar, o que na pauta interna inclui
desde componentes para indústria automobilística, incluindo a fruticultura de
montanha, em especial a produção da região das cidades de Barbacena - Carandaí,
móveis da região de Ubá, laticínios de toda a Zona da Mata, café, e inúmeros
produtos industriais da própria Zona da Mata. Recentemente, e políticos de
Minas Gerais visitaram a região do aeroporto e decidiram reivindicar ao governo
de Minas incentivos fiscais e a criação de uma Zona de Processamento e
Exportações (ZPE), para que todo produto importado, exportado ou aquele
produzido dentro do sítio aeroportuário possa receber incentivos fiscais
seguindo o modelo da na Zona Franca de Manaus. O aeroporto, localizado na
divisa dos municípios de Rio Novo e Goianá, além das proximidades com Juiz de
Fora dista 120 quilômetros do Rio de Janeiro. Os empresários da região
comemoraram o conjunto de obras que está sendo implantado pelo governo
estadual, tendo sido encomendado a arquitetos da cidade de Juiz de Fora o plano
de construção e feições urbanísticas que assegurassem um perfil condizente com
a cultura regional para o novo aeroporto.
Além do aeroporto, está prevista
a construção de um Centro Regional de Convenções (CONEX) em JF nas margens da
rodovia BR-040, próximo ao trevo de acesso ao distrito de Torreões e que, no
momento, encontra-se com as obras paralisadas por falta de repasse de verbas do
governo estadual. Também incentivado no governo Itamar Franco e com R$ 25
milhões no orçamento, objetiva alavancar a economia da cidade,
estimulando comércio e serviços e para tanto deverá contar, segundo projeto
original, com sete auditórios que poderão atender até dez mil pessoas.
Até o momento foram gastos R $ 2 milhões na obra pela Construtora Mello Azevedo
que terraplenou o terreno da BR-040 e alterou a rede de drenagem existente no
local, canalizando um importante córrego que equilibra e abastece os mananciais
da cidade.
Entre a rodovia BR-040 e o Aeroporto da
Zona da Mata em Goianá terá que ser construída uma variante que funcionará como
um rodoanel em Juiz de Fora, de modo a dar operacionalidade intermodal aos
projetos em andamento, incluindo melhor acessibilidade a estação aduaneira - o
porto seco, localizado no distrito de Dias Tavares, próximo as instalações da
Mercedes Benz.
Logicamente que o custo de transporte
será um fator fundamental na concorrência entre o transporte aéreo e o
transporte rodoviário, sem contar que este tipo de frete tem um valor social
muito grande na medida em que emprega uma parcela significativa da força de
trabalho num país de dimensões continentais. Porém, a logística aeroportuária
deverá ainda incluir a construção do anel rodoviário, conforme já assinalado e
a ligação expressa com Juiz de Fora contatando com a BR-040, através da “Cidade
Alta” pela via São Pedro ou Interbairros e a via Remonta (margem direita do rio
Paraibuna). Consorciados com a prefeitura e o capital imobiliário é possível
antever a construção de projetos paralelos a estrutura viária intermodal como o
que se segue.
Tecnologia, segregação e
multifuncionalidade no espaço urbano.
Com os novos investimentos previstos
para o eixo de estrada BR-040 acredita-se que um novo tempo-espaço se estrutura
na área urbana de Juiz de Fora revalorizando-a, incluindo novos usos e
contatando-a diretamente com empreendimentos que perpassam escalas geográficas
mais amplas, incluindo as exportações e o MERCOSUL. Para tanto vale destacar o
projeto de matriz energética para a região que inclui a expansão do gasoduto
Rio- Juiz de Fora - Belo Horizonte no Centro de Operação de Gás de Juiz de Fora-COG-JF
com uma usina de gás já construída no bairro Igrejinha e a beira da BR-267, a
usina termelétrica de Juiz de Fora (primeira usina termelétrica do mundo a operar com etanol)
localizada no distrito industrial de Benfica e a PCH de Picada no distrito de Torreões, que já conta com projetos
estruturados de ecoturismo e valorização imobiliária no seu entorno. A usina de
Picada pretende abastecer de energia todo o processo industrial da Companhia
Paraibuna de Metais, sendo o excedente comercializado pela CEMIG – Companhia
Energética de Minas Gerais. O alagamento e a implantação da infraestrutura
necessária a construção deverá impactar diretamente a localidade de Monte
Verde, enquanto que o perímetro compreendido entre a usina e a extremidade a
montante do remanso do reservatório pode tornar-se uma unidade de conservação
de uso direto. (10)
Apesar de estar prevista pela
prefeitura a construção de um anel rodoviário com a finalidade de regular e
conter a expansão e o uso desordenado da cidade, a Via Coletora, verifica-se um
movimento do mercado imobiliário na implantação de investimentos às margens da
rodovia. Recentemente o mega projeto AlphaVille Urbanismo – grande empresa do
setor imobiliário paulista (11) com projetos espalhados por várias cidades do
país chega a Juiz de Fora e, cujas características do empreendimento
assemelham-se a construção de um bairro ou “região” de uso exclusivo dos
moradores e usuários, isto é, do tipo fechado com todos os bens e serviços
necessários, incluindo pequenas instalações industriais e galpões, tentando se
assemelhar a uma pequena cidade planejada, fazendo lembrar concepção
urbanística de jogos simulados em computador do tipo “SIM CITY”.
