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Scripta Nova.
 Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales.
Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788] 
Nº 94 (77), 1 de agosto de 2001

MIGRACIÓN Y CAMBIO SOCIAL

Número extraordinario dedicado al III Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)

CONSTRUINDO UMA ECONOMIA ÉTNICA EM TORONTO, CANADÁ*

Carlos Teixeira
Departamento de Geografia, Universidade de Toronto
St. George and Scarborough, Ontário, Canadá
cteixeira@idirect.com

(Tradução para o português: Paulo Roberto Rodrigues Soares)


Construindo uma economia étnica em Toronto, Canadá (Resumo)

O artigo analisa o comportamento, as estratégias e as barreiras encontradas pelos empresários portugueses na Área Metropolitana de Toronto, Canadá.  Nossa atenção se centra na utilização dos recursos comunitários ("étnicos") e na maneira pela qual estes recursos contribuem para a formação, manutenção e êxito dos negócios de propiedade portuguesa. Os dados para este estudo foram obtidos através de um questionário entregue a 54 empresários de Toronto. Os dados coletados nos questionários indicam que os empresários portugueses estão altamente vinculados aos recursos de sua comunidade - redes de confiança e amizade, bem como laços comunitários - para estabelecer e manter seus negócios.  A este respeito, as evidências sugerem que os empresários portugueses estão apoiados por una forte rede étnica que contribui ao êxito de seus negócios étnicos, e por consequência, ao êxito de una economía étnica portuguesa en Toronto.

Palavras-chave: portugueses/ empresa étnica/ recursos comunitários/ economía étnica/ Toronto.


Building an ethnic economy in Toronto, Canada (Abstract)

This paper examines the behavior, strategies, and barriers faced by owners of Portuguese businesses in the Toronto Census Metropolitan Area (CMA), Canada. Attention will be focussed on the utilization of community ("ethnic") resources (e.g., family, friends, and community support/ties), and how these resources contribute to the formation, maintenance, and success of Portuguese-owned businesses. Data for the study was obtained from a questionnaire survey that was administered to a sample of 54 Portuguese entrepreneurs in Toronto. Data collected from the questionnaire survey indicate that Portuguese entrepreneurs rely to a large degree on their own community resources – networks of kinship/friendship and community ties – in establishing and running their businesses in Toronto. In this respect, the evidence suggests that Portuguese entrepreneurs are supported by a strong "ethnic" networking which contributes to the success of their ethnic businesses and, ultimately, of the Portuguese "ethnic economy" in Toronto.

Key Words: Portuguese / ethnic entrepreneurship / community resources / ethnic economy / Toronto.


É comum afirmar que o Canadá é um país que experimentou uma rápida transformação. Na segunda metade do século XX a sociedade canadense se tornou racial e culturalmente heterogênea e os grupos imigrantes foram o principal fator da diferenciação social das suas grandes cidades (Bourne 1999; Ley 1999). Desde a Segunda Guerra Mundial as áreas metropolitanas canadenses foram impactadas por importantes tendências sociais –reestruturação econômica; mudanças na estrutura etária e na expectativa de vida; e a imigração – que transformaram a geografia social destas áreas urbanas. Atualmente a Área Metropolitana de Toronto (Toronto Census Metropolitan Area - CMA) não é somente o principal “porto de entrada” para imigrantes que chegam no Canadá, mas também a maior e mais etnicamente diversa metrópole canadense, tornando-se um micro-cosmo do mundo (Murdie e Teixeira 2000; Frisken et al. 2000).

A imigração alterou socio-economicamente o espaço urbano de Toronto. Desde a Segunda Guerra Mundial a metrópole se tornou um mosaico de bairros étnicos – uma cidade de “pátrias” – com ondas de imigrantes que estabeleceram novos enclaves com seu próprio comércio étnico ou “economias étnicas”, nas quais tentaram reproduzir muitas das características e tradições deixadas para trás nos países de origem. Alguns grupos - como judeus, chineses, italianos e portugueses - chegaram antes dos anos sessenta, e se instalaram nos bairros centrais de Toronto, onde construíram bairros étnicos compactos e distintos, tanto cultural, como institucionalmente. Em contraste, os imigrantes e refugiados chegados depois da década de 1960 - do Caribe, América Latina e África - evitaram as áreas tradicionais de recepção de imigrantes preferindo se assentarem na área contígua, nos “velhos” subúrbios de Toronto (por exemplo, Etobicoke, North York e York). Para a maioria destes grupos não havia nenhum enclave pré-existente que ajudasse em sua integração na sociedade canadense. A geografia residencial destes grupos é mais difusa e complexa que os padrões de assentamento dos grupos imigrantes que chegaram à Toronto antes dos anos sessenta (Ray, 1998).

A política canadense de imigração há muito tempo reconheceu a importância da imigração como máquina de crescimento econômico. Este é particularmente o caso do desenvolvimento dos pequenos negócios que foi especialmente forte em Toronto (Hiebert 2000, 1994). O incremento da “internacionalização” da população do Canadá – por volta de 1996, 11% da população do Canadá e 32% da de Toronto, eram membros de grupos de “minorias visíveis” - é um das tendências principais que amoldaram as cidades de Canadá em recentes décadas (Kettle, 1998; Isajiw 1999). Entre 1945 e o início dos anos 1970, as principais fontes de imigrantes para o Canadá foram Inglaterra e outros países europeus; inicialmente a Europa Ocidental, e posteriormente a Europa meridional – particularmente Itália, Grécia e Portugal. Entretanto, os países que enviam imigrantes para o Canadá mudaram durante as seguintes décadas e hoje os principais países de emigração são asiáticos. Por exemplo: em 1996, Hong Kong, Índia, China, Taiwan, Filipinas, Paquistão e Sri Lanka estavam entre os dez principais países de origem de imigrantes para o Canadá (Murdie e Teixeira 2000). Estes imigrantes - vindo de partes diferentes do mundo e chegando em circunstâncias diferentes; com experiências econômicas diferentes e capital humano desigual - fizeram uma contribuição positiva à economia canadense através de sua participação tanto como empregados, como "empresários" autônomos.

Neste contexto, durante as duas últimas décadas a economia de Toronto tem sofrido mudanças dramáticas. Em Toronto, os imigrantes se tornaram os novos criadores de empregos (“job-makers”) através de seus investimentos na formação de negócios, além de particirem no setor empresarial a uma taxa maior que os canadenses de origem francesa ou britânica (Rees 1998). Os diversos grupos de imigrantes de Toronto são, desta forma, um recurso econômico significante tanto para a cidade, como para o país.

