REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES (Serie documental de Geo Crítica) Universidad de Barcelona ISSN: 1138-9796. Depósito Legal: B. 21.742-98 Vol. X, nº 610, 25 de octubre de 2005 |
ESTRANHOS NO PARAÍSO (DE
BARCELONA).
IMPRESSÕES DE UMA GEÓGRAFA
E ARQUITETA BRASILEIRA RESIDENTE EM BARCELONA
Estranhos no Paraíso (de
Barcelona). Impressões de uma geógrafa e arquiteta brasileira
residente em Barcelona (Resumo)
Extraños en el Paraíso (de Barcelona). Impresiones de una geógrafa y arquitecta brasileña residente en Barcelona (Resumen)
Este ensayo tiene por objetivo elaborar un cuadro general de impresiones, relacionadas con mi experiencia en Barcelona, para situar un cierto déjà vu. Se empieza por especificar ¿de qué Barcelona se está hablando? Porque hay varias Barcelonas y muchos modelos “Barcelona”, que como se muestra a continuación son la expresión de una larga trayectoria espacio-temporal de Barcelona hacia la globalización y de su gradual degradación y fragmentación, según ésta fue alienandose poco a poco de sus habitantes. A continuación, se intenta señalar las distintas formas de apropiación social contemporáneas de la ciudad, y hacer algunas consideraciones sobre qué primer mundo representa la ciudad de Barcelona, que es, dialécticamente, a la vez tan cercano y lejano en algunos aspectos de la realidad brasileña y de otros países latino-americanos. Para finalizar, se intenta esbozar algunas perspectivas posibles de lucha por el derecho a la ciudad y de oposición a las tendencias dominantes de su expropiación social y mercantilización.
Palabras-clave: Barcelona, modelo; Globalización; Movimientos Sociales Urbanos; Inmigración; Derecho a la Ciudad
Strangers in (Barcelona’s) Paradise. Impressions from a Brazilian geographer and architect living in Barcelona (Abstract)
This essay main concern is to outline a framework of issues that flourished during my stay in Barcelona and gave me a déjà vu sensation related to my former life in Brazil. In order to define better this déjà vu this paper starts defining which Barcelona is been discussed here, since there are many Barcelonas, and several Barcelona “models”, which are shown as an indication of Barcelona’s large space-time path towards globalization and to its ongoing degradation and fragmentation, as it has been gradually alienated from its citizens and inhabitants. Afterwards it is emphatized the existing differences among many social appropriation distinctive forms as well as some considerations on which first world is this, so close and so different from Brazil and other Latin-American countries. Finally, to conclude, some considerations on possible ways to fight for the right to the city and to stand against its commodification dominating trends are made.
Key words Barcelona, model, Globalization, Grass-Roots, Immigration, Right to the City
Antes de prosseguir gostaria de esclarecer que tomei emprestado, para intitular este ensaio, o título do filme “Estranhos no Paraíso” de Jim Jarmusch. O filme[2] mostra não a América idealizada, aquela do “conto de fadas” de milhares de imigrantes ao longo do tempo, ao contrário apresenta uma visão desencantada da América, ao retratar uma civilização sem entusiasmo e no lixo – algo muito próximo ao que foi revelado recentemente pela fúria do furacão Katrina em New Orleans. O espírito que de certa forma orienta este trabalho é o comentário de um dos personagens do filme, após viajar de New York a Cleveland: "a gente vai para um lugar tão longe e vê que tudo é sempre a mesma coisa...". E que faz surgir a indagação: Que primeiro mundo é esse que parece tão próximo de certas vicissitudes brasileiras?
Enfim, é esta sensação de déjà vu que me levou a fazer alguns comentários sobre Barcelona, de modo a me situar e a localizar algumas preocupações. Afinal, como caracterizar a tranqüilidade aparente no cotidiano de uma cidade européia, com os conflitos diários nos morros e ruas cariocas, com a possibilidade de ser assaltado em cada esquina, que nos faz, por vezes, prisioneiros de nosso próprio medo? Não há como negar! À primeira vista senti-me no paraíso. Todavia, à fascinação e à sedução, seguiram-se a descoberta e um certo desencanto, e ao déjà vu, que remetem de certa forma ao poema: La primera vez que te vi, te conocí, la segunda no...
¿Qual Barcelona?
Passadas as primeiras impressões, é importante ressaltar, que não se trata apenas de uma Barcelona, ou de um único plano Barcelona, ou inclusive de um modelo Barcelona, de uma Barcelona única com uma identidade própria. De fato passado o encantamento, o que começa a se perceber é que Barcelona é tal qual um mosaico de Gaudi. Existem múltiplas Barcelonas. E cada uma é a materialização de diversos arranjos defensivos históricos e de vários planos urbanísticos, muitos elaborados a partir do século XVIII-XIX. Planos que fizeram história. Entre eles destacam-se o de Idelfonso Cerda, que poderia ser caracterizado como um primeiro modelo Barcelona, e as propostas de intervenção mais recentes, que deram origem ao “planejamento estratégico” e são examinadas criticamente por Horacio Capel em seu livro “El modelo Barcelona”[3] e por Jordi Borja[4] no artigo “Revolución y contrarrevolución en la ciudad global”.