Em Juiz de Fora, a empresa já recebeu
as diretrizes ambientais da prefeitura da cidade e concluiu os estudos
preliminares da AlphaVille Juiz de Fora estando prestes a proceder a
apresentação oficial às autoridades do município. Situado às margens da BR-040,
o empreendimento terá 1.000.000 m² de área verde, sendo um complexo residencial
com investimento da ordem de R$ 70 milhões e deve criar mais de seis mil
empregos – 600 apenas as obras de infraestrutura.
Encontra-se, também, em
construção, também as margens da mesma rodovia, empreendimentos imobiliários do
tipo “granjeamento” em condomínio fechado e dois centros empresariais de
negócios (business park) dentre outros. É a nova área de expansão da
cidade que inclusive remete a necessidade da atualização da legislação urbana,
pois a presença de tantas inovações requer um ordenamento específico para a
região, ou pelo menos uma atualização da legislação urbana de Juiz de Fora.
Dentre estes empreendimentos destaca-se
os centros empresariais porque são elucidativos da junção do logística do
mercado atacadista e das empresas de transportes, geralmente externas a região;
do capital imobiliário, da indução de novos consumos, além do tratamento
diferenciado da força de trabalho empregada. O que há de comum entre eles é o
fato de serem espaços privados e privativos no sentido do uso e da ocupação.
Territórios fechados e ditos “seguros” congregam grupos diferenciados e
exclusivos de consumidores dentro do perfil dominante do empreendimento qual
seja: armazenagem, eventos e negócios, instalações industriais e de serviços e
moradia “personalizada”. (12) Também marcam todos estes projetos uma concepção
de design e arquiteturas exclusivas ao atendimento do uso e do perfil do
consumidor. Há, incluso, uma preocupação com a formação e o controle na força
de trabalho. A gestão empresarial preocupa-se em ter um trabalhador produtivo,
saudável e reconhecido das vantagens do seu ambiente de trabalho. No sentido de
aliar uma série de “vantagens” nas condições de trabalho, em função de se
localizarem distante do centro tradicional de cidade. A saúde do trabalho
encontra-se presente com ênfase no diagnóstico preventivo, em cursos de
prevenção de acidentes do trabalho e através da Clínica de Família busca
identificar sintomas e tratar problemas relacionados ao desempenho do
trabalhador como: absenteísmo, dificuldades de relacionamento, falta de
motivação e a realização de exames periódicos admissionais e
demissionais.
No caso do Park Sul, mais precisamente,
o espaço foi organizado de forma a aliar segurança de um modo geral, isto é, a
todas as funções ali presentes com a possibilidade de se tornar o lugar um
ponto de convivência e consumo para a população de classe média alta da cidade.
Para a população residente mais próxima, em especial a do município de Matias
Barbosa, funcionalmente um subúrbio dormitório de Juiz de Fora, a empresa
concebeu a “escola internacional” que tem como objetivo principal a inclusão
social de crianças através do ensino bilíngue de Português e Inglês com
atividades que funcionarão em período integral. Amenidades e segurança marcam o
perfil do empreendimento. Tais como: espaços de convivência para descanso
e desfrute de amenidades como jardins, (projeto paisagístico de Burle Marx),
teatro de arena para show de música, dança, poesia, contação de histórias
etc.. Conta, ainda, com a segurança de um posto da Policia Militar do estado de
Minas Gerais. É fato que estes espaços configuram territórios, cuja concepção ocasiona
formas de uso seletivo, exclusivo e especializado e que se potencializam sobre
discurso e práticas de proteção e/ou degradação ambiental. Por via de
conseqüência, os agentes econômicos locais ao territorializarem seus empreendimentos
apostam que a prefeitura impeça a periferização ou a degradação ambiental da
região. Espera-se que a municipalidade cumpra a risca sua função
reguladora e fiscalizadora do uso do território, especialmente na principal
área de expansão da cidade – a zona oeste ou como está localmente consagrada –
a Cidade Alta.
A Empresa Pangea pertence ao grupo U
& M empresa de construção pesada como barragens, operação de minas, obras
de infraestrutura, construção de estradas e aeroportos, atuando principalmente
na Amazônia e no estado de Minas Gerais. A referida empresa dedica-se a
promoção de empreendimentos imobiliários na região de Juiz de Fora, sejam para
locação no conceito “build to suit” – pronto para ocupar ou diretamente para
venda.
Os “business park” foram pensados
operacionalmente como forma de racionalizar e compartilhar custos. O primeiro
deles, o supracitado Park Sul, foi construído no município de Matias Barbosa
limítrofe a divisa com Juiz de Fora, em área de expansão urbana, ocupa antiga
área do lixão de Juiz de Fora, este deslocado para montante da estrada e agora
em se próprio território. Da prefeitura de Matias Barbosa o empreendimento
recebeu isenção por 30 anos (!) de imposto sobre circulação de mercadoria (ICM)
e do imposto sobre serviços (ISS) disponibiliza a principio 330 000 m² para
locação dos 1 300 000m² da superfície total – grande parte deste estoque
compreende a revitalização biológica do ex-lixão de Juiz de Fora. No site da
empresa na internet (13) consta um mapa com a divisão municipal da área de
abrangência do empreendimento – raios de distancia máxima de 150 quilômetros -
e a localização dos empreendimentos. Cada município é classificado em
categorias coloridas no mapa de faixas populacionais e sobre eles toda a rede
viária da região, que vai desde a região metropolitana do Rio de Janeiro – ao
sul, passando pela região serrana e norte do estado do Rio, parte sudeste da
Zona da Mata até as proximidades de Ponte Nova, passando por Congonhas, indo
até Itutinga e Cruzília e descendo pelo Vale do rio Paraíba em Itatiaia e
fechando o círculo mais amplo em Mangaratiba até novamente o Rio de Janeiro.
