Biblio 3W
REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona 
ISSN: 1138-9796. Depósito Legal: B. 21.742-98 
Vol. XVI, nº 932 (2), 20 de julio de 2011

[Serie  documental de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana]

 

NOVOS HORIZONTES PARA O URBANO: URBANIDADES, BIOCIVILIZAÇÃO E RESISTÊNCIA NA UNIVERSIDADE (USP-ESTE)

Marcos Bernardino de Carvalho
Universidade de São Paulo

Recibido: 21 de abril de 2011. Aceptado: 16 de mayo de 2011.

Novos horizontes para o urbano: urbanidades, biocivilização e resistência na universidade (USP-Leste) (Resumo)

Com o intuito de colaborar com o debate estabelecido entre Horacio Capel e Jean-Pierre Garnier, a partir das objeções feitas por este último ao conteúdo da conferência inaugural do XI Coloquio Internacional de Geocrítica (proferida por Horacio Capel), trazemos uma reflexão sobre alguns temas que em nosso entender mereceriam melhor tratamento por parte dos dois debatedores, sobretudo considerando algumas particularidades na contextualização brasileira dessas questões, a saber: a relação da esquerda com a violência; algumas características importantes da relação campo-cidade na atualidade (em particular o papel dos movimentos sociais do campo, na difusão de urbanidades e na construção de uma possível biocivilização) e, também, uma reflexão mais ampla sobre as possibilidades de posicionamento do mundo acadêmico e dos intelectuais das universidades diante de tudo isso, considerando particularmente os últimos acontecimentos que envolveram a expansão da Universidade de São Paulo para a Zona Leste da cidade.

Palavras chave: urbanidades, esquerda, violência, biocivilização, movimentos sociais.

New horizons for the urban: urbanities, biocivilization and resistance at the university (USP-Leste) (Abstract)

In order to collaborate with the debate between Horacio Capel and Jean-Pierre Garnier, about the objections made by Garnier to the contents of the inaugural conference (given by Horacio Capel) of the XI Coloquio Internacional de Geocrítica, we present a discussion on some topics which we believe deserve better treatment by the two debaters, especially considering some peculiarities in the brazilian context of these issues, namely the relation between left and violence, some important characteristics of rural-urban relationships nowadays (in particular the role of social movements in the diffusion of urbanities and construction of a possible biocivilization) and also a wider reflection on the possibilities of positioning the academic world and intellectuals from the universities about all this issues, particularly considering the recent events surrounding the expansion of the University of São Paulo for the East Zone of the city.

Key words: urbanities, left, violence, biocivilization, social movements.


Por diversas razões (que serão enumeradas logo mais), sentimo-nos impelidos a participar do debate protagonizado pelos professores Horacio Capel e Jean-Pierre Garnier, desencadeado a partir das objeções feitas por este último (Garnier, 2011) ao conteúdo da conferência inaugural do
XI Colóquio Internacional de Geocrítica (Capel, 2010), proferida em maio de 2010 na cidade de Buenos Aires.

Tivemos o prazer de participar desse colóquio (e aqui iniciamos a enumeração das razões prometidas), apresentando um trabalho (Carvalho e Pereira, 2010) precisamente para colaborar com as discussões abrigadas no eixo El derecho a la ciudad: desarrollo urbano, justicia territorial e inclusión social”, cuja temática guarda bastante proximidade com o próprio tema que ora se debate e, também, com os novos eixos sugeridos ao seu desenvolvimento, proposto pelo Conselho de Redação da Revista Biblio 3W, ao abrigar a demanda de ampliação do debate sugerida por colaboradores e leitores das revistas publicadas no portal Geocrítica. As novas questões sugeridas[1] gravitam fortemente em torno da expressão consagrada por Henri Lefebvre em seu já clássico O direito à Cidade, e também sugerem ampliação para o exame das implicações políticas que o  reconhecimento e a discussão desse “direito” trazem. Em nossa participação, divulgamos e publicamos uma reflexão acerca do papel “urbanizador” (entendido como difusor de “urbanidades”) promovido por uma das mais importantes universidades do Brasil — a Universidade de São Paulo/USP —, com a qual estamos vinculados, como profissionais, desde 2009[2], ao estender seu campus paulista para a Zona Leste de São Paulo, uma região periférica da cidade com população majoritariamente pobre e muito numerosa (aproximadamente 4,5 milhões de habitantes). Essa extensão implicou na criação de novos cursos, com forte engajamento social, tais como Gestão Ambiental, Gestão de Políticas Públicas, Obstetrícia, Gerontologia, Licenciatura em Ciências da Natureza, Lazer e Turismo e Ciências da Atividade Física, que revelam compromissos com algumas das mais preocupantes questões de agora e do futuro: a questão socioambiental, a esfera pública e suas políticas, a saúde da mulher e o parto natural, o envelhecimento da população, o ensino de ciências, o tempo livre e assim por diante[3].

Para nós, a consideração desse perfil de engajamento ou do conjunto da própria proposta e estrutura pedagógica da nova Escola, com suas características não departamentais, estimuladora da interdisciplinaridade e de metodologias ativas de aprendizagem[4], associado a alguns benefícios trazidos (ou projetados) para a região — das implantações das novas estações de trem ou dos serviços promovidos pelas atividades de extensão, em que se engajaram professores, alunos e moradores, ao efeito de interrupção no processo de degradação ambiental que vitimava o local onde se implantou (Parque Ecológico do Tietê) —, é que revelava o caráter promotor das “urbanidades” que a ampliação do campus indicou e que foram objeto de nossa análise e reflexão no mencionado trabalho (Carvalho e Pereira, 2010). Nele, portanto, a expansão urbana que nos propusemos a examinar, relacionava-se menos com aquilo que normalmente se considera como reprodução do urbano em uma abordagem mais quantitativa[5], e muito mais com a consideração dos aspectos qualitativos, e comportamentais que a extensão de uma rede de solidariedades, de possibilidades  e de direitos pode proporcionar, àquelas parcelas da população que em geral são tratadas com muito pouca “urbanidade”, pelo excludente e discricionário modelo de acumulação vigente e o modelo territorial e espacial de sua preferência: urbano, por excelência, ou seja, configurado por redes de segregação, funcionalidade e especialização territorial do trabalho (Singer, 1985).

Historicamente tem sido a movimentação dos segregados e dos excluídos que tem conferido um pouco de “urbanidade” aos processos de urbanização. A própria USP Leste, como tivemos oportunidade de argumentar no artigo mencionado, resultou da composição de pelo menos três vetores: reivindicações populares, organizadas em torno de antigo e tradicional movimento (institucionalizado como Fórum de Educação da Zona Leste); as ações oportunistas de políticas governamentais e também das políticas acadêmico-pedagógicas da própria Universidade, em seus objetivos de expandir o acesso ao ensino superior público de boa qualidade. Evidentemente, entre esses três vetores, a força do primeiro (Fórum de Educação da Zona Leste), foi fundamental para determinar a região da cidade escolhida para a implantação do novo campus. Esse movimento, que já havia logrado sucesso com um caso emblemático, — a conquista da primeira instituição pública de ensino superior da Zona Leste (o Centro Tecnológico da Zona Leste), em local que estava destinado à construção de um presídio —, com a força de sua tradição teve peso decisivo na resultante dos três vetores aludidos, direcionando a pretendida expansão universitária para a região onde efetivamente ela aconteceu.

