Scripta Nova Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. 
Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788] 
Nº 35, 1 de marzo de 1999.

  À GEOGRAFIA DOS ESPORTES. UMA INTRODUÇÂO

Gilmar Mascarenhas de Jesus
Departamento de Geografia/ Universidade do Estado do Rio de Janeiro



Abstract

Nowadays, sports are becoming increasingly important, raising attention in several fields of academic production.Geography, pushed by its recent transformation, started to study this rich and vast field of research., trying to offer special view and contribution. Unfortunately, few geographers have dealt with the subject, in such way that this article intends to suggest a small set of themes for future works. On the other hand, looking for to defend the viability of Sports Geography, we also wish to discuss the links between geographical analisys and the realm of sports, taking the latter as an empirical fact and as theoretical and conceptual problematisation.

Resumo

Os esportes vêm adquirindo magnitude crescente na atualidade, despertando a atenção de diversos ramos da produção científica. A geografia, movida por suas transformações recentes, começa a se debruçar sobre este rico e vasto campo de investigação, disposta a tentar oferecer uma contribuição e um "olhar" peculiares. Todavia, ainda é muito incipiente a investida de geógrafos sobre os esportes, de forma que o presente artigo pretende apresentar um pequeno conjunto de temas como sugestão de trabalhos futuros. Por outro lado, no sentido de argumentar a favor da viabilidade de uma geografia dos esportes, pretende-se também discutir os nexos entre a análise geográfica e o domínio esportivo, tomando este como fato empírico e como problematização teórico-conceitual.


Os esportes vêm despertando ultimamente maior atenção por parte das disciplinas acadêmicas situadas no vasto campo das ciências humanas. Dentre os geógrafos, entretanto, ainda não receberam a atenção merecida, embora se reconheça em diversos países a expansão recente de uma "geografia dos esportes"(1), quase sempre definida por seus autores como ramificação da geografia cultural. No Brasil, a maioria dos profissionais em geografia aparentemente "sustenta", ao menos intuitivamente, que os esportes não se adequam ao escopo de nossa disciplina, e este sentimento e opinião se expressa na quase inexistência de trabalhos geográficos que envolvam direta ou indiretamente a atividade esportiva. O objetivo central deste artigo é justamente argumentar em sentido contrário a esta atitude de resistência e desprezo em relação a uma abordagem geográfica dos esportes.

Sabe-se que a geografia vem apresentando profundas mudanças nas últimas décadas, incorporando a cada momento novas perspectivas de análise. E cada nova orientação teórico-metodológica suscita novos recortes temáticos, gerando um quadro de crescente diversificação. Este amplo processo de constantes rupturas, sem dúvida inacabado, carrega em si inúmeros problemas de consistência e rigor teórico-conceitual, os quais todavia não pretendemos discutir aqui. Queremos não obstante alertar para o fato de que tal conjuntura tem se mostrado receptiva à introdução de novas temáticas relacionadas ao âmbito largo e emergente da cultura. E particularmente nos interessa as temáticas associadas às imagens e paisagens da crescente indústria do entretenimento, como por exemplo o turismo. E neste conjunto se inserem os esportes, com sua lógica específica, seus ritos e símbolos compartilhados e a capacidade de produzir sua própria paisagem.

Quando visualizamos um novo horizonte de frentes de investigação não estamos nos limitando à renovação temática, mas desejando também novos olhares e novos instrumentos de análise. Pensamos por exemplo em Denis Cosgrove (1998:96-7), que nos alerta para uma nova geografia humana, tomada como humanidade, que ultrapassa os limites de um funcionalismo utilitário de forças demográfico-econômicas para operar com outras lógicas e motivações humanas, que produzem paisagens repletas de significados.

Indagamo-nos, sem a pretensão de oferecer um amplo quadro explicativo, sobre as razões pelas quais os esportes ainda não teram alcançado a condição de tema cientificamente legítimo em geografia. Supostamente, um determinado tema adquire status de legitimidade acadêmica através de vários requisitos, mas queremos destacar apenas dois que consideramos os mais importantes: primeiramente a relevância social do objeto a ser investigado e depois a capacidade de uma determinada disciplina em oferecer uma contribuição efetiva à maior compreensão do problema em pauta.

No tocante à relevância do tema, não encontramos qualquer dificuldade em atestar a magnitude que os esportes alcançaram ao longo do século XX, tornando-se uma poderosa indústria do entretenimento, capaz de mobilizar grande volume de capitais privados e estatais e gerar intensos fluxos na escala planetária, além de fomentar sentimentos de identidade territorial em diversos níveis. Não é preciso ser estudioso do assunto para verificar suas dimensões no mundo atual: verifique-se o espaço/tempo reservado aos esportes nos meios de comunicação de massa em todo o planeta e ter-se-á uma noção da magnitude dos esportes na atualidade(2).