O que aparece atualmente como Barcelona
é um conjunto de diversas cidades que compõem a Área
Metropolitana de Barcelona, que concentra pelo menos 33 municípios
com uma população conurbada que ultrapassa a marca de 4,5
milhões de habitantes, com elevados índices de densidade
demográfica (vide figura 1). E usando um termo muito usual em Barcelona,
“todos
muy bien comunicados”, ou seja bem articulados a vários meios
de transportes integrados (metro, ônibus, tram, funiculares e trem).
Com um bilhete de transporte urbano passa-se por colinas, atravessa-se
rios, chega-se a outros municípios todos dentro da mesma mancha
urbana conurbada.
Elaborado por Ester Limonad, em 2005, com base em Foto Aérea de GENCAT extraída do sítio http://hipermapa.ptop.gencat.net/hipermapa/client/200504/baseaea_high.html e com dados do Censo da Espanha de 2001 |
Defrontam-se em Barcelona o desejo de preservar áreas históricas por movimentos sociais populares com um passado de lutas e a intenção de renovação urbana dos planejadores, arquitetos e técnicos da Prefeitura somada à cobiça dos especuladores imobiliários. Pois é, sempre a mesma história, São Paulo, Rio de Janeiro, Barcelona. Os atores só mudam de endereço. Merecem menção aqui os esforços de preservação do patrimônio histórico e cultural do neoclassicismo catalão industrial que impulsionam movimentos populares vis a vis a propostas de “renovação urbana” da Prefeitura de Barcelona. Propostas que tem por conseqüência descaracterizar o conjunto existente em nome de uma modernização e integração urbana.
A introdução de novos elementos construtivos pode ser positiva, muito embora se não estiver acompanhada por uma preocupação em preservar a integridade do patrimônio existente corre-se o risco de romper laços de pertencimento e a legibilidade do espaço, dificultando sua possibilidade de uso e apropriação social. São ilustrativas neste sentido as intervenções realizadas em Poblenou, antiga área industrial e de residência de trabalhadores, visto historicamente como área de expansão urbana. Aí as propostas de intervenção são mais brutais, com destaque para o Pla 22@bcn, como mostram os trabalhos de Mercedes Tatjer e outros[5]. Com este plano a Prefeitura pretende realizar uma renovação urbana radical em Poblenou para integrar Barcelona plenamente à revolução tecnológico-informacional, como se pode depreender da passagem a seguir.
“Barcelona s'ha proposat una nova fita: integrar-se plenament en la nova revolució tecnològica, afrontant el repte que suposa l'economia del coneixement. El Poblenou, principal nucli de la industrialització espanyola durant el segle XIX, es proposa avui com a la principal plataforma econòmica i tecnològica de Barcelona i Catalunya.”
Isto propiciou o ressurgimento de movimentos organizados de resistência popular, que se manifestam no periódico eletrônico da Federação das Associações de Vecinos de Barcelona[6], e que se colocam contra as propostas elitistas de transformação do espaço de Poblenou segundo as normativas do Pla 22@ (acessível em http://www.bcn.es/22@bcn/cata/presentacion/).
A descaracterização
da cidade e a transformação em valor de troca de áreas
produzidas enquanto valor de uso social não está restrita
apenas às áreas periféricas. Enquanto nestas áreas
a intervenção dos agentes públicos ou privados é
mais visível e aparente, seja em razão da escala de intervenção,
seja devido aos desdobramentos destas propostas; em outras áreas
isto ocorre de forma gradual e incessante. O Eixample é um exemplo
ilustrativo desta descaracterização. Nesta área, que
concentra um dos maiores acervos arquitetônicos do modernismo do
século XIX, pouco a pouco antigas edificações são
“modernizadas”, reformadas, ou derrubadas para dar lugar a edificações
mais novas (vide figura 2). É uma modernização que
ocorre por partes, aos pedaços, de forma lenta e inexorável.
Foto: Ester Limonad, 2005 |
Sem embargo partes da cidade de Barcelona resistem a tornar-se uma cidade global e a perder uma identidade catalã, o que é extremamente positivo. Pois são os habitantes de uma cidade que lhe dão vida, ao não se deixar atingir de forma apática pelas práticas espaciais dominantes. Não obstante, como bem assinala Jordi Borja[7], estas não são experiências reprodutíveis, como se poderia pensar ou como desejariam os mais pragmáticos, pois estão ligadas a um processo histórico de construção de uma identidade social, que não pode vir de cima para baixo. E que não pode ser reproduzida e transmitida simples e mecanicamente de um lugar a outro, uma vez que a construção dessa identidade social exige uma conscientização e prática política, e um desejo de participação da própria população envolvida.