Mas aqui não pretendemos reproduzir o que já examinamos (e, portanto, tomamos a liberdade de remeter o leitor para o artigo mencionado — Carvalho e Pereira, 2010 — onde poderá conhecer os detalhes de nosso argumento), mas, sim, contribuir com o debate (interessantíssimo, aliás, travado por Capel e Garnier), pois, como dissemos, nos sentimos instados a fazê-lo, e nem tanto por causa de objeções adicionais que poderíamos acrescentar seja ao discurso original, que desencadeou o debate, seja aos 30 destaques feitos por Garnier, ou, ainda, às mais de 50 páginas do novo texto de Capel, em que este responde às “objeções” de Garnier, mas apenas porque, a começar pela condição de interlocutor identificado (pela conferência de Capel que deu origem à polêmica) e a continuar por outras poucas questões que a ambos (Garnier e Capel) gostaríamos de sugerir para acrescentar ao debate, sentimo-nos no direito de fazê-lo, pois de ambos gostaríamos de cobrar uma consideração de tratamento mais adequado a esse pequeno conjunto de questões. Entre estas, destacaremos particularmente as seguintes: a relação da esquerda com a violência; algumas características importantes da relação campo-cidade na atualidade e  uma reflexão mais ampla sobre as possibilidades de posicionamento do mundo acadêmico e dos intelectuais das universidades diante disso. No caso particular dessa nossa contribuição, as relações campo-cidade serão ilustradas com alguns dos debates em que estamos atualmente envolvidos no Brasil, ao passo que a reflexão sobre os intelectuais, a universidade e seu posicionamento será ilustrada e desenvolvida a partir de alguns episódios recentes relacionados à Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. Assim, inclusive aproveitamos a oportunidade dessa intervenção para atualizar algo relacionado ao tema de nossa participação no referido Colóquio.


A questão da interlocução, e mais: a esquerda, a violência e o torpor. Ou, para quem não tem moradia e transporte, estádio de futebol e trem bala

Apesar de Garnier ter tomado para si o privilégio da interlocução, e sobretudo das reflexões críticas contidas na conferência de Buenos Aires, o próprio Horácio Capel (2011, p. 2), em sua resposta às 30 objeções de Garnier registra: “no pensaba específicamente en la obra de Jean-Pierre Garnier (...), aunque veo que él se siente aludido. Pensaba sobre todo en los asistentes al Coloquio de Geocrítica, muchos de ellos científicos sociales de izquierdas.”

A indicação dessa interlocução, incluindo a razão do privilégio a ela, Capel reafirma mais de uma vez, em outras passagens do seu texto, como na seguinte: “En mi conferencia insistí en la violencia de la izquierda porque el auditorio que asiste a los Coloquios de Geocrítica es más bien de esta tendencia y porque, como ya he dicho, estoy convencido de que solo la izquierda puede salvar el mundo.” (Capel, 2011, p. 10).

Então, de início, e diferentemente da precipitação exclusivista de Garnier, e sem tampouco querer fazer qualquer equiparação com as estaturas intelectuais dos atuais protagonistas do debate, desculpamo-nos de antemão e, com as devidas licenças do eminente professor francês, registramos que somos nós, segundo afirmação reiterada do próprio prof. Capel, os interlocutores privilegiados por seu discurso. De fato, enquadramo-nos, eu e pelo menos todos os diversos amigos e colegas que a minha vista alcançava na platéia que assistia à conferência de abertura, perfeitamente no perfil aludido por ele: cientistas sociais de esquerda e, acrescento, mais estas outras características frequentemente evocadas para justificar certos posicionamentos (que normalmente beiram as descomposturas e/ou lições de moral que alguns de nossos mais caros amigos europeus gostam de nos dar): latino americanos e, no caso de muitos, como soe acontecer nos Colóquios Geocrítica, principalmente brasileiros e simpatizantes de movimentos sociais tidos como “radicais” (como  ‘Los sin tierra...’) segundo a ótica do “aquém-mar”.

É na condição de membro dessa platéia, que iniciamos nossa contribuição ao debate e já registramos: eleger aquela platéia (particularmente os que se identificam com a “esquerda”) como interlocutora privilegiada nos ambientes de democracia e de diálogo que costumam povoar os Colóquios Geocrítica, significa também convidar o “povo do abismo” ou as vítimas do “pensamento abissal” europeu a participar do debate[6], pois foi a estes que o discurso do diretor de Geocrítica privilegiadamente se dirigiu já que a identidade “de esquerda” implica em vínculos fortes com esse “povo” e essas “vítimas”. Não deveríamos obliterar essa amplitude declarada da conversa, restringindo-o a um douto espaço europeu de diálogos. Nesse sentido, tanto as provocações corajosas feitas por Horácio Capel diretamente aos seus interlocutores, como a iniciativa agora de Biblio 3W e da Geocritica  que ele dirige, em ampliar esse debate, merecem a cortesia do registro inicial, o aplauso e a participação.

Indo direto aos pontos, não custaria inicialmente repetir o que já é por demais reconhecido por (quase) todos: a cidade é anterior ao capitalismo, o urbano (concebido como rede, hierarquizada, segregada, territorializada em funcionalidades) é produto deste, e as “urbanidades”[7], naquele sentido que costuma frequentar muito mais as páginas de produções literárias do que aquelas destinadas às análises de urbanistas/urbanólogos, resultam da resistência histórica (se legal ou ilegal, violenta ou pacífica, isso dependerá do grau de democracia admitida para viabilizar a realização do espaço do capital, e da receptividade por este admitida para absorver ações que lhes são às vezes contrárias) que os seres humanos levados a concentrar-se nos “nós” das redes urbanas, — isto é, nas cidades, se se preferir —, oferecem à perspectiva de verem suas existências reduzidas à condição de mão-de-obra ou de consumidores que, tal qual as mercadorias e os insumos produtivos, são distribuídos pelos territórios das cidades, segundo os interesses privados da produção de bens, e dos estados a eles associados, e, também, como é muito comum acontecer, segundo os desinteresses das políticas mal feitas ou mal aplicadas que esses estados patrocinam (ou não).

De nossa parte dizemos: nada como integrar-se ao movimento cotidiano das imensas massas de pessoas (falamos de milhões), diariamente obrigadas a deslocar-se por dezenas de quilômetros dentro de uma mesma cidade, indo atrás dos salários-limite (igual ao que é oficialmente definido como salário mínimo) que percebem em jornadas extenuantes de trabalho, ou voltando para suas moradias precaríssimas, normalmente construídas em áreas de risco, sujeitas às enchentes ou aos deslizamentos de encostas (em São Paulo há registro de bairros, especialmente na Zona Leste da cidade em que moradias permaneceram meses c/ suas plantas inferiores embaixo d’água)[8], nas estações chuvosas, ou à insalubridade nas estações mais secas (diga-se de passagem, que a mistura desses problemas característicos dessas duas estações é bastante comum) para perceber quão violento pode ser o desinteresse das políticas públicas e os interesses privados a ele [estado desinteressado] associados.