Quanto à viabilidade do tema, o segundo requisito aqui elencado, acreditamos residir exatamente nele o obstáculo principal à aceitação e incorporação da nova temática na geografia. No Brasil, quando se anuncia a pretensão de se realizar uma abordagem geográfica dos esportes a reação geral é de surpresa, estranhamento ou mesmo reprovação imediata(3). O tema é freqüentemente rechaçado, sem qualquer reflexão mais aprofundada, muitas vezes por simplesmente não comparecer no tradicional elenco temático da geografia. E dentre os que manifestam surpresa sem entretanto reprovação a priori, a primeira pergunta suscitada busca geralmente saber qual seria a relação entre os esportes e o "espaço" ou o "território", indagando como se pode "espacializar" tal fenômeno.

A fim de colaborar no encaminhamento de tais indagações, este artigo pretende justamente trazer à reflexão alguns argumentos no sentido de evidenciar nexos entre, por um lado, os esportes, e por outro, questões e dimensões discutidas pela geografia, incluindo a nova geografia cultural. Trataremos por exemplo de temas como configuração da base territorial, relação sociedade-natureza, a paisagem e seu simbolismo, e diversos aspectos da urbanização. Pretendemos simultaneamente apontar algumas possibilidades de tratamento geográfico do fenômeno esportivo, muito longe porém de esgotar o conjunto de problematizações viáveis.

O texto se divide assim em dois segmentos. No primeiro, procuramos conceituar e contextualizar a atividade esportiva, para tornar familiar um universo tradicionalmente ausente nas preocupações da comunidade geográfica. No segundo segmento, tratamos de levantar questões em torno de sua natureza "geográfica", isto é, apresentar aspectos que evidenciam a possibilidade da abordagem geográfica dos esportes. Devemos salientar que, devido a uma trajetória pessoal de dedicação à geografia urbana, grande parte dos "nexos" e das propostas de investigação se dirigem ao espaço urbano. Também o futebol acabou sendo ligeiramente privilegiado no conjunto das modalidades esportivas, não apenas por seu amplo significado na cultura brasileira mas também por se tratar de tema de tese em desenvolvimento(4). Ao final, em anexo, apresentamos nossa proposta (já aprovada pelo Departamento de Geografia da UERJ) de criação de uma cadeira eletiva denominada "Geografia dos Esportes", que sintetiza toda uma perspectiva de tratamento do tema em pauta, e que pode auxiliar na visualização rápida da abrangência e natureza deste "novo"(5) campo de investigações em geografia.

 Os Esportes Modernos: gênese, natureza e significados

As grandes competições esportivas da atualidade constituem indiscutivelmente um fenômeno mundial, e enquanto tal são mais um produto da globalização. Não apenas os tradicionais Jogos Olímpicos e as Copas do Mundo de futebol, mas um conjunto cada vez maior de competições esportivas (mesmo algumas de âmbito jurídico estritamente nacional, como os campeonatos da liga norte-americana de basquetebol, a NBA), atingem atualmente um vastíssimo público telespectador. Em praticamente todas as nações do planeta, centenas de milhões de indivíduos compartilham as imagens e signos desta poderosa e crescente indústria do entretenimento. Segundo Augustin (1995:3), verifica-se a conformação de uma verdadeira malha mundial, dotada de milhares de equipamentos esportivos, que atravessa países, expande-se pelas cidades e pelo campo, e que atua intensamente na cultura e nas representações dos lugares.

Os esportes são, portanto, um componente fundamental da modernidade, e entendemos que é em seu contexto histórico que pode ser melhor compreendido, isto é, como um produto da sociedade industrial capitalista. Nobert Elias (1992:40), um dos maiores estudiosos da expansão do fenômeno esportivo na era moderna, lançou uma indagação fundamental: que espécie de sociedade é esta onde cada vez mais pessoas utilizam parte de seu tempo na assistência ou participação de confrontos regulados de habilidades corporais a que chamamos desporto? E buscou a resposta na macro-estrutura social, no amplo conjunto de transformações morais e comportamentais que denominou "processo civilizacional". Pretendemos assim conceituar e contextualizar os esportes modernos a partir de reflexões que evidenciam seus nexos com a ordem burguesa ascendente: o processo de transição, nos séculos XVIII e XIX, dos jogos tradicionais para estas formas de competição atlética que denominamos esporte. Um breve reprisar da trajetória do corpo e de suas representações no ocidente se faz necessário neste momento.

Segundo o clássico estudo de Johan Huizinga (1996), o elemento lúdico é uma dimensão própria da existência humana, que nos acompanha desde tempos imemoriais, muito antes portanto do advento da chamada civilização. A apropriação deste espírito lúdico e de várias de suas manifestações culturais, por estruturas organizadas com base na competição e na busca da melhor performance, é um processo que se instala mais efetivamente na Europa do final do século XVIII. Neste contexto, é impulsionado pela consolidação de um ideário de valorização da atividade muscular, com vistas ao aprimoramento físico-mental-espiritual do novo Homem, concebido pelos ideais iluministas.