Enquanto é evidente que muitas companhias canadenses não estão tirando proveito das oportunidades que estes grupos oferecem em termos de acesso para o novo mercado global, o seu potencial é inegável (Taylor 1995; Rees 1998). Contudo, a literatura acadêmica canadense que lida com o papel e o impacto de grupos étnicos e imigrantes na economia do país é escassa. Poucas tentativas foram feitas por geógrafos visando estudar a estrutura e o desenvolvimento do negócio étnico entre os grupos de imigrantes.

O propósito deste estudo é examinar o comportamento, as estratégias, e as barreiras enfrentados por proprietários de negócios portugueses na Área Metropolitana de Toronto, onde a maioria dos portugueses do Canadá estão concentrados. Atenção especial será dispensada na utilização de recursos de grupo (por exemplo, família, amigos, e recursos comunitários) e como estes recursos contribuem para a formação, manutenção e êxito dos negócios comandados por portugueses. A tese principal deste artigo é que os empresários portugueses em Toronto estão intimamente envolvidos em redes de parentesco e amizade e em laços comunitários que são fundamentais no estabelecimento e na condução dos seus negócios.
 

Referencial teórico

É amplamente reconhecido que a contribuição econômica de imigrantes e de seus empreendimentos étnicos são elementos fundamentais na reestruturação atual das economias ocidentais, bem como na estruturação e desenvolvimento ao nível de comunidade étnica (Waldinger, Aldrich e Ward 1990; Barret, Jones e McEvoy 1996; Light e Gold, 2000). Porém, enquanto alguns pesquisadores reconhecem os benefícios que dos empreendimentos de imigrantes – como ponte que promove a mobilidade social ascendente de imigrantes e de grupos étnicos – outros mantêm que estes muito freqüentemente projetam uma imagem de “exploração”, mantendo os imigrantes em posições economicamente marginais (Waldinger 1996; Walton-Roberts e Hiebert 1997; Lo et al. 2000).

Muitos destes estudos levantam a questão de por que certos grupos étnicos e imigrantes se concentram nos negócios; ou em que fatores facilitam o fenômeno; além de por que alguns grupos étnicos e imigrantes se dão melhor em negócios que outros. Estas perguntas estimularam diversas teorias e debates, particularmente nos Estados Unidos (Light 1972; Bonacih e Modell 1980; Waldinger 1986; Sanders e Nee 1987; Bonacih 1993; Portes 1995; Light e Gold 2000) e Europa (Mars e Ward 1984; Barret, Jones e McEvoy 1996; Rath e Kloosterman 2000; Rath 2000), onde são produzidas a maioria das pesquisas neste campo.

Entretanto, esta pesquisa acadêmica, em geral: (a) gerou poucos consensos sobre as determinantes e as implicações do empreendimento étnico; (b) tentou responder pela infra-representação de minorias visíveis no comércio étnico sem prestar a devida atenção à discriminação racial; (c) falhou quanto aos estudos comparativos entre grupos étnicos; (d) negligenciou o papel e o impacto das mulheres imigrantes no setor empresarial étnico; e (e) caracterizou-se em sua maior parte como pesquisa exploratória (Waldinger, Aldrich e Ward 1990; Buttler 1991; Barret, Jones e McEvoy 1996; Ligth e Gold, 2000; Rath e Kloosterman 2000).

Vários explicações divergentes (fatores estruturais vs fatores culturais) foram apresentadas para explicar as diferenças no êxito e no envolvimento empresarial entre grupos étnicos e de imigrantes. Uma explicação é a “tese do bloqueio de mobilidade” (“blocked mobility thesis"), também conhecida como a “teoria da desvantagem”, que aponta a discriminação racial e as barreiras culturais como forças estruturais que bloqueiam o avanço das minorias étnicas nos mercados econômicos populares, estreitando o impulso empresarial como o primeiro caminho para a prosperidade econômica (Bonacich e Modell 1980; Reitz 1990; Li 1997). Outra explicação é a “tese cultural” que sugere que grupos étnicos e imigrantes entram no mundo dos negócios por causa de suas características particulares que promovem seu sucesso neste setor (Light, 1972; Waldinger 1986; Light e Roseinstein 1995).

Waldinger, Aldrich e Ward (1990) apontam as deficiências em ambas as teorias anteriores combinando-as em um modelo unificado: o “Modelo Interativo de Desenvolvimento Empresarial Étnico”. Com referência aos níveis discrepantes de participação empresarial entre grupos étnicos, concluem os autores que nenhuma característica exclusiva determina os níveis discrepantes de empresarialidade. Quiçá exista uma interação complexa entre estas duas dimensões – estrutura de oportunidades e características de grupo. Assim, o “Modelo Interativo” representa uma síntese das três aproximações principais ao estudo do sucesso empresarial étnico: (a) “características de grupo” ou predisposição de fatores e mobilização de recursos que os imigrantes injetam em seus negócios; (b) “estrutura de oportunidades”, inclusive condições de mercado e acesso à propriedade; e (c) “estratégias étnicas” que enfatizam o estudo da interação entre “características de grupo” e “estruturas de oportunidades”.

No Canadá, a pesquisa acadêmica sobre grupos étnicos e de imigrantes vem focalizando principalmente o processo de assimilação étnica e de ajuste à vida canadense, ou o desenvolvimento histórico de organizações de comunidades e instituições de imigrantes na nova sociedade (Breton et al. 1990; Isajiw 1999). Em contraste, foram feitos poucos estudos das diversas experiências econômicas dos imigrantes e de seu impacto na economia canadense. Tampouco suas experiências foram utilizadas na construção de modelos teóricos. O que os estudos existentes sobre comercialidade étnica no Canadá (por exemplo, Jones and McEvoy 1992; Marger and Hoffman 1992; Hiebert 1993; Helly and Ledoyen 1994; Razin and Langlois 1996; Juteau and Paré 1997; Teixeira 1998; Qadeer 1998; Wang 1999; Lo et al. 2000) sugerem é que: (a) nem todos os grupos imigrantes atingiram o mesmo grau de envolvimento e sucesso nos pequenos negócios; (b) as mulheres imigrantes e as minorias visíveis tendem a ser sub-representadas nos pequenos negócios; (c) os empresários de alguns grupos de imigrantes se especializam em setores ou nichos particulares da economia canadense mais que os de outros grupos; (d) os negócios de imigrantes geralmente são de pequena escala - freqüentemente negócios familiares ou empresas por conta própria - e são comunitariamente e etnicamente orientados com relação aos seus clientes.