Por opção profissional, em nossos dois últimos anos de vínculo com a EACH-USP, temos tido o privilégio de viver um conhecimento mais próximo desse drama que descrevemos. Se é verdade que não estamos propriamente integrando uma espécie de “comunidade de destino”, sofrendo exatamente o que sofrem nossos “objetos” de interesse, ao menos estamos compondo essa verdadeira “comunidade aprendente” [9] em que se transformou o novo campus da USP e a Escola (de Artes, Ciências e Humanidades) que lá se implantou. De todos os modos, seja o que for, o fato é que não estamos mais a uma distância “européia” (geográfica e/ou culturalmente, falando) dos problemas vivenciados pelas populações de seu entorno, o que poderia acontecer não só se estivéssemos do outro lado do Atlântico, mas também no isolamento confortável dos restritos bairros mais bem servidos das zonas privilegiadas de nossa própria cidade . E sendo assim já nos sentimos um pouco mais no direito, e dessa vez não apenas por afinidade ideológica, de nos colocarmos como alguém que está observando as coisas do fundo do abismo ou como representantes da possibilidade e um sonho de superação do “pensamento abissal”.

Sem tergiversações eu diria: certos animais (especialmente aqueles que compõem as escalas de produção do agronegócio) talvez vivam melhor em seus estábulos ou sejam até mesmo melhor transportados, para seus currais ou abatedouros, em condições mais dignas do que aquilo que de vez em quando assisto nos trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) em São Paulo, ou que posso observar e/ou me informar acerca de determinadas condições de moradia a que estão obrigadas parcelas significativas da população da Zona Leste, em comunidades lindeiras ao novo campus da USP. Sobretudo o contato vivo e presente com tais condições, ou os projetos de pesquisa e extensão acadêmica, ou, ainda, a presença no próprio campus de moradores e lideranças dessas comunidades, que se acorrem das diversas oficinas, atividades e cursos a eles oferecidos ou a eles especialmente dirigidos, é que tem nos proporcionado mais proximidade com essa situação. Com o sofrimento dessa população, sempre nos solidarizamos, mas, observá-lo assim de perto e vivê-lo, mesmo que voluntariamente e no contrafluxo[10], provoca-nos, confessamos, uma espécie de recaída esquerdista que desperta os instintos mais radicais, que eu julgava já definitivamente adormecidos e que, nessa altura da vida, deveriam estar dando lugar àquele período de amadurecimento, relativização, suavização das críticas, tolerância com as adversidades etc., mas que volta a se perguntar: Como suportam isso? Como não reagem a essa violência e ilegalidade com a qual são tratados? A  triste resposta às vezes se oferece pelo próprio panorama de corpos amontoados, muitos dormindo, mesmo em pé, após as extenuantes jornadas de trabalho realizadas nos outros extremos da cidade, que observo em alguns momentos em que me dirijo à Universidade nos mesmos vagões que os transportam para destinos mais distantes. A realidade desses corpos parece ser de torpor, inércia e cansaço. Nesse caso, tenho a impressão, mesmo que alguém os exortasse a oferecer uma resposta violenta às condições a que estão submetidos, não encontraria eco. Tratar-se-ia de um esforço inútil, que tampouco saberíamos dizer para onde os conduziriam, como não os conduzem a nada, as bissextas explosões espontâneas que ocorrem quando são acordados do sono por eventuais quebras ou paralisações dos vagões que os transportam. E, nesse caso, surgem as depredações dos trens das estações que ficam sobrecarregadas de pessoas, além do limite físico do próprio espaço, como aconteceu no ano passado na estação vizinha à USP Leste, estação Engenheiro Goulart, fato fracamente noticiado na imprensa, e que quando noticia apenas condena com sensacionalismo as vítimas de toda essa situação, classificadas de “vândalos que destróem os meios que os transportam” (sic). Quanto à violência desses “meios” e dos “fins” (as estações para as quais são levados, e nas quais ou encontram moradias impraticáveis ou empregos insustentáveis do ponto de vista da dignidade humana), nenhuma palavra, seja da mídia ou dos intelectuais que as abandonaram.

Enquanto isso, o poder de estado, em condições de administração cotidiana planeja gastar bilhões com a construção de um “trem bala” (denominado TAV- Trem de Alta Velocidade), que deverá passar a 300 km/h precisamente em alguma linha paralela a essa em que trafegam a 30 km/h (sim, há placas limitadoras de velocidade para os trens metropolitanos que os proíbem exceder essa velocidade em certos trechos da via) os habitantes da Zona Leste e, em algum dos muitos extremos dessa mesma região subsidiará fortemente um estádio de futebol para que a cidade de São Paulo não deixe de ser promotora da abertura da próxima copa mundial de futebol!

Diante desse quadro, cujas tintas estamos apenas palidamente indicando, honestamente, a discussão sobre a violência... e da esquerda..., deveria dar lugar à discussão sobre as causas  do amortecimento e do torpor que nos tem acometido também a nós, os antigos e atuais intelectuais de esquerda.


Onde está a esquerda —ex-armada e ex-violenta—  no Brasil?  Parte dela, destruindo pacificamente o meio ambiente e aliando-se com o agronegócio

Há um outro aspecto do debate, vinculado não só à questão da violência (de esquerda ou de direita) e relacionado às dinâmicas da cidade, particularmente em seus vínculos com o campo e com os territórios do poder, no campo ou na cidade, que igualmente valeria a pena considerar.

E aqui gostaríamos de chamar a atenção, independentemente das afirmações feitas por ambos os debatedores, seja acerca da não existência de um “palácio de inverno” a ser ocupado pelas populações potencialmente revolucionárias de hoje (Capel, 2011), seja acerca do desinteresse em ocupar palácios ou outros espaços de poder, simbólicos ou não (e que os revoltosos prefeririam marginalizar — Garnier, 2011), ou, ainda dos fluxos migratórios campo-cidade, dos fascínios ou desencantos — urbi et orbi —, que as cidades exerceriam etc. etc., para alguns fatos e situações que envolvem precisamente essas relações (entre campo-cidade e com os territórios do poder). Tais fatos e relações serão enumerados segundo uma forma particular de interpretação da realidade (e poderia ser diferente?), mas os reputamos como importantes de serem relacionados, pois estão cada vez mais ausentes das análises dos que se dedicam a examinar o espaço urbano com olhar crítico e perspectiva solidária aos que sofrem, ou, quando não estão ausentes dessas análises, dificilmente são adequadamente tratados por elas.