É neste sentido que na segunda metade do século XVIII, torna-se habitual nos colégios ingleses a prática de jogos viris -que freqüentemente exigem maior empenho muscular que propriamente habilidades mais nobres como destreza e equilíbrio-, extraídos e reelaborados pelos jovens a partir de jogos da tradição popular, como o folk football. A elite agora iniciava-se em práticas esportivas diferentes daquelas consideradas próprias da nobreza: a esgrima, a equitação, a caça, o arco, o salto, etc (Dunning & Sheard, 1979:1-3). Tal mudança comportamental se insere no movimento crescente de resgate de valores clássicos que encontram a melhor tradução em mens sana in corpore sano, e constitui a base para a criação dos "esportes modernos".

Este movimento tem raízes remotas. Richard Sennett (1997) assinala a profunda transição do uso do corpo, transcorrida entre o Império Romano e o medievo: da orgia pública pagã às renúncias corporais do espaço cristão. Foi justamente o imperador romano Teodósio no ano de 349, portanto já em plena vigência da hegemonia cristã, que proibiu a continuidade dos Jogos Olímpicos, que então existiam há mais de mil anos. O corpo deveria resignar-se aos imperativos da alma, que se quer purificar através do controle severo dos impulsos carnais. Entretanto, com o advento da era renascentista, os estudos sobre o corpo, a biomecânica, e toda uma filosofia de apoio à "educação física" começam a se expandir, ocupando mentes privilegiadas como Leonardo da Vinci, Montaigne e Francis Bacon, que estabeleceram exercícios físicos como ideal de uma educação cortesã (Oliveira, 1994:36-7). E assim, alguns ideais greco-romanos relacionados ao uso do corpo são retomados, instaurando-se uma nova fase de desenvolvimento da cultura física(6).

Importante registrar que em 1830 a educação física encontra-se plenamente inserida nas public schools inglesas, e com ela, o incentivo oficial à prática de tradicionais jogos populares que, submetidos a uma crescente regulamentação, resultarão na "invenção" de diversas modalidades esportivas de ampla aceitação mundial posterior, como o futebol, o rugby e o cricket. Neste sentido, entre 1820 e 1870, as escolas públicas inglesas funcionaram como "laboratórios de invenção dos esportes modernos" (Augustin, 1995:20). Registre-se ainda que o próprio termo sportman sofreu neste período significativa alteração. Até 1856, designava o indivíduo que se comportava de forma serena e alegre diante dos problemas cotidianos; alguém que vive bem, sem maiores preocupações(7). A partir de então, tal vocábulo incorpora uma nova acepção que, com o tempo, tornar-se-á predominante: alguém com disposição física apurada, capaz de realizar façanhas difíceis, como por exemplo "escalar penhascos".(8)

A literatura acadêmica consagrou a expressão esportes modernos para diferencia-los das atividades assemelhadas que existiam na Antigüidade. Algumas das modalidades esportivas atuais, como o basquetebol e o voleibol, foram de fato criadas neste contexto mais recente, mas muitas outras são resultado da evolução de práticas lúdicas de origem muito remota, tais como o futebol, o rugby, o pugilismo e várias formas de corrida. Portanto, o que difere mais precisamente os esportes modernos dos anteriores não é propriamente o conjunto de modalidades praticadas, mas sim a natureza e a finalidade destas. Os esportes modernos, em resumo, apresentam grande estrutura jurídico-organizacional, estatuto internacional, regras precisas, aperfeiçoamento constante dos atletas em busca de records, e realiza-se em espaços(9) especificamente elaborados para tal fim, com medições e formas precisas (Elias & Dunning, 1985; Dunning & Sheard, 1979). O individualismo e a competitividade extrema vão distanciando os esportes modernos de sua matriz remota, isto é, o clássico espírito olímpico grego (Augustin, 1995:16-9).

Neste processo articulado de difusão dos exercícios físicos e de gestação dos esportes modernos, pelo menos três fatores merecem breve alusão. Primeiramente, o ambiente que envolveu a primeira Revolução Industrial, com o advento de máquinas, maior velocidade de produção e sobretudo a generalização do trabalho em equipe -a crescente divisão técnica de tarefas no interior de uma unidade produtiva-, o que estimulou a burguesia a promover os esportes praticados coletivamente, como instrumento de uma pedagogia da sociedade industrial nascente(10). Em segundo lugar, a revolução newtoniana, responsável pela "imposição" de uma consciência da medição precisa do tempo. A quantificação do tempo conduziu à valorização dos records, e permitiu dotar os tradicionais jogos populares de um confinamento temporal que caracteriza os esportes modernos (Bale, 1989:43 e 71). E finalmente, devemos recordar um dois princípios fundamentais da ética protestante: a valorização do trabalho e do esforço individual, em detrimento da atitude majoritariamente sedentária e contemplativa difundida pelo catolicismo.

Os esportes modernos foram codificados, majoritariamente, na segunda metade do século XIX, e imediatamente encontraram grande difusão pelas redes internacionais de comércio e dominação imperialista. Ao longo do século XX, a expansão do chamado tempo livre e do consumo de serviços de lazer propiciou o crescimento constante dos esportes, seja como prática saudável, seja como espetáculo. E assim os esportes contaram com fortes políticas nacionais de apoio no pós-guerra ("esporte para todos") tanto no bloco socialista quanto no âmbito da expansão do Welfare State (Coy & Kenion, 1969; Riordan, 1978). No contexto da "guerra fria", os Jogos Olímpicos constituíram importante canal de sublimação de conflitos entre os dois blocos internacionais de poder.