O número limitado de estudos canadenses – faltando tanto trabalhos teóricos, como empíricos – impede uma compreensão completa de porquê certos grupos imigrantes se concentram no comércio, que fatores facilitam este fenômeno, e porquê alguns grupos de imigrantes fazem são melhores nos negócios que outros. Em particular, pouco se sabe sobre as razões pelas quais as minorias visíveis são sub-representadas na população empresarial do Canadá. Nesta fase, algo mais precisa ser aprendido sobre o papel da etnicidade e da experiência na economia canadense. Uma compreensão desse papel é essencial a qualquer estudo mais amplo dos imigrantes e da sua “interação com” e, inclusive, da sua “integração na” sociedade canadense.
 

Os portugueses no Canadá: de pescadores de bacalhau à insulares urbanos

A emigração foi uma constante da vida do povo português, com a diaspora portuguesa hoje em dia contando com mais de quatro milhões de pessoas (Rocha-Trindade 2000). Freqüentemente são citadas razões econômicas como as mais importantes “forças” que levam os portugueses a deixar seu país. Nas últimas quatro décadas a Europa (particularmente França, Alemanha e Suíça) foi o destino primário para emigrantes portugueses do continente. Enquanto isso, o “insular” – seja de Açores ou de Madeira – escolheu continentes diferentes para emigração. Os açorianos se dirigiram para os Estados Unidos e o Canadá; enquanto os de Madeira escolheram a África do Sul e a Venezuela. Hoje, a maioria dos portugueses que moram no Canadá, como também na área de Toronto, veio do Açores ou é descendente de famílias açorianas.

Os contatos históricos portugueses com o Canadá datam dos séculos XV e XVI, quando os navegantes portugueses mapearam a costa atlântica do Canadá e pescadores portugueses colheram abundantes estoques de pescado nas costas da Terra Nova. Embora os pescadores e navegantes portugueses não tenham colonizado a terra, sua presença é preservada hoje em dia em nomes de lugares e ao longo da costa Atlântica do Canadá: Bacalhaus (Baccalieu Island), Cabo Rei (Cape Ray); Frey Luis (Cape Freels), Ilha Roxa (Red Island), Fogo (Fogo Island), Santa Maria (Cape Saint Mary’s) e Terra Nova (Newfoundland) – todos testemunhos da presença portuguesa no Atlântico noroeste (Teixeira e Da Rosa, 2000). Este século, com o aparecimento da “Frota Branca” nas águas dos Grand Banks  - ao largo da costa de Newfoundland - os portugueses renovaram a sua presença nesta parte do Canadá e deixaram sua marca na história cultural de Newfoundland (Collins, 2000).

A moderna emigração portuguesa para o Canadá começou no inicio dos anos 1950. Os primeiros colonos portugueses chegaram durante os anos cinqüenta, quando o Canadá estava promovendo a imigração para satisfazer suas necessidades de trabalhadores agrícolas e na construção de estradas de ferro. O patrocínio e a reunificação familiar competiram para a aceleração do processo durante os anos sessenta. O súbito golpe militar de 25 de abril de 1974 e a entrada de Portugal na Comunidade Européia – na qual foi evidente a elevação do padrão de vida nas últimas décadas – jogou um papel importante na tendência da população portuguesa de permanecer em Portugal hoje em dia. Isto explica, em parte, as drásticas diminuições da emigração portuguesa (particularmente das ilhas de Açores) para o Canadá.

De acordo com o Censo Canadense de 1996, o grupo português era numericamente um dos grupos étnicos mais importantes do Canadá (335.110 pessoas) como também na Província de Ontario (231.805 pessoas) onde a maioria dos portugueses vive hoje (Quadros 1 e 2). Dentro de Ontario, na Área Metropolitana de Toronto, se encontram 161.685 pessoas que declararam sua origem étnica “portuguesa.” O português também era freqüentemente um dos idiomas “não-oficiais” mais informados como língua materna na Área Metropolitana de Toronto (107.800 pessoas em respostas únicas). O idioma português classificou-se em terceiro depois do chinês (286.460 pessoas) e do italiano (202.440 pessoas). Dados de “líderes-chave” da comunidade portuguesa, inclusive autoridades portuguesas no Canadá, colocam o número de canadenses portugueses (primeira, segunda e terceiras gerações) entre 400 mil e 550 mil pessoas. Destes, aproximadamente dois terços são imigrantes dos Açores e ou descendentes de açorianos que chegaram ao Canadá nos últimos cinqüenta anos. Porém, apesar do fato de que os portugueses formam um segmento importante da heterogênea população do Canadá, o número de estudos empíricos tratando deste grupo é limitado (ver Teixeira e Lavigne, 1998).
 
 

Quadro 1
As 20 principais origens étnicas no 
Canadá, segundo o Censo de 1996
População total  = 28.528.125  
 
Origem étnica                  Total de Respostas
  (Respostas simples e múltiplas)
Canadense  8.806.275
Inglês  6.832.095
Francês  5.597.845
Escocês  4.260.840
Irlandês  3.767.610
Alemão  2.757.140
Italiano  1.207.475
Origem indígena  1,101,955
Ucraniano  1.026.475
Chinês  921.585
Holandês  916.215
Polonês  786.735
Origem Sul-asiática  723,345
Judeu  351.705
Norueguês  346.310
Galês  338.905
Português  335.110
Sueco  278.975
Russo  272,335
Húngaro (Magiar)   250.525
   
Fonte: Statistics Canada, 1996  

 
 
Quadro 2
As 20 principais origens étnicas em Ontário, 
segundo o Censo de 1996
 População total = 10.642.790    

Origem étnica
                  Total de Respostas  
(Respostas simples e múltiplas)  
Inglês 3.086.145  
Canadense 2.700.870  
Escocês 1.887.695  
Irlandês 1.723.065  
Francês 1.330.465  
Alemão 984.765  
Italiano 743.425  
Holandês (Holanda) 433.690  
Origem Sul-asiática 427.470  
Chinês 422.770  
Polonês 370.455
Ucraniano 276.950  
Origem indígena 246.070  
Português 231.805  
Judeu 191.445  
Jamaicano 159.465  
Galês 140.030  
Filipino 122.000  
Hùngaro (Magiar)  118.450  
Grego 113.730  
                                                                          Fonte: Statistics Canada, 1996
 

Toronto: “Porto de Entrada” e Cidade de “Pátrias”

A maioria das comunidades portuguesas no Canadá começaram a se organizar somente ao final dos anos cinqüenta. Ao longo dos anos Toronto e Montreal se tornaram os destinos mais importantes para os imigrantes portugueses. No caso de Toronto, “Kensington Market” - uma área de recepção imigrante colorida e importante - se tornou o mais importante “porto de entrada” para os novos imigrantes portugueses que chegavam na cidade. Foi nesta área de recepção de imigrantes de Toronto que se formaram o primeiro clube português canadense ("First Portuguese Canadian Club") e os primeiros negócios portugueses.