Equívocos neste sentido tem
levado muitos planejadores a proporem um planejamento participativo. Planejam,
assim, a participação no planejamento, sem dar chance aos
envolvidos de participar concretamente. Em geral o poder público
tende a colocar na agenda de discussões questões táticas
e não questões estratégicas. Ou seja discute-se questões
parciais ou alternativas a determinadas intervenções, mas
não: qual cidade se deseja? Ou ainda, se há uma real necessidade
destas intervenções. O corolário destas práticas
é a transformação da cidade em uma colcha de retalhos.
O que conduz a situações sem saída ou a soluções
que convertem partes da cidade em lugares de visita e em objetos de consumo
global. Contrapõe-se, assim, a satisfação de necessidades
da população residente às necessidades impostas por
outros setores e agentes sociais ligados ao turismo, à especulação
imobiliária que convertem os espaços urbanos, produzidos
enquanto valor de uso social, lugares de reprodução, vida
cotidiana, consumo e satisfação de necessidades sociais em
objetos de consumo global. Resulta daí uma apropriação
fragmentada e formas diferenciadas de apropriação da cidade,
como veremos.
Um século e meio rumo à globalização
A projeção internacional de Barcelona não constitui uma novidade, e nem é algo recente. Portanto, a mundialização de Barcelona não está vinculada pura e simplesmente a uma prática caracterizada por muitos como planejamento estratégico, vendida ad nauseum mundo afora.
Um breve retrospecto mostra que muitas das intervenções realizadas em Barcelona e na área metropolitana historicamente estiveram relacionadas à realização de eventos de porte internacional que contribuíram para converter diversas áreas da cidade em objetos de consumo global.
Já na segunda metade do século XIX os governos municipais de Barcelona se deram conta de que a promoção de eventos internacionais, além de conferir projeção internacional à cidade, propiciava a realização de intervenções urbanas de grande porte. A título de ilustração ressaltamos a seguir alguns dos momentos mais significativos da história urbana recente de Barcelona..
Em 1888, Barcelona abrigou um primeiro evento internacional: a Exposição Universal, graças a qual o terreno da Cidadela, antiga fortificação militar, foi urbanizado e articulado ao plano urbanístico de 1854 de Idelfonso Cerdá. A este evento seguiram-se outros de porte mundial, todos acompanhados por incisivas e extensas intervenções urbanísticas, que contribuíram para conformar a cidade e dar-lhe projeção internacional.
Com a Exposição Internacional de 1929 foi urbanizada a Plaza Espanha e construído um complexo de pavilhões de porte monumental, onde se encontra hoje a Feria de Barcelona, ao final da Gran Via de las Corts Catalanas, que atravessa quase toda a cidade. Para articular esta área à cidade, então, foram estendidas novas linhas do Metro, criado em 1924, do centro da cidade a Plaza Espanha e a Montjuic.
Em 1952, durante o franquismo, Barcelona acolheu o XXXV Congresso Eucarístico Internacional, que facultou à Igreja urbanizar uma nova área da cidade, que passou a ser conhecida como Congrés[8]. O Plano de Viviendas do Congreso Eucarístico (PVCE) construiu cerca de 3.000 unidades de habitação social para famílias com reduzido poder aquisitivo. Não obstante apesar das intenções do PVCE, as habitações“no sirvieron para los inmigrados con menos posibilidades, sino para una cierta ‘clase media’ que era más fiel a la Iglesia” (Belenguer, 1996:40). Aindadurante o franquismo foram construídos, sem um planejamento prévio, conjuntos habitacionais baratos destinados a absorver os imigrantes de outras províncias, que anos mais tarde além de apresentarem problemas construtivos provocaram diversas doenças graves em seus habitantes. Com o crescimento demográfico e expansão da malha urbana criaram-se novos bairros não só em Barcelona, mas também na área conhecida como cinturão, nas cidades adjacentes de L'Hospitalet del Llobregat, Bellvitge, Santa Coloma de Gramenet, Sant Adrià de Besós e Badalona.
Em 1992, Barcelona abrigou os Jogos Olímpicos, que implicaram em diversas intervenções e na construção do Port Olimpic na área de Parc de Mar – com a intenção precípua de recuperar áreas industriais degradadas da cidade contíguas à orla litorânea do Mediterrâneo. Há uma clara consciência dos efeitos dos Jogos Olímpicos no espaço urbano barcelonês como se pode perceber na avaliação feita por um site espanhol de notícias esportivas, Sports Internet Factory:
“Para la ciudad también
hay un antes y un después tras los Juegos. La mejora en infraestructuras
es algo de lo que los barceloneses siguen disfrutando hoy en día.