Neste final do século XX, os esportes vivenciam novo "boom", agora já não tanto articulado a interesses geopolíticos e nacionalistas, mas sobretudo a uma poderosa engrenagem de publicidade em escala planetária, as "estratégias globais de marketing de grandes corporações transnacionais"(Proni, 1998). Empresas como Nike, Coca-Cola e Adidas (para citar apenas algumas) investem maciçamente em atletas, clubes, federações e competições, ao mesmo tempo em que as redes internacionais de TV pagam cada vez mais caro pela transmissão de eventos esportivos. Os esportes tornaram-se uma indústria vigorosa, a movimentar anualmente bilhões de dólares, de forma que Chris Gratton (1998) a considera como a que vem exibindo o mais rápido crescimento dentro da próspera indústria mundial do entretenimento, que engloba outras atividades em plena expansão como o turismo(11). Este último comparece recentemente na geografia brasileira com certa assiduidade, gerando publicações e eventos acadêmicos exclusivamente voltados para o tema. Quanto aos esportes, o cenário é bastante diferente, mas, acreditamos, apresenta-se como abordagem viável e promissora, conforme a argumentação que desenvolveremos a seguir.

 A geografia e os esportes: alguns nexos e possibilidades de investigação

É bastante compreensível a reação de estranhamento provocada em quem se depara pela primeira vez com o "inusitado" casamento entre os esportes e a geografia(12). Para os geógrafos e demais profissionais que não lidam diretamente com a prática esportiva, os esportes evocam sobretudo questões relacionadas à performance dos atletas, preparação física e treinamento, regras, táticas e as atuais discussões éticas e jurídicas sobre "doping". De fato, nada disso tem relação direta com a dinâmica espacial ou outras questões centrais em geografia. Há entretanto vários outros aspectos do universo esportivo que guardam vínculos bastante paupáveis com a nossa disciplina. O objetivo deste segmento é listar alguns destes aspectos e demonstrar sua conexão com o espaço geográfico, ao mesmo tempo em que são sugeridos alguns temas e eixos de investigação.

Já vimos que os esportes modernos são muitas vezes herdeiros de antigas tradições lúdicas, consagradas na literatura como folkgames. Cabe registrar que, neste sentido, tendem a resgatar e a redefinir certas relações que há séculos o homem estabelece com a natureza, não apenas lúdicas, mas também de trabalho. Algumas atividades humanas que tiveram significado de luta pela sobrevivência (busca de alimentos, fuga do perigo, etc.) foram posteriormente "reinventadas" com conotação lúdica e competitiva, tornando-se modalidades esportivas. É o caso do alpinismo, da natação, das regatas, do surfe, do hipismo, da esgrima, do arco & flecha, da própria corrida, das várias formas de luta corporal, entre tantas outras modalidades esportivas baseadas no esforço individual em superar desafios impostos pelas forças da natureza, tais como a gravidade, a pressão do ar, a dinâmica das águas, o domínio de animais, etc. O conhecimento e manejo dos elementos da natureza compõem um amplo acervo cultural, e parece-nos razoável pensar que possivelmente os diferentes "gêneros de vida" -para retomar provocativamente a clássica noção lablacheana- e as diferentes paisagens naturais forneceram certas bases para diversas modalidades esportivas do mundo atual(13).

Esta evidente relação com o quadro natural sugere um amplo caminho de investigações geográficas. Uma delas é estudar a dimensão "ecológica" de cada modalidade esportiva, desde sua origem aos impactos ambientais atuais. O geógrafo enquanto agente de planejamento pode, a partir de um diagnóstico sócio-ambiental, estabelecer as áreas mais apropriadas para a prática de cada esporte, minimizando assim impactos negativos ao meio ambiente. A expansão recente dos chamados "esportes radicais" ou "de aventura" (rafting, vôo livre, mergulho, automobilismo off-road, alpinismo, mountain bike, etc) demanda sobremaneira tal estudo, posto que muitas vezes tais atividades se realizam em áreas de natureza praticamente intocada (montanhas, alto curso de rios e mesmo desertos), tendendo a causar impactos significativos, sobretudo quando promovem eventos cuja divulgação visa atrair maior fluxo de visitantes, já no âmbito do turismo esportivo(14). Augustin (1997) chama a atenção para o caráter de "incerteza e indefinição territorial" destes novos esportes de aventura (também chamados esportes "de ação" ou de "adrenalina"), vistos como atividades de difícil controle eplanejamento e conseqüentemente de maior potencial de danos à natureza e à sociedade. Clément (1995:149-50), por sua vez, estende tal "liberdade espacial" a outras modalidades de grande expansão recente, mais voltadas para o aprimoramento pessoal que para o "espetáculo", como o jogging, o squash e as artes marciais.