Inicialmente a maioria dos portugueses em Toronto eram locatários ou pensionistas. Porém, a disponibilidade de alojamento barato na área era um fator que impulsava os portugueses a adquirir uma moradia. O principal sonho para um português no Canadá era comprar uma casa para acomodar sua família o mais cedo possível . A casa própria se tornou uma prioridade (quase uma obsessão) e com o passar dos anos os níveis de propriedade aumentaram consideravelmente (Murdie e Teixeira, 2000). Hoje, a maioria dos portugueses possui casa própria. Na realidade, com os italianos, os portugueses são o grupo de mais altos níveis de propriedade da casa em Toronto (Carey, 1999; Teixeira, 2000). Para a maioria dos portugueses, a casa própria era uma prioridade; a manifestação física de um “sonho” de segurança econômica para eles e suas famílias no novo país. Os portugueses, depois dos judeus, é o grupo mais segregado em Toronto (Dakan, 1998). Em 1996, muitos portugueses de Toronto viviam em um setor relativamente pequeno –“core” (Pequeno Portugal - Little Portugal) (Figura 1b). Nesta área os portugueses construiram um enclave étnico institucionalmente completo, incluindo a maioria das instituições sociais, culturais e religiosas da comunidade. Dentro desta área encontram-se também as duas mais importantes ruas comerciais portuguesas – ruas Dundas e College (Figura 1b) - onde se situam a maioria dos negócios portugueses.

Figuras 1a e 1b
Empresários portuguese entrevistados na "Census Metropolitan Area" de Toronto



Hoje, podemos afirmar que os portugueses canadenses são uma comunidade em movimento e em transição! Nos últimos anos emergiram duas novas áreas de assentamento de portugueses: (a) uma expansão ao longo do “corredor imigrante” onde os portugueses estão substituindo os italianos; e (b) o movimento para os subúrbios, especialmente para a Cidade de Mississauga (um subúrbio ocidental de Toronto) (Figura 2). Esta importante mobilidade residencial da comunidade não só reflete as aspirações dos imigrantes portuguesas de viver em melhores condições (por exemplo, comprar uma residência unifamiliar, com um patio e um jardim), mas também pode ser o resultado do êxito de diversas campanhas de mercadológicas patrocinadas por promotores imobiliários de origem portuguesa (Teixeira, 1998). Apesar da mobilidade residencial da comunidade, parece que este movimento não tem, contudo, afetado a vitalidade das instituições, dos serviços e dos negócios da comunidade portuguesa de Toronto.

Figura 2
Distribuição dos portugueses na "Census Metropolitan Area" de Toronto, 1996


Em geral, a maioria dos portugueses estão muito satisfeitos com o Canadá como lugar de viver. E apesar de que o desejo de retorno à Portugal para aproveitar a aposentadoria seja um constante “sonho” na vida da primeira geração, de fato somente alguns deles retornam à “casa” (Portugal) para ficar. Os familiares e parentes que moram no Canadá se tornaram um impedimento principal para a sua aposentadoria em Portugal e agora sua última meta é “morrer” no Canadá – a sua terra de adoção!
 

Metodologia de pesquisa

Os dados para o estudo foram obtidos em duas fases: primeiro, foi obtida informação por entrevistas informais com “informantes-chave” (por exemplo, pioneiros da migração portuguesa para o Canadá, jornalistas, gerentes de bancos, etc…), incluindo empresários e líderes de negócios e de organizações profissionais da comunidade portuguesa em Toronto. A riqueza da informação qualitativa que foi coletada dos entrevistados “chaves” portugueses através deste método de pesquisa exploratória, foi muito útil na aquisição de informações detalhadas sobre a participação portuguesa no comércio, bem como nos numerosos desafios que eles enfrentam no competitivo mundo dos negócios de hoje em dia.

Na segunda fase, foram obtidos dados principalmente através de uma pesquisa com questionário que foi administrada no verão de 1998 em uma amostra de empresários portugueses autônomos. A área de estudo era a Área Metropolitana de Toronto - o destino mais importante para imigrantes portugueses e onde a maioria dos empresários portugueses opera seus negócios (Figuras 1a e 2). A seleção da amostra envolveu vários passos. Primeiro, os empresários portugueses foram identificados de uma lista inicial de todos os sócios do “Federação dos Canadenses Portugueses Proprietários de Negócio & Profissionais”. Segundo, uma lista adicional foi construída da lista telefônica portuguesa (Guia Comercial Português–1998) que lista quase todos proprietários de negócios portugueses na área da “Grande Toronto”. Um total de 302 questionários foram enviados pelo correio para empresários portugueses. Deste número, 54 portugueses completaram o questionário.

A maioria dos empresários portugueses (88,9%) era de primeira geração (nascido em Portugal). Este grupo de entrevistados forma um grupo cultural homogêneo que é típico de um grupo imigrante relativamente recente. Todos os entrevistados eram da mesma origem étnica, e declarou o português como sua “língua materna” (primeiro idioma que eles aprenderam como criança e entendem ainda hoje). Metade (51,9%) destes portugueses chegaram no Canadá durante o período 1954-1969, e a maioria (86,0%) emigrou por motivos econômicos ou vieram se unir à família. Assim, “a reunificação e o patrocínio familiar” caracteriza o tipo de imigração do entrevistado. Em termos de educação, 27,8 por cento dos portugueses não freqüentaram escola no Canadá, mas 29,6 por cento completaram a escola secundária ou a universidade. Com respeito ao tipo de negócios próprios portugueses – estes ainda estão limitados em grande parte ao setor de varejo (38,9%), seguido por finanças, seguros e bens imóveis (22,2%) e por serviços médicos e legais e outros tipos de serviços profissionais (14,8%). Baseado em minhas observações como um membro da comunidade portuguesa em Toronto, parece que a economia étnica portuguesa sofreu mudanças importantes nas últimas duas décadas – de um “food”- que orientou o tipo de negócio (por exemplo, restaurantes, armazéns, fruteiras, carnicerias, peixarias), que predominaram no período anterior a 1975, para profissionais mais “especializados”, típicos dos negócios de hoje em dia.
 