 O fato é que a despeito de importantes movimentos sociais localizados nas cidades, como, por exemplo o há pouco citado Fórum de Educação da Zona Leste, ou os diversos outros movimentos populares existentes em variadas cidades do país, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), no caso brasileiro, converteu-se talvez na única força nacionalmente organizada que de fato atua nessa escala, questionando estruturas básicas do modelo de acumulação, com importantes reflexos para a cidade. E isso não só porque o MST apresentaria um potencial de interferência (a médio e longo prazo) no fluxo de pessoas que se estabelece entre campo e cidade, ou porque obviamente atua no âmbito da segurança alimentar e no abastecimento vital das milionárias concentrações de gente na cidade, mas principalmente porque ao fiscalizar a destinação produtiva da propriedade rural, ou ao questionar o grau de concentração fundiária e os privilégios concedidos às ações promovidas pelo chamado agronegócio, têm contribuído para evidenciar o conteúdo dos paradigmas que ainda estão em choque, bem como as novidades que aí estão acrescentadas como demandas desses novos tempos, quando se trata de pensar as alternativas para os modelos de organização futura  de nossas sociedades, em termos de suas estruturas econômicas e sociais e em termos dos padrões de acumulação, produção e distribuição de riquezas que seguiremos adotando, ou não.

Campo e cidade, hoje, são divisões territorialmente especializadas daquilo que denominamos espaço urbano. As ações desencadeadas em ambos territórios, portanto, tem poder de interferência sobre o conjunto da rede urbana. O Brasil ocupa uma posição peculiar no cenário internacional e, quer por suas condições ambientais e territoriais, quer por sua inserção política, cultural e econômica nesse cenário, acreditamos que poderá também influenciar decisivamente nas caraterísticas do futuro global.

Aqui não é momento, nem o lugar de retomarmos longas digressões já feitas sobre o que nos espreita nessa época de encruzilhadas em que estamos metidos, por causa do embaralhamento de fronteiras (e dimensões) ambientais, políticas, econômicas, financeiras, culturais etc., e todas em condições críticas, confundidas, em suas dimensões e ações territoriais, com as próprias fronteiras do planeta. Parafraseando o eminente e saudoso geógrafo Milton Santos, em tempos de globalização: tudo é política, tudo é ambiente, tudo é economia etc[11]. E a espacialidade construída e sedimentada pelos alcances globais dessas dimensões é uma urbanização generalizada que envolve todo o planeta com uma extensa rede global, cuja malha de tessitura muito fina, não deixa quase nada nem quase ninguém escapar dessa condição de identidade hodierna: urbana (“homo urbanus”, disse alguém, ao identificar a atualidade de nossa espécie). Parte desses raciocínios já desenvolvemos em outras oportunidades[12], inspirados em autores diversos, e a esses trabalhos remetemos nossos prezados leitores, pois aqui nos restringiremos, como prometemos, a indicar alguns pontos que em nossa opinião deveriam ser considerados pelos debatedores da questão urbana na atualidade.

Indo direto ao ponto, mais uma vez, estamos com Enrique Leff (2003), que sugere o paradigma ambiental como horizonte de possibilidades a fazer frente ao exclusivismo das orientações tecnológicas e econômicas que nos que tem guiado. E, portanto, sugere a pedagogia da complexidade ambiental como meio, e os saberes (e existências) desprezados pelo “pensamento abissal” (Souza Santos, 2007) como o indígena, por exemplo, em suas lutas pela reafirmação de identidades e direitos (incluindo o da diferença, da autonomia e do território), como referência alternativa a ser considerada. E estamos também com Ignacy Sachs, o pai do “ecodesenvolvimento”, e suas ideias de “civilização da biomassa”, inspiradas em parte nas análises do geógrafo Pierre Gourou  em suas incursões pelo mundo tropical (a partir das quais teria cunhado a expressão “civilização do vegetal”), que sugere especial atenção aos camponeses, especialmente os brasileiros, pela potencialidade que apresentam em face dos imperativos ecológicos da atualidade. “São capazes de fazer serviços ambientais essenciais, de ser os guardiães das paisagens e os gerentes dos recursos de que depende nossa existência – solos, águas, florestas e, por extensão, climas” — afirma Sachs (2010, p. 28) e, consequentemente, fazer frente à eternização de uma civilização fundada no petróleo para aquela, “nova, da biomassa” [13].

Sem fazer apologia de algumas ações e sem deixar de criticar algum dogmatismo (embora não seja esse o caso aqui), às vezes reprováveis do MST brasileiro, é  inquestionável, no entanto, que esse movimento alimenta o paradigma ambiental, da biodiversidade e da biocivilização, da produção de alimentos, cooperada e solidária, da defesa da floresta, dos povos que dela vivem etc.,  em contraposição ao paradigma do agronegócio, que pretende transformar tudo o que toca em commodities para a exportação, incluindo as florestas tropico-equatoriais remanescentes (únicas no planeta) em pasto, lavoura de soja e de outras monoculturas, sob o alegado imperativo das “imposições inevitáveis” (sic) do mundo das trocas globais e suas benesses tecnológicas e econômicas. Desse tipo de confronto, aí representado como aparentemente restrito ao mudo rural, mas que se espraia por todas as outras dimensões atuais das atividades humanas, sejam estas desenvolvidas no campo ou na cidade, é que depende o nosso futuro.

Sendo assim, se tais paradigmas estão evidentemente em choque em todos os lugares, há que se reconhecer, no entanto, o mérito do MST em evidenciá-lo de forma clara, por causa da maneira como atuam e se organizam, e também por causa da abrangência de suas ações, invariavelmente e unanimemente condenadas pelos principais meios de comunicação do país (incluindo os principais jornais, revistas e redes de TV),  todos eles comprometidos com a manutenção do establishment. Essa unanimidade, diga-se de passagem, pela clareza que proporciona para a identificação das forças e interesses em conflito, é também um bom estímulo para os que ainda depositam esperanças nas possibilidades de construirmos alternativas ao que está posto acabarem com as vacilações quanto a solidariedade que devam ou não prestar ao MST ou às outras organizações populares e sociais que lhes são similares, tais como o Movimento dos Atingidos por Barragens, o Conselho Indigenista Missionário, as Associações Quilombolas e de outras populações tradicionais. Portanto, no caso brasileiro, a esperança das cidades, considerando a perspectiva do “povo do abismo” ou dos excluídos pelo “pensamento abissal”, reside muito aí.

Mas os méritos de tais movimentos vão além. Como questão adicional, permitem-nos até mesmo reconhecer e separar o joio do trigo naquilo que genericamente costuma-se classificar de movimentos de esquerda no Brasil, e dos quais cobram-se invariavelmente posturas autocríticas, generalizadas, pelas incursões nos movimentos armados e violentos de um passado não tão recente, aos quais apenas parte dela aderiu. E aqui, creio, há informações preciosas que poderíamos passar aos principais protagonistas do debate com o qual estamos pretendendo colaborar. Solicito a licença de chamar-lhes a atenção para o que vai se informar na sequência. Os fatos falam por si.