Compreende, portanto, a região metropolitana, a serrana, o norte e o vale
do Paraíba em território do estado do Rio de Janeiro e a parte centro sul da
Zona da Mata, incluindo a parte leste das Vertentes: Barbacena, São João del
Rei, Conselheiro Lafaiete e Congonhas.
A Pangea Empreendimentos congrega uma
série de projetos consorciados e com as mais diferentes atividades e funções.
Empreende e participa de condomínio residencial Estrela Sul com área total de
520.000 m² localizado em antiga área de encostas cobertas de pasto e, portanto,
desocupada. Muito bem localizado, situa-se entre os principais bairros da zona
sudoeste da cidade e vizinho à Universidade Federal de Juiz de Fora. Próximo,
no lado oposto ao vale da Avenida Independência e ao lado da Universidade
Federal de Juiz de Fora, a empresa participa do primeiro “shopping center”
da cidade, complexo imobiliário com 220.000m² cujo projeto conta com torres de
escritório e hotel, estando em fase de construção. Outros empreendimentos fazem
parte da empresa, porém, sob o ponto de vista da inovação destaca-se o Centro
Empresarial Tec Park, na rota da BR-040. A iniciativa é resultado de uma
parceira entre a prefeitura de Juiz de Fora, a Pangea Empreendimentos, a
Medquímica Indústria Farmacêutica, a Quiral Química (empresa incubada na
Universidade Federal de Juiz de Fora), o Centro Industrial de Juiz de Fora e o
futuro Parque Tecnológico de Juiz de Fora (ParTec). O empreendimento se
apresenta como “um completo centro empresarial, situado estrategicamente entre
Rio- São Paulo e Belo Horizonte, próximo ao aeroporto regional e,
principalmente, um projeto moderno ligado a empresas não poluentes, com elevado
apelo tecnológico e cultura de inovação”. (14)
O Tec Park (nome publicitário) será
lançado com uma infraestrutura completa numa área de 130 mil m². Estão sendo
investidos cerca de R$ 60 milhões e está prevista a abertura de cerca de 1.500
empregos. Em parceria com a empresa de telefonia TELEMAR pretende prestar os
seguintes serviços: telefonia avançada acesso a internet, redução de custo
longa distância, guarita blindada, portaria informatizada, monitoramento 24
horas por câmera de vídeo, central de infraestrutura para instalação de
interfones, serviço de manutenção, limpeza e segurança. Além de todos estes
serviços, o Tec Park ainda prevê um completo centro de serviços com agencia
bancária, correios, restaurante, café, centro de treinamento, centro de
medicina ocupacional e posto de abastecimento de combustíveis.
Sobre o Centro Tecnológico de Juiz de
Fora sua concepção inclui o emprego de funcionários altamente qualificados (não
só por criarem produtos inovadores, mas pelo aperfeiçoamento constante) e, por
consequência, provocando o aumento das faixas salariais dos setores envolvidos.
No caso de Juiz de Fora, provavelmente serão as empresas de software, fármaco e
biotecnologia. Segundo depoimento do Sebrae – Serviço de Apoio as Micro e
Pequenas Empresas o setor imobiliário também deve ser um agente presente e
deverá participar na construção dos equipamentos locais. (15)
O parque vai funcionar como um centro
de excelência, onde a integração com as empresas tradicionais, cujo objetivo
proposto será o de alavancar o desenvolvimento da região. O conhecimento
produzido deverá ser multiplicado pelos estudantes e profissionais, ou seja, o recém-formado
profissional do mercado local. A forma de gestão do parque tecnológico deverá ser
definida pelos empresários; segundo eles assim garantir o bom funcionamento
desta interface. Dentre os atores está previsto a participação de empresas de
tecnologia de ponta, universidades e institutos de pesquisa, todos instalados
num espaço comum, de modo a estimular a troca constante de conhecimento. A
concepção do parque tecnológico e sua implantação está sendo articulada em Juiz
de Fora, através da parceria entre Sebrae, Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) e prefeitura de Juiz de Fora.
A participação da pesquisa aplicada
desenvolvida pela UFJF e seu relacionamento com o setor produtivo é mais
nítido através das ações do Núcleo Softex- 2000, um dos vinte (20) núcleos
implantados no Brasil para estímulo à produção e exportação de software, do
Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (CRITT), criado em
1995 e destinado a fomentar o empreendedorismo na área de informática. Ao CRITT
são atribuídas as funções de assistência tecnológica às empresas da cidade e
região e de incubadora de empresas de base tecnológica.
As bases da circulação e distribuição
de bens, informações e capitais estão encaminhadas no espaço urbano e regional
de Juiz de Fora e sua área de influência. Diferentes atores presentes buscam
uma articulação que impulsionem a economia local-regional e a integre nos
fluxos de negócios globais. As novas bases de acumulação presentes nos
território caminham na forma de realização da reestruturação produtiva, aqui
entendida como “estabelecimento de novas formas e escalas de
espaço-tempo, com o fito de configurar um novo modo de organização de espaço
para as sociedades modernas, mudando-as na forma como até então haviam se
ordenado”. (16)
Existe uma instância mediadora entre as
tecnologias de informação e as condições reais de produção e circulação. Na
verdade, são formas de melhor realização, inscritas como fixos no território.