Resultados da pesquisa

Estabelecimento dos negócios – métodos de entrada, padrões de localização  e trabalho “co-étnico”

No contexto canadense, foi sugerido que os grupos imigrantes são atraídos pelo auto-emprego, dada a probabilidade de maiores ingressos econômicos do que os obtidos como empregados (Lo et al., 2000). Quando se perguntaram as razões mais importantes de porquê  começar seu negócio, 31,5 por cento dos empresários portugueses mencionaram “o controle de seu próprio destino” - ser seu “próprio chefe”. Outros 22,2 por cento dos entrevistados mencionaram a “independência econômica” como motivo para iniciar um negócio. Contudo, somente 11,1 por centro dos entrevistados declararam “falta de empregos” ou desemprego como maior faor de “empuxe” para começar os seus negócios. Geralmente os portugueses não foram “empurrados” ao auto-emprego por circunstâncias negativos do mercado de trabalho. Do contrário, para a maioria deste grupo de empresários, tornar-se um empresário em terras canadenses era a realização de um “sonho” pelo qual a mobilidade econômica e social pôde ser atingida. Alguns observaram:

“Durante as recessões, os imigrantes são os primeiros a ser demitidos e os últimos em ser contratado de volta… eu quis ter controle de meu futuro.”

“Eu não gostei da idéia de gastar minha vida como funcionário em uma fábrica, como montador ou operator… ter um melhor controle de minha vida econômica.”

“Um sonho de ser melhor economicamente… Como mulher era importante poder estar em meu negócio enquanto cuidava depois de minhas crianças. Meu próprio negócio me deu esta oportunidade.”


Em geral, os resultados também indicam que os empresários portugueses não encontraram maiores problemas ou barreiras ao estabelecer seu atual negócio. Somente 31,5 por cento dos portugueses entrevistados indicaram ter encontrado algumas barreiras como (a) problemas de idioma (falta ou poucos conhecimentos de inglês); (b) falta de informação sobre práticas de negócio; e (c) problemas de atração de clientes. Comparando com a experiência e o tipo de barreiras que os membros de minorias visíveis enfrentam no Canadá quando iniciam e operam seus negócios - por exemplo, adquirindo financiamento e enfrentando a discriminação de fornecedores e de instituições financeiras (ver Henry, 1993 e 1994) - os empresários portugueses não mencionaram a discriminação da sociedade receptora como um problema principal no estabelecimento de seu negócio em Toronto. Assim, o assunto “etnicidade” não era uma barreira importante para os empresários portugueses. Parece que Toronto, conhecida como uma das cidades mais multiculturais do mundo, oferece um ambiente favorável para a “propriedade étnica”.

A expansão da comunidade portuguesa nas últimas duas ou três décadas ao longo do “corredor imigrante” e o movimento para os subúrbios (por exemplo, Mississauga, Brampton, Oakville…), se deu paralelamente ao contínuo crescimento dos negócios de propriedade de portugueses. Entretanto, hoje a maioria dos negócios portugueses em Toronto ainda está situada dentro de uma área bem definida conhecida como “Pequeno Portugal”. Nesta área específica da Cidade de Toronto, os portugueses construiram uma comunidade institucionalmente completa, com uma concentração altamente visível de negócios– uma “economia étnica” – que serve principalmente a uma clientela portuguesa. Como a figura 1b sugere, muitos dos negócios portugueses (26 de 54) fica situado dentro “Pequeno Portugal.” Quando os entrevistados foram perguntados do porquê que eles localizaram seu negócio neste lugar, não é surpreendente que mais da metade dos entrevistados (53,7%) indicou que a proximidade à comunidade portuguesa era a razão mais importante por selecionar seu ponto comercial atual (Quadro 3). Também importante era a proximidade e a acessibilidade do negócio em relação ao transporte público e à estacionamentos (22.2%), enquanto outros 22,2 por cento indicaram que a comunidade orientou o tipo de negócio.
 
 

Quadro 3
Atual localização do negócio
 
    Portugueses (54)  
Razões  Número %  
Proximidade à Comunidade Étnica 29 53,7  
Localização central e
Transporte público e estacionamento
12 22,2  
Negócio orientado para a comunidade étnica 12 22,2  
Custos de localização -compra/aluguel 5 9,3  
Localização dos fornecedores 2 3,7  
Proximidade da residência 1 1,9  
Outras 7 13,0  

Em geral, os empresários portugueses localizaram seus negócios tendo em mente o padrão geográfico de concentração residencial da comunidade portuguesa e, ao fim e ao cabo, de seus clientes. Como observaram alguns empresários:

“Nosso idioma principal é o português, então, nós somos estabelecidos onde a comunidade portuguesa está mais concentrada.”

“Era importante localizar-se no coração da comunidade portuguesa [Toronto] e facilmente acessível para vender aos clientes.”

“Para um tipo novo de negócio, eu acredito que é mais fácil de construir e estabelecer uma base de clientes onde existe uma comunidade étnica [português].”


Em anos recentes alguns empresários portugueses se aventuraram a localizar seus negócios fora do “core” da comunidade portuguesa. Por exemplo, em Toronto um agente de bens imóveis português, cuja clientela era principalmente portuguesa, tentou seguir a mobilidade residencial da comunidade junto ao “corredor imigrante.” Ele explicou as razões de seu movimento:

“Localização. Obviamente o meu mercado principal era o português e as comunidades italianas. A clientela portuguesa teve uma preferência por comprar casas que anteriormente eram propriedade de italianos [norte de Bloor Street]. Considerando que meus principais compradores de imóvel eram portugueses, minha preocupação era seguir a comunidade e colocar meu centro de atividade acessível para ambas as comunidades. Era um começo bom….”


Nesta fase podemos especular que esta tendência dos empresários portugueses de concentrar seus negócios em um mercado “co-étnico” geograficamente segregado também está de acordo com outros grupos da Europa meridional, particularmente os italianos e, em menor grau, os gregos em Toronto (Teixeira, 1998). A pergunta sobre se os empresários portugueses seriam ou não – ou, no futuro, se serão – capazes de sobreviver fora dos limites da comunidade portuguesa em Toronto permanece sem resposta.