No Brasil, está em tramitação no congresso um novo Código Florestal, que redefine as áreas que serão consideradas de proteção permanente, a cota de florestas ou mata que cada propriedade rural deverá manter preservada, os critérios de ocupação das encostas, das margens dos rios etc. Nesse novo Código, cujo relator e principal porta-voz é o deputado federal Aldo Rebelo, aumenta-se consideravelmente a margem de terras (nas encostas, ao longo dos rios e nas florestas remanescentes) que poderão ser ocupadas pelos pastos e lavouras, em detrimento daquelas que estavam destinadas à preservação na antiga lei (ainda vigente, embora muito desrespeitada). Além do mais, há nele uma cláusula de anistia aos agricultores que durante a vigência das antigas normas praticaram atos de devastação e destruição, que as regras atualmente propostas pelo novo Código considerariam dentro da lei. Essa nova proposta, conquistou imediatamente o apoio da chamada bancada ruralista do Congresso Nacional, composta por grandes proprietários de terras dedicados à pecuária, às explorações monocultoras (soja, laranja, café, cana-de açúcar), ou com eles ideologicamente e economicamente identificados. Mas, de outro lado, mereceu a condenação unânime de ambientalistas, de organizações representativas dos povos da floresta amazônica, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, de intelectuais diversos, do MST e outros movimentos que já mencionamos. O deputado relator do projeto de novo Código Florestal é do Partido Comunista do Brasil e, atualmente, é uma de suas principais lideranças. Esse partido, PCdoB (sigla pelo qual é conhecido), foi um dos principais defensores e protagonistas da luta armada contra a ditadura nos anos 1970/1980 e protagonizou igualmente um dos episódios mais famosos  e heróicos dessa luta: a Guerrilha do Araguaia[14].

Como dissemos, os fatos acima falam por si e indicam que a principal parcela representativa da ex-esquerda militarizada, adepta dos meios violentos de luta contra o poder, hoje aderiu ao principal foco de convergência dos anseios mais à direita na sociedade brasileira (e os lidera!): os defensores e protagonistas do “paradigma do agronegócio”

Com isso queremos apenas alertar aos analistas dos movimentos sociais brasileiros e de suas esquerdas: cuidado! Há sutilezas aí que só os mais atentos são capazes de perceber , pois aquela esquerda da qual se deveria cobrar uma possível autocrítica pela adesão à violência no passado, parece seguir comprometida com esse método e, pior, aderindo (ou avalizando) hoje aos que são os protagonistas e/ou patrocinadores das piores violências e massacres desferidos contra camponeses e suas lideranças em anos recentes da nossa história: do assassinato do líder seringalista Chico Mendes ao da missionária Dorothy Stang, ou aos assassinatos coletivos ocorridos nos episódios que ficaram conhecidos como o Massacre de Eldorado dos Carajás ou o Massacre de Corumbiará, apenas para citar alguns exemplos[15]

Há, evidentemente, uma outra esquerda, à qual muitos de nós, daquela platéia do XI Colóquio de Geocritica em Buenos Aires, pertencemos, e que desde sempre criticou a militarização do movimento e a violência como método, incluído o período da Guerrilha do Araguaia, e que, certamente, continuará exercitando essa crítica hoje, ainda mais quando se concretiza essa aliança imprevista entre os lideres do agronegócio e os comunistas do PCdoB.

Enquanto isso, o MST e movimentos semelhantes reagem, amparados pelo texto constitucional[16], ocupando as terras improdutivas, resistindo contra  as barragens que ameaçam os territórios de suas culturas (v. o caso da Usina de Belo Monte), ou a integridade dos cursos d’água (v. o caso da transposição do Rio São Francisco[17]) transformando-as, ou mantendo-as, em terras de produção de alimentos e de convivência com a floresta, de reprodução da biodiversidade, contribuindo, enfim, para alimentar o paradigma da biocivilização, — este, sim, uma verdadeira esperança para as cidades —, e convergindo todos, hoje, para a denuncia qualificada da proposta de novo Código Florestal, porque entendem que este, se aprovado e sancionado pela presidência da república, não matará apenas nossas florestas, as matas ciliares e aumentará o risco de deslizamento das encostas, mas poderá debilitar a nossa esperança de que floresça a civilização da biomassa e a potencialidade que esta apresenta de pacificação e de civilização das cidades. Ou seja, no Brasil, alguns dos principais ventos portadores de ‘urbanidades’ estão sendo soprados do campo para a cidade[18].


Atualizando: as “urbanidades” promovidas pela EACH-USP e as ameaças à sua continuidade

Para encerrarmos esta contribuição ao debate, aproveitamos a oportunidade para fornecer aos que nos lêem e nos acompanham, alguns dados e fatos recentes, relacionados à USP e à porção leste de seu campus paulista, com o intuito como dissemos não só de atualizar e reafirmar parte daquilo que desenvolvemos em nossa intervenção no XI Colóquio, mas também ilustrar como os paradigmas mencionados no item anterior de fato confrontam-se com diferentes nomes, diversificadas formas e motivações em várias das dimensões e dos espaços de nossa existência.

Quanto às atualizações de alguns dados, além daquilo que retomamos nas partes introdutórias deste artigo, destacaremos muito brevemente apenas mais alguns deles (pois não reside aí o objeto central desta intervenção), que reafirmam os indicadores de que o espírito de promoção de “urbanidades” ainda move esta nova Escola da USP.

A EACH continua se destacando como a principal unidade da Universidade a atrair e permitir o acesso de egressos da rede pública de ensino. Dos matriculados em 2011, quase a metade — 47,9% — dos estudantes que se matricularam nos seus dez cursos, já considerando a 2ª lista dos convocados, eram oriundos das escolas públicas de ensino básico, ao passo que a média desse tipo de estudantes para o conjunto da Universidade não ultrapassou os 30%. Também no que diz respeito a inserção e vínculo com a Zona Leste da cidade, os números atuais apenas reafirmam a tendência de estreitamento desses laços que havíamos detectado em nosso trabalho anterior (Carvalho e Pereira, op. cit), pois também aproximadamente metade dos estudantes — 45,2% — que se matricularam em 2011 são residentes nessa região da cidade[19]. Sendo assim, o vínculo de solidariedade continua a se estabelecer entre a Escola e as populações mais carentes da cidade, uma vez que há grande equivalência entre estas, a “rede pública” e a “Zona Leste”. Mas além desses dados referentes às origens e condições de seus estudantes, reforçam o perfil de inserção da EACH e as características desses seus vínculos, inúmeras outras atividades desenvolvidas, tais como as de extensão realizadas e oferecidas para a população idosa, ou aquelas voltadas para ajudar e preparar os jovens que queiram participar dos vestibulares (exames de acesso às universidades), sem contar os inúmeros projetos de pesquisa e demais práticas de extensão em que tanto professores e estudantes da EACH estão engajados, todos eles com forte participação direta ou indireta de gente da região onde essa Escola está inserida. Vale destacar: não há outra unidade da USP, considerando todos os seus campi que tenha oferecido mais cursos, atividades  e oficinas especialmente voltados para os idosos (excetuando-se as palestras e outras atividades de curta duração) do que a EACH, que hoje é a unidade que mais promove esse tipo ação junto à UNATI (Universidade Aberta à Terceira Idade)[20]. E quanto as atividades voltadas para auxiliar nos vestibulares, em agosto de 2010 por iniciativa de professores e estudantes da EACH, em associação com uma organização não governamental da região (Fundação Tide Setúbal), teve início o funcionamento do “Programa de Incentivo ao Avanço da Escolarização”, que ficou conhecido como “Pró-Universidade”, voltado para estudantes do último ano do ensino médio, com o intuito de estimulá-los a continuar seus estudos e ajudá-los na preparação para enfrentar os vestibulares, no qual 868 estudantes de diversas escolas da região se inscreveram. Destes, pelo menos 62 conseguiram ser aprovados em várias universidades, incluindo a USP.