São por exemplo todos os empreendimentos em projeto ou execução acima
analisados. Nossa preocupação centra-se sobre o padrão e a função de fixos
territoriais necessários a realização produtiva. A especificidade diz respeito
a inserção regional na divisão territorial do trabalho numa economia que se
orienta na busca de ampliação do fórum comercial. Tanto a malha viária quanto a
rede logística atendem ao mercado ampliado da circulação e distribuição de
mercadorias, insumos, equipamentos, força de trabalho e consumidores. Na escala
local, os sistemas de comunicação e os empreendimentos imobiliários consorciam
o capital produtivo e financeiro através de um mecanismo de alianças do
empresariado local e não local, nacionais e estrangeiros, cuja realização se
processa através do consumidor da e na região.
Quais as armas? Inovação, tradição ou reinvenção?
Ainda o grande motor da economia de
Juiz de Fora é o mercado imobiliário, Sua tradição tem sido continuamente sua
capacidade de inovação e reinvenção. Ele está presente em parceria com todos os
grandes empreendimentos aqui citados, seja no mercado urbano ou de conversão
para o urbano, através do granjeamento (áreas com mais de 2000m² que funcionam
como áreas de lazer e segunda residência da classe média) e dos condomínios
fechados que abundam no entorno das áreas remanescentes rurais, seja acoplados
a projetos de preservação ambiental onde o setor imobiliário pode aparecer
cheio de regras e controle urbanístico para que agregue, por consequência,
sempre e sempre mais valor ao solo. Segundo a prefeitura, o mercado varia desde
as construções de moradias em mutirão, com atividades sociais nos fins de
semana, até às camadas média alta e média, formadas por empresários,
comerciantes e profissionais liberais, cujos rendimentos excedentes permitem a
aquisição de imóveis com a finalidade de ampliar o patrimônio, ou visando a
renda extra, decorrente do aluguel e ainda por compradores das cidades-pólo
para manter uma segunda residência na cidade grande ou para os filhos que
vêm estudar em Juiz de Fora. Ultimamente, de acordo com os sindicatos do
mercado imobiliário a lucratividade se mantêm em baixa, em razão de
considerável aumento da matéria prima, principalmente do cimento, além dos
preços de imóveis terem se mantido estáveis nos últimos dois anos, ao contrário
da década de 80, quando se obteve altos lucros. Ainda, segundo a prefeitura
local, as obras oferecem 8 (oito) mil empregos diretos à classe operária
e se levarmos em consideração os vários segmentos que envolvem uma construção,
deve chegar a 20 mil, contando com empregos indiretos. A movimentação lucrativa
fica por conta do recolhimento de impostos, IPTU, ISSQN e ICMS dada a
extrapolação pelas áreas do comércio, indústria e profissionais liberais,
decorrentes do mercado imobiliário (17). Deste modo a “rota BR-040” parece ser
o lugar da vez, pois o governo federal, o estadual, as prefeituras e os
agentes locais se movem no sentido de viabilizar a inserção da economia
regional a partir da melhoria das condições logísticas, do fortalecimento do
mercado interno regional e da promoção de negócios de lucratividade crescente
dos setores econômicos urbanos. A produção da renda urbana torna-se fundamental
para garantir o continuar do ciclo de crescimento e torna-se simultaneamente o
maior desafio.
Recentemente, a região recebeu aporte
financeiro federal para que a rodovia Rio–Juiz de Fora se torne melhor e
mais segura. “Com um financiamento de R$ 42,18 milhões do BNDES, a Companhia de
Concessão Rodoviária Juiz de Fora - Rio (Concer) duplicará 37 km de pistas
entre Matias Barbosa e Juiz de Fora, em Minas Gerais”. O projeto contribui para
a redução do número de acidentes, além de diminuir o tempo de viagem entre o
Rio de Janeiro e Juiz de Fora. O investimento total da Concer no projeto, já
aprovado pelo DNER, é de R$ 108 milhões. Serão duplicadas cinco pontes, além de
construídos dois retornos e barreiras separando os dois sentidos das pistas.
Com sua conclusão, a empresa homogeneizará a qualidade dos seus serviços, uma
vez que o restante da rodovia administrado pela Concer já possui pistas duplas.
A realização das obras permitirá a redução dos custos logísticos associados aos
transportes de produtos numa estrada vital para a integração econômica da
Região Sudeste. (18) Os investimentos ao longo do eixo rodoviário deverão
significar a montagem de uma estrutura territorial que deverá transbordar para
conexões com outros sistemas viários inter-regionais e intrarregionais e,
especificamente intermodal no caso do Aeroporto da Zona da Mata, cujo projeto
se inscreve na diretriz estadual que busca através do planejamento regional
definir e potencializar cluster econômicos regionais mineiros.
Arantes (2001) apresenta a idéia de
cluster econômicos, enquanto concentrações de empresas e entidades do mesmo
ramo de atividades associadas numa mesma região geográfica, cuja
interligação se dá por um eixo rodoviário, o que gera a necessidade de se
ter também na área, fornecedores especializados provedores de serviços e
instituições. O autor analisa a Rota 459, a partir da cidade mineira de Poços
de Caldas até a cidade paulista de Lorena no vale do rio Paraíba e
constituída oficialmente como fórum regional e que congrega os municípios
de vocação industrial do sul de Minas Gerais e parte do Vale do Paraíba, onde
identifica um processo de organização de uma infraestrutura para
operacionalização produtiva.