Uma característica bem definida dos negócios de imigrantes é seu tamanho - geralmente de pequena escala – e freqüentemente comandados e operados pela família. A maioria dos negócios de propriedade de portugueses (83,3%) são pequenos com relação ao número de pessoas que eles empregam. Eles estão entre negócios de “uma pessoa” (7,4%) e “familiarmente-orientados” (2 a 5 empregados) (53,7%) para “de tamanho médio” empresas (6 a 15 empregados) (22,2%). Porém, há sinais de que o tamanho dos negócios portugueses aumentou nas últimas duas décadas. Aproximadamente 17 por cento dos empresários indicaram ter mais que 15 empregados trabalhando para eles. É importante notar que entre esses empresários, dois indicaram ter mais de 40 empregados, e outro indicou empregar 180 pessoas; a maioria da mesma origem étnica: portuguesa. Com respeito à origem étnica dos empregados, os empresários portugueses empregam os membros da família em geral (70.4%) como também os empregados da mesma origem étnica (87%). Os resultados deste estudo parecem concordar com estudos anteriores realizados nos Estados Unidos e na Europa que mostram que o trabalho familiar e “co-étnico” joga tradicionalmente um papel muito importante na operação dos negócios étnicos pequenos (Waldinger, Aldrich e Ward, 1990; Barret, Jones e McEvoy, 1996; Light e Gold, 2000). Dentro deste contexto, a etnicidade dos empregados parece ser um dos critérios principais na decisão dos empresários portugueses de quem empregar.

Os estudos norte-americanos mostraram que a confiança nas redes étnicas de contatos – família e amizade – facilita o recrutamento “étnico” dos empregados (Walton-Roberts e Hiebert, 1997: Lo et al., 2000). Este parece ser o caso dos empresários portugueses em Toronto. Os resultados da pesquisa mostram que a maioria (84%) confiou extensivamente nos “canais informais”; particularmente parentes e amigos portugueses (Quadro 4). O uso destes canais “étnicos” de informação também podem conduzir à contratar empregados da mesma ilha ou região de Portugal (ver Teixeira, 1998). Os empresários portugueses também confiam amplamente nas fontes “étnicas” de informação - particularmente listas telefônicas portuguesas (82.6%) e a mídia “étnica” (76.1%) - para anunciar seus negócios. Em geral, poucos empresários portugueses se aventuraram fora do próprio grupo ou da sua comunidade cultural para se aconselhar sobre quem contratar, e como e onde anunciar seus negócios.
 
 

Quadro 4
Método utilizado pelos portugueses para recrutar empregados
Métodos utilizados  Número Percentagem
Amigos e parentes da etnia
42
84,0 %
Midia étnica
14
28,0%
Agências e organizações étnicas
10
20,0%
Midia não-étnica
08
16,0%
Agências e organizações não-étnicas
08
16,0%
Amigos de outras etnias
07
14,0%
Outros
08
16,0%

Para saber qual é a vantagem dos empresários contratarem trabalho co-étnico foi perguntado para os entrevistados qual a importância que eles sentiam de ter empregados da mesma origem étnica levando seus negócios, assim como para o seu sucesso. Em geral, os empresários portugueses exibiram uma opinião muito positiva com respeito à importância de ter empregados portugueses. Aproximadamente 64 por cento citaram os empregados portugueses como sendo “muito importantes” para seus negócios. Quando se pediu as vantagens principais de ter os empregados da mesma origem étnica, os dados do quadro 5 evidenciam que são o conhecimento do idioma português (85,7%), seguidos pela base portuguesa de seus clientes (40,.5%).
 
 

Quadro 5
Principais vantagens de ter empregados da mesma origem étnica
 
Número 
% (1) 
Vantagens    
Comunicação / Idioma
36
85,7 
Base de clientes etnicamente orientada
17
40,5 
Conhecimento dos clientes e 
Necessidades/Preferências
12
28,6 
Origem étnica e
Cultura/Identidade/Confiança
11
26,2 
Dedicação/São trabalhadores
04
  09,5 
Outros - -
(1) Porcentagem de empresários que indicaram a etnia dos empregados
como  "muito importante" ou "importante".
   

A vantagem principal para os empresários portugueses é de ter empregados da mesma cultura e origem étnica, que falam o mesmo idioma e que podem ter a confiança de seus clientes. A isto, deveríamos somar o conhecimento dos empregados das necessidades e preferências “culturais” dos clientes em termos de serviços e produtos. Por exemplo, na pergunta sobre o conhecimento do idioma português, notaram os empresários:

“Familiaridade lingüística… minha base de clientes é portuguesa. Em meu campo você tem que entender a cultura portuguesa para realmente ter êxito no mercado.”

“É importante comunicar com nossos clientes em nosso idioma… lhes dá um senso de confiança e convicção.”

“90 por cento do meu negócio é na comunidade portuguesa. Ter pessoas portuguesas como empregados faz nossos clientes muito mais a vontade e felizes.”


Assim contratando “insiders” do grupo - empregados de mesma origem étnica e que falam o mesmo idioma – os empresários portugueses tentam criar um ambiente empresarial culturalmente orientado onde os clientes se sentem “ em casa”!
 

Recursos comunitários, redes de apoio e o mercado

Esta seção examinará a comunidade (“étnica”) de recursos disponível aos empresários portugueses e que os permite agir como facilitadores e intermediários no estabelecimento e na operação do seu negócio atual.

A existência de fortes redes de contato e parentesco entre os membros do grupo, são forças importantes que influenciaram nos padrões de assentamento dos portugueses na sua chegada: seleção da cidade ou bairro, bem como na busca de moradia e trabalho. Outra característica importante do português no Canadá, e particularmente em Toronto, é a sua tendência de formar vizinhanças e comércios étnicos altamente visíveis. Neste contexto, a seguinte pergunta relacionada à importância dos canais “étnicos” da comunidade foi formulada: “Qual a importância dos canais étnicos da comunidade para a informação e apoio para os empresários portugueses no estabelecimento e direção dos seus negócios?”. Nossa hipótese é que os empresários portugueses em Toronto confiam amplamente em densas redes sociais de parentesco e amizade e nos laços da comunidade que são instrumentais para este grupo de empresários na operação de seus negócios.