Academicamente, também, a identidade da EACH está se completando, com as novas ofertas de cursos de pós-graduação stricto sensu que a partir de 2010 começaram a funcionar. Cinco são os cursos desse nível que já estão funcionando e já selecionaram suas primeiras turmas de alunos (um deles iniciou em 2010; os outros, neste primeiro semestre de 2011). São eles:  Estudos Culturais,  Modelagem em Sistemas Complexos,  Mudança Social e Participação Política, Sistemas de Informação, Têxtil e Moda.

Todos esses cursos caracterizam-se por trazer também para a pós-graduação alguns do principais engajamentos já verificados na graduação: interdisciplinaridade, compromisso social  e inovação[21].

A despeito, no entanto, das atualizações dos dados e das novidades informadas, particularmente sobre esses novos programas de pós-graduação ou sobre programa de incentivo à escolarização (todos eles, diga-se de passagem, integrados ao espírito difusor de urbanidades com o qual estamos caracterizando essa expansão da USP para o leste), nosso interesse aqui, como dissemos, não é o de apenas retomar e reafirmar a análise que já desenvolvemos, à luz de novos dados, mas informar os que nos lêem acerca do verdadeiro bombardeamento midiático e também acadêmico (uma espécie de “fogo amigo”, como dizemos por aqui) que o projeto desenvolvido pela EACH  vem sofrendo particularmente no período recente, com a formação de suas primeiras turmas, a inserção profissional de seus primeiros egressos e o tipo de discussão que isso tem provocado.

Dois dos maiores e mais importantes diários da imprensa brasileira, por exemplo, —Folha de São Paulo e Estado de São Paulo —, têm reiteradamente cobrado em matérias ou até mesmo em editoriais mudanças e revisões no chamado projeto USP-Leste. As manifestações desses órgãos da grande imprensa brasileira têm oscilado entre o apoio e o questionamento ao projeto (e/ou à forma de sua condução), ecoando, inclusive, restrições que algumas associações corporativas fazem a alguns de nossos cursos, particularmente o de obstetrícia, ou dando margem ao desenvolvimento de um senso-comum que critica o fato da USP não ter trazido cursos mais tradicionais (engenharias, medicina, direito...) para aquela região da cidade[22].

O maior questionamento e resistência ao desenvolvimento do projeto, no entanto, talvez esteja sendo produzido no interior da própria Universidade e respaldado por setores inconformados da própria Escola.

Em recente processo de avaliação, desencadeado aos cinco anos de existência da nova unidade, uma comissão avaliadora presidida por um ex-reitor da USP e integrada por outros 6 membros, sendo 5 deles da própria EACH, propõe diversas mudanças que, em nossa opinião, podem comprometer substantivamente a continuidade daquele processo difusor de urbanidades, com o qual estamos caracterizando a implantação e desenvolvimento da chamada USP-Leste.

Muito sinteticamente, eis o que apresentam, entre outras sugestões (destacaremos apenas aquelas que consideramos mais graves em relação ao comprometimento aludido) : mudança na identidade do curso de Gerontologia, que deveria dar mais ênfase na formação para a gestão; corte drástico das vagas do curso de formação de professores de ciência (Licenciatura em Ciências da Natureza); mudança também na caracterização do curso de Lazer e Turismo, para Gestão de Lazer e Turismo, com ênfase em disciplinas voltadas para a administração de negócios; extinção do curso de Obstetrícia, transferindo-o para a Escola de Enfermagem da própria USP, localizada na porção oeste da cidade.

Para os cursos de Gestão Ambiental, Gestão de Políticas Públicas e Ciências da Atividade Física, as sugestões são de alguns ajustes (diminuição de vagas, otimização na condução, reequacionamento e oferta de disciplinas etc.). E para os cursos de Marketing, Sistemas de Informação e Têxtil e Moda, igualmente, além das propostas de pequenos ajustes, sobressai, na opinião da comissão avaliadora, a constatação dos acertos de identidades e de projetos político-pedagógicos desses cursos.

Pela relação das mudanças ou das continuidades sugeridas, pela comissão de avaliação, portanto, destaca-se claramente um viés que pretende subordinar boa parte dos cursos a uma perspectiva de gestão, entendida (reduzida) ao seu resíduo gerencial e administrativo vinculado ao mundo dos negócios. O realce para o acerto dos cursos já naturalmente mais vinculados a esse universo (Marketing e Sistema de Informações, p.e), também indicado pelo relatório da comissão, não deixam dúvidas quanto a isso. E a rendição à pressão corporativa das associações dos profissionais de enfermagem, que, nesse caso, funcionam como porta-vozes da indústria das intervenções cesáreas (planos de saúde, industria farmacêutica, associações médicas etc.), simplesmente sugere o fechamento do curso de obstetrícia, transferindo-o para o curso de enfermagem.

Tais propostas e possibilidades desencadearam uma forte reação que conseguiu, inclusive, a adesão de lideranças dos moradores da Zona Leste, de estudantes e professores das outras unidades da USP, da Associação dos Docentes da Universidade (ADUSP), do seu Diretório Central de Estudantes (DCE) e de alguns parlamentares da Assembléia Legislativa de São Paulo, que junto com professores e estudantes da própria EACH têm mantido uma espécie de vigília permanente, protagonizando um movimento de grande repercussão que têm conseguido resistir às tentativas de descaracterização do perfil de engajamento e de comprometimento social que tem marcado a implantação da nova unidade da USP nesses anos iniciais de sua existência.

Para alguns, esse perfil, significou um desvirtuamento do que pretendiam inicialmente para essa unidade. A presença de um ex-reitor na presidência (diga-se de passagem que foi na gestão desse ex-reitor que a EACH foi criada) de uma comissão avaliatória e as propostas por ela feitas, evidenciam isso. E agora, após a reação de um movimento amplo que conseguiu rechaçar o conjunto dessas propostas, começam a circular notícias de que duas das mais tradicionais unidades da USP, — Escola de Engenharia Politécnica e Faculdade de Economia e Administração —, realizam estudos e pleitos com o intuito de implantarem expansões de seus cursos no campus da USP Leste. E para isso contam com o aval da atual reitoria da Universidade e também da direção da própria EACH, que igualmente avalizou as propostas e o funcionamento da tal Comissão que ficou conhecida como Comissão Melphi (em alusão ao nome do ex-reitor que a presidiu).