“Pelo fato de estarem situadas próximas
umas das outras e produzirem produtos característicos de uma região, empresas
que fazem parte desses nichos, além de influírem significativamente nas
exportações, desempenham também um importante papel no desenvolvimento
regional, na medida em que um espaço comum de trocas e, o que é mais
importante, de complementaridade entre os diversos atores envolvidos, sejam
eles governamentais, empresariais e/ou comunitários” (19)
É fato que Juiz de Fora e seu
entorno não apresentam núcleos urbanos capazes ainda de compor uma divisão
territorial do trabalho e do consumo que seja capaz de estruturar especialmente
a aglomeração urbana como, por exemplo, as cidades do Vale do Aço em Minas Gerais.
No entanto, a capacidade de polarização de Juiz de Fora se expande para além do
limite administrativo político estadual, muitas vezes este arranjo
político-administrativo se tornando um entrave à análise geográfica que
deve também considerar a origem, destino e interseção dos fluxos de
mercadorias, força de trabalho, informações e capital. Pode-se afirmar que Juiz
de Fora assume um espaço de competência para comandar a
distribuição e redistribuição de fluxos que atendam ao crescimento de uma urbanização
extensiva espraiada por toda a rede urbana hierarquicamente inferior da Zona da
Mata, das Vertentes e do Vale do Paraíba, neste se estendendo sobre o
território constituído por vários municípios do estado do Rio de Janeiro. Ao
contrário do sul de Minas que sofre influência de Campinas, São José dos Campos
e Ribeirão Preto, além obviamente de São Paulo; Juiz de Fora sofre
influência apenas da metrópole global representada pelo Rio de Janeiro e da
metrópole nacional Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais.
É provável que muito breve, além do
eixo preferencial na BR-040, possa se estabelecer uma complementaridade
espacial através do eixo da rodovia que no sentido nordeste em relação a Juiz
de Fora e que alcança Ubá, centro microrregional com função industrial e a
cidade de Viçosa, importante centro universitário federal com ênfase nos cursos
de ciências agronômicas e, mais adiante a cidade de Ponte Nova e sua
microrregião, já bem próximo da região metropolitana do Vale do Aço.
Deste ramal, Juiz de Fora
enlaça e conecta para o eixo que comunica as cidades de Barbacena, São João del
Rei e Lavras, centro universitário de ciências agrárias e florestais e onde,
também, está previsto a construção de um Parque Tecnológico e de um
Centro de Convenções. A cidade de Lavras já se encontra às margens da BR-381
que faz a ligação de Belo Horizonte com o sul de Minas, atingindo o vale do
Paraíba, São Paulo e a região de Campinas.
Seria possível para os pesquisadores
investirem na análise da efetiva área de influência da cidade se destravado do
território estadual, para compreender melhor a configuração da região comandada
por Juiz de Fora e a importância dos eixos e circuitos de escalas territoriais
mais ampliadas. Por sua vez, o governo de Minas ao lançar o Projeto Cresce
Minas de 2000, concebido e coordenado pela FIEMG tinha por objetivo fomentar o
crescimento de Minas Gerais, captando investimentos e reunindo os talentos
capazes de colocar o Estado num eixo de desenvolvimento. Alegava a necessidade
de reforçar a dinâmica do desenvolvimento autossustentado de setores e regiões
geográficas de Minas Gerais, reduzindo as disparidades e viabilizando o
crescimento das indústrias existentes, incentivando a competitividade
inter-regional, a atração de investimentos complementares, o implemento de
atividades de suporte técnico e de produtos de padrão internacional. Segundo o
projeto (20), Juiz de Fora, se insere nos seguintes clusters: automobilístico,
laticínios, mobiliário, têxtil e vestuário. Interessante notar que não são
elencadas as maiores indústrias presentes na região e que são do setor de
transformação, no que revelam por sua natureza e importância geopolítica o
caráter de complementaridade e junção no projeto econômico nacional.
No âmbito regional, recentemente
consolidou-se a expansão do setor de informação, comunicação e cultura, a
partir da organização Rede Panorama de jornal, rádio, rádio via internet,
televisão e todos os serviços da internet; sendo afiliadas do Sistema Globo de Telecomunicações
e da Globo.com. Nesta parceria ambas buscam atender a um determinado perfil
regionalizado de produção. É importante apreender que a regionalização da
mídia, além de cumprir um preceito constitucional, significa muitos outros
valores em jogo, Dos mais éticos aos mais competitivos. Na verdade, o sistema
de comunicação regional atende aos anseios de consolidação do mercado interno
regional, da ampliação do mercado interno nacional, da ampliação geral do
consumo, do reforço da identidade regional, da autoestima e do regionalismo,
impulsionando a produção de mão de obra qualificada local, de talentos e
tecnologias geradas na própria região.