Os entrevistados foram apresentados a uma lista de possíveis fontes de informação que eles podem ou não ter usado no início e na operação do seu atual negócio. O quadro 6 revela que os portugueses usaram uma ampla variedade de fontes - variando desde as fontes de mercado, como as mídias e organizações profissionais, até fontes da comunidade orientadas e mais especializadas, como os amigos e parentes - para obter conselhos e informações sobre como começar e operar seus negócios. Aproximadamente 43 por cento de todos os empresários portugueses mencionaram amigos de mesma origem étnica e parentes como as mais importantes fontes utilizadas; os amigos não-portugueses estavam em segundo lugar em importância (13%), seguido pelas mídias portuguesas e pelas organizações não-portuguesas em 7,4 por cento.
 

Quadro 6
Fontes de informação mais importantes para inciar 
ou operar o atual negócio
 
 
Número
%
Fontes de Informação:    
Fontes étnicas:    
Amigos e parentes da etnia
23
42,6
Midia étnica
04
7,4
 Organizações e Instituições étnicas
02
3,7
     
Fontes utilizadas:
29
63,0
Fontes não-étnicas:    
Amigos de outra etnia
07
13,0
Organizações e Instituições não-étnicas
04
7,4
Midia não-étnica
01
1,9
Outras
05
9,3
     
Fontes utilizadas:
17
37,0
Fontes não utilizadas
05
9,3

Assim, os resultados do quadro 6 indicam que os empresários portugueses confiam amplamente nos recursos da sua própria comunidade (“étnica”). Na realidade, 63 por cento de todas as fontes usadas por empresários portugueses eram fontes da mesma origem étnica. Dentro deste contexto, os amigos portugueses e parentes ocupam um papel central como fontes importantes de conselhos e informações de como começar e operar negócios étnicos. Estes dados prestam apoio à tese principal de que o envolvimento de empresários portuguese na redes de parentesco e amizade e nos laços comunitários deve ser integral para o seu sucesso empresarial.

As fontes étnicas de informação e amigos (particularmente portugueses) e parentes são canais fundamentais aos empresários portugueses nos aspectos relacionados ao estabelecimento e na operação dos seus negócios (Quadro 7). As fontes étnicas jogam um papel importante na recomendação dos clientes (56,5%), provendo informação sobre o mercado étnico (47,8%) ou o local para localizar os negócios (32,6%). Estes dados - forte confiança dos empresários portugueses na comunidade (“étnica”) de recursos - refletem uma pesquisa anterior realizada nos Estados Unidos e também na Europa (Boissevain et al., 1990; Waldinger e Aldrich, 1990; Light e Gold, 2000).
 

Quadro 7
Grau de importância das fontes étnicas nos seguintes aspectos relacionados
com o estabelecimento ou operação do atual negócio
    Número %
  Recomendar clientes
26
56,5
  Fornecer informação sobre o mercado 
Clima para os negócios
22
47,8
  Fornecer informação sobre localização dos negócios
15
32,6
  Recomendar empregados
14
30,4
  Fornecer informação sobre: 
Assistência governamental, assuntos jurídicos
11
23,9
     
  Fornecer ajuda mútua e assistência
Treinamento nos negócios
11
23,9
     
  Fornecer capital para estabelecer ou expandir os atuais negócios
11
23,9
  Outros
02
4,3

Os estudos acadêmicos demostraram que entre os portugueses em Toronto continua existindo um alto grau de coesão de grupo, identificação cultural, retenção do idioma e segregação residencial (ver Teixeira, 2000 e 1998). Quando se perguntou aos empresários pelo seu grau de participação associação em organizações portuguesas, não foi surpresa que a maioria (85,2%) declarou ser “um pouco” ou “altamente” envolvido social-culturalmente na comunidade portuguesa. Também, aproximadamente a metade de empresários portugueses indicou ser um sócio que participa ativamente na vida das organizações profissionais e de negócios da sua comunidade, bem como de associações sócio-culturais. Em geral, os entrevistados percebem a importância e os “benefícios” que se obtêm ao participar em organizações portuguesas. A maioria (87%) dos empresários portugueses realçou a importância de sua participação ou associação dentro da “vida” das organizações comunitárias. Alguns observaram:

“Isso é um modo de conhecer o panorama da clientela e de fazer amigos novos.”

“Contatos e referências são muito importantes em nosso negócio. A organização [Federação dos Canadenses Portugueses Proprietários de Negócio & Profissionais] é uma ferramenta boa para promover esto contato.”

“Tomar parte em eventos [sócio-culturais] ou estar envolvido com estas organizações nos torna conhecidos na comunidade portuguesa.”

“[As organizações portuguesas] São uma rede de contatos e informações vitais, com pessoas diferentes, em tipos diferentes de negócios, e culturas regionais [Portugal continental e as ilhas].”


Os resultados deste estudo também evidenciam que os empresários portugueses dependem pesadamente de uma clientela étnica para o seu mercado. A maioria dos empresários (71,7%) indicou que mais que 50 por cento dos seus clientes eram portugueses. Quando se perguntou sobre os alto número de clientes portugueses, aproximadamente 58 por cento dos empresários citaram o fato dos seus negócios ser “orientados pela comunidade” como a razão mais importante para uma proporção alta (mais que 50%) de clientes portugueses. Dentro deste contexto, é compreensível que é do interesse dos empresários portugueses manter sua “visibilidade” mantendo, em geral, um contato íntimo com a comunidade portuguesa e, particularmente, pelo seu envolvimento em instituições sócio-culturais e religiosas, bem como em organizações profissionais portuguesas.

Qual é o nível de prosperidade dos empresários portugueses e quais são seus planos para o futuro? A auto-avaliação dos empresários portugueses indica que a maioria (81,4%) respondeu ser “muito próspero” ou “moderadamente próspero.” Entre as razões mais importantes que contribuem ao seu sucesso empresarial está a presença de uma boa reputação na comunidade e a confiança no mercado português (59,3%) e o local dos seus negócios (50%) dentro ou próximo à comunidade portuguesa (Quadro 8). Com respeito à sobrevivência futura dos seus negócios, os empresários portugueses mostraram um pouco de preocupação e incerteza. Somente 15 empresários (27,8%) indicaram que os seus negócios estavam crescendo, enquanto outros 15 (27,8%) dos portugueses mencionaram que seu negócio é pior que no passado, sem perspectivas de crescimento num futuro próximo. Para alguns empresários portugueses, o pessimismo relativo ao futuro do seu negócio era evidente. Entre as razões oferecidas a explicar este pessimismo estavam: a) a continua diminuição da imigração portuguesa para o Canadá nos últimos 15 anos; b) a crescente integração da primeira geração portuguesa na sociedade canadense em geral; c) o “vazio geracional” que existe hoje na comunidade portuguesa, com as gerações novas (os nascidos no Canadá) confiando menos nos serviços e produtos portugueses; e d) a competitividade do mercado empresarial étnico, paralelamente à falta de “novas” gerações de empresários portugueses para entrar em negócios étnicos.
 