Enquanto isso muitos estudantes e professores da EACH e de outras unidades da USP, seguem lutando para intensificar e manter essa característica de centro difusor de “urbanidades”, que a nova Escola veio conquistando e construindo, ao ampliar os laços de solidariedade para além dos habitantes da Zona Leste e ao eleger acertadamente a defesa do curso de obstetrícia como símbolo de uma luta a favor do engajamento social e de solidariedade com o mundo do trabalho e com as vítimas daquilo que poderíamos denominar de “urbanização perversa”, para caracterizar um sentido oposto àquele de reprodução e difusão de “urbanidades”. Essa “urbanização perversa”, diga-se de passagem, caracterizaria o processo que, se dependesse de alguns, submeteriam e reduziriam todos os espaços (da cidade e fora dela), inclusive os espaços de educação, de pesquisa e de extensão de serviços à comunidade (tríade que caracteriza as universidades stricto sensu), aos ditames de uma urbanização generalizada, cuja função reduzida restringe-se ao seguinte: atendimento das necessidades do padrão de acumulação, do mercado e do mundo dos negócios, que transformam tudo e todos às igualmente reduzidas condições dos itens (insumos, equipamentos, serviços, força de trabalho e consumidores) que, concentrados, compõem os fatores básicos do processo de urbanização ideal do ponto de vista de quem o enxerga nas antípodas do “fundo do abismo”.

Intencionalmente ou não, e já havíamos detectado isso no trabalho apresentado no Colóquio de Buenos Aires, o fato é que aí estão em choque paradigmas tão conflitantes quanto aqueles que examinamos no item anterior, envolvendo aquelas duas perspectivas antagônicas estabelecidas entre o agronegócio e os movimentos que se aglutinam em torno  da justiça agrária, da segurança alimentar e da biocivilização. Mas pode ser que as contradições detectadas por exemplo quanto aos rumos pretendidos para a EACH-USP, sejam apenas uma versão particular dos conflitos produzidos em  todas as dimensões e espaços pelos processos desencadeados por aquela urbanização generalizada e “perversa”, que ao pretender transformar a tudo e a todos em territórios de sua realização, sempre esbarra com a resistência de quem se recusa a sucumbir ao paradigma da competitividade que é ditado pelo mundo dos negócios e pelos imperativos do mercado. Essa resistência costuma aglutinar pessoas que ainda se encantam com projetos pautados na solidariedade e na cooperação, que invariavelmente também são comprometidos social e ideologicamente com o mundo do trabalho e, portanto, se por um lado, nutrem verdadeira aversão a essa espécie de “universidade de negócios” que as determinações hegemônicas pautadas apenas nos valores da competitividade e do mercado impõem, por outro lado, cultivam e difundem grande simpatia pelas dimensões de liberdade, de autonomia e de diversidade que apenas determinados tipos e estruturas de  relacionamento com espaços voltados ao conhecimento podem oferecer. Estes últimos costumam opor à perspectiva das “mentalidades monocultoras” de uma “universidade de negócios”, essa espécie de “universidade cidadã” que não deveria pretender formar (ou adestrar) nem consumidores (nem enganadores), nem mão de obra (mais ou menos qualificada) para o mercado (ou para atender às suas exigências), mas, sim, cidadãos livres, profissionais criadores (inclusive de novos e menos mesquinhos “mercados”), autônomos e conscientes do financiamento público que recebem para sua formação e do débito social que isso representa na conta de cada um.

A luta pela manutenção e reconhecimento da autonomia de gestão universitária, independente do estado e dos setores que o acabam hegemonizando, muitos deles comprometidos com aquela que denominamos de “urbanização perversa”, é o que permite à universidade ou pelo menos a alguns de seus setores estabelecerem vínculos com as parcelas menos hegemônicas e mais desfavorecidas, quer elas se manifestem na Zona Leste de São Paulo resistindo à reprodução do mesmo modelo urbanizador que apenas as vitima, quer elas se manifestem no nordeste ou no extremo norte do país, na borda da Amazônia ou nas porteiras dos latifúndios improdutivos defendendo-nos contra a “versão rural” desse mesmo modelo de urbanização “perversamente generalizado”, e, em contrapartida, não impedindo o nosso direito de sonhar com (e protagonizar) uma aposta biocivilizatória de igualmente generalizado interesse para o nosso futuro.

 

Notas

[1] Os eixos sugeridos no convite à participação do debate foram os seguintes  Derecho a la ciudad; Derecho para la ciudad; El Estado liberal: ¿solo al servicio de las clases dominantes?; Estado liberal y democracia formal; Capitalismo y socialismo; Derecho y cambio económico-social.

[2] Embora como aluno e colaborador estejamos a ela vinculados desde 1975

[3] Além dos cursos mencionados, integram a EACH os cursos de Marketing, Têxtil e Moda e Sistema de Informações, cujos conteúdos e direcionamentos, como argumentamos no artigo mencionado, são também fortemente influenciados pelo compromisso e engajamento evidenciados pelos outros.

[4] Entre elas, particularmente o PBL (Problem-based Learning, ou Aprendizagem Baseada em Problemas) é das mais utilizadas na concepção da própria Escola que destinou espaço físico e também tempo e créditos nas grades curriculares dos próprios cursos, especialmente em um Ciclo Básico que atende à todos, para aplicação e desenvolvimento dessas metodologias.

[5] E que costuma, por exemplo, avaliar essa expansão a partir da aferição do número de pessoas, equipamentos e serviços “típicos das cidades” ou “tipicamente urbanos”, que são implantados em determinados lugares pelas ampliações e/ou interferências promovidas com a presença física desses chamados equipamentos (do porte de uma universidade como a de São Paulo, por exemplo), em suas óbvias alterações nos seguintes e diversos números e/ou quantidades: de vagas de estudantes e de empregos, de crescimento e de estímulo ao comércio, dos valores dos aluguéis, de veículos, dos eixos de acesso etc.

[6] Aqui tomamos emprestadas expressões (e as empregamos, neste texto, em um sentido mais  metafórico) utilizadas respectivamente por Martins (2002), em “A sociedade vista do abismo...” e Souza Santos (2007), em “Para além do pensamento abissal...”,  quando estes em seus textos mencionados fazem referências àqueles que são excluídos socio-econômicamente (ou “incluídos de maneira perversa”, como prefere Martins)  e também são segregados cultural e cognitivamente pelos portadores daquilo que Souza Santos denomina de pensamento abissal , assim caracterizado, por ser , segundo este autor, um pensamento desconsiderador dos conhecimentos e saberes invariavelmente e historicamente “ignorados pelas epistemologias do  norte global” (p. 93). Nesse sentido, para Souza Santos, as exclusões indicadas por um Martins e as apontadas por ele se encontram, revelando as facetas de uma única ordem de injustiças, uma vez que: “A injustiça social global estaria portanto estritamente associada à injustiça cognitiva global, de modo que a luta por justiça social global requer a construção de um pensamento “pós-abissal” (Martins, 2002. p. 61).

[7] Tanto os dicionários espanhóis (da Real Academia Española) como os brasileiros e portugueses, registram os seguintes sentido para urbanidade: cortês, solidário, afável, respeito entre os cidadãos. Mesmos significados encontram-se também para as palavras francesa e inglesa – urbanité, urbanity --, em dicionários dessas linguas.