É com este conceito que o Ipanorama.com
pretende-se como referência em conteúdo, informação e entretenimento
regionalizados, com foco no dia-a-dia dos mineiros. No discurso são
incorporados a novidade, a inovação e, portanto, o caráter de modernidade que
aporta a região com o empreendimento. “Uma idéia inovadora que já nasce com
grandes parcerias e investimentos maciços, visando a criação de serviços
diferenciados e conteúdos exclusivos”. Além de um rico conteúdo local que
abrange informação, entretenimento, diversão, relacionamento, serviços online e
comércio eletrônico, o ipanorama.com cria produtos para as mídias interativas,
sempre associadas à Internet: WEB, WAP, banda larga e TV interativa são alguns
exemplos.
“O ipanorama.com oferece um espaço
completo ao 'internauta', fidelizando a audiência de um mercado que cresce a
cada dia, com milhares de consumidores em potencial, acessando, comprando e
vendendo pela Internet. A partir de agora, pensou em internet na região da Zona
da Mata e Vertentes, pensou em ipanorama.com” (21).
Apostando na interatividade e na
integração regional o sistema amplia o tempo em sua grade programação e no
investimento de consumidores internautas do provedor Globo.com, incluindo a
transmissão diária do noticiário local pela internet de modo a atingir os
internautas de todos os cantos das Minas Gerais e do mundo. O espaço destinado
ao jornalismo foi ampliado de 16 para 40 minutos diários e são divulgadas
informações de 129 municípios da Zona da Mata e Vertentes atingindo um
público de 1 milhão e 700 mil telespectadores. Uma equipe foi criada em
Barbacena para a cobertura de 43 cidades. A rede empregou jovens profissionais
formados pela Universidade Federal de Juiz de Fora, incorporou novos talentos e
profissionais já estabelecidos na região, trouxe assessoria externa
introduziu uma nova competição na mídia local enfatizando a importância
de garantir ao cidadão o seu direito de expressão e da possibilidade de
conquista a da autoimagem local e regional.
Conclusão
É importante assinalar que a despeito
do quadro acima descrito sobre empreendimentos, negócios e inovações no espaço
urbano de Juiz de Fora é necessário contemporizar a análise em relação a atual
situação econômica do pais, onde os investimentos tem sofrido com as altas
taxas de juros e esforços de contabilidade interna e externa que praticamente
paralisaram a economia interna, No caso de Minas Gerais e mais especificamente
do setor produtivo de Juiz de Fora a maioria das empresas que pesam no Produto
Interno Bruto de Minas Gerais não tem comando no Estado. O poder decisório via
de regra encontra-se fora de Minas e, cada vez mais, podem estar bem longe de
Minas. As empresas privatizadas pertencem a fundos de investimento e de pensão,
cujos interesses nada têm a ver com os interesses do Estado. Percebe-se
claramente a expectativa de determinados setores econômicos pela maior presença
do Estado tanto na esfera decisória, reguladora, normativa e executora,
principalmente, na capacidade de aporte de investimentos, como fica claro o
impacto econômico que virá com o investimento do Banco de Desenvolvimento
Social e Econômico (BNDES) no principal eixo rodoviário que cruza a
cidade e a região.
Em Juiz de Fora, principal centro
urbano de uma região em fronteira estadual, portanto, com seções específicas de
competência e administração fiscal, o fenômeno urbano- regional se organiza desde
seus primórdios ao sabor do mercado e das influências geográficas mais diretas,
com assim o é na espacialidade capitalista. No que tange a ação do Estado, as
políticas estaduais efetivamente não se realizam, em contraste com a
municipalidade que se lança com ousadia na estratégia dos negócios, descuidando
do setor social, incentivando a privatização da cultura e cuidando para que a
classe média continue se embalando no sonho realizado de seu mais caro
território – a casa. Um variado cardápio impele às novas formas de localização:
perto da mata, do shopping, na estrada, na reserva de proteção ambiental,
próximo ao verde, às margens da represa. Como exemplo, um dos novos negócios da
empresa Pangea consta de um projeto de interligação entre o Park Sul e a
Reserva de Patrimônio Natural (RPPN) de 300 ha do Instituto Celso Juarez de
Lacerda, empresário e latifundiário na região, onde se pretende construir um
corredor ecológico e futuramente criar um projeto imobiliário dentro da
concepção de desenvolvimento sustentável.
Enfim, um enorme apelo às paisagens
variadas, mas que paradoxalmente ainda longe do rio– o rio Paraibuna, já que
este só é apreciado e visto de longe pela especulação imobiliária, embora um
dos ícones mais exaltados da história e geografia urbana de Juiz de Fora.
A despeito das inovações introduzidas
pelo Planejamento Estratégico de Juiz de Fora, as novidades se referem muito
mais ao marketing do próprio plano e à promoção de projetos pontuais
localizados nas áreas mais bem estruturadas da cidade do que propriamente adito
às soluções dos graves problemas sociais (22) e da promoção da cidade como um
todo articulado. A prefeitura capitaneou um plano “estratégico” para a cidade
que no discurso e na apresentação da metodologia se apresenta como
participativo, mas que na prática é extremamente competitivo, seletivo e
empresarial.
Na paisagem, em resumo,
vislumbramos a cidade atrativa do oeste, enquanto que tentamos encobrir o
“panorama” da cidade esquecida do leste. A ideologia do planejamento nos impele
a prever e avaliar, mas a práxis da pesquisa pública nos faz analisar e
produzir conhecimento para todos.