Quadro  8
Fatores que mais contribuiram para o êxito do negócio étnico
  Número       % 
Boa reputação/ Fregueses étnicos
32
59,3
Prática em negócios/ Localização
27
50,0
Trabalho duro
09
16,7
Origem étnica/ Idioma
07
13,0
Empregados da etnia
04
7,4
Economia / Condições favoráveis
04
7,4
Outros
03
5,6

Não é surpreendente notar que 25 (46,3%) dos portugueses já havia tomado a decisão que, uma vez aposentados, não passarão seus negócios para seus filhos. Outros 33,3% responderam “não saiba”; deixando para os filhos a tomada de decisão sobre entrar ou não nos negócios. Os empresários portugueses são unânimes em reconhecer as recompensas que recebem do comércio étnico, mas também reconhecem as longas horas e o trabalho duro que eles têm que dispensar nos seus negócios para poder ter êxito. Dentro deste contexto, alguns dos entrevistados são da opinião de que é muito melhor que seus filhos ingressem na universidade, adquiram uma boa educação e sigam uma carreira em outro lugar, fora do negócio étnico. Alguns empresários indicaram sentir que fizeram muitos “sacrifícios” como imigrantes para organizar seus negócios e agora têm certeza de que seus filhos disfrutam de mais oportunidades em termos de educação e trabalho. Os empresários portugueses também percebem que no futuro próximo eles deveriam olhar para fora da comunidade portuguesa para encontrar a clientela necessária ao sustento de seus negócios. Para eles, uma elevada dependência do mercado étnico – como é o caso dos empresários portugueses em Toronto – pode reduzir sua rentabilidade e seu crescimento no futuro.

Em suma, as evidências empíricas do estudo indicam que o empresário português segue um padrão comunitariamente orientado ao estabelecer e gestionar seus negócios. Ao estarem altamente envolvidos em redes co-étnicas de parentesco, amizade e laços de comunidade, os empresários portugueses puderam construir, em um período relativamente curto de tempo, um impressionante “Pequeno Portugal” no centro da cidade de Toronto. Se Toronto é conhecida hoje em dia como uma cidade de “pátrias” e de “economias étnicas”, parte disto se deve à dinâmica comunidade empresarial portuguesa que se instalou na cidade somente à cinco décadas atrás!
 

Conclusão

Os grupos etno-culturais do Canadá representam um recurso nacional significante. Dentro deste contexto, Toronto é o maior “porto de entrada” para imigrantes novos e se caracteriza, hoje em dia, como a maior e mais diversa cidade do país em termos étnicos. O grupo português é parte deste complexo e rico mosaico cultural e o seu impacto é visível na paisagem urbana do “Pequeno Portugal” de Toronto. Ali o idioma português, a cultura e os negócios, transformaram a geografia social da cidade.

O objetivo principal deste estudo foi investigar até que ponto os empresários portugueses em Toronto confiaram nos recursos “comunitários” e como estes recursos contribuíram no estabelecimento empresarial e na manutenção e no sucesso dos negócios de propriedade de portugueses. Com respeito ao estabelecimento dos negócios étnicos, os resultados demonstram que em geral os empresários portugueses não enfrentaram grandes barreiras ou obstáculos ao começar seus negócios. Tampouco eles se iniciaram no trabalho por conta própria por causa de alguma discriminação enfrentada no mercado de trabalho ou por falta de empregos. Realmente, embora as barreiras de idioma tenham sido apontadas como o principal obstáculo enfrentado, isto não impediu que eles se tornassem empresários, o que para a maioria se torna a realização de um “sonho” pelo qual a mobilidade econômica e social pôde ser atingida.

Considerando que o grupo português é um dos grupos mais concentrados em Toronto, não é surpreendente que a proximidade com a comunidade portuguesa se tornou uma prioridade para este grupo de empresários. As análises também indicam que os negócios de portugueses são pequenos e familiarmente orientados. Também se confia extensivamente nos sócios familiares e empregados portugueses para dirigir o negócio. O conhecimento do idioma português, a familiaridade com as necessidades e preferências dos clientes portugueses e a relação “co-étnica” de “confiança” que eles estabelecem com os clientes portugueses, eram reconhecidos por empresários portugueses como vantagens principais de ter os empregados da mesma origem étnica.

Com respeito aos recursos da comunidade, as análises indicam que os empresários portugueses apresentam um elevado grau de confiança na sua própria comunidade (“étnica”) de recursos – redes de parentesco e amizade e laços comunitários – no estabelecimento e direção dos seus negócios. As conexões dos empresários portugueses são limitadas em grande parte ao seu grupo ou comunidade étnica. Quase dois terços (63%) de todas as fontes usadas pelos empresários eram procedentes de pessoas da mesma origem étnica (por exemplo, amigos portugueses, parentes, midia portuguesa e organizações e instituições portuguesas). Esta característica de uma forte rede “étnica” que apóia os negócios portugueses também é comum a outros grupos de imigrantes em Toronto (por exemplo, grupos de imigrantes procedentes do sudeste asiático, chineses e judeus) (Lo et al. 2000; Qadeer 1999; Teixeira 1998; Hiebert 1993).

Devido à falta de estudos sobre a comercialidade étnica no Canadá, muitas das complexidades do negócio étnico permanecem obscuras. São necessários mais estudos comparativos com relação à grupos de imigrantes - grupos de minorias visíveis e não-visíveis - para se entender: a) por que alguns grupos são mais propensos entrar nos negócios (e têm mais êxito) que outros; b) as diferenças de grupo com respeito à sua confiança nos recursos “étnicos” da sua comunidade; e c) por que alguns grupos são mais confinados que outros na sua comunidade em detrimento dos grupos majoritários? Dada a política e a tradição de multiculturalismo no Canadá, bem como o impacto significante dos negócios étnicos dentro da economia canadense, mais pesquisas necessitam ser realizadas sobre as formas e funções exercidas pela comercialidade étnica na definição das características de nossas comunidades imigrantes.
 

Nota: o autor agradece o apoio do Centro de Estudos Canadenses de Barcelona que possibilitou a sua participação no III Coloquio Internacional de Geocrítica. Também agradece a atenção dispensada por Quim Bonastra durante sua estada em Barcelona.
 
 

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