La construcción de los cinturones de ronda, así como la ampliación
del aeropuerto, eran una necesidad para Barcelona y que los Juegos, como
excusa, ayudaron a realizar. Las instalaciones olímpicas de Barcelona
fueron agrupadas en cuatro áreas: Montjuïc, Diagonal, Vall
d’Hebron y Parc de Mar. De todas ellas sólo la de Diagonal era anterior
a los Juegos.”
(acessível em http://www.juegos-olimpicos.com/atenas2004/historia.php?IDOlimpiada=22)
O I Fórum Universal das Culturas surgiu de uma idéia original do prefeito Joan Clós, que em uma entrevista declarou “No son unas olimpiadas, ni una exposición universal, ni un parque temático sino un poco de todo esto y mucho más”.
Em síntese, segundo o comitê organizador, o Fórum dotou a cidade de instalações grandiosas, a saber: um colossal centro de convenções, um novo porto esportivo, uma nova praia e um par de ilhas artificiais. Sem dúvida instalações há muito necessitadas pelas classes populares! O Fórum aparece como uma grande operação urbanística com o objetivo de abrir ao mar as últimas áreas que restavam em Barcelona; uma vez que um dos pontos mais polêmicos do projeto tem a ver exatamente com sua localização em uma zona marginal de baixa renda.
E, last but not least, temos
a renovação urbana na área de Poble Nou e nas Glories,
com a abertura de grandes boulevards e a inauguração
do prédio das águas de Barcelona (Torre Agbar), projeto do
arquiteto francês Jean Nouvell, que se destaca como um bólido
de forma extremamente discutível na paisagem, conforme se pode observar
na figura 3. Um símbolo de uma nova Barcelona sexy?
Foto: Ester Limonad, 2005 |
Todas estas intervenções realizadas ao longo do tempo foram idealizadas com o fito de inserir Barcelona no mapa mundial. E isto não para atender às necessidades da população e dos residentes de Barcelona, mas às necessidades de reprodução de diferentes capitais - o que propiciou um amplo desenvolvimento não apenas para o capital industrial e comercial, mas para o capital imobiliário e para o turismo. Espaços imaginados e pensados como efígies do poder e do dinheiro. Exemplos não faltam, como a praça Tetuan que abre caminho para o Arco do Triunfo e para a Cidadela, a qual separa o Eixample da cidade industrial, que agora está sendo destroçada para ceder lugar à cidade global nas Glóries e noPoblenou. Isto também vale para a escala monumental da Praça Espanya e da ampla avenida que dá acesso ao Castelo de Montjuic com as suas fontes espetaculares. Espaços de poder, espaços do espetáculo, objetos de consumo não apenas para a população local, mas principalmente para os visitantes e turistas.
Não é novidade, portanto, a expropriação dos lugares de moradia, dos espaços produzidos como valor de uso relacionado à reprodução do cotidiano, por outros interesses alheios a este valor de uso e que coisificam e mercantilizam este espaço.
O próprio plano urbanístico
de Cerdá, glorificado em diversos cursos de urbanismo ao redor do
mundo, foi uma vítima da ganância e da mercantilização.
Sua proposta original de expansão urbana de Barcelona foi desvirtuada
gradualmente por sucessivos planos urbanísticos. Das praças
projetadas por Cerdá, poucas restaram em virtude da cobiça
dos especuladores imobiliários. O Eixample, originalmente idealizado
como um conjunto de quadras intercaladas com áreas verdes e jardins
e edificações de até 5 andares, conta hoje com
poucas áreas verdes e jardins, que foram ocupados por edifícios
que alcançam de oito a dez andares, onde aos áticos (coberturas)
somaram-se os sobre áticos. Muitas destas edificações
sequer dispõem de elevadores além de contarem com uma infraestrutura
de abastecimento elétrico, hidráulico e telefônico
precária. Na Figura 4 a seguir pode-se observar roupas penduradas
do lado de fora das janelas, remendos de antigas reformas nas paredes,
tubulações hidráulico-sanitárias expostas às
intempéries, assim como a fiação elétrica e
os cabos telefônicos e de antenas, que coalham os céus.
E isto ocorre no Eixample Direito, uma área central de Barcelona,
e não em uma periferia qualquer.
Foto: Ester Limonad, 2005 |
Muitas destas edificações além serem objeto de diversas ampliações e reformas, não possuem as laterais revestidas com emboço, massa ou o que seja, o que denuncia as diversas fases de ampliação em razão dos distintos tipos de alvenaria empregados. O mar de antenas, edificações com ampliações sucessivas sem o devido acabamento e a falta de emboço nos prédios acabam por conferir à paisagem barcelonesa um aspecto meio “favelizado”, muito próximo ao que podemos encontrar em várias cidades latino-americanas e brasileiras, como Rio de Janeiro e Salvador, conforme se pode observar nas figuras 5 e 6 a seguir.