No que tange à configuração territorial, os esportes merecem a observação cuidadosa dos geógrafos, posto que sua prática implica transformações significativas na forma e na dinâmica territoriais. Primeiramente, o esporte deve ser encarado como uma atividade econômica, particularmente quando realizado em caráter oficial, de competição, e oferecido à sociedade (público espectador) como um artigo de consumo. Enquanto atividade econômica voltada para o entretenimento comercializado, o esporte precisa ser oferecido em lugares apropriados. São estádios, ginásios, pistas diversas, enfim, um amplo conjunto de equipamentos fixos na paisagem e geralmente de grande porte físico, o que resulta em maior capacidade de permanência. São também objetos de grande visibilidade na paisagem urbana, comparecendo assiduamente no repertório imagético da sociedade, como por exemplo nos mapas mentais(15).

Tais objetos, além de se apresentarem freqüentemente como paisagem durável (decorrente do grande investimento necessário para edificação) e ampla visibilidade (decorrente do porte físico), podem ainda constituir importante centralidade física e simbólica no interior do espaço urbano. Os grandes estádios, por exemplo, são planejados de forma a facilitar o grande afluxo de espectadores em dias de importantes eventos, quando o longo silêncio das estruturas de concreto armado cede lugar ao delírio da multidão. Desta maneira, tendem a se inserir em áreas bem servidas de meios e vias de transporte(16), ou ainda, segundo tendência mais recente, localizar-se fora da área mais densamente urbanizada, de modo que o próprio equipamento crie a demanda de investimentos de melhoria da acessiblidade. Neste caso, não diferem de outros grandes objetos geográficos detentores de poder de reorganizar a base territorial circundante, como os modernos shopping centers.

A partir dos conceitos oferecidos por Berque (1998), sugerimos que os equipamentos esportivos podem ser tomados como "paisagem-marca", resultantes que são do advento de valores e práticas sócio-culturais que se materializam num dado momento de um lugar. E neste sentido configuram um patrimônio histórico-cultural Mas também são "paisagem-matriz", pois participam ativamente da vida cotidiana, no plano simbólico e no plano da ação. E neste aspecto, por exemplo, os grandes estádios de futebol cumprem papel relevante na reprodução social urbana no Brasil, onde o "calendário futebolístico demarca os tempos e os horizontes da vida cotidiana"(Jesus, 1998b).

Os estádios, com sua imponência, circularidade física e temporal, funcionamento esporádico e monofuncional, lugar distinto e único de encontro coletivo e ritualizações que se repetem periodicamente, guardam, para o torcedor fanático, algumas semelhanças com com os santuários. Na definição de espaço sagrado oferecida por Rosendahl (1996:64), este engloba localidades de grande afluxo de visitantes mas que podem permanecer vazias por muito tempo, e que significam/sugerem "separação e definição", "sentido de ordem, totalidade e força". A experiência coletiva do torcedor nos dias de estádio lotado parece suscitar algumas destas sensações e situações tradicionalmente relacionadas aos espaços sagrados(17).

Outros equipamentos esportivos também afetam diretamente a dinâmica urbana(18). Por constituir esporte de elite, e por consumir extensas áreas que mantêm-se verdes e silenciosas, o golf produz campos que notavelmente valorizam os terrenos vizinhos. John Bale (1989:156) estima que no Reino Unido, onde tais campos de "monocultura" ocupam preciosos 80 mil hectares de terra) a presença de campos de golf valorizam em média as propriedades mais próximas em aproximadamente 10 per cento. O geógrafo norte-americano Bob Adams (apud Bale, 1989:157) acredita que em muitos casos campos de golf são criados mais por finalidades de valorização fundiária que propriamente para a prática esportiva. É o que comprovam Desse e Meur-Ferec (1994) aos perceberem que dos 483 campos de golfe existentes na França em 1993 (recobrindo ao total 20 mil hectares), grande número surgiu nos últimos 25 anos, e quase sempre compondo grandes projetos imobiliários e turísticos. No Rio de Janeiro, valeria a pena investigar o caso do Gavea Golf Club, situado no bairro de São Conrado: os interesses envolvidos no projeto, seu impacto no uso e valorização do entorno, e outros aspectos.

Retomando o futebol, mas mantendo o foco sobre o mercado de terras urbanas, podemos detectar outros processos que vinculam os esportes com interesses de agentes ligados à especulação imobiliária. Verificou-se por exemplo, na cidade de Montevidéu do início do século, o uso do futebol popular (aquele praticado informalmente, em áreas livres) como instrumento de valorização de terrenos em processo de ocupação. Sierra (1996:208) exibe um cartaz de propaganda de um novo loteamento em 1912 no qual se exalta a disponibilidade de "espacios y canchas para liberar el incontenible deseo de jugar fútbol".