Apesar da assessoria do CIDEU – Centro
Iberoamericano de Desarollo Estratégico Urbano (23) a rede de cidade
ibero-americana precisa saber conhecer melhor a cidade latino americana nas
diferenças fundamentais que apresentam em relação as cidades ibéricas. Uma das
diferenças fundamentais é a presença de uma periferia social de baixa
escolaridade, excluída da formação atualizada do trabalho. Do ponto de vista
espacial a população habita um estoque de terras mal localizadas, isto é, em
área de risco ambiental; sem infraestrutura urbana básica e sem plena
cidadania, onde se reverte minimamente investimentos e nenhum
empreendimento. Estamos todos na rede e quanto maior a rede, maior a
diversidade dos pescados.
Com certeza Barcelona não é aqui.
Notas
[1] - Azzi, 2000:
37
[2] - Goodwin Jr.,
1997: 126
[3] – Cf. Menezes,
2003
[4] - Bastos, 2002:6
[5] - Cf. Menezes, 2003
[6] - Cf. Rodrigues, 2004
[7] - Cf. Borja, 1992
[8] - Cf. Mota, 2001
[9] – Ver em http://www.aviacaoregional.com.br/.
[10] - Cf. Fontes & Cruz, 2004
[11] – Ver em http://www.alphaville.com.br/
[12] - Cf. Rodrigues, 2004
[13] – Ver em http://www.parksul.com.br/.
[14] – Ver em http://www.tecparkjf.com.br/.
[15] –Disponível em http://www.jfservice.com.br/cidade/arquivo/jfhoje/2001/02/19-Parque_tecnologico/
[16] – Moreira, 2003:7.
[17] – Disponível em http://www.jfservice.com.br/cidade/arquivo/jfhoje/2001/02/19-Parque_tecnologico/
[18] – Ver em http://www.bndes.gov.br.
[19] – Arantes, 2000:185.
[20] – Disponível em http://www.fiemg.com.br/exposicao_industria/painel-43.htm.
[21] – Ver http://ipanorama.globo.com/.
[22] - Cf. Menezes, 2003
[23] – Ver em http://bcnweb2.bcn.es:8885/cideu/.
Bibliografia
Arantes, Paulo T. L.
– Cidades: competitividade, competição e cooperação. Estudos de caso de quatro
cidades sul mineiras, São Paulo: USP/FAU. Tese de Doutorado, 2001 Pp.342.
Azzi, Riolando – Sob o Báculo
Episcopal. A Igreja Católica em Juiz de Fora (1850-1950). Juiz de Fora: Centro
de Memória da Igreja em Juiz de Fora, 2000.
Bastos, Suzana Quinet de A. B. - Juiz
de Fora: análise do desenvolvimento industrial e dos desafios colocados pela
implantação da Mercedes-Benz, Diamantina: X Seminário sobre a Economia Mineira,
2002. Pp.28.
Bastos, Wilson de L. – Do Caminho Novo
dos Campos Gerais à Atual BR-135. Juiz de Fora: Imprensa Universitária, 1975.
Blasenheim, Peter. As Ferrovias de
Minas Gerais no Século Dezenove. 1996, Lócus. Revista de História.n. 3.p.
81-110.
Borja, Jordi et alli – Barcelona.
Eurocitat v. 1. Barcelona: Ajuntament de Barcelona, 1992.
Caiado, Aurélio S. C. & Santos,
Sarah M. M. – Novas Espacialidades da Rede Urbana Paulista. Rio de Janeiro:
ANPUR. Anais do IX Encontro Nacional: Ética, Planejamento, a Construção
Democrática do Espaço, 2001. Pp. 496-510.
Capel, H. Ciencia,
innovación tecnológica y desarrollo económico en la ciudad contemporánea. Barcelona: Universidad de Barcelona, Revista Electrónica de Geografia y
Ciencias Sociales no. 23, 15 de junho de 1998.
Casanova, Janderson – Criação da Região
Metropolitana de Juiz de Fora: distorções de uma microrregião heterogênea. Juiz
de Fora: UFJF – Departamento de Geociências. Trabalho final de pós-graduação.
2004. Pp.22.
Egler, Claudio A.- Integração Econômica
a Redes Logísticas no Cone Sul. Brasília: Seminário sobre Dinâmicas
Territoriais. Tendências e Desafios da Integração do Brasil Contemporâneo 2001
pp312- 326.
Fontes, Pedro Henrique Dias & Cruz,
Mendelson Correa – A possibilidade de aproveitamento das paisagens,
potencialidades naturais e culturais do meio rural de Torreões para o
desenvolvimento turístico local. Juiz de Fora: UFJF. Trabalho final da
disciplina Planejamento Agrário, 2004 pp.31.
Gonçalves, Denise (coord.) – História
das Cidades e Teoria do Planejamento. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa,
2001.
Gonçalves, Eduardo - Possibilidades e
limites para o desenvolvimento da indústria de alta tecnologia em Juiz de Fora.
Belo Horizonte:UFMG / Cedeplar. Dissertação de Mestrado, 1998 Pp.115.
Goodwin Jr., James W. – A Modernidade
como Projeto Conservador: a atuação da Câmara Municipal de Juiz de Fora,
1850-1888. Lócus. Revista de História vol. 3 n.1, 1997 pp.116-131.
Giroletti, D. Industrialização em Juiz
de Fora : 1850 a 1930. Juiz de Fora: UFJF, 1988.
Lordello de Mello, Diogo – Dos
Experiências Exitosas de Gerencia Municipal en Brasil: Juiz de Fora y Toledo.