Foto: Ester Limonad, 2005 * Resposta: Barcelona |
Foto: Ester Limonad, 2005 * Resposta: Barcelona |
Os espaços
comunitários idealizados por Cerdá deram lugar a novas edificações.
Pouco a pouco, como já mencionamos, o Eixample perde edificações
antigas, que dão lugar a prédios novos e mais modernos, com
mais apartamentos. Vai-se, assim, aos pedaços a herança de
um dos maiores acervos do modernismo do século XIX. A exigüidade
e escassez de áreas disponíveis tornam-se patentes com a
superposição de usos por vezes incompatíveis, como
no Eixample Direito onde em uma edificação recente os quatro
primeiros pavimentos são ocupados por uma escola pública
e os pavimentos restantes são de apartamentos residenciais (vide
figura 7).
Foto: Ester Limonad, 2005 |
Nas praças que restaram o espaço disponível é disputado com equipamentos públicos, como pré-escolas, postos de coleta de material reciclável, etc., o que restringe os espaços de ócio e lazer da população local.
Enfim, a Barcelona que ora se nos apresenta é o resultado de diversas reformas e intervenções realizadas setorialmente, ao longo de pelo menos 150 anos, por agentes imobiliários, instituições financeiras, proprietários do solo, e mais recentemente por empresas de publicidade, marketing e a indústria do turismo que a cada ano buscam criar um acontecimento de porte internacional para atrair a atenção sobre a cidade: Fórum Internacional, Ano Gaudi, etc. Reformas de grande porte promovidas com a argumentação de incrementar o orgulho e a cidadania, mas que de fato extinguem os elementos de pertencimento e de memória coletiva em nome de uma projeção internacional duvidosa, que expropria a cidade de seus habitantes e a converte em uma cidade dividida, fragmentada em termos de possibilidades de uso e apropriação social, ao tratá-la e converte-la em objeto de consumo global.
Desta forma, pouco
a pouco Barcelona foi e está sendo alienada aos pedaços de
seus habitantes e daqueles que a produziram e converte-se em local de turismo
e ócio daqueles que podem pagar[9].
Entre o metro e o ônibus: distintas formas de apropriação social
Historicamente Barcelona e seu entorno tem concentrado uma série de condições gerais que propiciaram que esta se tornasse a área mais desenvolvida da Espanha, e por que não dizer da Península Ibérica. Atualmente a área metropolitana de Barcelona é a sexta maior aglomeração urbana da Europa e apresenta-se bem articulada aos fluxos mundiais. Esta preeminência está relacionada a uma série de iniciativas do poder público, por vezes associado à iniciativa privada. Um corolário desta mundialização de Barcelona é sua transformação em objeto de consumo: de lugar de consumo passa-se ao consumo do lugar. Isto propicia que coexistam atualmente em Barcelona distintas formas de apropriação e uso do espaço social público.
Os ônibus e tram (bondes) por sua vez aparentemente são um espaço de domínio da população local, dos residentes, daqueles que possuem um maior conhecimento do espaço, nestes meios de transporte já não se percebe tão fortemente o cadinho cultural. De fato esta diferença de domínio faz com que os turistas que desejam visitar o Park Guell desloquem-se até as estações de metro próximas e tenham que subir o morro, aonde no topo se encontra o Park, ao qual muitas vezes os mais despreparados chegam ofegantes, quando há um meio de ingressar na parte mais elevada do parque, mais fácil e acessível através de duas linhas de ônibus urbano.
Pode-se notar também a diferenciação na apropriação dos espaços de praças e jardins. Na Praça Gaudi, junto à Sagrada Família, um lago separa estrategicamente os turistas dos residentes, enquanto defronte à igreja encontramos quiosques com mapas, quinquilharias turísticas, cartões postais, leques, etc.. No outro lado do lago temos quadras de bocha, áreas de recreação infantil ocupadas pelos residentes da área, onde se ouve quase que exclusivamente o catalão.
Isto ocorre em distintas escalas em diversas partes da cidade. As Ramblas, a Praça Catalunha, o Passeig de Gràcia, Mare Magnum, Vila Olímpica e adjacências são os espaços por excelência do turismo, aí se ouvem todos os idiomas, se vêem todas as raças, distintos trajes, etnias, como se Barcelona fora um cadinho cultural, onde o que falta são os catalães. Estes todavia, encontram seus próprios espaços em outras praças, ramblas e parques não tão visados pelos turistas. O Passeig de San Joan, a Rambla de Poblenou, e outros são tomados totalmente pela população residente, crianças, adultos, idosos e cachorros, etc.