No Brasil, também verificamos casos similares. Eclea Bosi (apud Seabra, 1988:107), em seu clássico "Lembrança de Velhos", recolheu depoimentos de antigos moradores da cidade de São Paulo, para resgatar elementos passados, sobrepujados por uma urbanização aceleradíssima. Os entrevistados falam de espaços cedidos por donos de loteamentos para a criação de campos e clubes destinados à prática do futebol. Tal procedimento visaria atrair novos moradores: "quando tinha um clube, vinha o progresso". A aceleração das vendas de lotes populares valorizava a área e, não raramente, uma vez adensado demograficamente o loteamento, o antigo terreno destinado ao futebol era vendido a uma indústria interessada na abundante oferta local de mão-de-obra barata. Trata-se de mais uma estratégia imobiliária de utilização pouco escrupulosa de grupos sociais marginalizados para fins de maximização do lucro.

Para os que se ocupam com questões de gênero, os esportes oferecem uma perspectiva peculiar e amplo campo de trabalho. A literatura acadêmica apresenta vários artigos em torno do papel de diversos esportes -com destaque para o rugby, altamente segregador no plano das relações entre sexos- na construção da imagem de masculinidade na sociedade urbano-industrial. No Brasil, onde o futebol constitui universo simbólico que extrapola a dimensão meramente esportiva, há muito o que ser estudado, sobretudo no período recente, no qual a presença feminina no futebol vem expandindo-se, como praticantes ou espectadoras. Tal mudança implica em redefinições no uso do espaço cotidiano da rua, no comportamento no interior dos estádios, no botequim e em outros tradicionais redutos machistas do espaço urbano.

Para não nos estendermos em demasia nesta infindável lista de nexos e possibilidades de tratamento geográfico dos esportes, encerraremos com uma alusão aos grandes eventos esportivos internacionais: os Jogos Olímpicos e as Copas do Mundo. Deles poderíamos extrair diversas questões de interesse para a geografia. Augustin (1995:31-36), por exemplo, trata da dimensão geopolítica dos Jogos Olímpicos, e do quanto estes representam uma vitrine das potências econômicas, alimentando a lógica das profundas desigualdades no plano internacional. Pensamos novamente na urbanização: estes grandes eventos tendem cada vez mais a mobilizar poderosos investimentos nas cidades que os sediam. O caso de Barcelona (sede dos Jogos Olímpicos de 1992) é exemplar pelo impacto produzido na forma urbana, e vem suscitando diversos estudos, direcionados não apenas à cidade de Barcelona(19). No Rio de Janeiro, recentemente, a candidatura da cidade a sediar os J.O. de 2004 gerou ampla mobilização popular e inúmeros projetos urbanísticos destinados a preparar a cidade para tal possibilidade. Valeria uma abordagem geográfica sob esta perspectiva, em várias pesquisas que poderiam abranger a configuração físico-territorial existente, os diversos projetos, o amplo debate suscitado (não apenas entre técnicos e políticos), a releitura da cidade e os prováveis impactos da realização dos Jogos Olímpicos, entre outros aspectos.

Conclusão

Uma nova geografia cultural vem se expandindo e se consolidando progressivamente desde os anos 80 (Correa, 1998; Claval, 1997; Gomes, 1998), tendo como um dos impulsos primordiais a iniciativa de alguns geógrafos britânicos que, já nos anos 70, procuraram introduzir as paixões e motivações humanas e assim valorizar o simbolismo e a subjetividade (Cosgrove, 1998). Se observarmos o panorama acadêmico para além das fronteiras de nossa disciplina, veremos como a dimensão cultural como um todo também vem adquirindo paulatinamente lugar central nas análises em ciências humanas(20).

Entretanto, da mesma forma como Andrew Blake (1996) observa que a despeito do sucesso na mídia escrita e eletrônica e do prestígio junto ao público, os esportes continuam relativamente ignorados pelos estudiosos da cultura, também na geografia cultural se constata tal negligência. John Bale (1994:4) afirma que "mesmo no vasto campo da geografia cultural os esportes permanecem ignorados". Tendemos a concordar com Bale, pois ao rastrear uma coletânea rica como Re-reading Cultural Geography , também não encontramos qualquer referência significativa aos esportes, muito menos algum artigo dedicado especificamente a este tema. Mesmo um artigo (Arreola, 1994) que trata da forte contribuição cultural mexicana (tratando de música, culinária, imprensa, vida universitária, etc) em uma cidade texana não faz qualquer alusão ao futebol, esporte muito popular no México e que certamente comparece na vida cotidiana local como elemento identitário para a comunidade estudada.

Entendemos que geografia e esportes formam, à primeira vista um casamento inusitado, mas com grandes perspectivas futuras. Muitas vezes, trata-se apenas de superar um preconceito, para notar que nossa disciplina já produz vias de análise bastante adequadas ao tratamento do fato esportivo. Milton Santos, por exemplo, ao tratar das novas condições da fluidez, afirma que estas se baseiam em formas, normas e informações universais (Santos, 1996:219). Os esportes modernos cumprem plenamente estes requisitos, exibindo equipamentos (formas), regras (normas) e informações universais. Roberto Lobato Correa (1995), ao propor um elenco de temas para investigação em geografia cultural, cita o "caráter simbólico de prédios, monumentos (...); a cultura popular (variação espacial); os contatos e conflitos culturais resultantes do processo migratório". Seguindo suas sugestões podemos, respectivamente, trabalhar com o cárater simbólico dos estádios, com o futebol (como lazer popular) e sua variação regional, e ainda com os esportes que se difundiram através de migrações (o futebol e os ingleses, por exemplo).

