REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES Universidad de Barcelona ISSN: 1138-9796. Depósito Legal: B. 21.742-98 Vol. XV, nº 895 (22), 5 de noviembre de 2010 [Serie documental de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana] |
JOGOS OLÍMPICOS, CIDADE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: O QUE HÁ DE COMUM?
Jailson de Souza e Silva
Fundador do Observatório de Favelas
Professor da Universidad Federal de Rio de Janeiro/RJ
Secretário Executivo da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro
Recibido: 25 de mayo de 2010. Devuelto para revisión: 31 de agosto de 2010. Aceptado: 30 de septiembre de 2010.
Jogos Olímpicos, cidade e participação social: o que há de comum? (Resumo)
Os Jogos Olímpicos ampliam a visibilidade da cidade e do país que os sediam; atraem recursos de variadas ordens; chamam atenção sobre os problemas sociais mais emergentes, assim como colocam na ordem do dia a necessidade de planejamento integrado, global e de longo prazo da metrópole. Para tanto, se faz necessário mobilizar a maioria da população carioca e brasileira para o debate e a participação em projeto de desenvolvimento amplo e plural da metrópole.
Palavras chave: Jogos Olímpicos, cidade, participação social
Olympic Games, city and social participation: What's common? (Abstract)
The Olympics Games expand the visibility of the city and the country that hosts the event and they attract a number of different resources, call attention to more social problems emerging as well as put on the agenda the need for integrated, global and long-term planning of the metropolis. Thus, it is necessary to mobilize the majority of the population of Rio de Janeiro and Brazil to discuss and participate on a project of development and broad diversity of the metropolis.
Key words : Olympic Games, city, social participation
O direito de organizar os jogos olímpicos em 2016 foi recebido com grande entusiasmo por amplos setores do Brasil, e ainda com mais intensidade no Rio de Janeiro. O fato, aliado à indicação para sediar os jogos do campeonato mundial de futebol de 2014, aumentaram a auto-estima dos brasileiros; colocaram o país como palco dos grandes eventos mundiais e ampliam a sensação de que o país vive um momento histórico especial, que une, pela primeira vez na história, desenvolvimento econômico e social.
Por outro lado, muitas pessoas, tendo em vista a experiência com os jogos pan-americanos realizados na cidade do Rio de Janeiro em 2007, colocam em questão a oportunidade de realizar dos grandes eventos. A argumentação é de que esses grandes eventos, controlados por grandes corporações do mundo esportivo e empresarial, terminam por socializar os custos da iniciativa e privatizar os lucros. Desse modo, os eventos seriam um desperdício de recursos que poderiam ser aplicados em iniciativas mais urgentes das populações locais, tais como programas sociais, culturais e ambientais.
Com efeito, os grandes eventos são momentos de risco e de oportunidade. O peso conservador no controle dos Jogos Pan-americanos o transformou numa fonte de financiamento da especulação imobiliária e na ampliação da segregação urbana. O fato, todavia, não pode ser transformado em regra: os Jogos Olímpicos, em especial, ampliam a visibilidade da cidade e do país; atraem recursos de variadas ordens; chamam atenção sobre os problemas mais emergentes do anfitrião, em particular na cidade onde os jogos ocorrem; colocam na ordem do dia a necessidade de planejamento integrado, global e de longo prazo da metrópole; aumentam a autoestima da população local e sua preocupação com as questões urbanas, além de oferecerem a oportunidade da melhoria efetiva de determinados serviços, em especial os de infraestrutura.
Diante do exposto, evidencia-se que o Rio de Janeiro e o Brasil têm muito a ganhar com a realização da Copa de Mundo e, especialmente, com os Jogos Olímpicos. Isso, entretanto, só será possível se as forças sociais democráticas e progressistas da cidade e do país abandonarem o discurso da negação dos grandes eventos e buscarem mobilizar a população para a construção de uma agenda propositiva. Essa agenda coloca em questão os interesses privatistas, elitistas e segregadores ao mesmo tempo em que aponta para a necessidade de serem priorizados os territórios populares e estagnados da cidade. Assim, o deslocamento de equipamentos e serviços da Barra da Tijuca – área das mais ricas da cidade – para o Centro e bairros da periferia é uma exigência central. Da mesma forma, se devem envidar esforços para que se coloque no centro das intervenções a melhoria da estrutura de transportes de massa entre o centro histórico do Rio de Janeiro e as cidades periféricas, ao lado da maior valorização das práticas culturais e esportivas das áreas historicamente segregadas e estagnadas.
O esforço da construção de uma agenda propositiva tem sido realizado de forma ainda isolada, por profissionais universitários e algumas organizações sociais. A maioria, todavia, continua com uma postura de negação de eventos que não podem mais ser suspensos ou ignorados. Essa postura é geradora de impotência e isolamento, nada mais.
O desafio que a conjuntura exige é mobilizar a maioria da população carioca e brasileira para que os jogos beneficiem a maioria da população e que se insiram em um projeto global de desenvolvimento do Rio de Janeiro e do Brasil. Essa mobilização exige a formulação de um projeto integrado de cidade, na qual ela seja reconhecida como um espaço central para o encontro plural das diferenças, de forma solidária e fraterna. Essa é a única postura possível para se enfrentar a voracidade do capital, que busca transformar os espaços da cidade meramente em mercadoria, sem vida e intensidade.
[Edición electrónica del texto realizada por Miriam-Hermi Zaar]
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Ficha bibliográfica:
SILVA, Jailson de Souza. Jogos Olímpicos, cidade e participação social: o que há de comum?. Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. XV, nº 895 (22), 5 de noviembre de 2010. <http://www.ub.es/geocrit/b3w-895/b3w-895-22.htm>. [ISSN 1138-9796].