Nos espaços destinados ao turismo imperam os cafés, restaurantes, a exibição de atos ditos culturais, estátuas vivas, malabaristas, performers. Aí não há lugar para o transeunte desfrutar sem pagar, seja para sentar e descansar, seja para se entreter, se o quiser, deverá consumir; exceto pela contemplação das estátuas vivas. Nestes espaços não se encontram equipamentos de lazer, nem bancos para descansar e sentar. Já nos espaços de domínio da população residente abundam os bancos, espaços para sentar, para jogar pingue-pongue, quadras de bocha, balanços, escorregadores infantis e áreas para cães.
Jordi Borja[10] em um texto recente aponta uma hipótese explicativa para um certo mal estar que teria tomado conta de Barcelona: a despossessão – e lamenta que a Cidade Velha, o centro histórico e outras partes tenham sido tomadas pelo turismo e salienta ainda que “la arquitectura ‘for export’ ha substituido al urbanismo ciudadano. La ciudad se ha hecho ‘global’ y los ciudadanos ‘locales’ se sienten expropiados"[11].No entanto como vimos, em nosso breve retrospecto, a cidade não se tornou global de ontem para hoje, e de fato as iniciativas de um urbanismo cidadão são poucas comparadas às ações institucionais. O que não significa dizer que não se deva resistir e lutar. Mas há que se ter consciência que a conversão de Barcelona em um objeto de consumo não é recente.
Há que se salientar ainda a crescente pressão imobiliária nas partes mais densas da aglomeração, em que os imóveis apresentam preços elevados, com uma enorme escassez de imóveis de aluguel – o que contribuiu, entre outros fatores, nos últimos anos para uma crescente emigração dos barceloneses para outros municípios da área metropolitana (vide figura 1) em particular para Sant Adrià de Besòs, Santa Coloma de Gramenet, Badalona e para L’Hospitalet Llobregat, todos articulados ao núcleo da área metropolitana e parte da comarca de Barcelona.
O espaço da cidade hoje é disputado por turistas, residentes, imigrantes de diversas etnias, bem como por outlaws. Entre os residentes e os turistas encontram-se os estranhos no paraíso, e é a presença destes estranhos, que de certa forma reafirma para mim a sensação de déjà vu, de exclusão social, sutil, mas presente. Que de certa forma se expressa na constatação de Borja de que “la inmigración concentrada en barrios visibles (Ciutat vella) contribuye involuntariamente a este sentimiento de desposesión, a pesar de que contribuye a su manera a revitalizar áreas degradadas y crea unos interesantes ámbitos de diversidad”[12].
A proliferação de locutórios com serviços de fax e de remessa de dinheiro e encomendas para diversos rincões do mundo, aos quais se somam mini-mercados de produtos típicos e restaurantes especializados são indicativos da forte presença de imigrantes hindus, paquistaneses, orientais, além de latino-americanos de diversos países, que geram uma pressão crescente nos serviços e equipamentos públicos de saúde e educação pública. Segundo dados oficiais, a população imigrante totalizou até setembro de 2005 cerca de dez por cento dos residentes registrados. Não obstante certamente aí não estão contabilizados os imigrantes ilegais, sem permissão de residência, que trabalham como ambulantes, biscateiros, garçons, etc., desde os que vendem sua força de trabalho até os que vendem seu próprio corpo. Estes imigrantes são responsáveis por um volume substancial de remessa de divisas para seus familiares. Em alguns casos são responsáveis por uma parcela significativa do Produto Interno Bruto de seus países de origem. Constituem, assim uma rede paralela às formas tradicionais de circulação de divisas, que é extremamente lucrativa e que tem por base o que Emílio Pradilla Cobos designou cruamente de “tráfico internacional de carne humana”[13].
Em discurso pronunciado em 14/09/2005, na Assembléia Geral das Nações Unidas, o Presidente da Espanha José Luis Rodríguez Zapatero assinalou que estas remessas de divisas são um elemento a mais a ser considerado no auxílio ao combate à fome e a pobreza nos países mais pobres, e em seu entender haveria que se considerar a redução dos custos administrativos para que fique menos dinheiro pelo caminho.
Em Barcelona os imigrantes podem ser encontrados em diversas áreas da cidade como o Eixample Izquierdo e Direito, Gracia e Poble Nou, entre outras. Sem falar na Cidade Velha onde ao alvorecer mulheres com véus esvoaçantes em busca das moedas deixadas cair pelos turistas disputam o espaço do píer de Barceloneta com as gaivotas esfomeadas em busca de comida...
No Poblenou, área de resistência
à renovação urbana, também se multiplicam as
imobiliárias, como em outras partes da cidade, com a oferta de imóveis
renovados e gentrificados. Aí também se encontram os locutórios
em que os proprietários mal falam catalão ou castelhano.