A dimensão espacial da atividade esportiva é reconhecida e vem mesmo sendo explorada por outras disciplinas no Brasil e no exterior. Como exemplo, podemos citar alguns dos eixos temáticos da III Conference of the Football Studies Group (Austrália, julho de 1999): global and local fans; spectating and space in the stadium; nostalgia, memory and topophilia. Ou citar a graduação em Geography and Sports Science (The University of Birmingham, UK), voltada para a gestão e planejamento de espaços de recreação e esportes na cidade. Cabe ao geógrafo explorar esta dimensão espacial.

Queremos por fim registrar que não acreditamos que a única maneira de tratar geograficamente os esportes seja através da constituição de uma subdisciplina independente denominada "geografia dos esportes". Não discordamos obviamente do projeto desta subdisciplina (aliás bastante veiculada na literatura), posto que os esportes possuem uma lógica própria de espacialização, justificando portanto mais uma ramificação no corpo da ciência geográfica, que inclusive entendemos como capaz de fornecer uma perspectiva valiosa e original. Preferimos todavia apostar também na incorporação do universo esportivo aos grandes campos da geografia, como por exemplo as geografias cultural, urbana, política, etc., posto que os esportes se relacionam ampla e intensamente com outras dimensões do acontecer social, podendo enriquecer nosso entendimento acerca da urbanização, das redes e das políticas territoriais, das identidades e representações, etc.. A tese de doutoramento em curso, aqui já mencionada, procura justamente incorporar o futebol ao estudo geográfico da cidade, ampliando nossos conhecimentos acerca da urbanização brasileira.
 
 

NOTAS

1. Segundo Jean-Christophe Gay (1997) os geógrafos despertaram muito tardiamente para a importância dos esportes. Para citar apenas alguns importantes polos de investigação, temos: a) um sólido grupo de pesquisadores do Derpartamento de Geografia da Oklahoma State University (Stillwater, EUA), sob a liderança de John Rooney, que desde os anos setenta se dedica ao tema, publicando teses, livros, um belo atlas e um periódico especializado em geografia dos esportes. Nos encontros anuais da Association of American Geographers, os esportes comparecem assiduamente há vários anos; b) na Inglaterra, destaca-se desde 1976 o geógrafo John Bale (Keele University), autor de dezenas de artigos e livros, sem dúvida em todo o mundo, o responsável pelo maior volume de publicações na área. c) na França, Besançon e Bordeaux (onde se destaca o geógrafo Jean-Pierre Augustin) são importantes centros de pesquisa no ramo.

2. Segundo Andrew Blake (1996), o fascínio despertado pelo espetáculo esportivo decorre de sua imprevisibilidade, o que o difere das demais experiências de entrenimento cultural como teatro, ópera, música, dança, filmes, etc., eventos que são cuidadosamente ensaiados e amiúde fielmente executados. É certo que peças teatrais e shows musicais permitem aos artistas certo grau de improviso, mas nada comparado ao grau de imponderabilidade um evento esportivo.

3. Tal atitude vem sendo detectada em cursos de "geografia dos esportes" que temos oferecido em eventos organizados pela AGB (Associação dos Geógrafos Brasileiros)

4. No momento, estamos elaborando uma tese de doutoramento em Geografia Humana na Universidade de São Paulo, sob orientação de Odette Seabra, sobre aspectos da espacialidade do futebol na urbanização brasileira.

5. O adjetivo "novo", conforme já frisado aqui, vale para diversos países, com exceção garantida para, pelo menos, Estados Unidos, Inglaterra e França.

6. Todavia, mesmo no Renascimento, os esportes que exigem grande aplicação de força e ou atritos corporais se mantiveram desprestigiados, dada a grande importância atribuída pelos humanistas à erudição, em detrimento da atividade muscular. Também o zelo moralista e o severo intelectualismo da Reforma e da Contra-Reforma, segundo o estudioso Huizinga (1996), investiram contra a prática esportiva. Somente no último quartel do século XVIII, já no contexto do Iluminismo, é que efetivamente se expandem as idéias de resgate e revalorização dos exercícios físicos, tendo em vista agora o desenvolvimento individual.

7. The Oxford English Dictionary (Oxford: Clarendon Press, 1933, p.1727). O própio termo sport somente vai adquirir por esta mesma época o sentido atual predominante de jogos ou exercícios de características atléticas. Desde 1440 (cerca de), entretanto, comparece nos dicionários como pleasant time, ou algo not seriously, daí a acepção inicial de sportman como alguém despreocupado.

8. Dicionário Oxford, edição de 1933, p.1727.

9. A obra de John Bale explora intensamente este aspecto da evolução das formas espaciais e dos equipamentos para a prática esportiva.