Bogotá: Seminario- taller latinoamenricano Banco de Êxitos Municipales,
1989.
Lordello de Mello, Diogo – Regiões
Metropolitanas e Aglomerados Urbanos. Rio de Janeiro: Revista de Administração
Municipal v. 39n.208 Pp. 48-55.
Menezes, Maria Lucia P. Juiz de Fora e
a moradia popular: o Alto Santo Antônio. 2003, V Colóquio Internacional de
Geocritica. Barcelona.
Minas Gerais. Fundação João Pinheiro.
Plano Diretor de uso e ocupação do solo para o município de Goianá. Belo
Horizonte, 2002.
Minas Gerais. Fundação João Pinheiro-
Análise Regional da Funcionalidade da Economia Mineira. Belo Horizonte., 1990.
Minas Gerais. Secretaria de Estado de
Transporte. Plano Multimodal de Transportes. Belo Horizonte: DER/MG, 1994.
Moreira, Ruy – Os Quatro Modelos de
Espaço-Tempo e a Reestruturação Espacial Brasileira. In: Moreira, Ruy (org.) –
A Reestruturação Industrial Espacial do Rio de Janeiro. Niterói: UFF/CNPq,
2003. Pp.7-27.
Moura, Rosa & Firkowski, Olga L. C.
– Metrópoles e Regiões Metropolitanas: o que isto tem em comum ? Rio de Janeiro:
ANPUR. Anais do IX Encontro Nacional: Ética, Planejamento, a Construção
Democrática do Espaço, 2001. Pp. 105-114.
Motta, Diana M. – Principais
Características da Urbanização: desafios da gestão urbana. Brasília: Seminário
Dinâmicas Territoriais. Tendências e Desafios da Integração do Brasil
Contemporâneo 2001. pp. -57.
Prefeitura de Juiz de Fora. Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano – versão preliminar, 1999.
Rodrigues, Andréia de Souza Ribeiro –
Atuais dinâmicas sócio-espaciais: a habitação em Juiz de Fora. Rio de Janeiro:
UFRJ: Programa de Pós-graduação em Geografia. Projeto de dissertação de
Mestrado, 2004. Pp.36.
Sánchez, Fernanda – A (In)
sustentabilidade das Cidades-vitrines. In: Acselrad, Henri – A Duração das
Cidades. Sustentabilidade e Risco nas Políticas Urbanas. Rio de Janeiro: DP
& A, 2001. Pp. 155-175.
Sànchez, Joan Eugeni. Metropolização e
modernidade. In: SANTOS, M. et alli. - O novo mapa do mundo: fim de
século e globalização. São Paulo: Hucitec/ANPUR, 1997. p. 293-302.
Silva, Vitorino & Guimarães,
Eduardo N. et alli. – Aglomeração Urbana de Uberlândia (MG): formação
sócio-econômica e dinâmica recente. Rio de Janeiro: ANPUR. Anais do IX Encontro
Nacional: Ética, Planejamento, a Construção Democrática do Espaço, 2001.
Pp.167-480.
Sposito, Maria Encarnação B. – As
Cidades Médias e os Contextos Econômicos Contemporâneos. In: Sposito, Maria E.
B. (org.) – Urbanização e Cidades: Perspectivas Geográficas. Presidente
Prudente: UNESP, 2001. pp.609-643.
Universidade Federal de Juiz de Fora.
Plano de Desenvolvimento Sustentado do Sudeste Mineiro. Juiz de Fora:
UFJF/Centro de Pesquisas Sociais, 1995. 139p.
Vainer, Carlos B. – Pátria, Empresa e
Mercadoria: notas sobre a estratégia discursiva do planejamento estratégico.
In: Arantes, Otilia et alli. – A Cidade do Pensamento Único. Petrópolis: Vozes,
2000.
Viscardi, Claudia M. R. – Historia,
Região e Poder: A Busca de Interfaces Metodológicas. Lócus – Revista de
História vol.3 n.1, 1997 pp.84-97.
Sítios consultados na Internet
1 –Segundo Congresso Nacional de
Aviação Regional em http://www.aviacaoregional.com.br/.
2 –Empreendimentos Alphaville em http://www.alphaville.com.br/.
3 – Empresarial Park Sul em http://www.parksul.com.br/.
4 –Tec Park Centro Empresarial em http://www.tecparkjf.com.br/
5 – Noticiário online sobre a
construção do Tec Park em http://www.jfservice.com.br/cidade/arquivo/jfhoje/2001/02/19-Parque_tecnologico/
6 – Dados do Banco Nacional de
Desenvolvimento em http://www.bndes.gov.br.
8 – Política econômica do governo do
estado de Minas Gerais em http://www.fiemg.com.br/exposicao_industria/painel-43.htm.
9 – Página web do Centro Iberoamericano
de Desarrollo Estratégico Urbano em http://bcnweb2.bcn.es:8885/cideu/.
© Copyright Maria Lucia Pires Menezes,
2004
© Copyright Scripta Nova, 2004
Ficha bibliográfica:
MENEZES, M.L. P. Aeroporto Regional e Business
Park: logística e negócios na geografia urbano regional de Juiz de Fora,
Brasil.Scripta Nova. Revista electrónica de
geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de
Barcelona, 1 de agosto de 2004, vol. VIII, núm. 170 (23). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-170-23.htm>
[ISSN: 1138-9788]
Volver al índice de Scripta Nova número 170
Volver
al índice de Scripta Nova