Enfim, nos jornais são noticiados os conflitos crescentes e o assédio
dos africanos subsaharianos e do Magreb na fronteira espanhola em Melilla,
no norte da África, onde estão dobrando a altura da cerca
para seis metros. Somam-se a estas notícias os assaltos crescentes
no metro, nas ramblas e na Praça Catalunha por menores de
idade, imigrantes romenos do leste europeu, que não podem ser detidos
pela polícia...
¿Que primeiro mundo é esse?
Tal qual os personagens de Jarmusch, em “Estranhos no Paraíso”, de repente, sinto-me em casa, de volta ao começo, e pergunto-me mais uma vez: Que primeiro mundo é esse?
Há que se salientar as diferenças, sutis, porém significativas. Aqui há menos pobreza aparente. Inclusive há um maior respeito às pessoas, à vida, independente de sua condição social. Há menos desigualdade social e uma melhor distribuição da riqueza, que se evidencia em uma preocupação e um compromisso social com o bem-estar da população através da garantia de serviços de saúde e educação pública. Mesmo os sem-teto, mendigos e indigentes aqui são diferentes daqueles de países como o Brasil. Pois enquanto no Brasil aumenta a olhos vistos uma população de rua, que oficialmente não existe, pois sequer possui certidão de nascimento, o que a exclui de todos os serviços; neste primeiro mundo antes de tudo, os indigentes são cidadãos registrados, com direito à segurança social, além de serem alfabetizados e disporem de algum diploma educacional. Afinal desde o século XIX a educação pública é obrigatória até os dezesseis anos, não só na Espanha, mas em vários países da Comunidade Européia.
Não obstante, estas são benesses restritas aos cidadãos deste primeiro mundo e aos imigrantes legais ou com permissão temporária – aos detentores do ambicionado NIE (número de identificação de estrangeiro). O que de certa forma coloca este primeiro mundo europeu em uma situação similar à dos Estados Unidos entrincheirado ao sul para impedir o ingresso de imigrantes “latinos” ilegais. Nas cidades espanholas autônomas de Mellila e Ceuta, no norte da África, assim como no México, se constroem muros duplos de seis metros de altura com valas para tentar impedir as “avalanchas” de imigrantes provenientes do norte da África, do Magreb e das áreas sub-saharianas. Nos limites destas cidades todas as noites grupos de africanos de diversas nacionalidades e etnias reúnem-se e buscam ultrapassar as cercas erguidas para deter o seu avanço rumo ao primeiro mundo, muitos dos quais morrem ou saem feridos em embates com a polícia de fronteira e com a guarda marroquina.
Este é um primeiro mundo assediado por “pateras” (jangadas) de albaneses, africanos, etc. que arriscam a vida no mar em busca das costas litorâneas dos países europeus mediterrâneos. E as imagens que me vem à mente são as do livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, que não obstante celebrado ao início pelos versos de Shakespeare: “Oh brave new world, that has such creatures”, é um lugar dividido, desigual e controlado, uma ilha de riqueza murada e fora do alcance dos habitantes de um outro mundo mais pobre, e quiçá mais humano.
O que assistimos hoje é de certa forma um entrincheiramento das áreas mais desenvolvidas em relação às mais pobres. Aqui se constroem cercas, muros. Lá os ricos e a classe média buscam abrigo em condomínios fechados. Esta é uma situação que não se resolverá com cercas ou muros. Sempre haverá aqueles que buscarão burlar estes limites físicos. A solução residiria talvez em uma melhor redistribuição da riqueza, em lutar contra a pobreza, aumentar as oportunidades de desenvolvimento social nos países mais pobres. Na luta por um mundo mais justo e mais digno. Mas estas são questões que vão além dos propósitos do presente trabalho.
Se a pobreza e a miséria parecem
algo alheio a este primeiro mundo e aparece com mais força nas telas
dos noticiários televisivos e nas manchetes dos jornais, sem embargo
ela está logo ali, do outro lado do Mediterrâneo, em outros
continentes, em outros mundos. Já no Brasil, na Argentina, no Chile
e em outros países latino-americanos, basta caminhar na rua, aí
a desigualdade social é presente na mesma cidade, no mesmo país.
Aí geralmente não é necessário ir muito longe,
atravessar um mar ou um continente... Mesmo assim, não é
uma questão de distâncias físicas, mas de colocação
de obstáculos e de expropriação social. O déjà
vu, assim, está relacionado à relação dialética
entre o próximo e o distante. Apesar da miséria e da pobreza
encontrarem-se distantes fisicamente, também se encontram presentes
aqui. De onde a sensação de proximidade aos imigrantes brasileiros,
latinos, africanos, hindus, paquistaneses que para cá vieram em
busca de uma vida melhor. Muitos dos quais jamais voltarão a ver
sua terra, estranhos no paraíso.
E o direito à cidade?