10. Boaventura (s/d) percebe elementos do taylorismo no futebol: a ênfase na velocidade, na cronometragem, na especialização de poucas mas decisivas habilidades e no trabalho em equipe.

11. Sobre as formas de gestão empresarial do esporte no mundo atual ver a tese de doutorado de Marcelo Proni (1998).

12.  Não apenas os geógrafos reagem desta forma. Quando apresentamos trabalhos em eventos científicos organizados por profissionais de Educação Física, também provocamos surpresa e curiosidade. A maior parte dos profissionais desta área concebe a geografia como uma disciplina de memorização de acidentes físicos e indicadores econômico-sociais, tal qual a vivenciaram na escola. Uma vez esclarecida a "nova" concepção de geografia, torna-se-lhes fácil perceber os nexos com os esportes, área aliás já bastante freqüentada por outros estudiosos em ciências sociais.

13.  Sobre as paisagens naturais, interessante consultar pelo menos o caso do golfe, cuja origem escocesa guarda estreita relação com a paisagem natural da região centro-leste daquele país: topografia suavemente ondulada, cobertura vegetal de gramíneas de tipo macio, solos bem drenados e concavidades naturais. (ver Bale, 1989:154). Ou ainda a antigüidade da prática de esquiar em regiões de clima frio acentuado: na Suécia, há vestígios de objetos utilizados pelo homem para deslizar sobre a neve que datam de aproximadamente 320 anos antes da era cristã (Sörlin, 1996:147).

14.  O turismo esportivo vem crescendo mundialmente em ritmo bastante acelerado. Para Zahuar (1995), turismo e esportes formam um par muito promissor, posto que o primeiro tende a se tornar a maior indústria do próximo século e o segundo já é o maior fenômeno social do planeta. Entretanto, ao rastrear quase uma centena de trabalhos apresentados no II Encontro Nacional de Turismo com Base Local (Fortaleza, 1998), verificamos que esta modalidade de turismo ainda é bem pouco observada por pesquisadores no Brasil, ao passo que desde 1993 há periódicos dedicados exclusivamente ao assunto, como o Journal of Sport Tourism (www.mcb.co.uk/journals/jst).

15.  Sambucetti (1998), ao estudar a percepção do espaço urbano pela população residente em Montevideo, aplica entrevistas que apontam o estádio Centenário como "lugar de primer grado", isto é, como destaque no conjunto dos lugares mais significativos para a população local.

16.  Um belo exemplo é o estádio Mário Filho, o Maracanã, inaugurado no Rio de Janeiro em 1950, cuja decisão locacional privilegiou a acessibilidade (a ferrovia e o corredor viário que a margeia), além de situar-se, à época, em ponto relativamente equidistante entre as zonas norte e sul da cidade. O futebol pode, assim, ser visto como atividade que gera fixos de grande conectividade na malha territorial. No Brasil, um estudo sobre a difusão do futebol a partir de redes foi realizado por Jesus (1998a e 1998b).

17.  Sobre a atribuição de possível sacralidade aos estádios de futebol, tão freqüente na crônica esportiva, ver Morris (1981), Rosenfeld (1993) e Costa (1987).

18.  Os estádios de futebol propiciam inúmeros outros temas de investigação geográfica, que pretendemos explorar futuramente em artigo especificamente voltado para tais equipamentos.

19.  O Centro de Estudos Olímpicos e do Esporte, em Barcelona, vem publicando amplo material que trata tanto de estudos empíricos (ver o artigo do geógrafo Muñoz, 1996) como da busca de uma metodologia de planejamento urbano para/a partir de grandes eventos esportivos.

20.  Em interessante artigo que aliás discute a espacialidade urbana de forma original, Pesavento (1995:279) aponta que os estudos de história cultural estão na ordem do dia na historiografia mundial, constituindo a "ponta fina" deste final de século.
 

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ZAHUAR, John. Historical Perspectives of Sports Tourism. Journal of Sports Tourism, vol. 2, n.4, 1995.
 

ANEXO

Projeto de criação da disciplina eletiva "Geografia dos Esportes"

Autor: Gilmar Mascarenhas de Jesus

Carga horária: 45 h/a.

Objetivos:

a) Conhecer a "geografia dos esportes", como campo de investigações emergente em geografia humana;

b) Refletir sobre a dimensão espacial da atividade esportiva, a partir de sua natureza, magnitude e significado no mundo atual;

c) Incorporar os esportes, o lazer e a recreação no estudo da urbanização e na prática do planejamento urbano.

Ementa:

1) Esporte/lazer/recreação: bases conceituais;

2) Evolução geral dos esportes;

3)As bases geográficas dos "esportes modernos";

4) A atividade esportiva como relação Homem-Natureza;

5) Produção e apropriação de "sítios" e equipamentos esportivos;

6) A indústria dos esportes e seus fluxos no território;

7) A geopolítica dos esportes: regionalismos, nacionalismos e relações internacionais;

8) Futebol: o "esporte planetário" e sua presença no território brasileiro;

9) A geografia dos esportes no planejamento urbano.
 
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