[8] Para os que se interessarem é possível ler algumas notícias mais completas sobre várias dessas tragédias urbanas às quais estamos nos referindo em <http://www.issonaoenormal.com.br/post/cidade-submersa> e também <http://blogs.estadao.com.br/sp-das-enchentes/tag/jardim-pantanal/>, que tratam das situações ocorridas  em dois bairros da Zona Leste de São Paulo: Jardim Pantanal, que ficou sob as águas durante 40 dias, e Jardim Romano, que padeceu da mesma situação durante dois meses. Ambos acontecimentos tiveram lugar no início de 2010. As notícias foram veiculadas em alguns dos principais órgãos de imprensa de São Paulo e estavam disponíveis ainda para a leitura no momento em que produzíamos esta parte deste artigo (27/04/2011).

[9] A ideia de compartilhar sofrimentos (e destinos) está presente na definição de “comunidade de destino” do livro de Ecléa Bosi (1994). E em Brandão (2005), pode-se extrair a concepção de “comunidade aprendente” da seguinte passagem (p.  87): “Do lar ao círculo mais amplo de parentes e de vizinhos, deles aos pequenos grupos sociais em que vivemos a nossa vida de todos os dias, de um time de futebol a uma igreja, a uma equipe de trabalho, a uma outra, da associação de moradores do bairro, estamos sempre envolvidos em e participando de pequenas e médias comunidades de vida e de destino. (...) Assim é que podemos chamar cada uma destas unidades de vida e de destino de comunidades aprendentes.”

[10] Importante registrar que muitos de nós que trabalhamos e estudamos nessa unidade da USP, moramos em outros bairros da cidade, em especial em zonas mais centrais das suas porções oeste, norte e sul e, portanto, dirigimo-nos para o trabalho em um sentido contrário ao da imensa maioria da população que vive na Zona Leste e trabalha e/ou estuda nos outros extremos da cidade.

[11] Em Santos, 2002, publicação póstuma organizada por W. Ribeiro (com uma coletânea de artigos publicados por Milton Santos na grande imprensa), é possível encontrar as afirmações que inspiraram essa paráfrase.

[12] Por exemplo em Carvalho 1996 e 2004.

[13] Na seguinte passagem, Sachs (2010, p. 34) justifica ainda mais a especificidade do Brasil e de suas populações: “No caso do Brasil, porém, a maior jazida de empregos e autoempregos se encontra no campo, num novo ciclo de desenvolvimento rural. o Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, uma floresta tropical, que infelizmente o país massacra, mas que ainda se estende por milhões e milhões de hectares na Amazônia, reservas de terras agrícolas ainda não exploradas e pastos extensivos que podem ser convertidos em cultivos. os recursos em água são (por ora) abundantes, fora do Polígono das Secas no Nordeste, os climas são variados e favoráveis à produção de biomassas diversificadas. acrescente-se a isso uma pesquisa agronômica e biológica de categoria internacional. estão reunidas as condições para avançar na direção de uma civilização moderna da biomassa, socialmente includente e ecologicamente viável”.

[14] Vale registrar aqui a seguinte informação: a principal referência teórica que dirigia a ação do PCdoB na época era dada pela maoismo e a sua aposta na insurreição popular camponesa!

[15] Informações sobre os números de mortes, circunstâncias e envolvidos nos episódios se pode obter facilmente com a utilização dos instrumentos de busca da internet ou nas enciclopédias mais acessadas da rede (como Wikipedia, por exemplo), que os descrevem com boa dose de fidelidade aos fatos. Recomendamos particularmente os seguintes: http://www.cptnacional.org.br/ (site da Comissão Pastoral da Terra); http://www.cimi.org.br/ (site do Conselho Indigenista Missionário); http://www.mst.org.br/ (site dos Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra); e http://www.socioambiental.org/ (site da Instituto Socioambiental).

[16] Considerando especialmente os seguintes artigos:  de número 5º, parágrafo XXIII, que indica a função social da propriedade; os de números 184º,  185º e 186º, do Capítulo III — “Da política agrícola e fundiária e da reforma agrária” — que indicam os critérios e os motivos para a desapropriação das terras rurais que não estejam cumprindo a sua função social. O texto integral, ou os artigos indicados, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, podem ser consultados em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm

[17] Nos sites indicados na nota anterior também se poderá obter informações completas de mais esses dois episódios que aqui mencionamos

[18] No preciso momento em que fechávamos esta contribuição ao debate desenvolviam-se no Congresso Federal as sessões e discussões para deliberação do novo Código Florestal. Inúmeras negociações, ajustes e utilizações de expedientes regimentais com o intuito de protelar ou antecipar votações, dependendo dos interesses, estavam em curso. O resultado desse processo, que não alcançamos a tempo de aqui incluí-lo, não invalida, no entanto, a reflexão que fazemos sobre as forças e alianças que o apoiam ou que a ele se opõem

[19] Os demais se originam das outras regiões da cidade, nas seguintes proporções: oeste, 12,2%; centro, 5,6%; norte 14,6%; sul, 22,2% (cf. os dados colhidos nos trabalhos “Estatísticas/ Ingressantes” e “Relatório Técnico EACH em Números”, divulgado e produzido pela própria Escola ). Alguns dos dados e relatórios sobre a USP e suas unidades podem ser obtidos em:  <http://sistemas3.usp.br/anuario/r_tabelas.htm> (p/ dados gerais) e  <www.each.usp.br > (p/ dados específicos da EACH).

[20] Dados mais completos sobre a UNATI e as atividades nela oferecidas pelas diversas unidades da USP podem ser verificados em <http://www.usp.br/prc/programas/3idade/>.

[21] Para informações mais completas sobre as propostas desses cursos, bem como conhecer as linhas de pesquisa ofertadas e desenvolvidas, quadro docente, leque de disciplinas etc., pode-se visitar os sites dos próprios cursos disponíveis em : <http://www.each.usp.br/site/pos-programas.php//>

[22] Para os interessados na leitura de algumas dessas matérias indicamos os seguintes endereços de Internet: <http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100714/not_imp580951,0.php>  e também <http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110410/not_imp704191,0.php>.  Nesses dois endereços (que estavam disponíveis em 06/05/2011), pertencentes ao site do jornal O Estado de São Paulo, podem ser lidos editoriais publicados respectivamente em 14/07/2010 e em 10/04/2010, nos quais tanto a crítica à ausência de ‘cursos tradicionais’, na estrutura da nova Escola, como os problemas enfrentados pelo curso de obstetrícia são tratados. Outro endereço em que é possível encontrar inúmeras outras matérias é o do jornal Folha de São Paulo:  <http://www.folha.uol.com.br/>.

 

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Ficha bibliográfica:

CARVALHO, Marcos Bernardino de. Novos horizontes para o urbano: urbanidades, biocivilização e resistência na universidade (USP-Leste). Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales. [En línea]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 20 de julio de 2011, vol. XVI, nº 932 (2). <http://www.ub.es/geocrit/b3w-932/b3w-932-2.htm>. [ISSN 1138-9796].

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