Enfim, cá estamos de volta ao começo, porém com uma outra visão de Barcelona que nós leva a indagar: como fica o “urbanismo ciudadano” a que fez referência Borja e que de certa forma constituiu a base em um período recente de uma série de transformações na cidade de Barcelona.
Ou seja como fica o direito à cidade? Direito de quem? De quais cidadãos? De quais “vecinos”? Dos catalães ou de todos que residem em Barcelona e dela fizeram o seu lar? Há lugar nas condições atuais de desenvolvimento do capitalismo para uma gestão democrática e equânime da cidade? Para Horacio Capel esta seria uma perspectiva possível como salienta em vários trabalhos[14], e na conferência de abertura do VII Seminário Internacional de Geocrítica (acessível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-194-001.htm>):
“Necesitamos otro planeamiento y otra forma de construir la ciudad. Tal como se dice en el "Manifiesto sobre el futuro de las ciudades" (accesible en <http://www.ub.es/geocrit/b3w-551.htm>) se necesita un planeamiento en el que la responsabilidad no sea solo de los técnicos (arquitectos e ingenieros) y el urbanismo no se imponga de arriba abajo, sino que se elabore de abajo arriba; en que el punto de partida sea el diálogo y el debate público de las opciones existentes; en que la construcción de la ciudad no se deje a merced de los intereses inmobiliarios; en que políticos y técnicos estén verdaderamente al servicio de los ciudadanos. Un planeamiento en el que los espacios cerrados sean solo los de carácter individual y familiar, y no existan barrios exclusivos con barreras reales o virtuales, manteniendo por tanto la tradición de espacio público protegido por las normas legales y la administración; una forma de planeamiento en que la libertad, la igualdad, el bienestar y la solidaridad hagan de la ciudad el paraíso en la Tierra, que para los que no comparten creencias religiosas tal vez será el único paraíso posible”.
Os movimentos sociais, todavia, apresentam exigências diferenciadas, com base nas necessidades que se impõe historicamente para garantir a reprodução social da família e do cotidiano. Constituem, assim, uma expressão da contradição latente entre a produção social do espaço e sua apropriação privada que limita e restringe o acesso a bens e serviços. A reprodução da vida social, da família, dos trabalhadores, entra em contradição com as práticas espaciais hegemônicas que produzem a cidade, com a subsunção dos lugares de encontro e de vida aos espaços monumentais dos projetos que tornam a cidade um objeto global, e que nada mais são do que uma expressão do espaço abstrato do capital e do Estado, que fazem ouvidos moucos às reivindicações populares.
É necessário mais que nunca denunciar o urbanismo especulativo que em nome da identidade local e projeção nacional e internacional destrói os significados urbanos identitários ao nível local.
A cidade é pensada não
mais para o uso de seus habitantes, mas para o consumo global como vimos.
Tais práticas transformam a cidade em um patchwork em que
o novo se superpõe e cola ao antigo e destrói a história
dos lugares. A luta pelo direito à cidade deve necessariamente se
contrapor às tendências de homogeneizar o espaço urbano
e transformá-lo em espaço globalizado. Pois caso contrário
os cidadãos serão espoliados de sua cidade, como já
ocorreu na área da Vila Olímpica, quase deserta a não
ser pelos turistas que aí transitam (vide Figura 8) e agora ocorre
na Diagonal Mar (Figuras 9 e 10). Onde torres monumentais rompem
com o gabarito construtivo de Barcelona e buscam recriar os espaços
concebidos por Gaudi. Onde a memória coletiva e o patrimônio
histórico industrial estão sendo impiedosamente destroçados
para dar lugar à Barcelona global, mediante intervenções
articuladas pela iniciativa privada e pelo poder público, sem dar
ouvidos aos movimentos sociais e às associações de
“vecinos”
como é o caso do espaço histórico fabril de Can Ricart[15].
Fotos: Ester Limonad, 2005 |
La Torre Agbar |
Diagonal Mar |
Edifício em construção na área atrás do Parque da Ciudadela entre Port Olimpic e Barceloneta |
Vista do acesso lateral da Torre Mapfre na Calle Marina |
Notas
[1] Coordenação de Aperfeiçoamento de Professores do Ensino Superior, Ministério da Educação do Brasil.
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BORJA, J. Un futuro urbano con un corazón antiguo. Biblio 3W, Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. X, nº 584, 20 de mayo de 2005. [http://www.ub.es/geocrit/b3w-584.htm]. [ISSN 1138-9796].
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© Copyright: Ester Limonad, 2005
Ficha bibliográfica
LIMONAD, E. Estranhos no Paraíso de Barcelona. Impressões de uma geógrafa e arquiteta brasileira residente em Barcelona. Biblio 3W, Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. X, nº 610, 25 de octubre de 2005. [http://www.ub.es/geocrit/b3w-610.htm]. [ISSN 1138-9796].